domingo, fevereiro 09, 2025

Curiosidade do dia

A secretária-geral da AHRESP tem boa imprensa por isso não encontro nenhuma crítica a esta estória.

No semanário Expresso num artigo intitulado "Adeus, empregado de mesa. Olá, assistente de sala" podem ler-se coisas que se fossem ditas por outra pessoa seriam motivo para escárnio e maldizer. 

"Uma das profissões mais mal amadas no turismo, a de empregado de mesa, terminou oficialmente, e deu lugar ao novo cargo de 'assistente de sala'. Esta alteração, que resultou do acordo para a negociação do contrato coletivo de trabalho entre a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) e o Sindicato dos Trabalhadores do Sector de Serviços (Sitese), faz parte de um esforço para a valorização de carreiras num negócio onde só a função de chefe parece ser sexy.

"Ninguém quer ser empregado de mesa, que também é um comunicador, tem competências que vão muito além da distribuição de pratos ao cliente" , frisa Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP, considerando "redutora" a designação que "conferia a estes trabalhadores uma perceção errada, de subserviência, o que em nada se coaduna com a sua real importância, eles são a cara do restaurante."

É fascinante como, em Portugal, se acredita piamente no poder mágico da semântica para resolver problemas estruturais. A restauração paga mal, exige horários ingratos e oferece perspectivas de carreira limitadas, mas não faz mal - mudamos o nome e, de repente, tudo fica apelativo!

Afinal, quem não adoraria trocar um salário miserável e clientes mal-humorados por um título sonante? "Assistente de sala" soa quase a algo saído de um qualquer departamento de luxo, talvez até com direito a um crachá reluzente. Mas, surpresa das surpresas, o prato continua a ter de ser posto na mesa, a gorjeta continua a ser incerta, e a precariedade continua a ser a rainha do sector. Mas não sejamos cínicos. Com esta mudança visionária, quem sabe se, na próxima revisão do contrato colectivo, não poderemos aspirar a "Gestor de Experiência Gastronómica"? Assim, pelo menos, quando for altura de emigrar para um país onde este trabalho seja devidamente pago, o CV ficará mais bonito. 

Nota 1: A restauração paga mal, exige horários ingratos e oferece perspetivas de carreira limitadas – não porque os patrões sejam vilões de histórias de exploração laboral, mas porque a própria natureza do negócio não permite muito mais. Os custos fixos são elevados, as margens de lucro são apertadas e, numa economia onde os consumidores procuram o preço mais baixo, a capacidade para aumentar salários sem comprometer a viabilidade do negócio é reduzida. Muitos restaurantes operam com dificuldades financeiras constantes, tentando equilibrar preços competitivos com os custos de matéria-prima, rendas elevadas e uma carga fiscal pesada. Além disso, a sazonalidade torna difícil a criação de contratos estáveis. No Verão e durante as épocas festivas, a procura dispara e exige equipas reforçadas, mas nos meses baixos, muitos estabelecimentos lutam para cobrir despesas, tornando inviável a contratação a termo incerto.

Nota 2: A propósito de algo que se lê no artigo, "Imigrantes são mais de 30% da força de trabalho", fico admirado. Só? Recordo "Imigrantes: efeitos positivos e negativos", a dependência da mão-de-obra imigrante de baixo custo pode suprimir os salários não só dos imigrantes, mas também dos trabalhadores locais, conduzindo potencialmente a um abandono da profissão pelos trabalhadores locais, e os imigrantes também não ficam por muito tempo, basta ler as últimas linhas deste postal recente, "Zombies à espera de um qualquer Milei num futuro ainda distante mas certo"

Sem comentários: