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Sei que hoje em dia o mainstream, o politicamente correcto, prefere o "Boas Festas".
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O Boas Festas é neutro, é uma espécie de Marcelo Rebelo de Sousa, não compromete, não escandaliza, não se define.
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No Sábado passado. de manhã, fui fazer uma caminhada para os lados do esteiro de Salreu. Ainda andando ao longo da Linha do Norte, num caminho escassamente alcatroado, sou interpelado por um presépio colocado na varanda térrea de uma casa de lavrador. Depois de o fotografar enviei a imagem com comentário para o Twitter:
Activismo de base desprezado pelas elites bem pensantes. Uma espécie de "lamed wof" que suporta o mundo sem o saber pic.twitter.com/uIeJkayb2S
— Carlos P da Cruz (@ccz1) December 19, 2015
Sim, que coisa mais esquisita... o que a minha mente retorcida fez de imediato foi relacionar o presépio do Natal cristão com uma lenda da tradição judaica (Pedro Arroja diria que é o catolicismo português em acção, tentando abarcar tudo).
Hoje, perspectivando o símbolo daquele presépio numa casa humilde de gente que trabalha a terra e o "Boas Festas" das elites bem pensantes encontro outra relação. A relação entre o Natal, o presépio e a bosta.
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Em Maio de 2010 saudei o cheiro a bosta que invade os campos de Estarreja e da Murtosa nessa altura do ano em "Abençoado cheiro a bosta".
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Enquanto as elites se digladiam no mundo do abstracto, as pessoas concretas lidam com a realidade concreta. Enquanto as elites agem como amadores a jogar bilhar, incapazes de prever as consequências futuras das acção actuais, tão bem ilustrada por "“Nós não estudámos até ao fim todas as consequências das medidas que sugerimos”", as pessoas concretas têm de prestar contas e viver a sua vida e deixar algo para os seus descendentes, não podem pensar que a seguir vão para Paris, ou para uma prateleira dourada qualquer.
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E é então que a imagem do presépio, do Menino Jesus, do Natal, ganha na minha mente uma aura de "resistência", de movimento de base dos anónimos contra as elites, uma espécie de Jean-Marie e Nicole contra os bem-intencionados Ebrennacs no "Le Silence de la mer".
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Assim, o anónimo da província num misto de sinceridade e provocação deseja a todos os que visitam este espaço um Feliz Natal, mesmo para os ateus, mesmo para os não-cristãos. Afinal a mensagem de Jesus é para os homens de boa vontade. Afinal a mensagem de Cristo era/é ouvida por cada um na sua própria língua e, afinal não sou eu um destruidor de Torres de Babel e do seu significado?
Feliz Natal!