quarta-feira, agosto 15, 2012

A conversa da treta acerca da produtividade

Reparem nesta conversa:
"American manufacturing wages average $34 an hour, some 21 times the average in China at $1.60 an hour. But each U.S. worker adds $145,000 in value, far more than German, French, or Japanese employees, and more than 10 times that of the Chinese worker who contributes $13,700.
The predominant explanation is U.S. manufacturers’ investment in automated equipment. Also, American labor is better trained than the Chinese. Similar productivity rankings can be seen in dollar value-added per hour: The U.S. worker is on top with $73 in value-added per hour worked; the Chinese worker adds only $7.19 of value per hour; Japanese, German, and French workers contribute up to $63."
 Qual é a falácia desta narrativa?
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A-Lembram-se dos portugueses que com a 4ª classe, ou menos, emigraram para a França e a Alemanha, durante a década de setenta e oitenta do século passado, e de como a sua produtividade disparava?
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B-Lembram-se dos portugueses que com a 4ª classe, ou menos, ganharam a batalha da produtividade no sector têxtil aos franceses e alemães, durante a década de setenta e oitenta do século passado, e "arrumaram" com o grosso da produção nesses países?
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Se olharmos para a produtividade como um indicador da capacidade de acrescentar valor potencial por unidade de tempo:
Do texto, depreende-se que o autor percebe, ou pensa, da seguinte forma:
  • A automatização da produção e a superior formação do operário americano fazem com que ele tenha uma produtividade muito superior à do operário chinês. Para mim, que fique muito claro, isto é treta!
  • Outra justificação que se costuma ouvir ou ler é a de que a gestão do país X é superior à gestão do país Y e, por isso, os operários do país X são mais produtivos que os operários do país Y. Segundo esta justificação, a batalha da produtividade seria ganha com mais organização e método. Para mim, que fique muito claro, isto às vezes é treta!
Reparem numa das justificações do autor para o retorno de manufacturas da China para os EUA:
"Wages of the bottom half of American workers have significantly declined in real terms over the past decade, as well as in comparison with other nations, while those of U.S. manufacturing rivals, including China and Japan, have risen.
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American workers are working longer, faster, and with greater anxiety, than ever before. Because of greater automation, flexibility, domestic U.S. outsourcing, and the fear of being laid off, surviving U.S. manufacturing workers have seen little or no increases in wages in the past eight years, and their output has increased with productivity in output per employee at an all-time high."
Vejamos o caso A acima mencionado:
  • Como é que um português com a 4ª classe mal amanhada consegue dar um salto espectacular na sua produtividade ao passar de uma fábrica no vale do Ave para uma fábrica no vale do Reno, no espaço de um mês?
Alguns respondem: por causa da superior qualidade da gestão e da organização alemã!
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Bom, se essa for a resposta certa, como explicar o caso B acima mencionado:
  • Como é que as fábricas têxteis do vale do Ave liquidaram as fábricas concorrentes no vale do Reno e do Loire?
O problema destas análises da produtividade é que comparam alhos com bugalhos. Os trabalhadores americanos são mais produtivos que os chineses não porque, como o autor do artigo pensa e escreve, correm mais depressa, quais Charlots escravos do ritmo das máquinas e da automatização, mas porque produzem artigos diferentes dos chineses.
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Acaso um trabalhador americano poderia ter um nível de produtividade tão superior ao do chinês se produzisse o mesmo tipo de artigos?
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O erro destas análises é comparar valores da produtividade entre diferentes países assumindo que os que eles produzem é igual e que, portanto, é tudo uma questão de mais rapidez e mais eficiência (têm de perceber os gráficos de Hausman - "they talk about a big complex mess using very aggregate measures").
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O operário que vai do Ave para o Reno passa a produzir bens de muito maior valor acrescentado.
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A produzir o mesmo tipo de artigos, isto é, comparando alhos com alhos, quando a diferença salarial é muita e quando a mão-de-obra tem um peso forte nos custos, não há organização e capacidade de gestão que valha, o país com salários mais baixos ganha, daí o sucesso de B.
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Reparem como o governo e o BCE partilham do pensamento do autor do artigo, daí a redução de salários e o fim dos feriados.
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O retorno a que assistimos no têxtil e vestuário, no calçado, no mobiliário, ... em Portugal, não foi por causa da redução dos salários, não foi por causa de se produzir mais depressa, foi porque se passou a produzir artigos com maior valor acrescentado (recordar gráficos daqui).
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Alguém ontem comentou aqui no blogue:
"O consumidor americano é uma lástima, "no se entera de nada". Na velha europa somos civilizados"
Um pouco na linha do que escrevemos em "Sugestão para uma tese de doutoramento"... será que na América não existe massa crítica de consumidores exigentes que puxe pela subida das empresas americanas na escala de valor? E de considerar, também, no caso americano, a facilidade no acesso ao capital para suportar as deslocalizações, o que impediu criar uma massa crítica de gestores habituados a "fuçar", em vez de lutar mudando de campeonato, continuam na mesma arena e mudam de localização.

1 comentário:

CCz disse...

exemplo de quem prefere manter-se na arena, no campeonato conhecido.

http://sicnoticias.sapo.pt/economia/2012/08/17/empresa-textil-da-maia-declara-insolvencia

é uma decisão possível, não ilegal.