Páginas

terça-feira, novembro 25, 2025

Quando o contexto revela o caminho (Parte II)

Parte I.

E há ainda uma dimensão fascinante neste processo: a reacção autocatalítica que se instala entre o político (ou a organização) e o seu contexto. Geoffrey Moore ajuda-nos a perceber esta dinâmica: aquilo que primeiro faz sentido apenas para uma pequena vanguarda — os early adopters — raramente é, à partida, uma estratégia clara para o mercado inteiro. É uma intuição, uma postura, uma nuance que só alguns conseguem ler. E, no início, esses “alguns” são exactamente as pessoas que validam a oportunidade emergente.

Quando o político ou a empresa tenta fazer o famoso fine-tuning, quando procura melhorar o “fit”, faz o seguinte movimento: ajusta-se internamente a algo que começou fora dela. Refina a mensagem, torna o gesto mais nítido, afina a identidade. Mas, ao fazer isso, algo subtil acontece: essa mensagem, antes insípida e percebida apenas pela tal vanguarda, torna-se mais clara para os demais. O sinal externo ganha expressão. A postura emergente passa a influenciar o próprio contexto que a descobriu.

É este o carácter autocatalítico:

  • a vanguarda detecta algo que a organização ainda não compreendeu;
  • a organização tenta alinhar-se com essa descoberta;
  • ao alinhar-se, torna a descoberta mais evidente para públicos menos vanguardistas;
  • ao tornar-se mais evidente, reforça a validação externa;
  • e esse reforço externo leva a organização a aprofundar ainda mais o alinhamento.

É um ciclo virtuoso: o exterior afina o interior; o interior clarifica o exterior. Cada volta do ciclo aumenta a coerência, amplia o público e confere à estratégia emergente um corpo que antes não tinha. O que começou como um acidente, interpretado por poucos, transforma-se numa proposta estratégica clara, reconhecível e com poder de atracção.

As melhores estratégias — as que resistem ao tempo — não são apenas as que respondem ao contexto. São as que se tornam parte do próprio contexto, moldando-o. É por isso que uma organização ou um político que sabe ler a vanguarda, trabalhar a insipidez inicial e reforçar o sinal com consistência acaba, muitas vezes, por criar um fit poderoso, desses que não são impostos, mas conquistados. É o momento em que a estratégia deixa de ser uma resposta e passa a ser uma força — uma força que atrai, influencia e reorganiza o que a rodeia.



Sem comentários:

Enviar um comentário

Pode assinar a nossa newsletter em http://eepurl.com/bJyfUr