Esta manhã encontrei este tweet:
A propósito de "Preços "inviabilizam" construção das 59 mil casas prometidas pelo Governo".
"Se todos sabíamos que só 7% do PRR da habitação seria construível, colocar no papel 93% a mais foi pura e simplesmente fingir que o problema estava a ser tratado. Não temos emenda."
O caso das 59 mil casas prometidas no âmbito do PRR é um exemplo claro da forma como o poder político continua a demonstrar uma notável criatividade na arte de gerir expectativas. Ao desenhar um plano com metas manifestamente irrealistas, sabendo que a execução possível rondaria uma fracção mínima, o governo criou a ilusão de resposta a um problema estrutural — a habitação acessível — sem nunca enfrentar os seus verdadeiros bloqueios: custos de construção, capacidade instalada, e deficiências crónicas na gestão do território.
Mais preocupante do que o exagero das promessas é a facilidade com que os diversos agentes — administração pública, autarquias, comentadores e até parte da opinião pública — aceitaram esta ficção como se fosse um plano sério e exequível. Parecemos preferir a aparência da acção à dificuldade da acção real.
Aliás, é nestes momentos que percebemos que Grigory Potemkine, o célebre arquitecto de aldeias de fachada para impressionar Catarina, a Grande, devia ter sangue português. A nossa vocação para montar cenários convincentes, mas vazios, está viva e recomenda-se — com a diferença de que hoje nem é preciso montar andaimes ou pintar fachadas, basta um PowerPoint com tabelas redondas e metas reconfortantes.
Há, neste episódio, uma lição sobre o nosso modelo de governação: continua a faltar-nos a coragem de dizer a verdade toda, de enfrentar os limites e de construir políticas com base em diagnósticos realistas. Enquanto isso, aceitamos colectivamente narrativas que nos confortam, mesmo sabendo que não resistem à prova do tempo.
Não é só o plano que falhou. Foi o contrato de confiança com os cidadãos que, mais uma vez, se revelou frágil.
Só falta o ministro ser nomeado primeiro-ministro.
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