sábado, setembro 02, 2006

"O ensino aqui é o pior de tudo"

Tenho sempre um apreço especial pelos cidadãos da Europa de Leste que abandonaram o seu país e, vieram trabalhar para este canto, no extremo da Europa do Oeste e que não é capaz de aproveitar o seu potencial.
Se para Fernando Pessoa a sua pátria era lingua portuguesa, para mim, a minha família alargada, a minha tribo, a minha etnia, é composta por todos aqueles que independentemente de tudo o resto, procuram melhorar a sua vida à custa de esforço, de trabalho, de auto-exigência e de menos compromissos consigo próprios (como recomendava ontem Seth Godin:"If your goal is to be remarkable, please understand that the easiest way to do that is to compromise less, not more.") e com os seus filhos (amar não é dizer sim a tudo, amar não é viver o presente e esquecer o futuro).
Vem isto a propósito do artigo "O ensino aqui é o pior de tudo", assinado por Rosa Pedroso Lima na página 11 do caderno principal do semanário Expresso de hoje. Abençoada gente que ama os seus filhos desta maneira, e desgraçado país que hipoteca o futuro das suas crianças desta maneira.
Do artigo retiro duas parcelas, embora me apetecesse copiá-lo e distribuí-lo amanhã, aos milhares juntamento com os jornais como o Metro e o Destak:
"Alla desistiu de ter o filho, de 12 anos, a estudar em Portugal. Ao fim de seis anos de escolaridade, fartou-se de ouvir dizer que "ia descansar para a escola ", que aqui se aprendia brincando e da "grande indisciplina" que marcava o dia-a-dia do ano lectivo nacional. O miúdo até ia bem - era um dos melhores da turma - mas voltou para a Ucrânia. Lá, garante a mãe, é "tudo muito diferente. A professora não é uma amiga, é quem ensina. Os alunos estão lá para trabalhar e aprender. Não há brincadeira.""
...
"Aos sábados, vindos de Setúbal, de Torres Vedras e de todos os arredores de Lisboa, as crianças passam nove horas seguidas na escola (escola russa). Compensam num dia as falhas de uma semana de trabalho. "Ficam cansadas", garante Júlia. Na segunda-feira voltam à escola portuguesa. Para descansar mais um pouco..."
Fotos do arranque do ano lectivo na escola russa, podem ser vistas aqui.

Como isto me envergonha a mim.

Faz-me lembrar ouvir na rádio, em 1994, que crianças vindas da Bósnia como refugiadas, ao fim de três meses eram já as melhores alunas das turmas onde foram integradas.

Faz-me lembrar, vai para quatro ou cinco anos, os alunos de uma escola letã que vieram com os seus professores, viver uma semana de aulas e de vida numa escola da cidade do Porto. A directora da escola letã ficou hospedada em casa dos meus pais, lá para o final da semana, a senhora confessou aos meus pais que tinha medo do efeito que aaquela semana poderia ter nos alunos da sua escola. Tinha medo que eles apanhassem os vírus da indisciplina e do "lixo para o chão".

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