quarta-feira, novembro 30, 2022

Falta de mão de obra

 Não admira que as pessoas de rendimentos mais baixos votem Trump. Ele "fechou" a emigração, algo que Biden não reverteu.

A economia cresce e não há mão de obra barata vinda da América Central. Assim, aumentou, pela primeira vez em muitos anos o poder de compra das pessoas na base da pirâmide de rendimentos.

E as consequências continuam a desenrolar-se:

"The tight labor market is prompting more employers to eliminate one of the biggest requirements for many higherpaying jobs: the need for a college degree.

Companies such as Alphabet Inc.'s Google, Delta Air Lines Inc. and International Business Machines Corp. have reduced educational requirements for certain positions and shifted hiring to focus more on skills and experience. Maryland this year cut college-degree requirements for many state jobs-leading to a surge in hiring-and incoming Pennsylvania Gov. Josh Shapiro campaigned on a similar initiative.

U.S. job postings requiring at least a bachelor's degree were 41% in November, down from 46% at the start of 2019 ahead of the Covid-19 pandemic, according to an analysis by the Burning Glass Institute, a think tank that studies the future of work."

Trecho retirado de "Employers Rethink Need for College Degrees in Tight Labor Market"

terça-feira, novembro 29, 2022

VAB, salários e "magia"

Na semana passada várias vezes e ontem mais uma vez, várias conversas centraram-se sobre a falta de trabalhadores. Várias empresas de vários sectores de actividade desesperam para encontrar trabalhadores. 

Na passada sexta-feira neste espaço de diálogo alguém referia a ganância dos empresários pelo lucro como motivo para os baixos salários. Não concordo!

Comecemos por considerar o valor acrescentado bruto:

(Vendas - Custo das mercadorias vendidas e das matérias consumidas  - Fornecimentos e serviços externos). O VAB representa a riqueza criada.

Depois, olhemos para números sobre o valor acrescentado por trabalhador em vários sectores de actividade:

Por mais mãos largas que um empresário do mobiliário ou têxtil queira ser, o valor acrescentado bruto limita a possibilidade de praticar salários altos. O valor acrescentado bruto não o permite!

E esta é a razão para a imagem da teoria dos flying geese:

A seguir à II Guerra Mundial o Japão aposta no têxtil e vestuário, depois o sucesso do sector metalomecânico começa a "roubar" trabalhadores ao têxtil e vestuário porque pode pagar melhor, porque tem valor acrescentado por trabalhador superior e assim por diante. Como continua a haver procura por artigos têxteis a solução é deslocalizar a produção para países com salários mais baixos, como Hong Kong, e assim se desencadeia a evolução ...

Como Portugal está estagnado há cerca de vinte anos ou mais não há progressão na horizontal da esquerda para a direita. Por isso, os salários estagnam, porque o valor acrescentado sobe pouco. Só depende do crescimento intrasectorial, é pouco influenciado pela progressão para sectores intrinsecamente mais produtivos. O que fazem as pessoas? Emigram ou migram para outros sectores de actividade. Por exemplo, recentemente ouvi o caso concreto de um motorista numa empresa de prestação de serviços na área da electricidade que se despediu e passou a ganhar mais do dobro ao optar por emprego numa empresa de transportes internacionais.

O problema não é a empresa-tipo. O problema é a distribuição das empresas-tipo por sector.

Agora a isto acrescentem:
  • fronteiras abertas - atracção de melhores salários no estrangeiro
  • demografia - país a envelhecer (além do progressivo aumento dos que vão para a reforma, chegam menos pessoas à idade de trabalhar)
  • má gestão - lembram-se da vacinação covid quando era "gerida" por um militante do partido do governo? Lembram-se da vacinação covid depois que começou a ser "gerida" pela equipa do militar? O militar, esse, como me recordou o parceiro das conversas oxigenadoras, andava no terreno a ver, a recolher informação em primeira-mão. A má gestão nas empresas gera desorientação, gera "jobs that lack autonomy, variety, or opportunities to grow; jobs that pay poorly and don't reward performance fairly; jobs that aren't clearly defined and structured; jobs that lack guardrails that prevent chronic overload and frustration." (daqui
  • impostagem elevada para pagar um estado que não funciona.
Qual o caminho para as empresas existentes?

Qual o caminho para o país?

Para o país, seguir a receita irlandesa (interessante ver o peso do sector quimico e farmacêutico na Irlanda e comparar com o ranking de valor acrescentado lá em cima no postal).

