sexta-feira, setembro 04, 2020

Ignorar uma realidade básica

Ontem no JdN um artigo de Luís Todo Bom, "Fazer as empresas portuguesas crescer". Alguns trechos:
"As empresas portuguesas, para além da sua pequena dimensão e reduzida capacidade tecnológica e de gestão, apresentam uma grande dispersão, em todos os sectores, em que raramente se verifica a existência de uma grande unidade, líder sectorial, que possa, por efeito de arrastamento, promover a melhoria global de todo o sector.
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A solução passa por um incremento significativo de fusões e aquisições, criando, com rapidez, empresas de maior dimensão e mais capacitadas para recrutarem gestores e engenheiros, bem remunerados, que façam a diferença, no processo competitivo global.
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Só será possível promover a alteração da actual situação, de aversão a crescimentos rápidos, por parte dos empresários portugueses, com garantia de estabilidade das leis fiscais e laborais, criando um clima amigo da iniciativa e do investimento privado.
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Os investidores estrangeiros não encontram parceiros nacionais credíveis, que permitam uma redução do risco do seu investimento, nem um “cluster” robusto de empresas complementares, que melhorem o posicionamento competitivo das suas unidades."
IMHO o artigo peca por ignorar uma realidade básica. Qualquer empresário quer crescer. No entanto, em muitos sectores de actividade, sobretudo os exportadores, crescer implica mudar de clientes-alvo e de proposta de valor, implica ter uma empresa diferente com uma gama de produtos diferentes vendidos sob diferentes modelos de negócio. Implica entrar em Terra Incógnita e ter de usar vantagens competitivas em que a cultura portuguesa não costuma ser forte.

IMHO o artigo peca por o autor continuar a ver o preço/custo como a única forma de competir e que quanto maior mais competitivo à custa dos ganhos de escala. Só que isso significa sair do nicho onde se está e ir para campo aberto competir com outros players, com necessidades de recursos muito maiores, com outra estrutura mental e outra cultura.

Se recordarem o que escrevi há uma semana, mais produtividade a sério não é a fazer melhor, mais eficientemente, o que já fazemos. Mais produtividade a sério só à custa de outras áreas de negócio, com outra cultura. Ou seja, investimento directo estrangeiro.

2 comentários:

Onun disse...

Um sector onde se viu a criação de grandes(ou maiores) grupos empresariais, pela compra e aquisição é o dos moldes. E não é por essa razão que estão melhores que os outros. As dificuldades são as mesmas!
Aliás, as altamente especializadas( tipos de moldes muito pequenos, ou para peças específicas) estão melhores.

CCz disse...

Presto serviços a uma pequena empresa que faz serviços sobre moldes (gravações, texturização química, ou a blue film, ou a laser) e nunca pararam durante a pandemia. Sempre tiveram trabalho durante todo o ano. Clientes são pequenos moldistas sobretudo na área do calçado (solas).