quinta-feira, maio 29, 2025

Curiosidade do dia

Em Outubro de 2010 escrevi em "Qual é o recurso mais escasso?":

"Pobre indústria têxtil ... acorrentada a uma associação que ainda não viu a luz, que ainda não percebeu que as empresas portuguesas não podem competir com o Paquistão, não por causa do Paquistão, mas por causa da qualidade de vida dos operários portugueses na indústria têxtil e por causa da saúde económica das empresas têxteis portuguesas.

Enquanto não virem a luz vão continuar a comportar-se como um animal acossado a um canto, entretido a defender-se de um tsunami e a desperdiçar a oportunidade de mergulhar num mundo diferente, no mundo da moda, do speed-to-market, da flexibilidade, da diferenciação, do alto valor acrescentado..."

Em Março de 2013 escrevi ""Por que é que calçado e têxtil têm tido desempenhos tão diferentes?""

Agora estamos em 2025 e continuam distraídos a defender o passado com "Têxtil português exige taxa de 20 euros aplicada àscompras na Temu e Shein". O mundo gira, a moda reinventa-se, a inteligência artificial escreve editoriais — mas a indústria têxtil portuguesa continua firmemente agarrada à bóia do proteccionismo. Desta vez, não é contra o tsunami. É contra a Temu e a Shein. Sim, em vez de nadar, pedem ao Estado que baixe a maré: “Exigimos uma taxa de 20 euros sobre compras nestas plataformas!”

Pensem bem: quando Trump ameaçou erguer barreiras alfandegárias, não faltou quem gritasse contra o proteccionismo retrógrado e as taras do nacionalismo económico. Mas eis que, no conforto da indústria nacional, se ergue a mesma bandeira, agora bordada em pano doméstico e com um selo de “urgência estratégica”.

Talvez um dia percebam que o inimigo não está na China — está na cronologia. E que competir com o século XXI usando argumentos do século XX tem tanto futuro como uma linha de produção a vapor no meio de um desfile da Paris Fashion Week.

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