quinta-feira, maio 08, 2025

Curiosidade do dia

A revista Bloomberg Businessweek deste mês traz um gráfico impressionante sobre a evolução histórica das tarifas alfandegárias nos Estados Unidos:

O gráfico recordou-me uma passagem de The Visionary Realism of German Economics: From the Thirty Years’ War to the Cold War, de Erik Reinert. O autor apresenta uma leitura histórica que contrasta com o pensamento económico dominante, especialmente em torno da questão do livre comércio.

Uma das razões profundas da Guerra Civil americana residiu nas divergentes perspectivas económicas do Norte e do Sul quanto às tarifas alfandegárias. O Norte, com uma indústria nascente e vulnerável à concorrência britânica, defendia tarifas proteccionistas como instrumento de crescimento e autonomia económica. Já o Sul, agrícola e dependente das exportações, favorecia o livre comércio para aceder livremente aos mercados internacionais.

A tese de Reinert é que o livre comércio só é mutuamente benéfico entre países com níveis de desenvolvimento semelhantes. A abertura prematura de economias menos desenvolvidas pode perpetuar a sua dependência e impedir a consolidação de sectores industriais próprios. É neste contexto que Reinert revisita os argumentos de David Ricardo a favor do livre comércio – lembrando que Ricardo falava a partir de um Reino Unido já industrialmente consolidado.

No final do ano passado ouvi um discurso do presidente argentino (na ONU ou no G7) onde prometia acabar com tarifas alfandegárias. Recordei Reinert e pensei, só vão conseguir criar um sector industrial em torno daquilo em que têm vantagem competitiva: agricultura.

É possível não ter barreiras alfandegárias e criar uma economia sustentável? Julgo que sim, mas é difícil, porque os governos criam barreiras a que isso aconteça. Por exemplo, se a Ucrânia fizer algum dia parte da União Europeia será ainda mais anti-económico produzir cereais-commodity em Portugal. Qual o governo de turno que aceita acabar com essa produção? 

Sem comentários: