quinta-feira, agosto 16, 2007
Silva Lopes...
A entrevista concedida por Silva Lopes ao Diário Económico deve ser lida com atenção (aqui).
Não concordo com tudo o que o senhor diz, no entanto aqui vão alguns sublinhados:
"Não sei. Se a tendência for a dos últimos anos, podemos estar tranquilos. Mas um problema de ‘subprime’ tem maior risco de ocorrer em Espanha. Em Portugal o que podemos é ser afectados por uma crise espanhola. Em Espanha os bancos estão a emprestar a imigrantes, uma classe de elevado risco. "
"Já pensou porque é que o BCP saiu da bolsa de Nova Iorque?"
"Não. Essa questão dos centros de decisão nacional é um falso problema, uma hipocrisia. O Totta é um bom exemplo: fez a fortuna de Champalimaud, de Roquette e de mais alguns. E nas mãos do Santander traz mais problemas à economia portuguesa do que quando pertencia a Champalimaud? Penso que não. Até é um banco mais eficiente. Hoje não há centros de decisão nacional."
"isso ainda tem pouco peso. A grande fonte que tínhamos de vendas para o exterior era o investimento estrangeiro orientado para a exportação. E como temos visto muitos deles têm saído do país. Vão surgindo novos mas não sabemos qual é o peso dos subsídios dados pelo Estado nem o valor acrescentado nacional que criam.
Mas qual a importância disso desde que se crie valor acrescentado?
Mas que valor acrescentado é que vai criar? Duzentos empregados, eventualmente. O resto é tudo estrangeiro: o capital, os equipamentos, os lucros vão para o exterior… O que fica cá? Nem sequer os impostos, fica apenas a remuneração dos empregados. Qual é a relação entre este valor acrescentado e o subsídio que se deu? Este tipo de análise não se faz, não é parte da propaganda oficial…"
"Qual é a sua opinião sobre o projecto do TGV (comboio de alta velocidade)?
No caso do TGV para o Porto nem é preciso estudos económicos. Devemos adiar o projecto. Segundo se afirma vamos ganhar 20 minutos em relação à linha actual. Não vejo qualquer vantagem económica em gastar aqueles mil milhões todos para isso. Ainda apor cima depois de se terem gasto já mil milhões de euros na linha do Norte."
"Não acredito que o TGV (para Madrid) possa oferecer preços parecidos com os das companhias aéreas de ‘low cost’. O que é fundamental é uma rede de bitola europeia para mercadorias. Há quem afirme que o TGV, sendo bitola europeia e não sendo rentável para passageiros, será usado para mercadorias. Mas as mercadorias não precisam de TGV. Precisam é de bitola europeia."
"Os portugueses hoje mandam os filhos para a escola, antes não o faziam. Mas não é para aprender é para tirar o canudo. Os pais agridem os professores porque não passam os filhos.
Não se valoriza o conhecimento…
Entre os emigrantes, por exemplo, os portugueses mandam menos os filhos para a universidade que as outras comunidades. Há qualquer coisa de atávico de não valorizar o conhecimento, a formação. O resultado é que temos a população activa da Europa com menos qualificações. E se olharmos para outros países europeus… A Grécia e a Espanha estavam atrasados e ainda estão. Mas se compararmos o progresso deles com o nosso vemos a diferença. Ando a dizer isto há muitos anos. O problema do ensino é a maior vergonha nacional. E é por causa da qualidade. O ensino tem sido governado por grupos de interesses e não pelo interesse nacional. Os pedagogos… Por exemplo, sem exames não conseguimos andar para a frente. Há alguns alunos universitários que não sabem somar um meio com um terço."
"Mas também não há iniciativa empresarial?
Não há, mas se tivéssemos massa crítica os estrangeiros vinham para cá. Neste momento não nos podemos queixar da falta de iniciativa empresarial. Tenho uma grande admiração pelas pequenas e médias empresas que exportam. São os heróis da economia portuguesa, pessoas da indústria anónimas – com excepção de Américo Amorim que exporta cortiça e Belmiro de Azevedo com a madeira, os grandes grupos não exportam nada. Quem exporta em Portugal são as multinacionais e as pequenas e médias empresas. Mas esses não são famosos. Famosos são os que especulam na bolsa."
Não concordo com tudo o que o senhor diz, no entanto aqui vão alguns sublinhados:
"Não sei. Se a tendência for a dos últimos anos, podemos estar tranquilos. Mas um problema de ‘subprime’ tem maior risco de ocorrer em Espanha. Em Portugal o que podemos é ser afectados por uma crise espanhola. Em Espanha os bancos estão a emprestar a imigrantes, uma classe de elevado risco. "
"Já pensou porque é que o BCP saiu da bolsa de Nova Iorque?"
"Não. Essa questão dos centros de decisão nacional é um falso problema, uma hipocrisia. O Totta é um bom exemplo: fez a fortuna de Champalimaud, de Roquette e de mais alguns. E nas mãos do Santander traz mais problemas à economia portuguesa do que quando pertencia a Champalimaud? Penso que não. Até é um banco mais eficiente. Hoje não há centros de decisão nacional."
"isso ainda tem pouco peso. A grande fonte que tínhamos de vendas para o exterior era o investimento estrangeiro orientado para a exportação. E como temos visto muitos deles têm saído do país. Vão surgindo novos mas não sabemos qual é o peso dos subsídios dados pelo Estado nem o valor acrescentado nacional que criam.
Mas qual a importância disso desde que se crie valor acrescentado?
Mas que valor acrescentado é que vai criar? Duzentos empregados, eventualmente. O resto é tudo estrangeiro: o capital, os equipamentos, os lucros vão para o exterior… O que fica cá? Nem sequer os impostos, fica apenas a remuneração dos empregados. Qual é a relação entre este valor acrescentado e o subsídio que se deu? Este tipo de análise não se faz, não é parte da propaganda oficial…"
"Qual é a sua opinião sobre o projecto do TGV (comboio de alta velocidade)?
No caso do TGV para o Porto nem é preciso estudos económicos. Devemos adiar o projecto. Segundo se afirma vamos ganhar 20 minutos em relação à linha actual. Não vejo qualquer vantagem económica em gastar aqueles mil milhões todos para isso. Ainda apor cima depois de se terem gasto já mil milhões de euros na linha do Norte."
"Não acredito que o TGV (para Madrid) possa oferecer preços parecidos com os das companhias aéreas de ‘low cost’. O que é fundamental é uma rede de bitola europeia para mercadorias. Há quem afirme que o TGV, sendo bitola europeia e não sendo rentável para passageiros, será usado para mercadorias. Mas as mercadorias não precisam de TGV. Precisam é de bitola europeia."
"Os portugueses hoje mandam os filhos para a escola, antes não o faziam. Mas não é para aprender é para tirar o canudo. Os pais agridem os professores porque não passam os filhos.
Não se valoriza o conhecimento…
Entre os emigrantes, por exemplo, os portugueses mandam menos os filhos para a universidade que as outras comunidades. Há qualquer coisa de atávico de não valorizar o conhecimento, a formação. O resultado é que temos a população activa da Europa com menos qualificações. E se olharmos para outros países europeus… A Grécia e a Espanha estavam atrasados e ainda estão. Mas se compararmos o progresso deles com o nosso vemos a diferença. Ando a dizer isto há muitos anos. O problema do ensino é a maior vergonha nacional. E é por causa da qualidade. O ensino tem sido governado por grupos de interesses e não pelo interesse nacional. Os pedagogos… Por exemplo, sem exames não conseguimos andar para a frente. Há alguns alunos universitários que não sabem somar um meio com um terço."
"Mas também não há iniciativa empresarial?
Não há, mas se tivéssemos massa crítica os estrangeiros vinham para cá. Neste momento não nos podemos queixar da falta de iniciativa empresarial. Tenho uma grande admiração pelas pequenas e médias empresas que exportam. São os heróis da economia portuguesa, pessoas da indústria anónimas – com excepção de Américo Amorim que exporta cortiça e Belmiro de Azevedo com a madeira, os grandes grupos não exportam nada. Quem exporta em Portugal são as multinacionais e as pequenas e médias empresas. Mas esses não são famosos. Famosos são os que especulam na bolsa."
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