sábado, outubro 14, 2006

Gerry Kasparov: "Estratégia é quando a decisão não é óbvia"

Comprei ontem, sexta-feira, a edição de quinta do Jornal de Negócios, atraído pelo título acima. Pensei logo o pior, o senhor Kasparov a endeusar a estratégia estratosférica, tão estratosférica que nem os próprios gestores a compreendem.
À noite tive oportunidade de ler a entrevista (feita por Pedros Santos Guerreiro e Elisabete de Sá), e afinal não era o que eu temia, Kasparov diz "No xadrez, estratégia é perceber o que fazer quando a decisão não é muito óbvia, pensar como é que a decisão irá impactar o futuro".

Curioso, durante a tarde, numa acção de formação sobre o balanced scorecard, tinha dado ênfase à necessidade de as empresas actuarem onde são boas, onde têm pontos fortes e onde os concorrentes são mais fracos, pois Kasparov refere:

"O truque está no jogador reconhecer aquilo que faz melhor. Se é melhor na espera e numa estratégia de paciência, então é esse o caminho que deve seguir; se é melhor num ataque poderoso, deve criar condições para o fazer. O elemento chave para uma estratégia de sucesso é assegurar que, no ambiente que está criado, somos muito melhores do que o nosso concorrente. Trata-se de forçá-lo a cometer erros."

"..., é preciso conhecer a nossa natureza e a do nosso adversário. Reconhecer as forças e as fraquezas de cada um. E assegurar que a luta se processa num território no qual as nossas fraquezas são menos importantes, enquanto que as do adversário são flagrantes."

"Se o meu exército tem cavalaria, convém que a batalha seja num vale; mas se a cavalaria for do adversário é melhor que o confronto seja nos montes. Trata-se de encontrar o campo de batalha que potencia a nossa vantagem competitiva e no qual as potenciais vantagens do adversário encontrem contrariedades. Acredito que a maioria das batalhas - na história militar, nos negócios ou no xadrez - são decididas por manobras prévias e que as grandes vantagens competitivas são acumuladas antes da batalha propriamente dita."

Por isso é que é um suicídio competir com empresas chinesas no mercado do preço - das grandes quantidades, do básico monótono - desaproveitando oportunidades de negócio assentes na rapidez da entrega, ou em lotes pequenos e sempre variados. Por isso é que acho quase um suicídio, as companhias de aviação de bandeira, meterem-se no negócio das "low-cost", são carne para canhão.

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