domingo, março 09, 2014

Igualdade de oportunidades num Estado socialista


"Eu não quero ter um modelo de sociedade nem quero um país em que essa igualdade de oportunidades não se verifique em três aspetos fundamentais: saúde, educação, proteção social"
Num Estado socialista quando um político se refere a "igualdade de oportunidades" raramente fala das oportunidades dos clientes dos serviços prestados por esse Estado. Normalmente fala para os prestadores desses serviços, os funcionários do Estado.
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Vou dar um exemplo de "igualdade de oportunidades" num Estado socialista.
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No final do primeiro período deste ano lectivo um dos meus filhos teve 10 a Português. Cheguei junto dele e fiz-lhe uma proposta:
- Se tirares mais de 12 nos testes do segundo período, compro-te aquele smartphone de que falaste há dias (não fiz qualquer referência à nota no final do período porque sei que há professores que seguem uma norma absurda de não subir mais do que um valor de um período para o outro, para não ficarem mal vistos entre os colegas). Assim, a partir de Janeiro começas a ir às explicações de Português.
- Explicações de Português? Isso existe? Não é só ler?
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Durante o mês de Fevereiro recebeu a nota do primeiro teste: 15,6!
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Não sou propriamente rico, tenho é as minhas prioridades no que diz respeito ao gasto do dinheiro. Sim, continuo com o mesmo Skoda de 1996, sem ar condicionado nem direcção assistida.
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Porque tenho os meus critérios na aplicação do dinheiro que ganho, porque valorizo a educação dos meus filhos, a sua situação ficou resolvida.
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E a situação dos colegas dele, condenados a ter a mesma professora, sem direito a explicações por fora, porque os pais ou não têm dinheiro ou porque não fazem da educação dos filhos uma prioridade da casa?
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A professora tem o seu lugar garantido!
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E a professora de Matemática da minha filha que dava e dá aulas de Matemática sem ir ao quadro, só por powerpoint? Lugar garantido!
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E reparem, igualdade de oportunidades na saúde?
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Apliquem o critério referido acima! Estão a ver a igualdade no acesso à saúde via ADSE?

8 comentários:

CCz disse...

três, dois, um e.....

Carlos Albuquerque disse...

Grande confusão por aqui vai.

Acha que a escola devia dar aulas de apoio aos alunos que precisassem, independentemente das possibilidades dos pais pagarem?

Mas isso não é possível porque o tempo dos professores é para estar na sala de aula e para tratar de burocracias, não chega para apoios extra. E como o tempo para preparar é pouco e muitas vezes sai das 40 horas semanais, se calhar o powerpoint até é uma maneira de rentabilizar as preparações.

Claro que assim os alunos cujos pais podem pagar explicações estão em vantagem. Isto é o que MFL critica mas que por aqui defende. Não percebo o seu espanto por este governo lhe fazer a vontade.

Quanto aos lugares garantidos, não sabe que foi implementada uma famosa avaliação de desempenho e que duas avaliações negativas seguidas podem dar origem a despedimento? Se acha que a avaliação de desempenho não é adequada queixe-se dos maravilhosos ministros que a implementaram, não de quem sempre disse que era uma fantochada desadequada.

Na saúde não sabe que ADSE é integralmente, sim, integralmente pago pelos beneficiários? E que não foi liquidado porque os privados recebem da ADSE muito dinheiro e o SNS não teria capacidade de suportar o aumento da procura caso a ADSE deixasse de contratar com os privados?

CCz disse...

http://go.360incentives.com/Portals/207654/images/I%20Love%20It%20When%20A%20Plan%20Comes%20Together.jpg

Carlos Albuquerque disse...

O seu plano era mostrar que não conhece alguns dos assuntos sobre os quais escreve?

Unknown disse...

Por muito maus que seja um professor há-de haver sempre bons alunos ( Prof. Universitário do meu 2º ano de faculdade )

Carlos Albuquerque disse...

Professores bons e maus há em todo o lado.

O que é espantoso é quem num post critica a defesa da igualdade de oportunidades vir a seguir queixar-se que a escola pública, em processo avançado de destruição por governos PS e PSD/CDS, não dá aos seus próprios filhos a famosa igualdade de oportunidades.

O modelo de uma óptima escola pública existe na Finlândia. A Suécia começou a pagar a escolas privadas e ainda não parou de cair nos rankings.

O mais triste é ver criticas ao socialismo por não ser compatível com a realidade vindas de quem nem sequer conhece as realidades sobre as quais opina.

João Pinto disse...

"A Suécia começou a pagar a escolas privadas e ainda não parou de cair nos rankings."

Então significa que a Suécia é muito menos desenvolvida que Portugal?

Em comparação com Portugal, quais são as vantagens de Portugal estar a subir no raking e a Suécia a descer?

O que ganhamos com isso? Portugal é mais desenvolvido? A Suécia cresce menos do que Portugal?

Carlos Albuquerque disse...

"Então significa que a Suécia é muito menos desenvolvida que Portugal? "

Não, significa que a Suécia está a obter piores resultados com o dinheiro que gasta.

"Em comparação com Portugal, quais são as vantagens de Portugal estar a subir no raking e a Suécia a descer? "

Portugal está a melhorar o sistema educativo, enquanto a Suécia está a piorar.

"O que ganhamos com isso? Portugal é mais desenvolvido? A Suécia cresce menos do que Portugal? "

Estava à espera que os resultados escolares de jovens de 12 ou 15 anos tivessem efeitos imediatos na taxa de crescimento do PIB nos dois ou três anos seguintes?

A educação é um investimento a muito longo prazo. No final do século XIX a Suécia já tinha baixíssimas taxas de analfabetismo (da ordem de 1%) enquanto em Portugal o analfabetismo andava entre 70% e 80%. Parece que entretanto a Suécia se tornou um dos países mais desenvolvidos do mundo enquanto Portugal continua a fazer as mesmas perguntas que anda a fazer há muitos séculos: Mas para quê saber ler? Mas para quê a educação? Olhe, quanto mais não fosse para ler a História e aprender alguma coisa, como os efeitos de longo prazo do aumento do nível educacional das populações. Infelizmente Portugal anda a repetir os mesmos erros vezes sem conta há alguns séculos.