segunda-feira, dezembro 29, 2025

Curiosidade do dia

Vai um sujeito distraído a passear na rua quando:

Gosto muito da imagem que ilustra este postal, "Há que estar preparado para o safe-fail." Porque, como diz Alicia Juarrero "There will be turbulence".

Sistemas complexos (quer sejam organizações, mercados, sociedades ou ecologias) não seguem trajectórias suaves e previsíveis, especialmente à medida que interagem com contextos em constante mudança. 

O The Times de ontem publicou um pequeno artigo, "Is your firm crisis ready? Just ask your team these vital questions", que funciona como uma chamada de atenção. É certo que gosto de citar aqui com frequência a frase irónica proferida por um inglês (Sir John Harvey-Jones, o ICI-man), mas que às vezes parece que é dedicada aos portugueses:
"Planning is an unnatural process; it is much more fun to do something. And the nicest thing about not planning is that failure comes as a complete surprise rather than being preceded by a period of worry and depression."

O artigo do The Times parte de um episódio concreto — uma ameaça real de recolha de produto numa PME em rápido crescimento — para mostrar como muitas empresas só descobrem que não estão preparadas para uma crise quando o telefone toca. O caso serve de fio condutor para uma mensagem central: resiliência não se improvisa.

"I was totally unprepared for the call from my manufacturer to say there had been a complaint about our main product. [Moi ici: As crises chegam sem aviso, e apanham as empresas desprevenidas]

...

How on earth do you maintain trust in a product you have to recall? [Moi ici: A confiança do cliente depende da resposta, não da ausência de problemas]

A autora argumenta que, para as PME, a verdadeira preparação para crises não está em planos glamorosos nem em comunicação de fachada, mas em documentos, processos e decisões tomadas com antecedência, muitas vezes invisíveis no dia a dia. 

"None of this is glamorous, and none of it will trend on LinkedIn. [Moi ici: Interessante, ando a magicar um texto sobre o lado unglamorous da gestão/política]

...

For SMEs, resilience is built quietly, in advance."

A lista que propõe não é teórica: cobre relações com reguladores, processos de recolha de produto, propriedade intelectual (há tempos auditei uma empresa que assinava NDAs com os seus clientes e, depois, não assinava NDAs com os seus subcontratados), conformidade legal de websites, domínios digitais, contratos de trabalho e cibersegurança.

O texto termina com uma ideia simples e desconfortável:

"The real test of a business doesn't come when everything is going right: it comes when something goes wrong."

E, nesse momento, preparação não é conforto — é sobrevivência.

Preparar para o pior não é pessimismo; é responsabilidade. Esperar clareza regulatória, ataques cibernéticos "menos prováveis" ou problemas "que só acontecem aos outros" é abdicar de estratégia em nome do conforto.

BTW, também aprecio o tom da autora:

"While you're at it, get a teenager to go through the motions of navigating your site from page to page to check for hiccups, typos and link issues. The going rate for this is £15 an hour in our house."


Não se iluda. E a sua PME está preparada?

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