quinta-feira, agosto 17, 2017

Estratégia em todo o lado

Há anos especulei:

Deixar os Golias moribundos para os gringos e a sua estratégia do século XX e canalizar o dinheiro fresco para as empresas de Mongo.

Foi disto que me lembrei ao ler:
Outro texto facilmente relacionável com o que por aqui se costuma escrever é, "General Motors is getting smaller but more profitable". Não esquecer: Volume is Vanity, Profit is Sanity.

Ainda mais um texto, "An Israeli pharma champion sickens":
"That prosperity came chiefly thanks to the firm’s most popular proprietary drug, a bestselling medication for multiple sclerosis called Copaxone. Over the past two decades its sales paid for a global spree of buying generic-drugs competitors. Last year Teva completed its most ambitious purchase, of Actavis Generics, an American generics manufacturer, for $40.5bn; financing the deal took its debt to $35bn. But Teva’s transformation into the world’s largest supplier of generic medicines turned out to be ill-fated. The mood has turned in recent months as American pharmacies and wholesalers have squeezed the prices of generic drugs."
Uma empresa que ganhou notoriedade e sucesso com um modelo de negócio e, depois, enveredou por outro modelo de negócio completamente diferente.

É por isto que gosto de olhar para a realidade e encontrar estratégia um pouco por todo o lado.


quarta-feira, agosto 16, 2017

O Portugal que faz magia

A leitura de "As máquinas da Porsche são feitas nesta fábrica de Braga", em especial este trecho:
"O principal cliente da ITEC é mesmo a Bosch, empresa internacional fixada no concelho e que corresponde a 50% das receitas da companhia. A exposição àquela empresa é assumida por Carlos Rodrigues, e vista com bons olhos: “A ITEC foi uma empresa que foi crescendo sempre identificada com os princípios, com as exigências Bosch. Bebemos muito da cultura Bosch em termos de qualidade, e em conceitos. E isso ajudou-nos a crescer e fez de nós, hoje, penso que o maior fornecedor português da Bosch na área da automação industrial e robótica.”"
Fez-me sorrir e recordar a estratégia de uma empresa fabricante de máquinas com que comecei a trabalhar em 2009 e outra do mesmo sector com que comecei a trabalhar este ano.

Trabalhar com clientes nacionais e aproveitar a proximidade, a interacção e co-criação para desenvolver produtos que os clientes precisam e não encontram no mercado. Depois, aproveitar os melhores produtos para tentar a sua exportação com base no binómio preço-diferenciação.

Neste exemplo, o modelo que querem seguir é o mesmo mas têm uma vantagem adicional. O cliente de proximidade é uma multinacional, o que abre portas para outras empresas do género a nível mundial.

O exemplo da cerveja

Um texto, mais um, desta feita de Richard Florida, sobre o exemplo da evolução das cervejas artesanais nos Estados Unidos, "Can Craft Breweries Transform America's Post-Industrial Neighborhoods?".

Democratização da produção, diferenciação e um "live and let live" (empresas do mesmo sector, lado a lado geograficamente, mas que verdadeiramente não se consideram concorrentes, não é um jogo de soma nula, quanto mais o ecossistema criar valor mais todos ganham), regresso da indústria às cidades (um tema recorrente no que vou pensando e encontrando).

BTW, este é um outro exemplo da ascensão de artesãos do futuro:
"the craft beer revolution, ... is highly clustered. The good news is that many of these clusters are taking shape in places that have been subject to disinvestment and deindustrialization.
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Craft breweries find it beneficial to locate near one another so they can sell each other excess grain and hops, share equipment, and even train one another’s staff. The smallest breweries, in particular, garner large proportions of their revenue from their taprooms. Locating in a thriving brewery district can drive up foot traffic and attract beer tourists.
...
While craft breweries do in fact compete against one another in these brewery districts, their products tend to be much more differentiated than those of the big brewers, making competition less direct.
...
The rise of craft brewing also tracks with a desire, most pronounced among millennial consumers, for “adventure” and “variety” in the products they choose, according to the study.
...
Even more importantly, brewpubs and microbreweries provide their neighborhoods with community gathering places, while craft beer brands convey a sense of pride and identity to places that could use a morale boost. And unlike traditional bars, taprooms and brewpubs tend to be family (and sometimes even dog) friendly."

