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terça-feira, dezembro 30, 2025

Manter não é conservar o passado. É tornar o futuro possível.

Num postal de ontem mencionei "Interessante, ando a magicar um texto sobre o lado unglamorous da gestão/política".

Depois, à noite, vi este outro postal no LinkedIn.

Tenho um apreço especial por quem cuida, recupera, trabalha na sombra. Recordo esta "Curiosidade do dia".

Por isso, apreciei muito um artigo no FT Magazine do passado Sábado, "In praise of maintenance":

No artigo, Tim Harford defende uma ideia simples e profundamente contrária ao mainstream: o progresso sustentável depende menos de criar coisas novas e mais de cuidar bem daquilo que já existe. A ausência de manutenção não é neutra — é um sinal activo de abandono.

A manutenção, de infra-estruturas, equipamentos, organizações, relações e até do próprio corpo, é sistematicamente desvalorizada porque é invisível, repetitiva e pouco glamorosa. No entanto, quando falha, as consequências tornam-se evidentes e, muitas vezes, catastróficas.

"Maintenance is not a romantic subject. It can seem like an endless set of repetitive chores in which the best possible result is that you're back where you started.

...

Still, the topic is not up for negotiation. Buildings, machinery, vehicles and much more besides will soon become unusable if not cared for. No brushing, no teeth. No maintenance, no machine. [Moi ici: A manutenção não é opcional: sem ela, tudo se degrada rapidamente]

"Don't have time to schedule maintenance?" asks a cartoon drawn for the US Army, depicting a tyre bouncing to freedom away from a stricken armoured car. "Then your equipment will schedule it for you!" [Moi ici: A manutenção impõe-se sempre — se não for planeada, será forçada pela falha. A escolha não é entre manter ou não manter, mas entre manutenção planeada ou colapso inesperado]

...

Then again, many democracies do not cover themselves in glory when it comes to maintenance, either. Investment spending is often neglected, and to the extent that politicians do direct money at boosting the stock of capital, they tend to prefer to build something new. They hope that whatever is old will somehow keep ticking over without attention. It won't." [Moi ici: A crítica é directa à lógica política e financeira que privilegia investimento visível (novas obras, novos projectos) em detrimento da preservação do capital existente]

O autor cruza exemplos militares, políticos, tecnológicos e pessoais para mostrar que a negligência da manutenção resulta quase sempre de incentivos errados: preferimos investir no "novo" e no "espectacular" e adiamos o cuidado do que já temos, esperando que continue a funcionar por inércia. 

O artigo termina com uma proposta deliberadamente modesta, mas radical: em vez de mais resoluções de auto-melhoria, focarmo-nos, em 2026, em manter bem o que já existe.

A manutenção não é um detalhe técnico. É linguagem organizacional. Um espaço cuidado diz: "alguém está atento". Uma infraestrutura degradada diz: "ninguém responde". Uma máquina mantida diz: "isto importa". Uma estação ferroviária abandonada diz: "passa rápido e não te envolvas".

A manutenção é pedagogia silenciosa. Ela ensina respeito, responsabilidade, pertença, continuidade. Sem slogans. Sem comunicados. Por isso é unglamorous.