Para as empresas existentes, dentro de um mesmo sector de actividade, há uma receita para subir na escala de valor acrescentado: anichar!

Anichar permite praticar melhores preços enquanto se precisa de menos gente, mas mais competente e mais polivalente. Qual a grande resistência a anichar? Ainda ontem citámos uns trechos sobre isso: o medo de anichar.

Os preguiçosos olham para os resultados, não olham para o "processo" que leva aos resultados. Por isso, optam pela "magia", pela fezada:

  • "Se trabalharmos menos horas, vamos ser mais produtivos"
  • "Se aumentarmos administrativamente os salários vamos dar uma lição a esses empresários gananciosos"
  • "Se ... 
Continuemos a festa ...

Nada do que acontece ao país é obra do acaso. É um produto perfeitamente normal das nossas decisões como povo. E estando este povo envelhecido e dependente:

"It is difficult to get a man to understand something, when his salary depends upon his not understanding it"

E estando este povo envelhecido e dependente quer continuar a ser enganado. Avós que vivem à custa dos netos, e dos bisnetos que nunca nascerão, pelo menos por cá. 

segunda-feira, novembro 28, 2022

Anichar - o medo!

"Every time I've considered niching up, it feels like stepping off a cliff. It's scary at first-what if I don't know what I'm doing? What if I fail? But every time I've taken that step, it ends up being a really positive decision.

Why? Because niching up means moving forward from a place of abundance and growth.

The first thing many people think of when they hear niching is scarcity; they think of having fewer opportunities, of less ability to monetize or grow their business, of taking something away. Many individuals' biggest fear with niching is that by saying yes to one area, they're saying no to many others. It's true: niching does mean saying no to business and shrinking your market.

...

But in reality, niching provides opportunities and gives you optionality. Even after you choose a niche, if you get a lead that’s not where your deep expertise lies, you don’t have to say no. In many cases you will, because it’s not your main focus, but you always have the option of saying yes if it’s an opportunity you particularly want to explore. In some cases, you can genuinely help with something that’s not specific to your niche, so you don’t have to look at it only as black or white, yes or no.

By saying no to some things, niching opens the door to many things—including more or better possibilities.

And that knowledge—that you don’t have to slam the door shut on other business opportunities just because you choose to niche up—takes away some of that fear. 

...

Far from narrowing your options, niching up opens a world of possibility to say yes to the people who are right for you and your business - the ones you are best suited to help."

Recordar "Niching down".

Trechos retirados de "Niching Up: The Narrower the Market, the Bigger the Prize" de Chris Dreyer.

domingo, novembro 27, 2022

A grande reconfiguração


The failure of covid zero. Likely to have major implications for China and the rest of the world. pic.twitter.com/EhTn774i9A
— Olivier Blanchard (@ojblanchard1) November 25, 2022

Ontem, alguns tweets de Sofia Horta e Costa foram sobre:
Por isso é que todas as PMEs portuguesas exportadoras com que interajo estão cheias, cheias de trabalho. Por exemplo, esta semana estive com empresa que quase fechou em Janeiro deste ano e hoje está cheia de trabalho até ao final de Abril de 2023. Por isso, é que tanta empresa desespera com a falta de trabalhadores. (BTW, quem pode pagar melhor, um fabricante de sapatos ou de camisas ou um fabricante de máquinas? Não é uma questão de lucro, é uma questão de valor acrescentado. Por isso, os flying geese model. Por isso, o adeus Lituânia).

Algures entre 2008 e 2013 li, numa revista ou jornal americano, um texto onde alguém defendia que a WalMart devia receber o prémio Nobel da Economia por ter controlado a inflação americana com o recurso à produção chinesa.

Julgo que parte do aumento da inflação que sentimos agora resulta também do fim da China como fábrica do mundo, o fim das GVC (global value chains), o regresso da produção ao Ocidente tem a implicação de preços mais altos.