terça-feira, agosto 15, 2017

Não é impunemente que se muda

Este texto "Applebee’s is done trying to win over millennials" julgo que pode ser usado como exemplo do dilema que as empresas grandes vão enfrentar com cada vez mais frequência à medida que o número de tribos e de nichos aumenta e que os seus membros se vão "radicalizando" nas suas escolhas, a tal assimetria que Nassim Taleb refere e recolhi em "Mongo e escolhas assimétricas".

Uma empresa grande procura servir a maior fatia do mercado. Por isso, aponta ao centro, aponta à caixa dos clientes/consumidores normais:
À medida que a dimensão, a quota desse mercado do "centrão" vai encolhendo, aumenta o interesse em servir nichos adjacentes. E ao procurar servir essas outras fatias de mercado acabam por descurar os clientes/consumidores onde anteriormente ainda tinham algum sucesso.

É destas barreiras informais, informais porque só existem na mente do potencial comprador, que falo quando digo: Promotor da concorrência imperfeita e dos monopólios informais

Não é impunemente que se procura mudar de um grupo de clientes-alvo para outro grupo de clientes-alvo.

Empresas com dinheiro o melhor que podem fazer é criar/comprar marcas que sirvam esses nichos adjacentes. Usar uma marca "histórica" forte para passar a servir outra tribo é muito arriscado, há muita bagagem atrelada.

Artesãos do futuro

Ao folhear muitos postais deste blogue é fácil relacionar entre si algumas palavras-chave:
  • Mongo;
  • tribos;
  • diferenciação;
  • paixão;
  • artesãos;
  • autenticidade.
Por exemplo, há dias escrevi:
"Em paralelo a esta evolução, que vai sugar os mais apaixonados para uma nova Idade de Ouro de artesãos do século XXI"
No caderno de Economia deste fim de semana encontrei um texto que relaciona estas mesmas palavras-chave, "À procura de artesãos no tempo dos ecrãs táteis":
"No entanto, quem aposta com visão em segmentos como o têxtil, a carpintaria, a latoaria, a joalharia, a encadernação, a cerâmica, os bordados, o restauro ou a cestaria pode ter um futuro promissor pela frente,
...
outra área de forte procura: o trabalho artesanal em madeira. “Todos os dias chegam pedidos de marceneiros, profissionais de serralharia artística.” São cada vez mais, também, os casos de sucesso de novos negócios, sempre de nicho, que começam no risco, chegam à autossustentabilidade e culminam na exportação.
...
Ao contrário do preconceito que possa persistir, de que o trabalho do artesão é pesado, sujo e moroso e de que a produção não se adaptou ao consumidor contemporâneo, “o artesanato não ficou estagnado”, sublinha Luís Rocha. O sector está a rejuvenescer e a qualificar-se.
...
a formação superior conjugada com a técnica adquirida nos cursos profissionais resulta na evolução criativa que tem dinamizado o sector. Ao mesmo tempo, “a procura [de produções artesanais] tem aumentado porque o mercado está cansado do produto massificado e quer, cada vez mais, objetos com forte cariz cultural, identitários e diferenciadores”. Cabe ao artesão “ganhar essa oportunidade”, analisa o diretor, que defende o investimento em marcas culturais com design de luxo.
...
Se nos domínios da carpintaria, marcenaria e costura, encontrar emprego por contra de outrem é relativamente comum, nos nichos da cerâmica artística, vidro ou bordados, muitos não esperam que o mercado chame por eles e criam diretamente oportunidades, uma situação que se terá acentuado nos últimos seis anos. “O desemprego fomentou o empreendedorismo e isso foi muito importante para dinamizar o sector”"
E na linha do que tenho reflectido aqui sobre o seru e a não-necessidade de máquinas-monumento , sobre o impacte de Mongo na dimensão das empresas, sobre o impacte da digitalização na redução da fricção de que falava Coase, na ascensão do DIY e dos makers, é interessante a referência aos ecrãs tácteis no título. Acredito que os artesãos do futuro trabalharão cada vez com mais tecnologia e mais valor acrescentado.



