quarta-feira, janeiro 18, 2012

Ingenuidade e o status-quo

Fazendo fé nas palavras de Camilo Lourenço, que ouvi há minutos na rádio, o acordo tripartido alcançado em sede de concertação social terá transformado a a legislação laboral portuguesa numa das mais flexíveis da Europa.
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Pedro Santos Guerreiro corrobora a opinião de Camilo Lourenço, ouvir "Este acordo laboral põe a flexisegurança num chinelo".
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Ao minuto 4:20 Carlos Daniel pergunta "Até que ponto este acordo vai aumentar a competitividade portuguesa?"
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E Pedro Santos Guerreiro tem esta resposta que subscrevo na íntegra:
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"Os patrões vão ter de provar agora que merecem este acordo, que lhes dá uma flexibilidade que sempre quiseram e nunca tiveram.
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É preciso capacidade de gestão porque agora as ferramentas estão oferecidas a quem gere.
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Não há nenhuma medida que aumente a produtividade das empresas, porque mesmo o aumentar o tempo de trabalho não é aumentar a produtividade, é apenas trabalhar mais tempo."
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O que pensam os académicos que martelam e moldam, via mass media, a cabeça dos empresários?
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Não têm pistas, só sabem mexer nos custos, pensam que podem competir de igual para igual com a população2!!!
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E mesmo alguns empresários que dizem isto "Política de salários baixos é errada" (dizem, não sei se praticam) têm uma visão ingénua da produtividade:
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""O problema de Portugal não é o custo do trabalho mas um problema de produtividade, no dia em que a produtividade aumentar baixam os custos do trabalho", disse hoje Alexandre Soares dos Santos, à margem de uma entrega de prémios organizada pela revista Exame.
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O empresário disse ainda que a contribuir para a baixa de produtividade está também o absentismo dos trabalhadores.
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Para contrariar a baixa produtividade, o dono do Pingo Doce considerou que uma "política de salários baixos é errada" porque "não convence ninguém a trabalhar mais e faltar menos"
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"A lei que protege as pessoas que não fazem nada tem de acabar", afirmou Soares dos Santos."
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Ou seja, segundo a opinião de Soares dos Santos, a culpa da baixa produtividade portuguesa reside nos trabalhadores que trabalham pouco e faltam muito... OK, talvez seja essa a experiência na cadeia de lojas do Pingo Doce. Contudo, quando falamos em comparar os níveis de produtividade de uma empresa portuguesa típica com uma empresa do mesmo sector noutro país da Europa Ocidental o que vemos?
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Uma diferença tão grande, mas tão grande que nem que os trabalhadores trabalhassem 12 horas por dia se veria uma aproximação razoável. Aliás, Portugal já é um dos países onde o sector privado trabalha mais horas por ano.
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O grande salto de produtividade que as empresas portuguesas precisam de dar tem muitos e bons exemplos cá dentro, basta, para cada sector de actividade, pesquisar a distribuição da produtividade em euros por hora trabalhada e veremos grandes, grandes diferenças. Qual o truque? Uma gestão concentrada em criar valor potencial para os clientes-alvo?
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Quantas empresas identificam os seus clientes-alvo?
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Quantas empresas formulam uma proposta de valor?
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Quantas empresas concentraram as suas actividades num mosaico sinérgico capaz de cumprir a proposta de valor?
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Quantas empresas pensam no dia de depois de amanhã?
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Quantas empresas planeiam a obsolescência do que fazem?
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Quantas empresas divulgam a sua proposta de valor onde os seus clientes-alvo podem ser "tocados"?
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E o que faz o "status-quo"? 
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Apoia as empresas que não fazem nada disto porque o mercado está mau... depois, queixam-se que a capacidade de gestão das empresas não melhora.
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10 comentários:

Jonh disse...

É claro que estas medidas não aumentam a produtividade.

Na minha opinião, elas são positivas porque dão liberdade aos empresários de adaptarem os seus recursos às suas necessidades. O resto, como diz o Carlos, está do lado da gestão.

Já agora, se possível, gostaria de saber a sua presada opinião sobre as medidas acordadas em concertação social...