sábado, novembro 26, 2022

Demografia é destino

"Em 2021, residiam em Portugal 10 343 066 pessoas, menos 219 mil do que em 2011. A perda de 2,1% de população foi a segunda quebra desde o século XIX - a outra redução foi registada na década de 1960 devido à elevada taxa de emigração. E não fosse o aumento dos imigrantes, a quebra populacional seria ainda maior. Em 2021, os estrangeiros residentes em Portugal eram 542 314, mais 37,5% do que os registados em 2011. A maior comunidade era a brasileira (quase 200 mil), mas os dados revelaram "o forte crescimento" de outras comunidades, como a nepalesa e do Bangladesh. [Moi ici: Nas minhas viagens de camioneta pelo interior norte do país durante esta semana, despertei para este movimento até agora desconhecido para mim, a quantidade de asiáticos que já circulam pelo país]
...
O envelhecimento agravou-se: por cada 100 jovens há 182 idosos, em 2011 eram 128.
...
Em média, no país, por cada 100 que se reformam apenas 76 entram no mercado de trabalho. Em 2011, este valor de novos trabalhadores era de 94. A pirâmide etária evidencia, aliás, que a maior quebra populacional é nos grupos em idade ativa dos 25 aos 39 anos."

Por um lado a demografia a actuar. Do outro, a atracção pela perspectiva de uma melhor recompensa (ver Nem imaginamos o que pode vir por aí). Vai ficar pior. Pensem nos direitos adquiridos.

Trechos retirados de "Um quinto da população vive em 1% do território" no JN da passada quarta-feira. 

sexta-feira, novembro 25, 2022

A previsão mais fácil de todas. Socialismo = Sildávia!

No passado Domingo escrevi aqui um postal, Para reflexão, em que referia que a produtividade (euros por hora trabalhada) na Roménia tinha crescido 921% entre 1995 e 2021 (enquanto em Portugal tinha crescido  apenas 123%).

Agora na capa do Caderno de Economia do semanário Expresso de hoje temos:


Vejam só o trajecto da Roménia:
Nos últimos 7 anos já fomos ultrapassados por 4 ou 5 países empobrecidos pelo comunismo, nos próximos 2 seremos ultrapassados pela Roménia e pela Letónia.

Socialismo de direita e de esquerda, esquecer a criação de riqueza e focar tudo na distribuição, do que se criou e do que não se criou, leva-nos até aquela previsão de 2008: à Sildávia.


Só temos o que merecemos como povo. Riqueza sustentável não é um objectivo directo, é uma consequência do que se faz de forma sistemática.







quinta-feira, novembro 24, 2022

Inovação, produtividade e impostagem

"Innovation requires investors that are willing to bear high risk and have a relatively long investment horizon. They also suggest that policies that discourage firm risk-taking are likely to reduce innovation. One example is corporate taxation. We developed a simple a model of firms' innovation decisions to illustrate how the current asymmetric tax treatment of profits and losses influence innovation investments and industry productivity in market equilibrium."

Trecho retirado de "Innovation, Firm Risk and Industry Productivity" de Mika Maliranta e Niku Määttänen

quarta-feira, novembro 23, 2022

Nem imaginamos o que pode vir por aí

Na minha apresentação para sexta-feira vou falar da tal competição a dois níveis pelos trabalhadores, a competição com os concorrentes e com os não concorrentes (a geração seguinte dos flying geese) capazes de pagarem muito melhores salários por causa do salto de produtividade.

Entretanto, uma mão amiga ontem mandou-me este artigo, "Ingenieurmangel im Maschinenbau verschärft sich weiter" e alertou-me para o acentuar de uma outra competição:

"Precisa-se desesperadamente de engenheiros: apesar dos altos preços da energia e das preocupações com a economia, a necessidade entre os engenheiros mecânicos da Alemanha é maior do que nunca.

...

cerca de duas em cada três empresas (67 por cento) atualmente têm vagas.

...

Em conexão com os preços da energia, a necessidade de engenheiras é imensa", relatou o vice-presidente da VDMA, Henrik Schunk. Apenas uma em cada três empresas pesquisadas pode, portanto, preencher as vagas conforme planejado. Os obstáculos particularmente grandes são a escassez de trabalhadores e a falta de qualificações. Cada um dos quatro construtores de máquinas declarou que nenhum encontra pessoas com as habilidades de que você precisa.

...

Segundo a pesquisa, a maioria das 519 empresas pesquisadas (cerca de 60%) espera que o número de engenheiros continue crescendo até 2027. Isto aplica-se sobretudo às áreas de investigação e desenvolvimento, bem como à construção. “A longo prazo, o problema de recrutamento de jovens é o desafio número um para os fabricantes de máquinas. Isso se aplica não apenas a engenheiros, mas também a trabalhadores qualificados""

terça-feira, novembro 22, 2022

Convite acerca da produtividade

Workshop: 25 novembro 2022 - 15h00 - Sanjotec, São João da Madeira

Título: Dialogar - "Semana 4 Dias" - Produtividade - Bem Estar - Saúde Mental.