BTW, ontem fui a Rio Tinto com 4 moradas de lojas e fábricas de candeeiros. Ao chegar a uma delas, com todo o aspecto de oficina artesanal, deparei-me com caixas com marcas de renome e referências a feiras italianas. Fui recebido com atenção e simpatia mas comunicaram-me que tinham deixado de trabalhar para o público e começado a trabalhar para marcas portuguesas do segmento médio-alto e focadas na exportação.


segunda-feira, agosto 14, 2017

O terreno competitivo muda outra vez

As empresas grandes de comércio físico competem pelo preço, apostam na eficiência, distanciam-se dos consumidores e das suas excentricidades, oferecem preço e como contrapartida restringem a variedade.

Com  a evolução do comércio online as empresas grandes de comércio físico com os seus activos físicos começam a perder vantagens competitivas:
  • preços ainda mais baixos;
  • muito mais variedade.
Por isso, assistimos à erosão do comércio físico nestas cadeias grandes. 

Quando o comércio tradicional era dizimado pelos centros comerciais em 2007 escrevia aqui o meu conselho em "Quando o terreno competitivo muda ...":
"Assim, em vez de invectivar contra o vento, porque os consumidores vão ao centro comercial de livre vontade, o comércio tradicional devia procurar nichos de mercado, razões, para ultrapassar este desafio, e criar um novo modelo de negócio."
Por isso, é interessante encontrar estes textos:
"With so many major retailers struggling to stay afloat, it'd be easy to think smaller, mom-and-pop stores are doing even worse, or might be largely fading away. The recent demise of retail giants, however, has left a brick-and-mortar vacuum for local stores to fill.
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And many experts say it might be best to stay small. Being a micro-sized business certainly isn't protection against big-box retailers or online competitors, but being a small business that's an integral part of a local community can help build a loyal customer base.
...
Other dynamics are giving local mom-and-pop stores an edge, according to retail experts. Consumers are increasingly interested in artisanal and locally produced items that are often perceived as higher quality. They are also seeking more authentic experiences from unique store environments small shops can offer. And technology has allowed mom and pops to gain exposure around the world without expanding their footprint by leveraging the power of social media and targeted marketing."
E:
"in the past few years, consumers have begun to realize that mom-and-pops are actually pretty cool again.
...
consumers are once again converging on local retailers.
...
There are two primary reasons why these local retailers got their groove back: an evolving consumer mindset that is reshaping their perception of value, and technology that is helping to revolutionize the retail landscape and level the playing field.
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consumers’ thirst for artisanal and locally produced products, exceptional customer service and greater authenticity. In short, consumers have had enough of the cold, concrete box and are shifting how they define value — it’s now much more than just low price.
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Three dynamics are driving this artisanal and locally produced product trend. First, consumers are increasingly interested in understanding a product’s origins, based on the idea that if you can trace and break down a product into simple components, it’s likely to be healthier or more humanely produced. Second, unique items help consumers feel like they are expressing their individuality. And last, but not least, artisanal and locally produced items are often perceived as higher quality.
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Local retailers have also done a better job at providing top-notch customer service.
...
Consumers are also seeking more authentic experiences from retailers, including a unique store environment, employees who are subject matter enthusiasts — making customers feel like they’ve found a new group of potential friends or people they aspire to be one day — classes, events or other elements that create a personal connection."
Ao mesmo tempo que o comércio físico requer experiência de compra, magia, paixão, ... as cadeias grandes do comércio físico facilmente resvalam para o evangelho gringo dos custos, do eficientismo e ... as coisas só têm tendência a acelerar na sua destruição de valor. Este exemplo até arrepia, "The Incredible Shrinking Sears".

Decisões de localização (parte II)

Parte I.

Na leitura final de "From Global to Local" de Finbarr Livesey encontrei uma série de trechos sobre decisões de localização com os quais concordo embora com algumas dúvidas:
[Moi ici: Primeiro algo sobre Mongo] "While new production technologies are not going to give us Star Trek like 'replicator' any time soon, they are enabling smaller factories to be  economically viable. They do this by lowering what is referred  to as minimum economic scale, the lowest volume of production for which the investment in the factory is financially viable. [Moi ici: Isto é Mongo a 100%. A democratização da produção]
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The simple view of production was that bigger is better: you offset large capital costs by having a factory that produces in high volume with extreme efficiency. The case for ever increasing sizes of factory hits barriers of coordination if the factories become too large and the level required to be efficient or cost competitive has fallen as additive manufacturing and other techniques have developed and improved their performance. [Moi ici: BTW, a seu tempo os políticos descobrirão isto mas só depois de provocar muito sofrimento com as escolas-cidade, os hospitais-cidade, os tribunais-cidade, as esquadras-cidade, ...] A key implication of techniques like additive manufacturing is that they remove the need for specialised components such as moulds or forms to be made specific to the product working its way down the assembly line. [Moi ici: Pesquisar a palavra japonesa "seru"] As well as saving cost and time by not having to make these specialised pieces, it also means that a factory can more easily make a variety of products. Rather than thinking of the investment in a factory being tied to one product, the costs can be offset against the income generated from a series of products, hence a lower minimum economic scale for each product. With lower scale, the likelihood of having a greater number of smaller factories instead of a small number of extremely large factories goes up. And as that happens the factories are going to be geographically dispersed, lowering the number of trade movements necessary to get a product to customers in different countries.
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[Moi ici: Agora sobre decisões de localização] The second level of change is a strengthening of the regionalisation of trade. The temptation is to work at the extremes — everything is global or everything is local. This misses the subtleties that are needed in industrial organisation and the diversity that exists in manufacturing. Regionalisation will be driven by the balance of forces between the scale required to have efficiencies and the desire to reduce time to customer and the costs of being in different countries simultaneously.[Moi ici: Sinto que há muito de verdade neste último trecho. Unidades produtivas muito eficientes a trabalhar para todo o mundo produzindo artigos fáceis de transportar e pouco dependentes da vontade do cliente na sua versão final. Unidades produtivas ágeis e mais pequenas, talvez a trabalhar para mercados até 3/4 dias de camião, mais próximas do lugar de consumo, permitindo produções com séries curtas, reposições rápidas, alterações de design e iterações rápidas. Unidades produtivas junto do consumo para permitir customização, interacção, co-criação ]
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It is worth noting that even though the declining importance of distance for trade has been accepted as a stylised fact for many years. distance has always moderated trade. [Moi ici: Ghemawat tem um livro com uns gráficos espectaculares que ilustram esta realidade] The further away from one another two countries are, the smaller the level of trade we would expect to see between them. A recent review of over one hundred academic papers on the effect of distance on trade indicates that the average effect means that to per cent increase in distance lowers bilateral trade by about 9 per cent? Distance continues to matter even with absolute transport costs falling and increasing digital interconnection around the world. [Moi ici: Depois disto tudo tenho dúvidas num aspecto. Se a digitalização e a conectividade reduzem as fronteiras, como conciliar tudo isto com a técnica alemã de procurar clientes-alvo independentemente da geografia? Acredito que a diferenciação que trabalha para nichos e que não se baseia na interacção mas antes na vantagem tecnológica ou de design crescerá baseada na conectividade digital sem olhar à geografia]
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With smaller factories being economically viable and tooling costs falling due to increased use of techniques like additive manufacturing, companies can produce for the different regions of the world independently rather than attempting to have a global product. [Moi ici: Teremos pois, é fácil de prever para os próximos anos, a criação de unidades produtivas de multinacionais para servirem continentes e não o mundo]
...
In a regionalised scenario a company may not have its supply chain and final assembly all in the country in which it will be selling its products. They can organise themselves and their suppliers across the region. However, in some cases that won't be the best way to be organised, for example if time is really an issue. If there cannot be a lag of, say, a week to get goods from Mexico to the east coast of the USA, then the company will need to have at least final assembly in the country of purchase, if not more of the supply chain feeding that assembly process for your product.
...
At the third level within regions we are likely to see agglomeration or clustering effects. These clusters arise as there are positive effects for companies to be close to other companies im similar sectors.
...
As we move into a world where products have shorter journeys to get to us, where factories are smaller and there are more of them, and where is great uncertainty about what work we will be doing, the other elements of globalization will also continue to evolve. Nothing in the trends we have described will by themselves reduce or block digital globalization."


