segunda-feira, outubro 03, 2011

A minha evolução

No final dos anos 80 do século passado descobri o mundo da qualidade.
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Comecei pelo mundo da melhoria da qualidade com "Guide to Quality Control" de Kaoru Ishikawa, Juran, com o SPC e com os métodos Taguchi.
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Depois, com a ISO 9001, a empresa onde trabalhava certificou-se em... 1992.
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Dediquei os anos 90 do século passado ao mundo da garantia da qualidade e da ISO 9001, primeiro como responsável da qualidade nas empresas onde trabalhava, depois como consultor, formador e auditor.
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Trabalhar no mundo da garantia da qualidade ajudou-me a crescer, a conhecer as empresas, a apoiar empresas que não tinham planeamento da produção, que não tinham especificações, que não tinham controlo da qualidade, que não definiam objectivos, que não aprendiam com os erros.
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Tenho consciência que algumas empresas trabalhavam para ter uma bandeira, mas para muitas foi um trabalho útil porque as tornou mais eficientes, mais organizadas, dotadas de números sobre a produção e a qualidade.
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Hoje, dedico apenas uma pequena parte do meu tempo profissional à ISO 9001, não só porque se trata de um mundo commoditizado, qualquer recém-licenciado pode trabalhar como consultor, mas também porque só aceito participar em projectos que não violem a minha consciência.
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Durante esses anos 90 acreditava que a batalha da eficiência era suficiente para as empresas.
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Hoje, sei que a eficiência não é tudo. Hoje sei que em certos negócios a eficiência é um empecilho no caminho para o sucesso...
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O mundo da qualidade que tanto me ensinou, que tanto puxou por mim... parece que enquistou e ficou para trás... cristalizado em velhas fórmulas para combater em guerras que mudaram de cenário e de armas.
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O mundo da qualidade acha o Acordo Ortográfico o máximo, uma pedra no alicerce da normalização... eu... eu aprendi que a normalização em excesso pode ser um perigo, aprendi a gostar da destruição da Torre de Babel e do que ela simbolizava.
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Hoje, acredito sobretudo na variedade, nas pequenas séries, na novidade, na eficácia, no feito-à-medida...
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Hoje, acredito que montar um sistema da qualidade numa empresa privada sem arrasar o conteúdo da cláusula 7.2 da ISO 9001 é perigoso... quem são os clientes-alvo? Qual a proposta de valor? Que clientes vamos rejeitar? (Se olharem para o conteúdo dessa cláusula verão que ela é escrita na óptica do cliente que audita o fornecedor... nunca questiona se o cliente é o adequado para o fornecedor)
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Hoje, acredito que montar um sistema da qualidade numa empresa privada sem trocar política da qualidade por estratégia para o negócio e, objectivos da qualidade por objectivos para o negócio, é incorrecto e perigoso.
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Escrevo isto por causa deste artigo "Manufacturing Strategies: The latest dMASS newsletter":
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"“quality inherently involves delivering the most value with the fewest resources and environmental impacts.” He views environmental problems as deficiencies in the process of converting resources into manufactured products and suggest shifting the focus from managing the consequences of using resources to managing resources as inputs. This means delivering much more benefit to customers with fewer resources.
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Many management strategies aimed at improving manufacturing practices – successors of the quality management movement such as Poka Yoke, lean manufacturing, and Kaizen – promote efficiency and waste reduction and often result in reduced environmental impacts."
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O mundo da qualidade ficou preso neste paradigma da eficiência. E tudo isto é válido e faz sentido quando a proposta de valor assenta no preço mais baixo. No entanto, e quando a proposta de valor não tem a ver com o preço mais baixo? E quando a proposta de valor tem a ver com a moda, com a inovação, com a customização, com a rapidez?
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Olivier Boiral em "Managing with ISO Systems: Lessons from Practice" publicado pela Long Range Planning 44 (2011) 197-220 escreve:
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"Although the number of ISO management system certifications is rapidly increasing around the world, it is also stagnating, even declining, in some developed countries. This is notably the case for ISO 9001."
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Hoje acredito que o ciclo não é o PDCA mas o CAPD e a qualidade gosta muito de grandes planeamentos, gosta muito de começar por eles. Prefiro começar pelos resultados... os actuais reais e os do futuro desejado. Tudo o resto é feito em função disso.

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