domingo, março 01, 2009

Estratégia a sério na agricultura, ou make my day!

O mainstream, o lobby agricola que vive à custa de subsídios de Bruxelas navega num mar onde nunca terá hipótese de ser competitivo.
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Seja nos cereais, seja no leite (aqui basta acabar a protecção das quotas leiteiras para se gerar o fim do status-quo no sector e surgir o descalabro), estamos a falar de commodities em que o negócio é preço, em que as grandes unidades produtivas têm vantagens inegáveis (basta só imaginar o efeito que terá um dia a explosão da produção russa: Estratégia na agricultura).
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Embora não trabalhe na agricultura, ao longo dos anos tenho aqui coleccionado recortes sobre a agricultura em Portugal. Recordo um postal de Maio de 2008 Pensamento estratégico onde a CAP protestava contra a definição de produtos estratégicos para o mistério da agricultura.
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Retiro do texto do Expresso de então: "Questionado pelo Expresso, o Ministério da Agricultura explicou, por escrito, que "as fileiras estratégicas são aquelas que, tendo elevado potencial de desenvolvimento sustentado, associado a factores de mercados (competitividade), climáticos, ambientais e naturais, se encontram num nível de aproveitamento insuficiente face às suas potencialidades."
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Ainda do texto do Expresso de então as palavras do presidente da CAP: "não deve de maneira nenhuma descurar qualquer área da agricultura. Portugal deve produzir de tudo, pois faz sentido ter reservas estratégicas de alimentos e, para os termos, eles têm de ser produzidos."
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O Expresso de ontem, no seu Caderno de Economia, traz um extenso artigo intitulado "Uma rica terra alentejana" onde a política do ministério da agricultura para as fileiras estratégicas é ilustrada de forma particularmente positiva (não estou a dizer que o ministério seja responsável pelos sucessos do artigo, não tenho informação para tal, estou a afirmar que as ideias da política do ministério estão mais próximas do ecossistema económico, do tipo de modelo de negócio apresentado no artigo).
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Quando não se pode competir no negócio do preço-baixo, quando não se pode competir num negócio de margens apertadas em que o ganho resulta da venda de grandes quantidades, quando se tem um clima adequado, água e pouca terra, pode-se procurar competir na diversidade não na mono-cultura, pode-se procurar competir nos produtos de alto-valor acrescentado não nas commodities.
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Produzem:
  • relva para estádios ("O clima que permite produzir durante todo o ano, é outro trunfo. Este Inverno, em que a Europa foi assolada por uma vaga de frio que congelou as produções agrícolas, a relva alentejana foi a única a manter-se em produção e acabou por conquistar novos mercados");
  • pimentos (""aqui o clima permite produzir todo o ano, o que era uma exigência dos clientes dos supermercados de Inglaterra e Alemanha". Com produtividades quatro vezes superiores ao normal...");
  • morangos e framboesas ("É o único local da Europa onde se conseguem produzir morangos e framboesas todo o ano. ... A empresa produz em seis países da Europa, e em Odemira consegue "a única geografia de produção de morangos durante o ano tdo, ganhando três semanas ao morango de Espanha. ... "Conseguimos aqui produtividades muito elevadas e há uma população de abelhas muito interessante para a polinização dos campos"";
  • saladas ("Aqui, conseguimos produzir todos os dias...")
"Produzimos culturas-nicho, não as commodities", têm a vantagem da produtividade da terra e do clima, agora estão a pensar em criar uma marca para comunicar ao mercado que os produtos desta terra resultam de boas práticas ambientais.
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Claro que este sucesso implica cortar com a tradição e abandonar culturas que hoje não são competitivas, apenas sobrevivem à custa de torrar dinheiro dos contribuintes europeus.

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