Próxima sexta-feira vou apresentar um conjunto de ideias sobre produtividade e locais de trabalho saudáveis. O quão imperativo é termos locais de trabalho saudáveis para aumentarmos a produtividade. O grosso da comunicação é sobre o que é a produtividade e como se mede e, por fim, relaciono o seu aumento com locais de trabalho saudáveis.

O tema ainda se tornou mais premente para mim quando numa conversa ontem senti o desespero de um empresário de uma PME que paga acima da média, que dá seguro de saúde e dois bónus anuais aos trabalhadores e, mesmo assim, não arranja gente para trabalhar.

segunda-feira, novembro 21, 2022

Industria 4.0 e pessoas - again

O meu parceiro das conversas oxigenadoras é muito crítico de muito do que se diz e escreve sobre a Indústria 4.0. Recordo:
Ontem no Twitter encontrei esta thread:

Segue-se a thread:

"So yr understanding of industrial machines is sorta adequate to how most of them worked 30 years ago. Back then they were kinda autonomous: you buy them and they work. Maybe you need to buy spare parts, but that’s it. Because they were mechanical. No computer -> no disconnection.

...

Modern machines are different. Computer control. Graphical User Interface. You don’t need to control it with your hands like 30 years ago. You may not even need to code like 15 years ago. You can often pick a button on a screen -> I want *this* component design from the online bank 

...

When we discuss modern high-end tools, we should understand that this physical object is merely an element of the integrated ecosystem. It’s not worth much without access to the cloud. This makes Industrie 4.0 concept efficient but vulnerable

...

Now Russian military industry is sometimes closer to Industrie 4.0 than even the German one. That’s understandable. The Russian leadership has huuuge trust in machines and very little trust in people. Russian managerial culture is much more technocentric than German

...

I think if Russian leadership could produce high-end weaponry without those dirty filthy workers, they would totally do it. They just can’t. But wherever possible they tried to get closer to this goal. Whenever possible they would try to minimize human participation in production

...

You don’t trust your workers. Understandable. You integrate everything into an automated Industrie 4.0-ish system. But you still rely on human competencies. It’s just that you outsourced them abroad and are now totally dependent upon foreign expertise. You are on life support."

 Exagero meu?

domingo, novembro 20, 2022

Para reflexão

Lembram-se da fábrica de meias lituana que veio para Portugal e os jornais regozijaram-se?

Eu recordo de Julho de 2021- Ultrapassados pelo Leste.

Eu recordo a evolução salarial na Lituânia, de Maio deste ano - A caminho da Sildávia ao vivo e a cores, mais um pacotão.

Entretanto, ontem no Pordata analisei os dados sobre a evolução da "Produtividade do trabalho por hora trabalhada (Euro)". Reparem na evolução da produtividade na Lituânia:


Todo o bloco de países da Europa de Leste está a crescer em produtividade muito mais do que Portugal. Mesmo as humildes Roménia (cresceu 921%) e Bulgária (428%).

Ninguém se interroga a sério sobre o que se passa neste país.


sábado, novembro 19, 2022

"Todas as capitais de distrito vão ter comboios"

"Todas as capitais de distrito vão ter comboios"

Pensamento magico num país sem dinheiro, envelhecido, demograficamente desequilibrado entre o litoral e o interior. E ninguém questiona o poder sobre a razoabilidade da intenção?

Quem pagará a festa?

Ó! É só propaganda.



sexta-feira, novembro 18, 2022

"we devalue management practices at our peril"

"For decades, business thinkers and the executives who look to them for insight have elevated the visionary, inspirational leader over the useful yet pedestrian good manager. But evidence all around us suggests that we devalue management practices at our peril: What we've come to denigrate as mere management (done by those who are merely managers) is incredibly difficult and valuable.

...

The so-called Great Resignation has been quite telling in this regard. The people quitting in droves haven't done so because their company's top executive is insuficiently visionary or inspirational. Rather, people have quit lousy jobs - jobs that lack autonomy, variety, or opportunities to grow; jobs that pay poorly and don't reward performance fairly; jobs that aren't clearly defined and structured; jobs that lack guardrails that prevent chronic overload and frustration. They've also quit their direct bosses, whose lack of everyday managerial competence, trustworthiness, inclusiveness, and care is no longer tolerable. And they've quit organizations that have breached their psychological contracts with employees by violating the unwritten rules of trust, fairness, and justice. 

