"Sem imigração, o País não cresce" — é verdade, mas também é mentira.
É verdade, como afirma Mário Centeno, porque Portugal enfrenta um inverno demográfico inevitável. A natalidade declina, a população envelhece e uma parte significativa dos jovens mais qualificados continua a emigrar. Sem imigração, faltaria gente para assegurar serviços, sustentar o sistema de pensões e manter activos diversos sectores económicos. Neste sentido, a imigração é um factor necessário de equilíbrio social e económico.
Mas é também mentira, se a frase for entendida como uma verdade absoluta ou como uma estratégia de crescimento estrutural. A imigração pode sustentar o nível de actividade, mas não garante, por si só, crescimento com valor. Um país não prospera apenas por aumentar o número de trabalhadores num modelo assente em baixa produtividade.
Como escrevi ontem em "Estabilidade bem gerida não é estagnação", o risco é confundirmos volume com sucesso. E isso conduz ao empobrecimento. Mais pessoas, nos mesmos sectores, com os mesmos salários baixos e a realizar as mesmas tarefas pouco qualificadas, apenas prolonga o problema — não o resolve.
Depois admiramos-nos com:
O que falta em Portugal é um crescimento mais denso em valor:
- subir na cadeia de valor,
- fazer diferente, não apenas mais,
- investir em capital humano e tecnológico,
- atrair e desenvolver actividades com maior produtividade por trabalhador.
Sem imigração, o sistema colapsa. Mas só com imigração, também não se cresce — apenas se adia o verdadeiro debate: que modelo económico queremos?

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