sexta-feira, junho 14, 2013

A conversa da treta na agricultura...

"E que se mantém uma elevada dependência externa em cereais e oleaginosas, representando as importações destas commodities 42,4% do valor global das importações de bens agrícolas. Em simultâneo, a dependência externa destes produtos tem-se agravado, com as importações a aumentarem em média 10,3% ao ano para os cereais e 12% para as oleaginosas."
Enfim...
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A conversa da treta na agricultura...
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Podemos ter vantagem competitiva na produção de cereais e oleaginosas?
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Podemos ter vantagem competitiva noutras produções, com base no clima e terreno?
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O próprio texto diz tudo ao referir "commodities". Acaso um país pequeno pode competir na produção em que o negócio é preço/custo mais baixo?
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O que a nova gente que está a entrar na agricultura está a fazer é a não entrar no filme, em vez de um embate directo no mundo das quantidades, das commodities, apostar na diferença, apostar no valor acrescentado. Não tentam salvar o país e os seus desígnios estatísticos, tentam o sucesso dos seus projectos.
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Trecho retirado "Agricultura. Exportações só cobrem 48,4% das importações"

8 comentários:

Bruno Fonseca disse...

Portugal está ainda a sofrer os erros de uma PAC feita à medida dos países nórdicos e França. enfim. culpa de quem aceitou aquelas condições.

em relação à agricultura agro/alimentar, estamos a caminho de melhorar significativamente a nossa taxa de cobertura, não pelo facto de produzirmos cereais, mas pelo facto de produzirmos outro tipo de produtos nos quais somos competitivos, e que infelizmente, até agora, nunca ninguém ligou. também deve ser referido que o Alqueva vai ter um efeito gigantesco no sector. nãod eixa de ser curioso que 2 sectores que vão "puxar" bastante pelo país estão situados no Alentejo (Embraer e Alqueva).
se o calçado tem excelentes expectativas, como é facilmente comprovável pelo número de investimentos em curso ( http://m.dinheirovivo.pt/m/article?contentID=CIECO110011), o sector agro-alimentar tem também excelentes perspectivas para o futuro:
- bebidas alcoolicas duplica exportações entre 2001 e 2012. investimentos significativos nas cervejeiras (a Font Salem em Santarém está a duplicar capacidade produtiva; Unicer investiu 30 M€ este ano; Sagres investiu 25M€ em Vialonga no ano passado); no vinho o que não faltam são investimento vários, portanto, é de esperar que a exportação deste item (que já vale mais de mil milhões) continue a aumentar nos próximos anos
- investimentos em fruta com aumentos significativos, seja na zona do Oeste com pêra e maçã, seja com frutas vermelhos por todo o país, seja com a cultura de kiwi no zona de Amarante, morangos no Algarve. tem sido um crescimento subtancial.
- investimentos avultados no Alqueva, como sejam de japoneses para produzir tomate (http://expresso.sapo.pt/japoneses-vao-produzir-tomate-em-alqueva=f807699); http://expresso.sapo.pt/alqueva-atrai-novas-culturas-e-agricultores=f812677; http://www.correioalentejo.com/?diaria=9291&page_id=36; http://greensavers.sapo.pt/2013/02/05/mcdonalds-cultiva-cebolas-no-alqueva/
- a nível de azeite, nem vale a pena enumerar a quantidades de olivais plantados, nem de lagares inaugurados, aliás a Sovena está a construir mais um (!!)
-a nível de preparados, existem vários investimentos efectuados. a Vieira de Castro construiu uma 3ª fábrica; a Diatosta investiu imenso nos últimos 10 anos; Chaves recebeu um investimento espanhol para fábrica de pastelaria de vários milhões de euros

entre muitos outros

ou seja, as exportações estão a aumentar, e não estamos a investir em cerais como se fez há 60 ou 70 anos atrás

Bruno Fonseca disse...

só para concluir, esqueci-me de referir o investimento na industria conserveira (Ramirez está a fazer nova fábrica; Cofaco remodelou; Freitas Mar inaugurou nova em Olhão, em Peniche foram contratadas mais 100 pessoas) e também na aquacultura, que também devem nos próximos anos melhorar substancialmente de produção / exportação

CCz disse...

Bruno, este é o primeiro dia de semana em que tenho tempo para ler em tempo real os e-mails. Os seus comentários desta semana estão cheios de informação preciosa com números. Não quer fazer um texto para ser publicado aqui no blogue como convidado?

Tem o meu e-mail no blogue.

CCz disse...

Sábado passado li o caderno de Economia do Expresso e vi o que escreveram sobre o Alqueva

Carlos Albuquerque disse...

Aqui há que pensar em Taleb. Não ter um mínimo de produção agrícola, mesmo de commodities, é uma posição frágil. O que acontece se houver problemas meteorológicos, de especulação nos mercados ou de guerras? Perante a volatilidade o país fica sem ter o que comer. Ao confiar exclusivamente nos mercados e nas vantagens competitivas ganha-se um pequeno upside durante bastante tempo mas quando chega o cisne negro (nem é tão negro assim, ainda há poucos anos houve ameaças com os preços dos alimentos) o downside é brutal. O remédio é manter auto-suficiência, mesmo que isso tenha custos constantes.

Bruno Fonseca disse...

boas meu caro!

nunca pensei nisso. deixe-me pensar um pouco, até porque não sei exactamente sobre o que escrever. se pretender ter acesso a estes dados estatísticos, basta ir ao portugalglobal.

apenas uma nota em relação a estes investimentos no sector agrícola. são investimentos que têm um ENORME efeito ao nível de emprego. ou seja, um aumento de exportações no alimentar de 100 milhões, tem um efeito maior sobre o emprego do que o aumento de 500 milhões em combustíveis

bem haja!

CCz disse...

"Não ter um mínimo de produção agrícola, mesmo de commodities, é uma posição frágil."

A frase diz tudo, "não ter um mínimo de produção agrícola", e esse mínimo parece existir sem necessidade de pressão especial do governo. Basta pensar nos cereais que são produzidos em regime de produção biológica, bem pagos.
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Acho é ridícula esta ideia dos jornais de que não podemos importar nada, tudo tem de ser produzido cá. Sem pensar em custos... porque depois vem a história dos cortes para reduzir o défice.

CCz disse...

http://www.publico.pt/economia/noticia/exportacoes-agricolas-crescem-o-dobro-da-media-nacional-1598022