...

Why are these problems so ubiquitous and enduring? Because organizations and top teams downplay or ignore how hard it is simply to be a good manager to skillfully hire, engage, develop, coach, supervise, evaluate, and promote people. Leadership workshops are widely available, but they tend to center on high-level concerns and spend little to no time teaching these critical, fundamental skills. Most managers aren't held accountable for building and exercising them, nor are they given sufficient psychological safety to focus on developing these basics, which people often assume anyone with a brain can readily master. Instead, they've internalized the strong message that qualities like strategic vision and executive presence matter much more, leaving them and their organizations poorly equipped to deal with reality.

...

We recently conducted extensive research with nearly 2,200 participants from multiple countries and documented a strong preference for all things leadership over management. Across multiple samples, the majority of people believed that prototypical leadership behaviors are harder to learn and more valuable than management behaviors, and by a hefty margin, they saw the designation leader as more flattering than manager. They were also more likely to want to hire and pay more for someone with strong leadership skills than for someone with strong management skills, even when the role clearly called for the latter. It was hard to get people to override this preference, even when we slowed them down and asked them to name the most important capabilities for the role before making their decisions. What we found, in short, was strong, persistent evidence of the "romance of leadership" others have described, where notions of leadership are based on conscious, rational assessment only loosely, if at all. So much for the decades of scholarship and teaching about matching people to situations."

Estes temas andam na minha mente por estes dias. PME exportadoras cheias de trabalho, por causa do efeito China et al, e com grandes dificuldades de planeamento. 

Trechos retirados de "Saving Management From Our Obsession With Leadership

quinta-feira, novembro 17, 2022

Satisfação dos clientes - inquéritos ou entrevistas?

Há dias, durante este webinar "Measurement, Analysis, and Improvement According to ISO 9001:2015"  recebi uma pergunta mais ou menos deste teor:

“Most companies find it difficult to measure customer satisfaction. Response rates for surveys is poor & does not serve the purpose. Data is scattered here & there in emails and no centralized analysis is done. Any comments?”

A minha resposta andou em torno de: Talvez os inquéritos a clientes não sejam o melhor método para a maioria das situações. Talvez as empresas usem inquéritos a clientes porque é um método fácil, não porque seja a melhor abordagem. A sua empresa tem um software de CRM? Por que não trabalhar com a sua área comercial para aproveitar as informações que lá estão? A sua empresa trabalha nas instalações dos clientes a fazer reparações ou instalações? Por que não usar algum pedido de feedback para essas interacções enquanto o seu pessoal está por lá? Não quero soar ou ser rude, mas acho que a maioria das empresas recebe o que merece pelo pouco investimento que faz (e não falo de dinheiro, mas de qualidade de pensamento) para obter feedback dos seus clientes. Depois, pouco fazem com isso também. A maioria quer ter um número para se satisfazer com ele.

Outra pergunta em torno do mesmo tema mereceu uma resposta do tipo: Por exemplo, recentemente conversei com uma directora da qualidade muito aborrecida porque apenas 30% dos clientes responderam ao inquérito de satisfação. Tive que animá-la e chamar a sua atenção para o facto de que 30% não é nada mal. Mais importante é entender que informações serão extraídas desse inquérito. Não devemos perder a oportunidade de comunicarmos directamente com os clientes sobre a sua experiência.

Entretanto, ontem li:
"For many organizations, surveys like this qualify as “talking to the customer.” They’re ubiquitous – appearing in hotel rooms, after online purchases, and in hospital emergency departments. But do they really qualify as customer consultation? Or are they a symptom of an isolated management just putting on a show of interest? What can be done instead?

The obvious answer is to talk with customers directly.
...
If only they knew just how simple and straightforward a customer interview process can be, and how rich the rewards, if you know how to ask the right questions.
...
If you’re like a lot of people, your initial response might be: “Twelve clients? The sample is too small. It’s not enough to tell you anything useful.”

But in conversations with clients, you’re after quality not quantity. You want to know how they think about issues and how they make decisions. You want to get inside their minds. You want to get a feel for their needs, wants and pain. You can’t get that from a questionnaire.
...
The short answer is: you need enough interviews to get to the point at which you hear nothing new and material is being repeated – so called “saturation”. You can, it turns out, reach this point surprisingly quickly.
...
When it comes to obtaining customer input, executives often think a multiple-choice survey will be the most cost-effective option. They have their place, of course, such as if you want to know the percentage of people who liked or disliked something. But these instruments are shallow and derivative at best, and at their worst they can be annoying and counterproductive. So don’t let them become an excuse for not talking to the customer."

