sexta-feira, outubro 24, 2025

Curiosidade do dia

Dia 20 de Outubro no jornal The Times, o artigo, "Landowners see more profit in solar farms than growing crops":

"The largest farm management company in Britain is cancelling 20 per cent of its contracts with landowners because it is becoming harder to make money from arable farming.

Industry insiders fear soon-to-be-released farmland could be turned into solar parks, which give landowners a greater return on their investment."

O artigo descreve como a baixa rentabilidade da agricultura no Reino Unido está a levar grandes gestoras agrícolas, como a Velcourt, a cancelar contratos com proprietários de terras. Por causa da inflação, da redução de subsídios e da queda nos rendimentos agrícolas, muitos proprietários optam por arrendar os terrenos libertados para projectos de energia solar, que oferecem retornos mais atractivos e estáveis. Este movimento está a tornar os parques solares mais lucrativos do que as culturas agrícolas tradicionais, transformando a paisagem rural e levantando preocupações sobre o futuro da agricultura.

Acho triste esta evolução por causa do impacte ambiental, mas também já sabem a minha posição: os agricultores não podem ser uma santa casa da misericórdia, mas também não devem ser funcionários públicos encapotados. Nem todos estão preparados para mudar de foco, mudar de foco é arriscado.

Quais podem ser as consequências desta evolução?

Do ponto de vista económico, reduz-se a produção alimentar nacional e aumenta-se a dependência das importações, o que pode pressionar a balança comercial. Ao mesmo tempo, os proprietários de terras beneficiam de fluxos de rendimento mais estáveis e previsíveis através de contratos de arrendamento de longo prazo.

Socialmente, esta tendência reduz a atractividade da agricultura como profissão, desencorajando as novas gerações de nela entrarem. Pode também diminuir o emprego rural e acelerar a desertificação humana do campo, criando tensões entre proprietários, que lucram com a energia solar, e agricultores arrendatários, que perdem oportunidades.

Territorial e ambientalmente, a paisagem rural transforma-se à medida que os campos, antes dedicados a culturas agrícolas, se convertem em parques solares. Corre-se o risco de criar uma “monocultura energética”, afastando a produção alimentar e reduzindo a diversidade do uso do solo.

Do ponto de vista estratégico, o Reino Unido enfrenta riscos crescentes para a sua segurança alimentar, tornando-se mais vulnerável a choques externos no fornecimento e nos preços dos alimentos. Ao mesmo tempo, embora a energia solar seja renovável, depende fortemente de políticas públicas e subsídios, criando uma nova forma de dependência. Mais amplamente, a terra deixa de ser vista como recurso produtivo agrícola para passar a ser tratada como activo financeiro, com valor mais ligado à produção de energia do que à agricultura.


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