quarta-feira, dezembro 08, 2010

Show-off

Nos últimos dois anos tenho tido a oportunidade e o gosto de trabalhar com cerca de dez empresas do ramo do calçado.
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Calçado: mão-de-obra intensiva.
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Só numa dessas empresas é que a flexibilidade laboral era problema, e só por razões de atrito pessoal.
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Em todas as outras empresas nunca a flexibilidade laboral foi assunto: flexibilidade de horários; bolsa de horas. Quantas empresas de calçado não estão actualmente a trabalhar mais uma ou duas horas por dia, para depois, em Janeiro trabalharem a meio-gás e as pessoas gozarem as folgas que ganharam.
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As empresas de calçado queixam-se mais, muito mais da falta de mão-de-obra do que da falta de flexibilidade.
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A grande flexibilidade é dada por estarmos a dois dias dos grandes mercados e termos estruturas mentais flexíveis.
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Assim, isto "Sócrates reúne-se hoje com UGT e CGTP para discutir flexibilidade laboral" com isto:
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"o objectivo "é potenciar e dinamizar (...) a adaptabilidade interna nas empresas, flexibilidades funcionais, de tempo de trabalho e salariais, que podem auxiliar as empresas a não ter que despedir trabalhadores"." não passa, não pode passar de show-off.

5 comentários:

Pedro Soares disse...

Desculpe mas não concordo com esta sua visão.

Está a olhar para as empresas como se fossem todas de mão de obra intensiva e de trabalhos em série.

Existem muitas empresas que trabalham num modelo de projectos... a título de exemplo, as de construção civil, as metalomecânicas ligadas à produção industrial, as empresas de consultoria (informática ou não) e outras. (repare, quase todas actividades de valor acrescentado)

Nestas existem momentos de grande procura e momentos de menor necessidade. Sem flexibilidade têm de ser tomadas as decisões de forma muito mais cuidada e de longo prazo.

Actualmente um funcionário que entre para o "quadro" ou que seja efectivo, é um contracto vitalício que a empresa tem de pagar sempre para desfazer (nem que o funcionário deixe de trabalhar e reduza a produtividade para metade).

Desculpe mas não concordo. Não concordo mesmo.

Pedro Soares disse...

Acrescento que acho mais benéfico aumentar o salário (o equivalente) a toda a gente e tornar mais fácil o despedimento do que manter tudo como está.

É muito difícil motivar pessoas (operacionais de baixa qualificação) a dar o melhor constantemente se não estiverem obrigados a isso.

CCz disse...

Caro Pedro,

Reconheço que não tinha essas áreas em mente.
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Mas nesses casos não é costume recorrer a subcontratados? Fábricas de equipamentos que conheço e que trabalham encomenda a encomenda, recorrem muito à subcontratação.

CCz disse...

http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=458751

Pedro Soares disse...

Desculpe o atraso na resposta.

O tempo é curto.

De facto a principal estratégia de combater a falta de flexibilidade tem sido a subcontratação e o trabalho temporário (e já agora, os miticos recibos verdes).

A empresa em que eu trabalho, e na qual tenho responsabilidades, resolveu não recorrer a recibos verdes, a não ser que seja uma situação em que a sua utilização não seja "falsa". Os motivos que nos moveram foram éticos e morais. Fechamos uma solução para a flexibilidade.

A subcontratação da actividade "core" é uma solução, na minha opinião, errada para quem quer apresentar um produto ou serviço que se distingue pela diferenciação. Normalmente, recorrer excessivamente a subcontratação, por exemplo em construção civil ou em metalomecânica, resulta em potêncial perda de qualidade e, principalmente, know how.

No entanto esta solução é a mais aceitável, actualmente.

Finalmente, o trabalho temporário à hora, é extremamente difícil de controlar e motivar já que querem é deixar "render o peixe". É desastroso ter gente desta sozinha, sem fazer equipa com alguém da nossa empresa.

O que eu realmente gostava era de poder contratar pessoas quando tenho mais trabalho, poder investir nelas, poder dar uma hipotese de terem uma carreira e se elas fossem superiores às que já tenho dentro de portas, poder ficar com esse colaborador em deterimento do anterior.

Ou seja, o critério ser o mérito e não o tempo de casa.

Se o critério for o mérito... todos procurarão dar o seu melhor sempre para terem mérito em todos os momentos.

Ao ler o meu texto vejo que já quase não falo de flexibilidade (banco de horas e outros) pq não é esse o meu problema. O meu problema é tornar a empresa e a sociedade por arrasto num lugar onde o mérito e o trabalho são mais valorizados que o posto adquirido e a Chico espertice.

Desculpe a revolta.