segunda-feira, junho 22, 2020

Não me convence

No semanário Expresso de Sábado passado, num artigo designado "Cuidado com a poupança", li:
"Bem sei que é inevitável a taxa de poupança aumentar quando a incerteza sobre o futuro se agrava. Costuma acontecer sempre. É natural e é humano. É isso que explica que o consumo caia mais do que o rendimento. As pessoas consomem menos porque têm menos dinheiro, em primeiro lugar, mas também por precaução, por não saberem o que aí vem.
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Poupar é abdicar de consumo presente em troca de consumo futuro: faz todo o sentido se acharmos que aquilo que nos espera é pior do que o que hoje vivemos. Mas o efeito agregado de todas essas decisões individuais não é nada simpático para a economia.
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Quando a família adia a compra de um carro, até pode ficar com mais dinheiro no banco, mas economia encolhe — e, lá está, a poupança aumenta.
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mais poupança é menos consumo e isso, já se sabe, só pode dar em menos PIB. Porque a economia são muitas famílias. É a família Silva que decidiu não comprar o carro. Mas é também a família Nunes, em que o pai, que trabalha num stand automóvel, ficou desempregado.
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Portugal é um país que tem poupado pouco desde que aderiu ao euro? Sem dúvida. É por isso que andámos anos a acumular défices externos. Reconhecer isto não é o mesmo que dizer que poupar é sempre bom. Há alturas em que, mesmo sendo compreensível, não é a opção mais vantajosa da economia. Na hora de poupar, é melhor ter cuidado. Enquanto poupa, pode haver alguém que também está a cortar-lhe o dinheiro que tem na carteira."
Há qualquer coisa neste racional que não me convence. 
Como é que se transforma dívida em capital? 
Como é que se cria um novo normal mais sustentável do que o anterior? Não é a replicar as interacções económicas do passado que nos trouxeram até aqui. Talvez o senhor Nunes tenha mesmo de ir para o desemprego no curto prazo para termos uma economia mais sustentável. 

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