terça-feira, outubro 31, 2006

Carl Sagan, a vida em Marte e a ISO 9001

O semanário Expresso do passado dia 28 de Outubro trazia um Dossiê Especial "Qualidade".
Nas páginas 6 e 7 encontramos o artigo "Certificação Inovar para ganhar o futuro", da autoria de José Miranda Coelho (Presidente da APCER).

Gostaria de chamar a atenção para duas pérolas:

"Não obstante novos desafios se colocam à certificação, nomeadamente: a necessidade da existência de uma discriminação positiva das entidades que têm na Qualidade o seu foco estratégico"

"Nigel Croft apresentou uma tendência global preocupante, onde a excessiva concorrência entre organismos certificadores tem levado a que alguns organismos optem por uma abordagem menos rigorosa"

O que entender por "discriminação positiva"?
Tornar a certificação um requisito legal, uma obrigação para quem quer estar num negócio? Num mercado a funcionar livremente já existe uma descriminação positiva, os clientes optam por quem os serve melhor.
No ano passado, um aluno de uma Pós-Graduação apresentou um estudo sobre uma pequena empresa industrial portuguesa, fornecedora do grupo Modelo Continente. Essa empresa era o único fornecedor, de uma família de produtos, que não estava certificado. Quando se comparavam os resultados da avaliação do desempenho dos diferentes fornecedores, feita pelo cliente, concluiu-se que a PME não certificada era de longe a que tinha melhor desempenho.

"abordagem menos rigorosa"
O meu comentário é: " "


Quando tinha 15 anos ansiava por ver na televisão cada episódio da série "Cosmos" de Carl Sagan. Vi o quinto episódio e nunca mais me esqueci dum pequeno trecho.
26 anos depois encontrei o programa Cosmos à venda numa loja FNAC (num «conjunto de DVD's), comprei-o logo e... tive o prazer de voltar a rever as imagens do quinto episódio.

Hoje o trecho pode ser visto aqui. Puxem o cursor para o instante 42:24 e apreciem o momento, até ao instante 45:16.

Agora, voltem atrás e revejam o trecho, e quando Sagan pegar no carvão, no giz, nos pregos enferrujados, lembrem-se de quem acredita piamente que se der resposta isolada a cada um dos requisitos da norma ISO 9001... a mistura vai gerar um sistema de gestão da qualidade.
O mais provável é gerar um sistema de gestão que responde às cláusulas da norma... mas daí até ser um sistema de gestão do negócio! "Come one" quem é que queremos enganar?

Evangelho segundo João, capítulo 8, versículo 7.

3 comentários:

Anónimo disse...

Também tive oportunidade de ler o dstacável "Qualidade" do expresso deste sábado e, sinceramente, apenas achei interessante o texto do introdutório do Vitor Casimiro da Costa.

Já o Sr. Juran fazia, há uns anos e por motivos diferentes dos que expõe, a critica aos processos de certificação de qualidade. "Para ele, normas como as ISO 9000 têm a vantagem inegável de ser um sistema de avaliação igual para todos, mas apresentam também várias e assinaláveis desvantagens, nomeadamente não conseguirem captar os efeitos de variáveis tão importantes como a liderança, a participação dos trabalhadores ou as melhorias anuais. Logo, a certificação não assegura "excelência" da empresa. Daí Juran consderar que os custos da certificação talvez superem os seus benefícios." (in Lições do Pioneiro em videoconferência, João Matos, Executive Digest Nov 1996).

Concordo mais consigo do que com o Sr. Juran. Pelo menos parece-me ser mais esse o nosso problema(das empresas nacionais. Mas esse destacável demonstra bem o que infelizmente vamos tendo. Não a qualidade como um fim mas a certificação como um meio...

CCz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
CCz disse...

Caro Pedro:

Já reparou que a ISO 9001:2000 não inclui nenhuma exigência quanto à necessidade, quanto à boa-prática. de uma empresa precisar de angariar negócios, procurar clientes!

A cláusula 7.3 da ISO 9001:2000 fala sobre a recepção de contactos de clientes, uma postura passiva, as empresas aguardam o contacto dos clientes. Nada se diz sobre a necessidade de proactivamente procurar novos clientes e/ou novas encomendas. Como se pode esperar o sucesso com esta importante falha?

Quanto ao texto de Vitor Casimiro Costa, a última frase é assassina": "e apoiada numa estratégia organizacional".
Não podia estar mais de acordo, no entanto, quantas empresas têm sistemas de gestão realmente transformados em máquinas de execução da estratégia?