Trechos retirados de "Customer Surveys Are No Substitute for Actually Talking to Customers

quarta-feira, novembro 16, 2022

Curiosidade do dia

 


Vamos à Primark? Sim, depois vamos à Stradivarius.

"Deixem as empresas morrer" ao vivo e a cores

"Deixem as empresas morrer!"

Este é o meu mantra. Deixar as empresas morrer tem uma grande virtude, deixa que seja o mercado a decidir quem merece ou não merece sobreviver, ou dar a volta e prosperar. Recordar A morte das empresas a dois níveis. Outra opção que não esta é deixar que seja um artificialismo qualquer a tomar a decisão e, por isso, manter ou desviar recursos escassos para outros projectos mais produtivos. Nunca esqueço a frase de Daniel Bessa em 2007:

"... faltou sempre o dinheiro que o "Portugal profundo" preferiu gastar na "ajuda" a "empresas em situação económica difícil"..."

Muitas vezes ouvimos: “Temos de apoiar as empresas a aumentarem a sua produtividade!”

Sim, é uma boa intenção, mas muitas vezes o que acontece é o que é descrito por Spender em “Apesar das boas intenções”. Onde escrevo: 

“Acredito que muitos subsídios são gastos assim. Apesar das boas intenções, o dinheiro vai para empresas que até podem renovar máquinas, mas que não vão renovar estratégias e abordagens, teimando nas receitas tornadas obsoletas e prejudicando as empresas que satisfazem o mercado mas não dominam os biombos e corredores do "poder".” Ou “demasiadas vezes os apoios são usados para compensar custos” e dar fôlego ao condenado."

O caderno de Economia do semanário Expresso no último fim de semana traz um artigo sobre a EFACEC (nunca esquecer o que escrevemos aqui desde o primeiro dia, apesar do coro de comentadores económicos, políticos e governantes estarem do lado contrário - "Lives of quiet desperation"). O artigo “Há empresas a crescer à boleia da Efacec - Vestas, EDP. Siemens, Jayme da Costa e Telcabo absorvem quadros da Efacec. I-Charging foi criada de raiz” ilustra o que acontece quando as empresas zombie morrem: os recursos produtivos são desviados para outros projectos mais produtivos.

“Nacionalizada em meados de 2020, a Efacec tem vindo a esvaziar-se dos seus quadros de topo nas áreas de engenharia e comercial. Profissionais que saem da empresa -outrora um dos empregos mais desejados por quem acabava o curso de engenharia - para se juntarem a novos projetos. Numa altura em que se vive um momento de grande expansão e dinamismos nos sectores da mobilidade elétrica, da energia solar, a procura por profissionais com experiência é grande e a oferta vasta.

...

E desde que foi anunciado que a venda à bracarense DST não iria avançar, a debandada de trabalhadores acentuou se, sabe o Expresso, atingindo agora também os trabalhadores das fábricas. As empresas que trabalham nos mesmos sectores admitem que tem havido mais pessoas oriundas da Efacec a bater-lhes à porta. Os trabalhadores receiam que a solução que venha a ser encontrada pelo Estado não lhe seja favorável, e já estão à procura de alternativas.

...

Mas não só. Houve um projeto criado de raiz, por um profissional que cresceu na Efacec, e que está expandir-se, chama-se I-Charging. É uma empresa de produtos de base tecnológica e fabricante de carregadores elétricos rápidos, e vai já a caminho da segunda fábrica. Foi fundada pelo engenheiro Pedro Moreira, que trabalhou quase três décadas e meia na Efacec, e foi diretor-geral da mobilidade elétrica. Profissional de grande qualidade e focado na inovação, acabou por atrair para o seu projeto, sabe o Expresso, as primeiras linhas da mobilidade elétrica da Efacec os engenheiros, os quadros vocacionados para a gestão de projetos e qualidade e os comerciais.”

Por fim, tenho de discordar desta frase:

“A prova de que a Efacect em e tinha muito valor é que está a dar vida e a ajudar a crescer várias empresas em Portugal", afirmou um antigo quadro da empresa, que pediu para não ser identificado.”

