segunda-feira, abril 09, 2012

O Portugal do ecossistema lisboeta é assim

Esta gente não aprende, a mentalidade que nos trouxe até aqui continua viva e com as mãos próximas das alavancas.
.
Lêmos na semana paassada "Dois mil milhões numa década para apoios ao emprego pouco eficientes"
.
Já no fim de semana descobri este texto "“Reprogramação do QREN pode criar 50 mil postos de trabalho em dois anos”"
.
Numa década o Estado português torrou 2 mil milhões para apoios ao emprego pouco eficientes. Pois, o que propõe uma eurodeputada de um partido do governo?
"Há ainda 12 mil milhões de euros por executar do Quadro de Referência Estratégico Nacional, que podem ser canalizados para a criação de emprego."
Torrar mais 12 mil milhões de euros...
.
Segue-se um trecho que ilustra as parvoíces que os políticos dizem e que passam incólumes pelo mundo do jornalismo. Imagine-se o conhecimento que a senhora eurodeputada terá da economia do país para propor esta receita:
"Toda essa verba deve ser canalizada para as áreas que têm impacto rápido no crescimento e no emprego. O que passa por tudo o que é relacionado com inovação, PME, ciência e ensino superior, ligação das instituições de ensino superior às empresas e introdução de quadros qualilficados nas empresas. Temos imensos doutorados que podem ser inseridos nas empresas e ajudarem-nas a desenvolverem-se. Olhar para empresas exportadoras e introduzir quadros qualificados para as ajudar nessas áreas."
A solução é ... embelezar a oferta... pois... estão a imaginar os imensos doutorados a quererem ir trabalhar para uma PME com 30 a 60 trabalhadores, em que o dono nunca sentiu necessidade de ter mais um funcionário caro a seu cargo, ... vão acarretar sacos no armazém? Vão atender telefones?
.
Uma versão humana daquela outra cena, embeleza-se a oferta, assim, com uns subsídios, uma empresa é iludida a arranjar um produto inovador junto de uma universidade, à custa de um projecto financiado ("A empresa não paga nada! É só ganho!"). O produto aparece, funciona, tem tudo de inovador, fica propriedade da empresa mas... a empresa não tem equipa comercial, não tem cultura, não tem canais, não tem proposta de valor, não conhece os clientes-alvo... e, por isso, o novo produto é um fracasso. O produto fica a ganhar pó no armazém, a empresa amaldiçoa a universidade e não quer mais nada com ela, a universidade lá conseguiu mais um subsídio para alimentar a sua estrutura.
.
Alguém leu o estudo do Varejão e da Mónica Costa lá em cima? Alguém reflectiu sobre ele? Alguém tirou conclusões?
.
O Portugal do ecossistema lisboeta é assim.

1 comentário:

lookingforjohn disse...

É interminável, só mesmo quando nenhum artifício permitir estender a lingua aos ultimos tostões é que isto acaba.

Exemplo FormaçãoPME:
1. AEP é a entidade gestora. Dá formação paga a consultores para implementarem o programa. Sem essa formação os consultores não podem ser contratados.
2. AEP delega noutras organizações a operacinalização (como a AIDA).
3. A AIDA delega em empresas de consultoria (o nome correcto da actividade que desenvolvem não é bem este, mas adiante).
4. A empresa contrata um tipo para angariar empresas que adiram ao programa. O tipo vai às empresas dizer-lhes que, sem custos nenhuns, se livram da questão do nº mínimo de horas de formação obrigatória.
5. Este tipo contrata os consultores para, finalmente, fazerem a intervenção na empresa. A intervenção pode ser de 100 horas, no máximo, e, neste tempo, esperar-se-ia alguma mudança digna de registo.

De 1 a 5 o dinheiro perdeu-se nos vários intervenientes, nas comissões trocadas (não necessariamente com o nome "comissão"). Os consultores são os que aceitam trabalhar por um valor bem diminuto.

Donde, é muita malta presa com isto, e muito dinheiro cuja única finalidade é manter a máquina a trabalhar, e alimentar os parasitas.

Donde... não me fale nestas coisas, please.