"Portugal está cheio de grupos instalados que nos impedem de crescer. Esses grupos que controlam a política e a comunicação social são os funcionários públicos e os reformados, considera o economista João César das Neves, em entrevista ao jornal i.Entrada de Mário Cortes em 3, 2, 1 para defender os privilégios dos donos do regime:
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Apesar da brutal pressão da troika, os reformados e os funcionários públicos escaparam a cortes nos salários e pensões que eram justos e permitiriam ao País aliviar a sua dívida. Isto aconteceu porque estamos perante grupos instalados, que controlam a política e a comunicação social, impedindo Portugal de crescer."
Trecho retirado de "César das Neves: "Reformados e funcionários públicos controlam a política e a comunicação social""
5 comentários:
http://ionline.sapo.pt/artigo/525372/joao-cesar-das-neves-os-revolucionarios-querem-usar-o-papa-como-arma-de-arremesso-
Caro Carlos Pereira da Cruz,
Aproveito este post para manifestar, por uma vez, a minha discordância consigo. Já não é a primeira vez que cita um economista cujo discurso, no mínimo, é absurdo.
Quando você insiste, e muito bem, na análise rigorosa dos números, como pode amplificar as palavras de quem está completamente alheado da realidade?
Todos os pensionistas são Durões Barroso?
Todos os funcionários públicos são gestores de empresas públicas?
Uma coisa é saber que o Estado que temos é grande e influente de mais.
Outra, bem diferente, é colocar no mesmo saco quem de facto mais sofreu com a "austeridade".
Posso dizê-lo com conhecimento de causa: eu trabalho no privado e a minha esposa é funcionária pública.
Não há comparação entre os cortes aplicados! Ela foi muito mais visada que eu!
Cumprimentos e continue com o ótimo trabalho que tem feito.
Paulo Espírito Santo
Paulo Espírito Santo,
Peço desculpa por responder-lhe quando a pergunta era para o CCZ, mas deixe-me mostrar-lhe como os funcionários públicos são/foram muito menos penalizados como os privados....
1) A totalidade dos desempregados vieram do sector privado(lembre-se que a taxa de desemprego chegou aos 18%) e nenhum veio do sector público. Ou seja, quando há uma crise, o sector privado ajusta quase automaticamente e o sector público rejeita esse ajuste (por causa dos votos, como é óbvio - os políticos rejeitam mexer no que lhes pode tirar votos).
2) As condições de acesso à reforma sempre foram mais benevolentes no sector público do que no sector privado; o própria forma de calcular o valor da pensão é muito mais benéfica no sector público do que no privado (são/eram necessários muito menos anos para se aposentar e a percentagem de substituição da remuneração pelo valor da reforma é muito superior no sector público).
3) Não esquecer que, mesmo os cortes que foram feitos nas pensões do sector público (durante a troica) foi aplicada apenas aos valores mais altos; nunca às pensões mais baixas;
Penso que os factos que aqui relatei respondem (e contrariam) claramente aos seus argumentos. Já não falo nas 35 horas, nos dias de férias...
Caro Paulo o fiscalidadenoblog já apresentou o meu argumento mais forte o 1º. Centenas de milhares de pessoas que trabalhavam no privado foram para o desemprego e nenhum do público. Ainda agora temos os horários-zero.
A verdade é que a austeridade continua e vai ter de ser agravada para 2017 porque a economia privada não consegue gerar riqueza suficiente para pagar a dimensão do Estado que temos. Já este ano, e de hoje, veja o que se anda a fazer para conseguir passar o lance das reversões rápidas:
http://rr.sapo.pt/artigo/58160/ex_presidente_da_ers_acusa_governo_de_abrir_buraco_de_100_milhoes_na_ars_norte
http://economico.sapo.pt/noticias/prestadores-de-cuidados-de-saude-denunciam-colapso-financeiro-na-ars-norte_253362.html
http://portocanal.sapo.pt/noticia/102672
http://www.jn.pt/nacional/interior/escolas-sem-dinheiro-para-luz-e-agua-5296705.html
No entanto, a loucura continua
https://www.publico.pt/economia/noticia/frente-comum-pede-aumento-minimo-de-50-euros-para-a-funcao-publica-1744136
No setor público foram para o desemprego milhares de professores.
Quanto aos efeitos práticos dos cortes nos gastos públicos parece que uma parte do país só agora deu por eles. Outra parte já vinha a notar isso há quatro anos.
Mas claro que a austeridade continua. O problema sempre foi a maneira de a gerir.
Quanto à sustentabilidade, presumo que o Carlos Pereira da Cruz tenha feito as contas que provam a insustentabilidade melhor do que o César das Neves respondeu ao i:
"i: Penso que, se todos os bancos vão à falência, há algo de sistémico por detrás disso.
JCN: É a dívida. É a mesma que manteve os ordenados dos funcionários públicos acima do que deviam ser, as reformas superiores ao sustentável, e que construiu autoestradas a mais."
Digo eu: por isso a Alemanha não tem problemas com os bancos, claro. E nenhum país com as contas em dia teve problemas com os seus bancos.
"i: E por que razão se corta sempre nos mesmos? Temos a menor tributação dos mais ricos da Europa...
JCN: Exatamente. Mas é um problema. O ponto é que os ricos fogem.
i: Mas isso não é desculpa.
JCN: Portugal tem uma enorme fuga de impostos. Isso quer dizer que temos impostos que os que pagam pagam muito alto. Como é que conseguimos resolver este problema? Só cortando na despesa para podermos montar um sistema fiscal a cobrar de uma forma mais inteligente."
Digo eu: como os ricos não pagam impostos deixamos de pagar aos funcionários até arranjarmos maneira de cobrar aos ricos. Que acontecerá se se falar num pequeno aumento de impostos aos mais ricos?
"JCN: Esta atitude de fingir e dar aos grupos instalados, como os reformados e os funcionários públicos, que controlam a política e a comunicação social.
i: Acha mesmo que os reformados são donos dos grupos de comunicação social?
JCN: São aqueles a quem o governo está a dar dinheiro de novo. As medidas não eram reversíveis, temos de cortar nas despesas."
Pois, os jornais e televisões são todos propriedade de associações de reformados e de sindicatos da função pública.
"i: Vai ter de me explicar que grupo de reformados tem jornais.
JCN: Eu não vejo é ninguém a falar contra esses interesses instalados e preocupado com a criação da riqueza.
i: Tem o José Gomes Ferreira, que faz isso todos os dias.
JCN: O José Gomes Ferreira é o único que se preocupa com o futuro do país."
Mas, claro, o JGF não tem espaço para intervir em público nos órgãos de comunicação social, todos controlados pelos funcionários e reformados.
Quando, para provar seja o que for, é preciso ir buscar estas análise do JCN, é porque os factos andam mesmo muito escassos.
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