segunda-feira, julho 27, 2009

Um exemplo acabado de normando!

Ao início da tarde de hoje, mão amiga retirou um recorte de jornal do quadro de cortiça e emprestou-mo para leitura:
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"O Estado não existe" de António Pinto Leite, publicado a 6 de Novembro de 2005 no semanário Expresso:

"É justo o elogio ao Governo pelas reformas que se propõe fazer no quadro da Administração Pública. A haver crítica seria por defeito, isto é, por tais reformas poderem vir a não ser suficientes para tirar Portugal da rota de empobrecimento em que se encontra.

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O Governo apresentou as reformas sobretudo numa perspectiva de redução de benefícios de corporações privilegiadas e não tanto numa perspectiva de esgotamento da capacidade do país para financiar estes sistemas nos mesmos termos em que o tem vindo a fazer. Devia ter ido ao fundo da questão.

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Mais: para lá do esgotamento dos recursos do país, está em causa uma questão de justiça social. É isto que é preciso comunicar, é isto que o bom senso e o bom coração português necessariamente entendem.

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O principal enquadramento das reformas em curso não está na relação entre o Estado e os funcionários públicos, está na relação entre os portugueses que pagam impostos e os funcionários públicos. Certo que os funcionários públicos também pagam impostos, mas os números evidenciam que isso não faz a diferença.

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Neste quadro, o Estado não existe. Existem portugueses que pagam a outros portugueses.

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Os salários e regalias dos funcionários do Estado não são pagos pelo Estado, são pagos pelos portugueses que pagam impostos. O Estado é um mero intermediário.

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A segurança no emprego que os funcionários públicos têm não é conseguida à custa do Estado, sai do bolso dos portugueses. Porque são os portugueses que pagam os salários de funcionários que não são precisos, porque são os portugueses que pagam sistemas ineficientes que, em qualquer situação privada, seriam extintos ou reformados de alto a baixo.

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Algumas regalias, em particular no domínio da Segurança Social, são também suportados pêlos portugueses que pagam impostos, uma vez que tais regimes, para subsistirem, têm de recorrer ao Orçamento do Estado e esse é pago pelos portugueses.

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Que sentido de justiça existe quando se pedem mais impostos, como sucedeu com o aumento do IVA, a um pobre trabalhador do campo ou de uma fábrica para preservar regalias de outros que ganham muito mais do que ele?

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Que sentido de justiça pode haver quando os nossos empresários não conseguem aguentar as suas em presas e milhares de portugueses es tão a ir para o desemprego, enquanto, do lado Estado, apenas se discutem regalias, direitos adquiridos e segurança do emprego?

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Que justiça existe quando a economia precisa desesperadamente de recursos, precisa desesperadamente que os impostos baixem e os funcionários públicos desencadeiam lutas sindicais e sociais como se este desespero lhes fosse total mente indiferente?

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Que justiça pode haver se se considerarem irreversíveis os direitos dos funcionários públicos, quando os portugueses que lhes pagam esses direitos, em boa parte para lhos poderem pagar, todos os dias perdem os direitos que eles próprios tinham?

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Que ideia de justiça é esta que despreza a agonia da economia e da sociedade ci vil e protege um Estado que fica com 50% da riqueza que essas mesmas economia e sociedade civil produzem?

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Que noção de justiça é esta que exige que cada português dinâmico entregue cerca de 65% do que ganha ao Estado (IRS, IVA, Segurança So cial e outros...), para receber em troca o Estado mais burocrático e ineficiente da Europa?

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As greves contra o Estado são greves contra os portugueses que pagam impostos.

No meio disto, o Estado é uma ficção. O Estado não existe, existem apenas portugueses.”

Conseguiu ler o texto até ao fim? Aprecie, então, esta notícia, esta preocupação no sítio do Público de hoje:
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Eleições legislativas em Setembro afectam aumentos salariais na Função Pública

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O país à beira do precipício, enterrado num défice que rondará os mais de 6% do PIB.

As empresas privadas a tentarem sobreviver neste mundo pós colapso de Agosto de 2007 e Setembro de 2008.

O desemprego a galopar e a crescer como nunca vimos.

Pois, o director-geral do Orçamento, em entrevista à agência Lusa, apesar de ter um orçamento em curso com uma queda de mais de 20% nas receitas, não tem mais nada com que se preocupar do que o atraso nos aumentos salariais da função pública.

Acham isto normal???

Um dia, neste país, no futuro, um pastor dum normando que profira afirmações deste calibre durante um clima de crise como o que vivemos, não chegará ao final do dia sem alguém o ter encaminhado para a porta dos fundos demitido.


8 comentários:

Jo disse...

Eu?
eu acho muito importante que os senhores(as) fulanos intitulados chefes de secção das câmaras municipais que ganham actualmente 5x mais..sim! 5x mais do que o salário minimo nacional devam estar preocupados com o seu tão "desmerecido" aumento quando passam 80% do seu tempo de trabalho a dar à lingua e a fazer compras.

A minha língua exaltada leva-me a disser que se fossem modelos ou actrizes tinham feito algum tipo de trabalho de caracter sexual para subir na carreira, mas estes e estas senhoras não...basta-lhes estarem ao lado de uns miseráveis durante as campanhas eleitorais e já está!

Pelo menos durante uns anitos estão garantidos... resta apenas ainda disser que para além de serem tão mal pagos, ainda passam o ano em férias...

Jo disse...

ah!qualquer semelhança com a câmara de oliveira de azeméis é pura coincidência.

E peço desculpa aqueles 5% que lá trabalham e que realmente fazem alguma coisa.

JsJ disse...

Deixemo-nos de demagogia. O Estado não se pode confundir com os seus funcionários.
Essa comparação é para mim populismo puro e duro.
Nas empresas privadas nem sempre se passa como é referido do texto e são muitos os maus exemplos.
Tal como mas empresas existem infelizmente maus gestores, ou pior que isso, tambem no Esatdo essa reealidade existe.
Em qualquer dos casos essas situações devem ser denunciadas e a justiça fará o resto.
Um dos males maiores dos portugueses é a inveja e nacional porrerismo. Este faz-nos sorrir quando alguém esperto engana o Estado, por exemplo, ou consegue fazer uma obra que todos gostam mesmo com custos enormes e sem vantagens reais que não seja o de aumentar o nosso ego. Os outros na maioria das vezes não sabem, não são competentes, não se esforçaram e culpam os outros pelos seus insucessos.
Criticar sim.
Colocar todos na mesma gamela não.
Nota: trabalho no sector cooperativo e privado.

Jo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jo disse...

Para exclarecer o meu ponto de situação, não faço parte de qualquer seguimento político nem estou aqui a acusar nada nem ninguém.
Apenas cada vez mais tenho menos vontade de ser português.
Não sou dos que criticam e dos que nada fazem, sou daqueles que acha que já não há volta a dar.
A corrupção, a nojeira já está tão entranhada que nem um novo 25 de Abril limpava toda a porcaria que anda por ai.
Apenas lamento as vidas que ficaram pelo caminho, a lutar por um Portugal livre para isto se tornar no que é hoje. Não estou a dramatizar, apenas todos deveriam pensar um pouco nas nossas raizes em vez de olhar apenas para o umbigo....deveria aparecer aqui um post sobre o destino real dos fundos do QREN, seria interessante...

Jo disse...

Pegando nas suas palavras:
"...a justiça fará o resto..."
acredita mesmo naquilo que disse?

lookingforjohn disse...

Atiro para cima da mesa que a diferença entre a gestão das empresas privadas e "o Estado" reside no facto de nas primeiras existir muito desconhecimento e no segundo muito conhecimento inútil.
Sabendo-se que o desconhecimento é normalmente atacado pelo sistema formal de ensino, mas se este resulta em conhecimento inútil, desconfio que sei onde está a causa e, consequentemente, a solução para o problema.
Mais uma vez, tenho que trazer Saramago à liça, e a sua verdade acerca da diferença (e distribuição em Portugal) entre instrução e educação.
Tenho pra mim que a instrução favorece a memória, a educação a humanização, chave de tudo o resto.
Assim, precisava-se de instrução útil no privado (para saberem trabalhar), e de educação no público (para valorizarem o que têm, e quererem trabalhar).

P.S.: tenho que comentar a expressão "inveja" mencionada noutro comentário... pra dizer que, paradoxalmente, é dos mais beneficiados que ela vem, estranhamente... exacto, dos funcionários públicos... (que raio de profissão é esta, afinal, que tanto serve a um cantoneiro como a um arquitecto ou a uma secretária de vereador?? - não sabem identificar-se por aquilo que fazem de facto??...)

P.S. falso disclaimer: há aqui alguma dose de generalização, mas creio que é pequena.

Jo disse...

Bom ponto de vista.

Aprofundando o assunto da generalização, se calhar o mal é não generalizarmos mais um pouco em certas ocasiões.

Focamo-nos no pormenor e não vemos para além disso…Falta aqui um pouco de visão macro.

Em relação a certas visões anteriores, o ser humano obviamente tem tendência a defender-se quando se sente atacado na sua zona de conforto.

Desta forma, quando algo nos beneficia, ficamos no nosso cantinho a defendê-lo com unhas e dentes mesmo sabendo que está errado.

Viva a generalização!