domingo, março 04, 2012

O produto é só uma desculpa

Esta manhã o @vascodcm, no twitter, têm-nos brindado com fotos de pastéis de nata tiradas em Changai.
Esta foto era acompanhada do comentário "Alvaro in China, a portuguese opera" numa referência às afirmações feitas em tempos pelo ministro da Economia.
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Quando na altura o ministro falou da exportação dos pastéis de nata sorri. Sorri porque pensei: o segredo não está no produto. O segredo está no modelo de negócio.
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A KFC não vende frango, vende um modelo de negócio.
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É possível montar um modelo de negócio onde entre o pastel de nata?
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No último postal, por exemplo, "E está à espera de?", tento mostrar como produzir não chega, é preciso criar um modelo de negócio. O negócio não é o produto, o negócio é o modelo de negócio. O produto é uma desculpa para iniciar e desenvolver uma relação.

11 comentários:

Unknown disse...

CCz, será que a criação de PMEs em barda é a solução para a alavancagem que este país necessita??? é desta forma que vamos criar emprego para "todos"...???

será que diversificando e abrindo as portas "fiscalmente" para atrair investimento estrangeiro, para criação de industria ou reativação da que já existe, não faria parte da ajuda???

sermos todos empresários no meu entender é utopia, pura.

a história do pastel de nata é o paradigma de não se saber do que se está a falar...

já agora mais uma... o governo criou um sistema de apoio a exportação, onde o cliente final se não pagar pagamos todos nós... assim....

CCz disse...

"será que a criação de PMEs em barda é a solução"
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Não será certamente a única, mas será um dos ingredientes da solução. A criação de PMEs em barda nunca é negativa, se tal for feito com capitais próprios. Se bem me lembro, os números nos EUA eram, antes de 2007: 90% das empresas criadas morrem antes dos primeiros 5 anos, 96% não chega aos 10 anos.
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Cada empresa criada é uma tentativa evolutiva que eu saúdo e aplaudo, louvando a coragem de quem resolve empreender.
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Também acredito que nem todos nasceram para ser empreendedores e isso não é problema. Uma sociedade saudável é uma sociedade diversa.
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"será que diversificando e abrindo as portas "fiscalmente" para atrair investimento estrangeiro, para criação de industria ou reativação da que já existe"
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Isso tem sido uma constante dos governos de todas as cores. Pessoalmente, tenho pena que só os que vêm de fora tenham direito a essas benesses fiscais. No entanto, há que perguntar, que tipo de indústrias viriam/virão?
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Há dias, na net, o CEO de uma multinacional dizia "sempre que um país me oferece condições especiais para instalar uma empresa, desconfio logo. Por que é que têm de me pagar para ir para lá?"
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Sinto que este modelo assente no Investimento Directo Estrangeiro que tão bem funcionou no passado, até a meio dos anos 90 do século passado, já foi chão que deu uvas. Antigamente, uma fábrica num país substituía importações. Agora, com a globalização, a unidade já não é o país, é a cadeia de abastecimento. Se não se faz parte de uma cadeia de abastecimento, está-se out.
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"o governo criou um sistema de apoio a exportação, onde o cliente final se não pagar pagamos todos nós"
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Não sabia que já tinham implementado essa ideia, era a ideia na base do anúncio de Teixeira dos Santos no parlamento de que iria comprar uma empresa privada que fazia isso, para baixar a bitola na exigência... enfim, PSD e CDS também são partidos socialistas.

Unknown disse...

eu quando escrevo para abrir as portas "fiscalmente" não é no sentido de pagar para virem para cá, mas sim sermos atrativos...

percebo perfeitamente que a dinâmica de criação de empresas deve ser elevada, o crivo do tempo e do mercado faz depois o resto, como dizia o outro é a vida.
acho é que falamos e damos muita importância a clusters que produzem pouco com muito e que trazem muito pouco valor acrescentado... já estou farto de ouvir a lenga lenga das empresas de cariz tecnológico...

em suma o paradigma necessita de mudar, como,,, olhando a minha volta, não sei...

CCz disse...

"falamos e damos muita importância a clusters que produzem pouco com muito e que trazem muito pouco valor acrescentado... já estou farto de ouvir a lenga lenga das empresas de cariz tecnológico..."
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Lembra-se da Qimonda? Era o maior exportador nacional!!! E, por cada euro exportado os contribuintes metiam lá não sei quantos euros...
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Quando Porter no seu estudo disse que o futuro estava na nossa tradição, caiu o Carmo e a Trindade. Os políticos queriam ouvir falar de tecnologia de ponta...
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"o paradigma necessita de mudar, como,,, olhando a minha volta, não sei..."
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O paradigma está a mudar, por isso é que está a doer.

CCz disse...

http://www.dinheirovivo.pt/Empresas/Artigo/CIECO032255.html?page=2

"Em 2011, os setores de atividade mais afetados foram o da construção (27,3%) com 1.295 casos, o do retalho (15,8%) com 749 casos e o dos serviços (13,6%) com 644 casos."

