sexta-feira, setembro 10, 2010

Temos de competir como um país de moeda forte

A propósito de "Burocracia e rigidez laboral tornam Portugal menos competitivo".
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Estes rankings têm o seu mérito certamente, não ponho em dúvida.
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O que me aborrece são as interpretações que os media fazem deles... fazem-me lembrar um jovem recém-licenciado que entra no mercado de trabalho cheio de respostas, cheio de certezas, não tem dúvidas, aprendeu tudo, então não acabou de sair de um templo do saber!
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Passados 20 anos aprendeu muito mais, sabe muito e está carregado de dúvidas...
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É só a burocracia e rigidez laboral?
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E vale a pena comparar-mo-nos com a Albânia ou a Guatemala?
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Somos um país prisioneiro de uma moeda forte, temos de competir como um país de moeda forte, tudo o que fuja disto é uma ilusão não sustentada.
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Os números da Alemanha, no ano passado, colocavam-na ao nível de Portugal relativamente à rigidez laboral:
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"The most problematic factors for doing business
  • Alemanha - Restrictive labor regulations - 19,6
  • Portugal - Restrictive labor regulations - 19,3"

13 comentários:

Pedro Soares disse...

Bom dia,

Temo não concordar totalmente com este post.
Na minha opinião, não deveremos copiar completamente o modelo Alemão (ou outros semelhantes de moeda forte). A verdade é que culturalmente Portugal e a Alemanha são muito diferentes, e por isso a receita que se aplica por lá não será a ideal para Portugal. Eu entendo que os seres humanos são indivíduos de motivações, que respondem ás condições apresentadas e procuraram tirar especial proveito disso.
Sem generalizar, pela minha experiência, a legislação Portuguesa e o seu proteccionismo leva a que os funcionários (operacionais e produtivos) se acomodem à sua situação, após alguns anos, e deixem de se preocupar em evoluir em conhecimento e em produtividade, já que vivem numa falsa ilusão de segurança. Tenho observado que além de não evoluírem produtivamente após os primeiros 5 a 7 anos de trabalho, existem muitos casos (maioria) em que essa produtividade chega a diminuir.
Dirão os mais iluminados e estudiosos que é necessário saber motivar os funcionários, criar objectivos, etc etc. Teóricamente concordo, mas na prática o pessoal quer é “levar o dele” no final do mês e se produz muito ou pouco é problema dos outros. Afinal, para que se vai chatear se tem o emprego seguro e caso saia da empresa tem garantidos 2 anos de férias remuneradas no fundo de desemprego?
A legislação laboral actual motiva os funcionários a serem menos produtivos já que a contrapartida não lhes compensa.
Por outro lado, os empresários procuram de todas as formas encontrar formas de ganhar poder nesta relação… lá vem o trabalho precário, os recibos verdes, o despede e torna a contratar, etc etc etc.
Conheço casos em que empresários não avançaram com um determinado projecto ou investimento porque este teria potencial temporal limitado (apesar de rentável) pq não estavam disponíveis a “aguentarem” com o risco de terem o custo fixo que são os funcionários.
Não deveria a mão de obra ser um custo variável? Não seria este mais um factor positivo para o investimento, para a criação de emprego e para a competitividade?
Alguém já perguntou ás empresas se estas não estariam dispostas a pagar, por exemplo, mais Segurança Social, a troco dos benefícios de uma flexibilidade laboral total?
Olhem que se calhar até estavam…

Gostava de poder viver numa meritocracia!!! Em que cada um recebe pelos seus resultados.

Ahh.. somos culturalmente diferentes da Alemanha!!! Um Alemão comporta-se de forma diferente de um Português perante a mesma legislação… Não deverá Portugal aceitar antes as suas diferenças e trabalhar com elas? Ser Alemão não me parece solução 

Abraço ao Carlos e obrigado por me fazer pensar

Jonh disse...

Li o post do Carlos e o comentário do Pedro. Acho que concordo com os dois.

O Carlos tem razão quando diz que a legislação é importante, mas o mais prioritário, apesar de importante, não será a legislação laboral.

Também concorco com o Pedro quando alega que estamos a falar de pessoas diferentes, com culturas diferentes, etc. No entanto, exceptuando os antigos funcionários que ainda têm contrato a efectivo, hoje em dia, quase todas as empresas optam por contratar a termo, transformando custo fixos em "quase" variáveis. Também é verdade que muitos funcionários (gosto mais de colaboradores) se acomadam aos lugares e não são incentivados a produzirem, a sua produtividade é baixa e talvez diminua com o passar do tempo na mesma empresa.

CCz disse...

Caros Pedro e John
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Não me interprete mal, não penso que tenhamos de copiar os alemães porque são alemães e o modelo alemão parece que está a dar.
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Penso que devemos pensar e trabalhar como os alemães porque temos uma moeda forte. Hoje, ao almoço, vi as imagens de Nuno Melo do CDS a perorar contra as importações do Paquistão.
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Não faz grande sentido, não é nesse campeonato que temos de estar.
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IMHO é impossível competir no mercado global com uma moeda forte e concorrendo no mercado dos produtos do preço mais baixo. Tentar competir no mercado do preço mais baixo, com uma moeda forte, leva as empresas a uma espiral deflacionária que acaba por fazer implodir as empresas com a anorexia do permanente corte de custos.
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É essa a minha convicção, é esse o meu ponto.

Um abraço.

CCz disse...

Ora ao trabalhar para outros mercados que não o mercado do preço mais baixo, o pilar da eficiência laboral é menos crítico.
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Numa Guatemala, ou numas Honduras, ou na Macedónia, com uma moeda que pode ser manipulada facilmente pelo respectivo Governo, as empresas locais têm mais graus de liberdade para competir.
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Por cá tal não é possível. Não se compete onde se quer mas onde se pode.

CCz disse...

Por favor não esquecer este postal

http://balancedscorecard.blogspot.com/2009/01/somos-todos-alemes.html

Em 2007 o PIB Eslovaco cresceu 10,6%
Em 2008 o PIB eslovaco cresceu 6,2%
Em 2009 o PIB eslovaco caiu (-)4,7%

Moeda forte... já não são competitivos a fazer o que faziam anteriormente como subcontratados dos alemães.

Pedro Soares disse...

Olá de novo,

Estou de acordo com tudo o que dizem, inclusive com a escolha do termo colaborador em vez de funcionário :).

A minha questão não está no custo dos RH, reparem que sugeri aumentar a carga fiscal, e até o salário (final) líquido, dos colaboradores.

O que eu comento é que é muito complicado manter uma empresa motivada e em constante crescendo de competências (e logo capaz de trazer aplicar novas estratégias centradas em valor ao mercado e em inovação)se a legislação incentiva e motiva comportamentos opostos.

Acho que deveria ser tudo mais elástico, que os salários deveriam ser mais variáveis e dependentes dos resultados de cada um.

Poderia escrever desenfreadamente mais mil coisas sobre a legislação laboral e a sua rigidez. Mas ouvi dizer que os comentários têm de ser curtos!!

Já agora, o que acham das 35 h obrigatórias de formação? E de não se tributarem as horas extras?

Abraço

Jonh disse...

Boa noite,

Carlos,

Sim é um facto o que desmonta relativamente à mudança de paradigma que deve acontecer na Eslováquia. O mesmo já deveria ter sido feito em Portugal. Os números de crescimento que apresenta, mesmo descontando a crise grave qua a Europa e o mundo atravessam, não mentem.

Pedro,

Relativamente à sua pergunta, na minha opinião as 35 horas de formação seriam excelentes desde que não impostas, mas consideradas pela gestão da empresa como essenciais e capazes de gerar mais-valias. No que concerne à não tributação das horas extra, tenho muitas dúvidas. Apesar de precisarmos de flexibilidade, exceptuando alguns casos, estaremos a flexibilizar demais...

O grande problema, na minha opinião, e apesar de considerar um problema, não é a legislação laboral.

Cumprimentos,

João

CCz disse...