domingo, agosto 13, 2017

Decisões de localização (parte I)

Quando aproveitava as férias escolares para, de mochila às costas, viajar pelo interior desértico de Portugal em busca de águias, falcões e abutres, tinha oportunidade de ver coisas que não se apanham quando se circula de automóvel com atenção à estrada.

Por exemplo, nesta estrada onde em 1984 dançava o can-can:
(Estrada entre Figueira de Castelo Rodrigo e Barca D'Alva)

Recordo o esqueleto antigo de uma unidade industrial junto a uma ribeira seca no Verão.

É fácil pensar num Portugal distante onde a rede de estradas era fraca e regional. Nesse Portugal a indústria podia surgir em qualquer lugar e viver do mercado regional. Depois, surgiu o comboio e a camioneta e a rede de estradas melhorou. Então, as empresas localizadas em mercados maiores, como junto das capitais de distrito, começaram a crescer e a aproveitar as vantagens da competição no século XX:
Não deixa de ter a sua ironia ácida, associar a cada choraminga de autarca do interior nos anos 80 e 90 do século passado, melhores estradas para o interior, melhor acesso do litoral ao interior, melhor acesso das empresas do litoral com custos mais competitivos, porque maiores, incapacidade das empresas do interior competirem pelo preço, encerramento das empresas do interior, desaparecimento de postos de trabalho no interior, aumento do êxodo humano do interior para o litoral e para a emigração.

Podemos subir na escala de abstracção e passar do nível interno para o domínio do internacional.

Com a adesão de Portugal à EFTA primeiro e à CEE depois, o país começou a receber muito investimento directo estrangeiro para a indústria, por causa dos baixos da sua mão de obra e relativa proximidade dos mercados de consumo no centro da Europa. E chegámos aos gloriosos anos em que a taxa de desemprego em Portugal rondava os 3%. Éramos a china da Europa antes de haver China.

Depois, as Texas Instruments na Maia e as Seagate na margem sul deram o sinal, e as empresas de capital estrangeiro pelas mesmas razões que tinham escolhido Portugal, escolhiam agora a Ásia e começou a debandada para a China. As lojas dos 300 deram o outro sinal, muita produção nacional habituada a trabalhar para o mercado interno com base no preço começou a ser dizimada pelas importações baratas da Ásia. No domínio da economia transaccionável só sobreviveu quem de certa forma conseguiu algum tipo de diferenciação (rapidez, inovação, flexibilidade, moda, design, autenticidade, qualidade, experiência, proximidade, ...).

Agora a onda está a virar outra vez e falamos e escrevemos sobre o reshoring, sobre a importância da proximidade entre a produção e o consumo para tirar partido da interacção que permite a co-criação, a personalização, a customização.

Nesta nova etapa do comércio mundial quais podem ser as principais decisões de localização?

Continua.


Inovação ou comoditização?

Ao ler "Dairies’ Fix for Souring Milk Sales: Genetics and Bananas":
"U.S. milk sales are down 11% by volume since 2000, according to U.S. Department of Agriculture data.
...
Milk companies are fighting back with products they are billing as an improvement on the original.
...
Innovation is the only way out,” said Blake Waltrip, chief executive for the U.S. at A2 Milk Co. , a New Zealand-based company that sells milk that lacks a protein that might cause indigestion for some."
Infelizmente, por cá continua-se a reagir como os jornais face à disrupção pela internet,

optando pela race-to-the-bottom, pela comoditização, pela protecção do papá-Estado.