Pedro Soares disse...

Bom dia,

Quanto à questão da tecnologia acho que estas empresas podem ser importantes para o nosso país. Não por serem tecnológicas mas porque têm uma dinâmica muito diferente de trabalho no que toca a produto e principalmente em inovação.

Tenho contactado com algumas destas empresas e constatado que existem projectos muito interessantes com potenciais resultados a médio prazo. O maior problema é que estas empresas são, muitas vezes, lideradas por ex-académicos com pouco contacto com o "mundo real" e as suas ofertas nem sempre se adequam em completo ao que os clientes realmente querem. Por isso tenho constatado que nestas empresas se customizam muito os produtos caso a caso (com perdas num mercado em que o tempo de resposta é essencial).

Um outro detalhe (muito importante) que tenho reparado é que estas empresas vivem para desenvolver e inovar mas não para vender. Muitas vezes comportam-se como crianças no Natal... desenvolvem um produto e abandonam quase no fim para uma coisa nova aparentemente mais gira... depois pegam noutro e finalmente noutro... acabando por nunca apresentar ao mercado uma oferta de produto consolidada, trabalhada e capaz.

Mais uma vez criar um produto, aos olhos do mercado, é o mais difícil (com consequente venda).

CCz disse...

"Quanto à questão da tecnologia acho que estas empresas podem ser importantes para o nosso país. Não por serem tecnológicas mas porque têm uma dinâmica muito diferente de trabalho no que toca a produto e principalmente em inovação.
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Mas é claro que tem razão. O que é fundamental, na minha opinião, é que sejam um projecto de negócio para ganhar dinheiro, não um "bonito" de políticos em busca de totens para a sua coutada. Ainda hoje, no Público, conta-se uma história sobre a Tóbis e a facilidade com que se gasta dinheiro em tecnologia sem ser capaz de o rentabilizar.

CCz disse...

"Por isso tenho constatado que nestas empresas se customizam muito os produtos caso a caso (com perdas num mercado em que o tempo de resposta é essencial)."
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Pessoalmente, já fui mais crítico em relação a essas abordagens.
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Por vezes isso acontece porque têm o bichinho da investigação e da produção, mas não têm o bichinho da comercialização. Por isso, não investem tanto na actividade comercial como deveriam. Mas também reconheço que sem uma marca, sem um modelo de negócio, mais virado para fora, essa postura permite viver em nichos. O que já vi acontecer é, essas empresas produzem o protótipo, e outras aproveitam o protótipo e ganham dinheiro com a sua serialização.
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Por isso, parecem crianças de volta das prendas de Natal... o tipo de empresa, a cultura, a especialização que cria as máquinas, quando as empresas são pequenas, não deixa grande espaço apara a atenção na mente dos gestores.
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Ainda é difícil a uma empresa interiorizar que nem todas as encomendas interessam.

CCz disse...

"Muitas vezes comportam-se como crianças no Natal... desenvolvem um produto e abandonam quase no fim para uma coisa nova aparentemente mais gira... depois pegam noutro e finalmente noutro..."

Aí também convém investigar qual é o verdadeiro modelo de negócio desse tipo de empresas?
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Às vezes, podemos concluir que uma fatia importante das suas receitas vêm de projectos co-financiados, pelos clientes e projectos de I&D. assim, parte da sua actividade "comercial" passa por aprender a ganhar e tirar partido desses projectos co-financiados.

Pedro Soares disse...

Boa tarde,

Estas empresas têm muito a dar à economia, muitas trabalhando juntamente com as industrias "tradicionais", flexibilizando e apoiando a sua actividade (design, comunicação com clientes, gestão de projectos, etc) e outras através do lançamento de novos produtos de inovação disruptiva ou incremental, abrindo novos mercados e necessidades.

Da minha sensação e experiência, e indo ao encontro do Ccz, o que falta é a visão e o esforço de procurar chegar aos clientes, muitas vezes passando do conceito teórico de quem desenvolveu para o conceito prático de quem utiliza.

Mais uma vez falta a adaptação do produto, industrialização, o marketing e a venda desses produtos.

Repetidamente vejo este problema em várias industrias nacionais... afinal é de vendas e do seu lucro que todos vivemos mas aparentemente existe um bloqueio psicológico das empresas e as vendas não são a parte que dá mais "prazer" às empresas Portuguesas. (daí algumas trabalharem para subsídios... não gostam de vender... gostam de produzir!!!) Temos de mudar.

CCz disse...

Caro Pedro,

São muitos anos a reforçar a ideia de que o valor é incorporado durante a produção/prestação e é trocado no acto de compra por dinheiro.
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Há uma barreira a vencer para fazer passar a mensagem de que o valor é percepcionado por quem compra. E que há um mundo de coisas a fazer para aumentar os recursos e competências de quem compra, para que percepcione, viva cada vez mais valor.