sábado, fevereiro 20, 2021

"You'll walk alone!"

"António Saraiva pede estratégia ao Governo “para lá da crise”"

Este é o título que o caderno de Economia do Expresso de ontem usa num comentário a uma carta do líder da CIP aos empresários associados. Portanto, é o governo que tem que dar a estratégia às empresas para que elas encontrem o El Dorado?

"“Portugal não pode conformar-se com o crescimento anémico das últimas duas décadas, em que ano após ano somos ultrapassados no ranking europeu do produto interno bruto (PIB) per capita.” [Moi ici: Nunca o ouvi comentar as proclamações do governo com a baboseira de que estávamos a crescer mais do que a média europeia] Por isso, defende que 2021 “é a oportunidade para darmos um ‘abanão’ ao nosso modelo de crescimento, à forma como é visto o mundo dos negócios e nos tornarmos um país mais competitivo”, [Moi ici: Será que ele faz ideia do que é isto de um país mais competitivo? Os países não competem, escrevia o velho e são Krugman. As empresas é que competem. Como é que a economia de um país (somatório das suas empresas) fica mais competitiva? Ah! Se Saraiva estudasse o ressurgimento finlandês após a queda da União Soviética... aprenderia aquela frase na coluna das citações ali ao lado "In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."  Imaginam Saraiva dizer aos associados da CIP que um país mais competitivo significa que alguns, (Poucos? Muitos?) dos associados têm de ser expulsos do mercado por concorrentes mais competitivos. Imaginam mesmo?] frisando que “a ambição está  muito longe de ser o regresso ao passado: o objetivo é um novo ciclo de desenvolvimento sustentado”,

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“Tão ou mais importante do que avaliar a situação e propor medidas no imediato é o futuro. É preciso ter uma estratégia de desenvolvimento [Moi ici: Portanto, uma estratégia de desenvolvimento para o país tem de ser top down, uma espécie de master plan elaborado por uns iluminados lesboetas, sem contacto com a realidade para lá do ecossistema das carpetes e biombos dos escritórios. E tem de ser um documento único? ... E o que é válido para o sector A também é válido para o sector B? E dentro do sector C, o que é válido para a empresa i também é válido para a empresa ii e para a empresa iii? Isto parece-me conversa de gente perdida que não tem a minima noção de como sair do buraco e pede a outrém uma corda para o tirar de lá] e olhar o país para lá da crise”"

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"a CIP está a “preparar um documento estratégico que convoque a todos para a necessidade de  assumirmos, de uma vez por todas, a necessidade de o país ganhar competitividade, prosseguir o desenvolvimento, ter mais e melhor investimento e emprego”, [Moi ici: Catequese... prometer um mar de rosas... e os sacrifícios? Toda a gente quer ser rica e ter saúde, ninguém quer ser pobre e doentio. Azar, ter estratégia é fazer sacrifícios. Onde é que Saraiva escreve sobre a necessidade de os fazer? Onde escreve sobre a necessidade de fazer escolhas dolorosas?] escreve na missiva aos empresários. 

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Saraiva defende “um pacto social para o crescimento, que inclua a política de rendimentos, os eixos da competitividade a política fiscal, revisitando a política fiscal e dando-lhe previsibilidade”.[Moi ici: Às segundas, terças e quartas pede apoios ao governo, às quintas, sextas e sábados protesta contra o nível da carga fiscal. Blahblahblahblah só lugares comuns. Por que terá escrito a carta? Para comunicar estes lugares comuns?]  E remata: “Temos de fazer o caminho de uma nova especialização do nosso modelo de desenvolvimento. Isto exige estratégia e a aposta na diversificação de sectores. Não podemos assentar num único sector, como tem acontecido com o turismo. Queremos que o ministro da Economia seja o arquiteto da recuperação e as empresas farão, como têm feito, o seu trabalho.”" [Moi ici: O quê? O ministro da Economia? Arquitecto da recuperação? E o trabalho das empresas é seguir as orientações desse suposto iluminado? Acham isto normal? O que é isto? É isto a liderança da CIP? Portanto, o que as empresas precisam é de pactos... Eu tenho uma visão muito mais cínica da coisa. As empresas têm de se amanhar elas próprias. Os governos são como os Hunos, uma incomodidade que se traduz no pagamento forçado de um tributo. Até podemos pedir aos Hunos que baixem o tributo porque o ano foi mau, mas não esperem que sejam eles a arquitectar a recuperação de coisa nenhum. O negócio deles é extrair, não é criar.]

Eu se fosse jornalista, depois de ler a carta, perguntaria a António Saraiva que vestisse o papel de arquitecto da recuperação e que listasse três medidas concretas que ajudassem o país a ser mais competitivo.

Aposto que não conseguiria fugir de generalidades. 

Não! Por favor, ponha o trem de aterragem, quero sentir o chiar dos pneus, quero sentir o cheiro da borracha dos pneus a tocar na pista do aeroporto. Três medidas concretas que supostamente ajudem o país a ser mais competitivo.

Lamento, a minha missiva para os empresários seria outra. Até podia começar com a canção dos adeptos do Liverpool:

"When you walk through a storm

Hold your head up high

And don't be afraid of the dark

At the end of the storm

There's a golden sky

And the sweet silver song of a lark"

Mas o refrão seria outro: "You'll walk alone!" 

Não confiem em apoios pedo-mafiosos do governo de turno. Não confiem em estratégias elaboradas por quem não vos conhece, nem conhece os vossos clientes, não externalizem a tomada de decisões sobre o futuro da vossa empresa. 

O quanto António Saraiva podia aprender com as toutinegras de MacArthur ou as paramécias de Gause.

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