Recordar "E fechá-los numa sala durante 12 horas?"

sábado, agosto 12, 2017

"os indignados de turno estão outra vez a apontar ao alvo errado"

Defendo aqui há muitos anos que a tríade de académicos, comentadores económicos e políticos, está errada. Apesar dos muitos décibeis com que brande o slogan de que o euro é a causa de todos os males da economia portuguesa, continua errada. Defendo aqui há muitos anos que o principal culpado foi a China e não o euro.

É possível imaginar a quantidade de tempo e dinheiro gasto a combater esse alvo errado.

Agora surge outra cena semelhante, parece-me. Turismo e gentrificação.

Primeiro um esquema simples. A liberalização do turismo ocorrida nos anos da troika, (recordo que em 2007 o Estado até definia o tamanho dos quartos) e a ajuda jihadista, a semear insegurança um pouco por todo o anel mediterrâneo, criaram uma oferta crescente de opções para os turistas que queriam visitar Portugal (recordo que em 2014 ainda havia quem quisesse voltar ao tempo em que o BES controlava a economia - um hoteleiro a querer limitar o número de hotéis na capital, uma atitude tão portuguesa... são as nossas so-called elites).

Liberalização, jihadismo, alojamento local e turismo tradicional concertaram-se para acomodarem mais procura por turistas. Mais procura, gerou ainda mais oferta, que permitiu mais procura.

Esse ciclo de mais procura que gera mais oferta, que gera mais procura levou a isto:

Um aumento do valor percebido para os imóveis o que fez dinamizar o mercado imobiliário e o mercado da reconstrução.

Aumento do número de turistas e do imobiliário dinamizou o mercado do comércio e o do alojamento e restauração.

Cada um daqueles pontos azuis no esquema representam um contributo para quatro dos cinco sectores onde o desemprego mais caiu, em números absolutos, nos últimos dois anos (construção, imobiliário, comércio, alojamento e restauração. O quinto, que é o quarto em valor absoluto, é, infelizmente, o emprego no sector público)

Se ninguém interferir neste sistema ele há-de atingir um equilíbrio limitado pela experiência dos turistas. Enquanto a experiência dos turistas for maioritariamente positiva a divulgação entre amigos e redes sociais, o buzz, continuará a atrair turistas até que se chegue ao ponto:
É um sítio tão popular que já ninguém vai lá!
Entretanto, a tríade intervencionista agora arranjou um novo brinquedo para exercitar a sua tara pela indignação e paixão pelo controlo: o ataque ao excesso de turismo. Como neste naco de prosa de ontem, "Turismo, a galinha dos ovos de ouro?".

Desde há décadas que ninguém quer viver no centro das cidades grandes em Portugal, desde há décadas que elas perdem habitantes, desde há décadas que elas se vão degradando e desertificando a ponto de ser um risco circular por lá à noite. Viver na cidade velha não era cool.

Agora, esqueçam o turismo por uns momentos. Agora, um pouco por todo o lado vive-se um tempo novo. Richard Florida proclama-o há anos. Neste artigo recente, "Why America’s Great Cities Are Becoming More Economically Segregated":
"The news for cities since this upper-middle class emerged is not good, Florida says. Some cities, like New York and San Francisco, are doing so well that everyone wants to be there. He writes that “by moving back to the urban core, affluent whites are able to simultaneously reduce their commutes, locate near high-paying economic opportunities and gain privileged access to the better amenities that come from urban living” like parks and restaurants. Gentrification of poorer and middle-class neighborhoods on the part of middle-class black people is a similar phenomenon."
Recordo reunião há 2/3 anos com empresa informática com cerca de 60 pessoas numa rua no Porto burguês do século XIX. Fachada restaurada por fora e interior renovado.

Sinto que os indignados de turno estão outra vez a apontar ao alvo errado. A coberto de uma suposta solidariedade com os habitantes "autóctones" do centro das cidades atacam o turismo. No entanto, a corrente é bem mais profunda, o centro voltou a ser cool e se não for o turismo serão outros a ocupar os espaços, não os "autóctones".