Não! A Efacec é um exemplo típico de uma empresa que destrói valor. Só assim se explica que a empresa valha mais separada e vendida aos bocados do que como um todo. Isto faz-me sempre lembrar o ballet Gulbenkian.

Como diz Nassim Taleb em O intervencionismo ingénuo (parte II) - “no stability without volatility.”

terça-feira, novembro 15, 2022

Semana de 4 dias e produtividade?

O meu parceiro das conversas oxigenadoras é da opinião de que o tema da semana dos 4 dias é bom para introduzir o tema da produtividade. 

Os empresários quando chamados a falar sobre a semana dos 4 dias chutam para canto, fica mal, parece mal dizer que ela é impossível. O presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), Vítor Bento, numa entrevista no Expresso Economia do passado dia 11 de Novembro faz o mesmo, chuta para canto. No entanto, Vítor Bento aproveita a deixa para introduzir o tema da produtividade:

“A redução do tempo de trabalho é “uma tendência natural da vida”, como já tem acontecido historicamente e também por via do desenvolvimento tecnológico, mas Vítor Bento considera que a semana de quatro dias não devia ser testada primeiro em Portugal. "Tenho dúvidas se Portugal, sendo um país com um problema sério de produtividade, deva ser pioneiro nessa evolução. Temos um défice de produtividade”, diz "Qual o interesse de Portugal em querer ser pioneiro?”, questiona o presidente da APB, tendo já uma resposta sobre qual deva ser a prioridade: “Uma verdadeira estratégia nacional devia ser aumentar a produtividade do país, para que o nível de vida das pessoas pudesse melhorar e serem mais felizes."
...
O presidente da APB aponta muitos fatores para o défice de produtividade: “Os custos de contexto, muito pesados em Portugal, o peso muito grande de sectores que são pouco produtivos; e a tese que perfilho quanto à nossa estrutura industrial, isto é um peso excessivo de Pequenas e Média Empresas (PME)." 

Penso que Vítor Bento comete um erro quando culpa as empresas existentes pela baixa produtividade:

o peso muito grande de sectores que são pouco produtivos; ... peso excessivo de Pequenas e Média Empresas

Não concordo! Já por várias vezes escrevi aqui no blogue acerca do mastim dos Baskerville.

A responsabilidade não é de quem está, esses dão o melhor que podem e sabem. O desafio é perceber quem não está e porquê. Porque é que não surgem entre nós empresas com níveis de produtividade semelhantes às da Europa mais rica?

Por exemplo, quando oiço os comentários de que as empresas deveriam ter benefícios fiscais para se juntarem e crescerem em tamanho sorrio. Por acaso as empresas europeias mais produtivas são versões maiores das empresas portuguesas? Por acaso as empresas europeias mais produtivas produzem o mesmo tipo de produtos só que são mais competitivas pelos ganhos de escala? Por acaso o dinheiro da Europa metido e aplicado de boa-fé nas PME ajuda-as a aumentar a produtividade?

Lembrem-se, uma oficina de bate-chapas de bairro que ganha o suficiente para pagar aos fornecedores, aos trabalhadores, ao estado e ainda dá um lucro mixiruca é mais produtiva que a EFACEC e a TAP.

Quando Vítor Bento diz "“Uma verdadeira estratégia nacional devia ser aumentar a produtividade do país" será que ele percebe o que é que isso implicaria em termos de destruição criativa? Aposto que Vítor Bento não conhece Maliranta:
"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."

Nem o que significa - The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!! 

O que diria Vítor Bento se em 1992, a gestão da Fábrica de Mindelo decidisse encolher drasticamente para salvar a empresa e aumentar a produtividade?

Não sei se são custos de contexto, mas para mim o desafio de dar um salto na produtividade passa por aplicar a receita irlandesa - Tamanho, produtividade e a receita irlandesa porque - Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas.

O tema da semana dos 4 dias tem a virtude de nos despertar para a realidade dos sapos que vão sendo cozinhados lentamente quando se percebe a impossibilidade de a praticar no nosso mundo dos bens transaccionáveis.

E por que não a podemos praticar?

  • Porque não temos a mesma criação de valor acrescentado (esta é a mais importante)
  • Depois, para complicar ainda mais a situação, porque gerimos mal os nossos recursos e não somos eficientes.

segunda-feira, novembro 14, 2022

Acredita no jornalismo da SIC?

