Portugal foi distinguido pela The Economist como “economia do ano”. É um reconhecimento claro de que o caminho de responsabilidade, estabilidade e confiança que temos defendido está a dar resultados.https://t.co/iRt32M4fl3
— Joaquim Miranda Sarmento (@JMirandSarmento) December 8, 2025
Apesar do mérito conjuntural, lamento não poder acompanhar o senhor ministro neste entusiasmo.
Os dados obrigam-nos a uma leitura mais prudente — e, sobretudo, mais estrutural.
Segundo a Conta Satélite do Turismo de 2024, o consumo turístico no território económico já representa 16,6% do PIB, e o contributo total do turismo atinge 11,9% do PIB. Nunca o turismo teve tanto peso na economia portuguesa, ultrapassando largamente o período pré-pandemia, quando rondava os 8% a 9%. Estamos agora entre os países europeus mais dependentes deste sector, ao lado da Grécia e da Croácia.
Este desempenho é extraordinário. Mas é precisamente isso que deve preocupar-nos.
O turismo é, por natureza, um sector altamente volátil. Depende do rendimento e da confiança dos nossos principais mercados emissores, das condições geopolíticas globais, do preço dos combustíveis, das alterações climáticas, da estabilidade das companhias aéreas, da imagem internacional do país — e, como aprendemos em 2020, pode colapsar quase da noite para o dia.
Quando uma economia cresce sobretudo graças ao turismo, o PIB sobe, as estatísticas sorriem e as manchetes multiplicam-se. Mas, por baixo dessa superfície brilhante, instala-se uma fragilidade estrutural: a economia fica dependente de um único motor, que trabalha com combustível instável.
O turismo cria emprego, sim. Mas continua a ser um sector predominantemente de baixos salários, baixa produtividade e forte sazonalidade. Não é daqui que virá a transformação estrutural de que Portugal precisa há décadas: mais conhecimento, mais tecnologia, mais indústria sofisticada, mais inovação. Não é daqui que virão empresas com capacidade de pagar salários significativamente superiores à média nacional.
O verdadeiro problema não é o turismo estar a crescer — é o que não está a crescer ao mesmo ritmo. Os meus mastins dos Baskerville. A indústria transformadora continua frágil, o investimento empresarial teima em não convergir com o europeu, a produtividade avança ao ritmo de caracol e sectores de maior valor acrescentado continuam a ser excepção, e não regra.
Portugal não pode confundir a euforia conjuntural com a solidez estrutural.
Celebrar um bom ano económico é legítimo; mas construir uma economia resiliente exige outra conversa.
O turismo, por melhor que esteja, não pode ser o nosso desígnio económico. Não há país desenvolvido cuja prosperidade assente maioritariamente num sector tão exposto a choques externos. E quanto mais Portugal subir no turismo, maior será a queda quando o ciclo virar — e ele irá virar.
O ministro celebra o dia de hoje.
Eu preocupo-me com o dia de amanhã.
Portugal merece ambição, não conformismo. Merece uma estratégia económica que reduza a dependência de um sector vulnerável e que aposte, de forma séria, consistente e contínua, em sectores capazes de aumentar a produtividade, gerar conhecimento e criar valor duradouro.
O turismo é importante.
Mas não pode ser — e muito menos deve ser celebrado como — a solução para todos os nossos problemas económicos.
Enquanto essa distinção não for acompanhada de um verdadeiro caminho de transformação estrutural, lamento: não posso acompanhar o senhor ministro no seu regozijo.
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