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sábado, novembro 15, 2025

" morno, confortável, inofensivo — mas também irrelevante."



Ontem, ao final da tarde, ao terminar mais um workshop no âmbito de um Lead Auditor Course, aparece o exercício sobre o cuidado com a forma como os auditores escrevem os seus relatórios.

Um dos cuidados é o evitar as palavras "weasel", palavras do género:
"It is possible that..." - Instead, be specific about the findings and their implications. 
"There may be a chance that..." - Replace with concrete observations and recommendations.
"It appears that..." - Offer clear evidence and substantiation for your claims.
"Some individuals might argue that..." - State your findings directly without referring to hypothetical opinions.
"It could be suggested that..." - Present the information as fact, not as a suggestion. "In some cases, ..." - Specify the cases and provide details.
"There seems to be a problem with..." - Describe the problem explicitly.
"It is generally believed that..." - Indicate who believes this and why."

Enquanto comentava este tipo de palavras, na minha mente apareceu a figura de mais um candidato do regime, Marques Mendes.

No caso de Marques Mendes, o padrão é semelhante: declarações tão vagas e cuidadosamente calibradas para não ferir ninguém, que acabam por não dizer nada de substância, são entertainment, em bom português: chouriços. É a versão política do “Melhoral: não faz bem, mas também não faz mal”.

Tal como numa auditoria, em que as palavras weasel reduzem a clareza e tornam impossível perceber o verdadeiro sentido das conclusões, este tipo de discurso impede o cidadão de identificar o que realmente conta: posição, responsabilidade e consequência. A mensagem fica sempre num território morno, confortável, inofensivo — mas também irrelevante. É uma forma de comunicar que protege quem fala, mas empobrece quem ouve.

E, tal como nos relatórios em que as weasel words minam a credibilidade de quem as usa, também aqui o efeito é semelhante: cria a sensação de que o orador está mais preocupado em não desagradar do que em liderar; mais focado em proteger a imagem do que em enfrentar realidades difíceis. Numa época em que o país precisa de escolhas claras e de coragem estratégica, o discurso que evita o impacte pode ser politicamente seguro, mas não acrescenta valor. Mantém tudo igual. Mantém tudo a flutuar. 

No fundo, as weasel words servem para adiar compromissos e diluir responsabilidades. E quando um candidato faz do “não comprometer ninguém” o seu principal princípio orientador, o resultado é previsível: uma política sem direcção, sem tensão criativa, sem transformação. Um estilo que tranquiliza, mas não mobiliza; que suaviza, mas não inspira; que comenta, mas não decide. A verdadeira pergunta é se, num país que precisa urgentemente de clareza e propósito, ainda há espaço para esta política-Melhoral, tão leve que nem aquece nem arrefece.

A verdade é que, sim, ainda vejo espaço para esta política em Portugal — um país de brandos costumes, de constantes adiamentos e onde a ambiguidade confortável muitas vezes substitui a decisão. Mas é justamente por isso que vale a pena trazer o exemplo das weasel words para a esfera pública: para recordarmos que, tal como nas auditorias, também na política a clareza não é um luxo — é uma responsabilidade.

E talvez esse seja o ponto central: enquanto continuarmos a aceitar discursos que não comprometem, também continuaremos a receber políticas que não transformam. A exigência começa em nós. A mudança, também. Se queremos líderes que falem claro, temos de começar por deixar claro que já não basta a leveza do "Melhoral". O país precisa de outra coisa: substância, propósito e coragem para dizer o que tem de ser dito, mesmo quando dói. Só assim deixaremos finalmente de flutuar.