No passado Sábado na SIC assisti a um "artigo televisivo" sobre a antiga Fábrica de Mindelo. A certa altura ouvi:

"Sucessivos erros de gestão originaram um passivo de 55 milhões de euros"

Ou seja, para a SIC a falência da antiga Fábrica de Mindelo deveu-se a erros de gestão, deveu-se a factores internos e não a factores externos.

Depois, a certa altura apanho esta imagem:

Hummm! Isto cheira-me a design gráfico da treta ... vamos fazer um teste:

Bem me parecia, a SIC apresenta um gráfico de barras que não começa a partir de zero. Ou seja, comete um erro básico! Usam um gráfico enganador. O que é que isto diz sobre a qualidade do jornalismo da SIC?

Acham mesmo que a Fábrica de Mindelo faliu por sucessivos erros de gestão?

O que diriam sindicatos, trabalhadores, governos, paineleiros e políticos da oposição se em 1992 a direcção da Fábrica de Mindelo decidisse encolher a empresa e despedir várias centenas de trabalhadores?

O que diriam se a direcção da Fábrica de Mindelo apresentasse o argumento dos dinossauros azuis, pretos e vermelhos? Recordar As mudanças em curso na China - parte II. E para os que querem empresas maiores para aumentar a produtividade, mas não querem deixar morrer empresas nos sectores tradicionais recomendo de 2012 - 198 trabalhadores, e de 2017 recomendo O século XX continua por cá (parte II). Neste último postal salienta-se a evolução das empresas têxteis grandes em Portugal a partir da entrada da China no mercado global.



BTW, no jornal de Domingo na RTP1 alguém, só ouvi, não vi a imagem, defendia com grande enfase que a Inditex comprava em Portugal por causa das práticas de sustentabilidade da indústria têxtil ... como é possível acreditar nestas tretas? Recordo Coerência e ambiente (parte III)

domingo, novembro 13, 2022

Continuamos no país do Chapeleiro Louco.

No Dinheiro Vivo de ontem na entrevista com Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal em "Não é possível ter semana de quatro dias sem pessoas, é prematuro abrir a discussão" encontro no lead: 

"Falar da redução do período de trabalho numa atividade que serve 24 horas por dia, todos os dias do ano, é, para a vice-presidente executiva da AHP, um não-assunto. Numa altura em que vários setores do país se veem a braços sem trabalhadores, Cristina Siza Vieira defende que são precisos "emigrantes" e quer ver acelerados os acordos de mobilidade com os países da CPLP. Ao executivo de António Costa levanta o cartão vermelho por não ter inscrito no Orçamento do Estado para 2023 (OE2023) maiores incentivos à criação de emprego e à melhoria dos salários dos trabalhadores. À TAP pede que evite as greves agendadas para dezembro e alerta sobre o impacto que a paralisação poderá ter no turismo neste fim de ano."

Primeiro, "não ter inscrito no Orçamento do Estado para 2023 (OE2023) maiores incentivos à criação de emprego".  Estranho! Cristina Siza Vieira passa a entrevista a dizer que o país se vê a braços sem trabalhadores, que é preciso importar imigrantes, porque serão precisos incentivos à criação de emprego?

Segundo, "não ter inscrito no Orçamento do Estado para 2023 (OE2023) maiores incentivos à melhoria dos salários dos trabalhadores". Estranho! Por que é que num país que se vê a braços sem trabalhadores, o orçamento de estado deveria apoiar a melhoria dos salários? Se uma empresa não consegue suportar a competição salarial deve fechar, deve permitir que os seus recursos sejam naturalmente melhor aproveitados por outros com produtividades superiores. 

Terceiro, "defende que são precisos "emigrantes". A tal externalização dos problemas. Não há trabalhadores? Importam-se! Mas depois também se importam necessidades que as empresas não querem assumir: "Ainda não tenho feedback positivo para dar. Não sei se teremos notícias para tão breve quanto desejariamos. Há outras situações que temos de resolver, como a questão da habitação, por exemplo. O grosso dos hotéis não tem capacidade de alojamento dos seus trabalhadores."


sábado, novembro 12, 2022

Tudo vai depender do tal jogo de forças (parte IV)

Recordar a parte II.

Agora, dados de Janeiro a Setembro das exportações portuguesas de bens. Os polegares ao alto no canto direito da tabela mostram os sectores que continuam a crescer na percentagem acumulada, ou seja, as exportações de 2022 continuam a acelerar face a 2019.



Comparando com o acumulado de Janeiro a Setembro: