quarta-feira, dezembro 04, 2019

"Quantos mais forem para o desemprego, mais a produtividade agregada do país cresce"

É melhor avisar que vou escrever este postal num tom irónico.

Primeiro um disclaimer: Há muitos anos que me surpreendo com a existência desta entidade "Forum para a Competitividade" - Recordo Agosto de 2008.

O Forum para a Competitividade é um monumento ao locus de controlo no exterior. Julgo que não minto quando escrevo que nos últimos 11 anos não li nem uma linha do referido forum acerca de como a competitividade pode ser aumentada pelas empresas. Só leio queixas ao governo de turno e pedidos para que outros façam alguma coisa para aumentar a competitividade das empresas.

Ontem li "Fórum para a Competitividade receia perda até 100 mil empregos com aumento do salário mínimo":
"O Fórum para a Competitividade receia que as contrapartidas pelo aumento do Salário Mínimo Nacional (SMN) sejam “muito insuficientes”, impedindo a produtividade de crescer ao nível do salário mínimo. [Moi ici: Como é que as contrapartidas poderão fazer aumentar a produtividade? Só se for na redução do denominador da equação da produtividade, ou seja, ganhos da treta] Alerta que, se isso acontecer, poderá assistir-se a uma perda de empregos que o Fórum estima variar entre 50 a 100 mil."
Ao ler esta previsão "uma perda de empregos que o Fórum estima variar entre 50 a 100 mil", alguém no governo pode dizer baixinho, para que ninguém oiça:

- Quantos mais forem para o desemprego, mais a produtividade agregada do país cresce. Sim, eu li o exemplo do Jorge Marrão, acerca do impacte das empresas que fecham, num blogue manhoso.

Sim, o eterno presidente do Forum para a Competitividade ainda não se apercebeu da mudança do discurso do mainstream acerca da relação entre aumentos da produtividade e salários.

Esperar contrapartidas significa que as empresas não têm de fazer nada elas próprias para acomodar o aumento de salário?

Sim, eu sei que os governos que temos são uns montros incapazes de se conterem, sempre dispostos a impostar tudo o que mexe, e empurrando os mais dinâmicos para a emigração. No entanto, isso são outros trezentos.

Há muitos anos ouvi num documentário histórico que a certa altura havia na península itálica dois grandes pregadores religiosos contemporâneos. Um, não fixei o nome, pregava e o dom da palavra deixava as pessoas que o ouviam maravilhadas com o seu dom, e satisfeitas por se sentirem crentes. O outro, um tal de Francisco de Assis, também tinha o dom da palavra, mas ao contrário do outro, deixava quem o ouvia, com problemas de consciência. Será que as acções estão de acordo com a fé?

Eu gostava que o Forum para a Competitividade, em vez de só malhar no governo de turno, malhasse com a mensagem de que as empresas, elas próprias, têm de fazer o seu trabalho de casa.

Recordo o que já aqui escrevi muitas vezes sobre o aumento do salário mínimo desligado de critérios de racionalidade económica, e baseado em engenharia social (caridade governamental com o dinheiro de outros), quem o propõe tem o seu emprego garantido.

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