segunda-feira, maio 19, 2025

Curiosidade do dia


A gente lê "Reitor da Universidade de Coimbra pede que empresas contratem doutorados para "ir mais além na inovação"" e fica algo perplexa com a argumentação básica, ingénua mesmo:
""Há uma coisa que temos de fazer: os nossos empresários não podem continuar a eferir contratar três pessoas a salário mínimo do que uma pessoa doutorada. Isso é algo que nos inibe e nos impede de ir mais além na inovação", ", afirmou Amílcar Falcão,
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“a inovação, para funcionar, tem de ter um modelo de negócio” que “começa na capacitação dos jovens que entram na universidade para o empreendedorismo,
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Para tal, segundo Amílcar Falcão, é necessário “conseguir financiamento europeu”, sendo Coimbra a universidade portuguesa com mais financiamento europeu para a investigação. “Isso reflete-se nas patentes: em seis anos, mais do que duplicámos as patentes no mercado. É com este impulso financeiro que depois conseguimos fazer diferente e ir procurar parcerias a outros locais”, realçou."

Dizem-nos agora que a solução para a economia nacional é simples: trocar três trabalhadores a salário mínimo por um doutorado. É, pelo menos, o que prega o reitor da Universidade de Coimbra, indignado com a avareza dos empresários que preferem “três pessoas a salário mínimo do que uma pessoa doutorada”, escolha que - garante - “inibe” o país de “ir mais além na inovação”

A receita soa maravilhosa: basta uma caneta, um carimbo e… abracadabra! — substituem-se operários por investigadores como quem muda fusíveis. Alterar modelos de negócio? Reformular estratégia? Mudar de cultura de gestão? Pormenores irrelevantes. A única KPI que conta é o número de teses por metro quadrado.

Para condimentar o plano, acrescente-se o velho fetiche das patentes. Se já temos doutores, convém ter também montanhas de registos na OMPI — porque, como toda a gente sabe, cada patente é um euro no bolso. Só que não. O Financial Times lembrou, neste mesmo 2025, que o crescimento explosivo de patentes inglesas não se traduziu necessariamente em mais receitas — muitas vezes nem sequer em lucro.

Ah! BTW, é uma fofura ver a universidade a erigir-se em oráculo do empreendedorismo: docentes vitalícios que nunca passaram pelas tormentas de uma folha de salários no fim do mês explicam às empresas como captar investimento, enquanto laboratórios subsidiados por fundos públicos ensinam a "gestão do risco" sem nunca terem arriscado um cêntimo do próprio bolso — a mais pura forma de coragem académica, feita à prova de falência.

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