segunda-feira, maio 01, 2006

Sem título...

Ainda estou atordoado com este e-mail que recebi ontem:

"Moçambique foi e é um lenitivo e um calvário, ao mesmo tempo. Estive um mês numa localidade chamada Invinha, no distrito do Gurué, província da Zambézia, isto é, Moçambique profundo. A pobreza que vi não se pode contar.
Não aquela miséria moral, não, mas pobreza na sua expressão mais crua. No último dia em que lá estive entreguei um bebé de 7 meses a umas Irmãs da nossa Congregação para o criarem. Pesa 1,700kg. Não tem forças nem para chorar. Deixei dinheiro para as primeiras despesas e depois vou ver o que hei-de fazer se ele sobreviver. Chamei-lhe Rui Carlos. Não tinha nome, não
tinha nada, o hospital não tinha possibilidade de o ter lá. No Sábado Santo, por volta das 10 horas da noite, estava na igreja, estavam a cantar o 2º cântico da Comunhão e vieram dizer-me que um outro, de 3 meses, que tinha nascido com 2,700kg e então, com os 3 meses, pesava só um quilo e meio, tinha morrido. Morreu de fome. A mãe morreu de parto e desde então acho que só bebeu água. Quando mo entregaram e lhe quis dar leite já nem era capaz de engolir. Dava-se leite à colher e estávamos a pensar arranjar-lhe uma pipeta para lhe meter pela boca abaixo mas já era tarde de mais. O Rui Carlos tem vontade de viver, seguia-me com os olhos, mas o seu tamanho é impressionante. Levo algumas fotografias dele. Está muito bem entregue e vou um bocado mais aliviada por isso."

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