quinta-feira, outubro 09, 2025

Curiosidade do dia


A propósito de "Contas sólidas escudam dívida portuguesa do risco de França" no JdN de hoje recuo a 2010. Vinha de Felgueiras, descia a A4 junto a Penafiel, e ouvia na rádio a voz de Rui Rio.

Recordo as declarações de Rui Rio, enquanto presidente da Câmara do Porto, entre 2009 e 2011. O município apresentava sucessivos excedentes, dívida controlada e facturas pagas em dia – uma situação financeira que muitos autarcas invejariam na altura. No entanto, quando as agências de rating baixaram o rating soberano de Portugal, o Porto foi imediatamente arrastado para baixo, independentemente da qualidade das suas contas.

Em 2010, a Fitch cortou o rating do Porto logo após rever em baixa o da República. Em 2011, depois da Moody’s ter colocado Portugal em “lixo”, Rui Rio recusou-se a renovar o contrato com a sua agência de rating, acusando-a de agir sem seriedade: não avaliava a realidade financeira do município, aplicava apenas um corte automático.

O caso é elucidativo. Não basta ter contas sólidas se a percepção externa – de investidores, agências de rating, mercados – se guia por critérios mais amplos, muitas vezes alheios ao esforço local ou nacional.
É esse o risco de acreditar no título de hoje. O Orçamento de Estado pode, de facto, apresentar números equilibrados, mas isso não garante imunidade face ao contexto europeu ou global.

As contas equilibradas são condição necessária, mas não são condição suficiente. Acreditar apenas em manchetes que falam em “escudos” pode ser confortável, mas é perigoso. A história ensina-nos que o verdadeiro teste surge sempre quando os ventos mudam – e nessa altura, são os alicerces estruturais, não os títulos de jornais, que fazem a diferença.

1 comentário:

Avó Pirueta disse...

Quando dói, a gente lembra-se...