Na Parte I, a propósito da decisão da H&M de subir na escala de valor, a conclusão era clara: quando o mercado aperta por baixo, permanecer no meio deixa de ser uma opção. A única saída é subir — mais qualidade, mais margem, menos dependência do volume.
Mas há uma diferença importante entre empresas e sectores.
Uma empresa pode tomar essa decisão. Um sector dificilmente a consegue comunicar. Porque subir na escala de valor não é apenas fazer melhor — é fazer menos.
Menos unidades, mais valor por unidade. Menos capacidade industrial necessária. Menos horas-máquina. Menos infraestruturas.
É uma escolha estratégica que tem implicações estruturais: parte da capacidade existente deixa de ser útil. E, para algumas empresas, isso não é um caminho — é uma ameaça.
Quando olhamos para qualquer sector, encontramos sempre perfis muito diferentes: empresas que vivem de valor acrescentado e outras que vivem da intensidade produtiva; algumas orientadas para séries curtas, outras para volume; umas querem complexidade, outras querem escala. Falar de “subida de valor” é fácil em abstracto, mas difícil quando se considera o impacto real sobre cada uma destas realidades.
Quando uma empresa sobe na escala de valor, decide o seu próprio destino. Quando um sector sobe na escala de valor, altera o destino de muitos. E entre esses muitos haverá sempre quem não consiga acompanhar.
É por isso que, a nível sectorial, a subida de valor é sempre falada em tom abstracto:
- “reposicionamento”,
- “modernização”,
- “competitividade”,
- “futuro sustentável”.
Mas raramente se assume a consequência estrutural: subir significa que algumas empresas terão de sair.
É por isso que, no plano sectorial, este tema é sempre tratado com cautela. Uma associação empresarial representa todos — inclusive aqueles que não conseguirão acompanhar uma subida de valor. Como dizer publicamente que o futuro exigirá fábricas mais especializadas, mas inevitavelmente menos fábricas? Como afirmar que a estrutura industrial se irá concentrar, quando isso ameaça directamente alguns dos associados?
Nenhuma associação quer abrir esta frente. É compreensível.
Mas isso não elimina o dilema: quando um sector sobe, não sobe inteiro.
Sobe a parte capaz de competir por cima.
A outra parte, mais cedo ou mais tarde, fica para trás.
E isto coloca-nos perante a pergunta que raramente é formulada de forma explícita:
- Queremos um sector maior, mas mais pobre? Ou um sector mais pequeno, mas mais rico e sustentável?
A H&M tomou a sua decisão. Para uma empresa, é uma escolha estratégica. Para um sector, é um campo minado. Portugal, em vários sectores, vive este dilema em silêncio.
Mas a pergunta é inevitável, e chega sempre mais cedo do que parece:
- Estamos dispostos a aceitar as consequências reais de subir na escala de valor?
Ou apenas gostamos da ideia — desde que nada mude onde dói?
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