terça-feira, julho 11, 2017

É um perigo para os burocratas e urbanos meterem-se com idealistas meio-anarcas

Ontem de manhã na rádio ouvi a estória da aldeia de Casal São Simão que num momento raro em Portugal, tresandando a locus de controlo interno, não ficou à espera de nenhum papá e decidiu avançar para a erradicação do eucalipto na sua proximidade.

A pessoa entrevistada referiu que já tinham recebido um telefonema de uma associação ambientalista galega a oferecer ajuda e a informar que estariam presentes na reunião onde a decisão dos habitantes será formalizada.

Interessante ter sido uma associação ambientalista galega. Ainda não ouvi nada das portuguesas.

Quando eu era criança, nos anos 80, juntamente com meia-dúzia de pessoas, uma delas o Serafim que faz anos hoje, criámos uma associação ambientalista: a Quercus.

Hoje não posso com a maioria das associações ambientalistas, pois não passam de urbanos especializados em sacar subsídios e apoios. Basta recordar a opinião que a Quercus tinha sobre o aeroporto da OTA.

Isto faz-me recordar este tweet de Nassim Taleb ontem:



As organizações bottom-up são mal vistas pelos profissionais dos subsídios pois as suas actividades movem-se a uma velocidade que não pactua com o tempo e a burocracia necessários para obter "subsidiação". É um perigo para os burocratas e urbanos meterem-se com idealistas meio-anarcas e plenos de locus de controlo interno.

Do tempo em que ainda frequentava as reuniões da Quercus recordo algumas conversas com estudantes de Biologia da FCUP que assumiam que ser sócio fazia parte do CV. Por isso, diziam:
"- Por favor, não me convidem para ir para o terreno ver águias ou lontras.

4 comentários:

João Pinto disse...

Boa tarde, Carlos

Não tenho conhecimentos suficientes para classificar os prejuízos/benefícios que o eucalipto pode causar aos terrenos. Tenho visto muitos "especialistas" criticarem o eucalipto, mas também tenho visto alguns defenderem a espécie.

O que sei é que as estatísticas não nos mostram a tal diabolização que muitos estão a fazer do eucalipto, relativamente à sua propensão aos incêndios.

Fui à procura dos dados estatísticos e tirei algumas conclusões interessantes. Veja as artigos dedicados ao eucalipto.

Como lhe disse, apenas peguei nos dados dos incêndios e cruzei a ocupação do solo com a percentagem de área ardida por espécie. O curioso desta análise é que o carvalho é a espécie mais ardida, em percentagem da ocupação do solo (também é verdade que a sua fraca ocupação do solo pode influenciar os dados).

Veja os artigos aqui:
https://economiaegestao.wordpress.com/2017/07/03/os-eucaliptos-e-os-fogos/

https://economiaegestao.wordpress.com/2017/07/03/eucaliptos-pura-ideologia/

https://economiaegestao.wordpress.com/2017/07/04/os-numeros-dos-eucaliptos/

https://economiaegestao.wordpress.com/2017/07/06/mais-achas-na-fogueira/

Os dados que utilizei foram todos obtidos do site do http://www.icnf.pt/portal


os dados podem ser consultados no site do

João Pinto disse...

http://www.icnf.pt/portal

CCz disse...

Boa tarde João,

Obrigado pela opinião.

O meu combate contra o eucalipto começou há mais de 30 anos e os incêndios não eram o motivo.

Uma árvore que cresce tão rápido tem de retirar nutrientes a uma velocidade que não permite reposição ainda para mais porque a manta morta é de difícil decomposição.

Há 30 anos era um promotor, um acelerador do que agora é comum, a desertificação do interior. Não era a a causa principal mas um acelerarador dessa desertificação.

E o impacte da monocultura na fauna autóctone das nossas florestas?

Por fim, o tema dos incêndios. Aqui deixe-me dar uma opinião subjectiva: não confio nas estatísticas. O mundo das celuloses tem muito dinheiro.

Quando se diz que ardeu mato - qual a classificação de mato, a partir de quando é que é mato?

todos os carvalhais que conheço e dignos desse nome vão resistindo aos incêndios com facilidade. O último que recordo é o do km 66 do antigo IP5 que agora pode ser acedido pelo desvio de Penoita depois da saída para Vouzela na A25. Há 2 anos houve incêndio medonho que queimou tudo excepto o carvalhal....

Outro carvalhal digno desse nome é o de Avelar junto a Perdigão Grande

por exemplo, quando há 374 anos ardeu floresta dessa peste que são as acácias no Parque da Peneda-Gerês como foi classificada a área?

Na minha relação com os eucaliptos os incêndios são só uma parte. Recomendo sempre a leitura do livro Exodus de Leon Uris, dos anos 60, que descreve como é que os israelitas secavam os pântanos no território obtido em 1948: usando eucaliptos.

Apesar disto tudo não voto na opção de proibir os proprietários de plantarem o que muito bem entenderem. Basta os governos deixarem de subsidiarem as fábricas, para ver as celuloses sobem na escala de valor e abandonam a estratégia de propagação cancerosa que seguem há décadas.

João Pinto disse...

Relativamente aos números, não sei se se trata de números viciados ou não. Sei que é uma entidade pública que os compila e são os únicos existentes em Portugal...mesmo de acordo com os dados, o eucalipto continua a ser das espécies que mais ardem (a seguir ao carvalho, ao pinheiro - e os matos, claro).

O ano passado presenciei uma situação e este ano (na semana passada) assisti a outra semelhante: ardeu tudo à volta e uma plantação de eucaliptos saiu intacta. Claro que não foram os eucaliptos que pararam o incêndio. O que se passou é se trata de plantações de eucaliptos que estão limpas. Ou seja, o que procurei reforçar nos artigos que escrevi no meu blogue é que plantações de eucalipto ordenadas e limpas são muito menos perigosas que terrenos abandonados (os tais matos)...

Além disso, como escrevi no blogue, grande parte da área de eucaliptos existe por razões naturais. Ou seja, com os incêndios e como as outras árvores foram desaparecendo, e como o eucalipto regenera depois dos incêndios, esta espécie foi-se tornando na espécie dominante - esta minha afirmação é baseada na minha observação empírica (na minha zona de residência - Norte - a maior parte dos eucaliptos existentes está em solos desorganizados).

Na notícia que o Carlos linkou (Aldeia de Casal São Simão), considero muito mais importante a criação de aceiros do que a proibição de eucaliptos (refiro-me apenas à importãncia para os fogos).