quarta-feira, abril 23, 2014

Estratégia pura e dura em vez de preço

Em "Universidades privadas perderam um quarto dos alunos em três anos" leio:
"A crise chegou em força ao ensino superior privado nos últimos três anos lectivos. Desde 2010/11, período que coincide com a intervenção da troika no país, as universidades privadas perderam mais de vinte mil alunos, o que representa um quarto do total da sua população estudantil."
Por que é que esta explicação parece-me redutora e pouco "científica"?
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Recuemos a Fevereiro de 2007 e a "Formular uma estratégia, é a actividade mais sexy da gestão (1)", ou Setembro de 2006 e a "A necessidade de uma estratégia e de um "sense of urgency"". Engraçado, os jornalistas tinham já ´descoberto a causa do problema em 2006:
"Vem isto a propósito da notícia de capa da Semanário Económico da passada semana "Universidades privadas perdem 3000 alunos por ano" de onde retiro as seguintes afirmações: "Universidades culpam a demografia e a “concorrência desleal” do Estado."
Agora, se calhar os mesmos jornalistas, já que a casa é a mesma, têm outra explicação, a troika. E o papel da publicidade aos cursos de Relvas e Sócrates não dá uma ajuda a denegrir a sua imagem? Adiante...
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O que é que aqui escrevemos em Julho de 2006 em "Que estratégia para uma universidade privada?"?
"A bola está do lado das universidades privadas e a resposta só pode ser uma: ser diferente. Apostar em cursos que não existem na universidade pública ou apostar em cursos semelhantes no papel mas que se distinguem, ou pela qualidade do ensino, ou pela taxa de empregabilidade dos seus cursos. Não vale a pena apostar na estratégia do preço, aí não têm hipóteses, pelo menos sem cheque-ensino."
O que leio ainda no DE de hoje acerca do tema?
O pior caminho possível, o mesmo que os jornais seguiram face à internet: "Universidades privadas com cursos a saldo para atrair alunos".
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Estamos a ver para onde isto as vai levar... combater a demografia e Bolonha com cursos a saldo. Tentar competir com a oferta do ensino superior fornecido pelo Estado no preço... hão-de ter uma sorte.
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Aconselho outro rumo, para o mesmo público: apostar na diferença dos cursos e na empregabilidade dos seus alunos. E os novos públicos, no mundo actual, porque é que a universidade não há-de procurar introduzir-se na formação pós "certificação"? Sim, eu sei, é difícil mentalmente trabalhar para alunos que pagam do seu bolso e são muito mais exigentes, e não vão para encher o CV mas para aprender genuinamente algo... pois, e qual a relação que as universidades têm com o mundo real?
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Estratégia pura e dura em vez de preço
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BTW, o que eu me ri ao recordar os crentes no modelo do século XX, na escala, no tamanho como forma de enfrentar o desafio do futuro.

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