quinta-feira, novembro 06, 2025

Curiosidade do dia

Pacheco Pereira tem razão ao denunciar a precariedade dos trabalhadores da Glovo e a ausência de protecção social e laboral. Mas o problema não está apenas na falta de direitos: está na própria natureza destes empregos.

Melhorar as condições, garantir salário mínimo, segurança social, férias e horários decentes — tornaria estas funções economicamente inviáveis para as empresas que se baseiam no modelo da “gig economy”. Ou seja, se lhes dermos dignidade, deixam de ser “viáveis” na lógica actual. O que revela que o sistema, em si, é moralmente insustentável.

Não é por acaso que muitos portugueses não querem esses empregos. Não é preguiça, nem vergonha: é porque não permitem uma vida digna. E é precisamente por isso que se recorre a imigrantes, muitas vezes vulneráveis e sem alternativas, dispostos a aceitar condições que outros recusam. Eles não “roubam” trabalho; ocupam o espaço criado pela nossa aceitação social de empregos indignos.

O verdadeiro debate, portanto, não é se devemos proteger mais ou menos estes trabalhadores, mas se devemos aceitar a existência de um trabalho que só sobrevive à custa da dignidade humana.

No mercado de bens transaccionáveis quando isto acontece, temos o encerramento das empresas e a procura é satisfeita com a produção em países mais baratos. No mercado de serviços não transaccionáveis é interessante que importemos os trabalhadores desses países mais baratos. Impedindo, assim, que empresas ineficientes fechem ou que os consumidores sejam obrigados a pagar o valor justo por esses serviços.



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