Desta vez, o meu parceiro contou-me uma história simples, mas profundamente reveladora.
Há cerca de quinze anos, ajudei a implementar o sistema da qualidade na empresa onde trabalha. Recordou-me os desafios que enfrentava naquela época para convencer as pessoas a preencherem correctamente os formulários necessários ao sistema. Era um constante andar atrás dos trabalhadores, sempre a pedir-lhes que preenchessem os impressos, sempre a corrigir erros ou a insistir para que completassem toda a informação. Um verdadeiro desgaste.
Até que, certo dia, aconteceu algo inesperado que mudou radicalmente a sua perspectiva.
Ele dirigiu-se à máquina de café, daquelas geridas por uma empresa externa, colocou as moedas necessárias e, para sua frustração, nada aconteceu. Nem café, nem moedas devolvidas.
Comentou casualmente o sucedido com alguém que passava:
– E agora?! A máquina engoliu-me o dinheiro e não deu o café.
E ouviu como resposta algo surpreendente, que iria provocar uma verdadeira mudança na sua forma de pensar:
– Isso acontece às vezes, mas não há problema. É só preencher a folha e depois devolvem o dinheiro.
Ele ficou intrigado:
– Folha? Qual folha?
– Está escondida aí em cima da máquina.
Intrigado, estendeu o braço, apalpou o topo poeirento da máquina e encontrou realmente um pequeno impresso. Ao olhar para ele, ficou espantado.
Aquela folha, um pedaço de papel mal impresso, pouco cuidado, deixado ali pelo abastecedor da máquina, estava preenchida de forma impecável! Tinha datas, horas, quantias exactas, rubricas... tudo impecável.
Nesse momento, uma pergunta desconcertante formou-se na sua mente: "Como é que eu passo horas a dar formação, a sensibilizar e a explicar a importância de preencher correctamente os impressos da empresa e raramente tenho sucesso? E aqui, com um papel miserável escondido em cima de uma máquina de café, sem formação nenhuma, as pessoas preenchem tudo correctamente?"
E a resposta surgiu-lhe clara, cristalina, e transformadora: As pessoas preenchem aquele papel porque é o SEU dinheiro, o SEU interesse pessoal que está em causa.
A partir dessa revelação, o meu colega percebeu que a verdadeira chave para o compromisso das pessoas no trabalho não era simplesmente dar formação ou explicar procedimentos. Era preciso conectar as tarefas ao interesse pessoal das pessoas. E o que é que poderia interessar-lhes mais do que a sua própria vida e segurança?
Assim começou uma nova abordagem no chão de fábrica: toda a comunicação e sensibilização passou ser a partir do interesse genuíno dos trabalhadores pela sua própria segurança e bem-estar pessoal. E foi assim, graças àquela velha máquina de café, que ele descobriu o poder transformador do interesse pessoal no compromisso organizacional.
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