André disse...

Agora para que haja efectivamente mais competitividade e productividade é preciso acabar com os subsídios inutéis, todo o tipo de protecção artificial e pôr ordem na legislação, para que se torne mais simples, eficáz e estável. Esta reforma será inutil se aqueles que atrasam o país continuam a ter influência.

(PS: mais que tornar o país flexível, é preciso responsabilizar cada um. Avançámos muito mas ainda há por fazer)

CCz disse...

As medidas que contribuem para flexibilizar a capacidade das empresas são positivas.
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As medidas que contribuem para aumentar a capacidade produtiva, através do aumento do horário de trabalho, na minha opinião, são irrelevantes para o desafio da produtividade e competitividade. A maioria das empresas tem um problema de escassez de procura.
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A escassez da procura não se resolve com mexidas nos custos laborais... isso são peanuts.
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Importante a flexibilização do despedimento individual porque nos próximos anos as empresas do mercado interno vão ter de sofrer um emagrecimento que as adeqúe à nova dimensão do mercado.

Unknown disse...

e que medidas para tornar o país competitivo? vai ser necessário criar emprego para a mão de obra que vai sofrer rescalonamentos...

CCz disse...

E vai ser o Estado a criar emprego?
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E a finalidade de uma empresa é criar emprego?
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Para mim, o emprego, tal como o lucro, não são um objectivo das empresas são uma consequência da sua actividade.
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Os países não competem, as empresas é que competem.
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Suspeito que o caminho passa por tornar menos arriscado a um empreendedor ganhar dinheiro quando o mercado sanciona os seus projectos, ou seja, que o Estado saque menos.

Unknown disse...

"Suspeito que o caminho passa por tornar menos arriscado a um empreendedor ganhar dinheiro quando o mercado sanciona os seus projectos, ou seja, que o Estado saque menos."

eu não diria melhor. ;-), mas pelo andar da carruagem, mais uma vez começou-se pelo telhado. não quer isto dizer que não fosse necessário, mas como bem diz e já o disse muitas vezes, bastava o estado sair da economia para ele avançar e seguir o seu ritmo normal. vamos ver... eu pessoalmente, não acredito no pessoal do pastel de nata.

Jonh disse...

"Os países não competem, as empresas é que competem."

Carlos, desde já agradeço a sua opinião. Relativamente à sua expressão - transcrita acima -, não concordo consigo. Penso que é um erro penoso para os países pensarmos que os países não competem. Competem na atração de investimneto. Estamos nesta situação porque os nossos governantes ainda não entenderam que têm de atrir mais investidores, facilitando-lhes a vida. Por isso, os países competem, não na angariação de clientes (os estados não devem produzir), mas na angariação de investidores.

Penso que o Ccarlos se referia apenas à atividade económica, mas...fica o reparo.

CCz disse...

Não creio que o papel dos estados seja o de atrair investidores. Julgo que o seu papel é o de não dificultar a vida aos investidores.
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Atrair implica beneficiar uns em detrimento de outros.
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Não dificultar implica tratamento igual para todos.

Jonh disse...

Não, Carlos.

Na minha opinião, atrair, como diz, significa não lhes dificultar a vida. Nós sabemos que os países que melhor conseguirem atrair investimento, mais capazes serão de ultrapassar as dificuldades.

Os países, quer queiramos quer não, competem entre si. As pessoas e as empresas preferirão sempre os que melhores condições lhes proporcionarem. Isto partindo do pressuposto que a economia é aberta.

lookingforjohn disse...

Isto agora vai dar muito que conversar, quando se vir que mesmo com estas facilidades todas a malta não vai conseguir chegar lá.
É que flexibilizar a produção de algo que não vende não faz com que passe a vender mais. Por exemplo, ter uma reserva de 150 horas é agradável na hora de parar a máquina (os empregados), mas vai ser chatito quando se vir que afinal não chega o dia em que precisamos de utilizar as 150 horas.
Mas, seja como for, finalmente um bom contributo para a clarificação final, e o consequente (eventual) recomeço.