Relativamente à formação, julgo que os políticos confundem a formação como um fim em si mesmo e não como um instrumento. A formação devia ser "puxada" e não "empurrada".
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Ao longo dos anos tenho escrito aqui sobre a treta da formação profissional, treta quando usada como arma política, por exemplo:
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http://balancedscorecard.blogspot.com/2007/11/mitos-mitos-e-frases-feitas-algum-j-fez.html
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http://balancedscorecard.blogspot.com/2008/12/vamos-brincar-caridadezinha.html
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CCz disse...

"Acho que deveria ser tudo mais elástico,"
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Pedro, por isso é que na quinta-feira passada escrevi isto no blogue:
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http://balancedscorecard.blogspot.com/2010/09/se-eu-conseguisse-influenciar-uma.html
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Vamos ter de evoluir para uma sociedade em que cada vez mais pessoas terão de trabalhar numa economia que "puxa" e não que "empurra".

Jonh disse...

Leio o Carlos com muita atenção, concordo com muita coisa do que diz, até porque as suas afirmações são bem explicadas.

No entanto, segundo a leitura que faço das suas afirmações, deixam-me a pensar que o Estado não pode nem deve fazer nada. É claro que numa economia de mercado são as empresas que tomam a iniciativa, mas haverá alguma coisa que o Estado pode fazer para ajudar a virar o bico à crise.

Carlos, em termos puramente económicos, o que é que acha que o Estado poderia fazer para reavivar a economia portuguesa? (descontando os problemas financeiros e de sustentabilidade do próprio Estado).

Onde é que deveria apoiar (se é que deveria), em que áreas é que deveria apostar (educação, justiça, etc.)?

Sem conhecimento de causa, mas pelo que vou ouvindo e lendo, há projectos de acrescentam valor à economia portuguesa que continuam a demorar uma eternidade a serem aprovados. Pelo contrário, há pequenos projectos (alguns direccionados para o terceiro sector, que nada acrescentam à economia) que são apoiados financeiramente (por exemplo as ILE's).

CCz disse...

Respondo amanhã à questão do Estado.
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Quanto aos apoios a projectos... geram empresas que sabem concorrer a projectos para se financiarem. São raras as vezes em que o projecto, passa do protótipo à venda para o mercado pois essa nunca foi a intenção.
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Lembra-se do Espanha!Espanha!
Espanha!
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E o que me diz a isto:
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O ponto 12 é um espectaculo http://bit.ly/9M9PJx

CCz disse...

Caro John,
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A minha interpretação sobre o papel do Estado passa por aqui:
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"Mike Bloomberg is the Mayor of New York. His job is not to be a public speaker or even to spread his ideas. His job is to make New York work--to get people to come, to visit, to start businesses, to go to school. To make the city appealing and functional.
...
It's hard to be a mayor. You don't get to be in charge, really. You can help set the table, and then get out of the way and let the village/city function the best you can."
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Não acredito num Estado-Estratega, seja um Socrates a apontar "Espanha!Espanha!Espanha", seja um Cavaco no discurso do 25 de Abril a dizer que temos de apostar no Mar ou nas Artes.

Jonh disse...

Caro Carlos,

Concordo com a sua visão sobre a política e os políticos, como retrata o texto que sugere. A seriedade, a responsabilidade e o dever de cidadania devem fazer parte das condições obrigatórias para ser eleito de uma qualquer comunidade. A par disso, há decisões que necessitam de ser tomadas pelos políticos. Numa altura em que se fala na crise económica, há prioridades que devem estar claramente identificadas e assentes numa verdadeira estratégia, que sei que não existe.

Ainda relativamente aos subsídios, concordo consigo que o financimento e a subsio dependência não resolvem nada, apenas adiam a derrocada final dessas entidades, a não ser que mudem a sua estratégia. Aqui, com parceiros competentes, talvez o Governo possa fazer alguma coisa. Saber seleccionar onde operar deve fazer parte da sua estratégia.

Claro, o Carlosjá sabe que eu concordo com o financiamento inicial a projectos que acrescentem valor (coisa que não tem sido feita, pelo menos não se tem discriminado projectos que acrescentam dos que nao acrescentam valor).

Abraço,

João