Ecossistemas

Desde 2004 que namoro e uso o conceito de ecossistema. Por isso, apreciei de sobremaneira este texto, "Let’s Abandon Customers and Users":
"talking generically about customers or users can be exasperating. Especially in B2C or B2B2C markets where our tech is part of a long value chain: perhaps our software helps some employee collect data to tune a service that improves delivery of some consumer product…
Creating real-world value is a multi-step process involving many players. And it’s exhausting prefacing every conversation by (re)defining terms: “for this user story, the customer is the sys admin who configures our CAD software, not the architect sketching out buildings. See personas 4 and 7.”  Wasted energy. So let’s abandon the words ‘customer’ and ‘user’ entirely, and be more explicit about who/what we mean."
Por exemplo:
"If we’re building analytics software for brick-and-mortar retail chains, then we sell to retailers who have shoppers or consumers who visit those retailers’ locations or branches. Talking about the generic ‘customer’ generates unnecessary confusion among Sarah Sue Shoe Shopper; her sales associate in Nordstrom’s downtown Toronto shoe department; Nordstrom’s Seattle-based merchandise analyst tracking shoe fashion trends; and the Marketing VP invited to our Customer Advisory Board. Let’s say sales associate when we mean sales associate." 

sexta-feira, agosto 11, 2017

Impressionante!!!

Ontem, ao ver a loja da Pikolinos no Gaiashopping voltei a recordar a conversa na origem de "Em busca de um novo oásis".

Com as lojas online a destruírem as prateleiras tradicionais, a alternativa é criar as suas próprias prateleiras "El calzado de Pikolinos prosigue su expansión y abre su primera tienda en Barcelona".

Agora, descubro esta figura imponente:
Impressionante!!!

Figura retirada de "How The Rise Of Amazon Has Destroyed Retail Chains, In One Chart"

BTW, "Selling Stuff Is No Longer the Point of Retail Stores":
"That’s the future of retail, according to a new breed of startups that have embraced physical stores as places for “brand experiences” rather than mere sales."
Por cá, por causa:

  • do encolhimento provocado pela crise;
  • da aposta do governo no consumo interno;
  • do crescimento do turismo;
Este impacte ainda não se fez sentir no emprego no comércio em Portugal.

Mongo - outra previsão

"I predict that over the next 25 years we should expect to see radical de-centralization in virtually every large human endeavor, from global businesses to educational institutions, nonprofits, and even governments themselves.
.
Within a single generation (at most, two), we will see nearly every large, top-down organization now in existence rendered nearly obsolete, supplanted or made irrelevant by decentralized, self-organizing groups of individuals. From giant manufacturing companies and world-scale software vendors to local, state, and national governments and bureaus, the tasks these organizations accomplish today are all likely to be accomplished instead by groups of individual people connected and empowered by technology. [Moi ici: Até aqui tudo em sintonia com a previsão que fazemos há anos acerca de Mongo. Até aqui em linha com as provocações que costumo fazer aos textos das consultoras grandes que trabalham para as multinacionais e que escondem esta possibilidade. Já o trecho que se segue não tem o meu acordo. Prevejo a ascensão das plataformas cooperativas numa segunda geração. Numa primeira fase as plataformas gigantes são necessárias para partir as leis do século XX criadas para proteger as corporações incumbents. Depois, a estratégia fará o seu aparecimento] Think about Uber, Taskrabbit, or Airbnb, and how these would be applied to large companies and governments.
...
The more efficiently technology connects us, the more radical this decentralization process will become. In 25 years it’s quite likely that a large number of today’s big industries, business models, and even government organizations will no longer exist, their functions sustained by looser, decentralized groups."
Trechos retirados de "My 25-Year Prediction: Radical Decentralization"

quinta-feira, agosto 10, 2017

Curiosidade do dia

Na semana passada uma televisão falou com um dos elementos demissionários da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa. Ouvi-o dizer algo que me ajudou a perceber o que está em causa. Resumindo, ouvi algo como:

- A Autoeuropa quer deixar de produzir carros para nichos para passar a produzir um modelo para o mercado de massas. Por isso, tem de produzir a um ritmo mais elevado.

A partir dessa altura entendi a necessidade de mudança do paradigma de produção.

Agora encontro este texto de Joaquim Aguiar, "O escorpião e a rã", e julgo que assenta como uma luva à situação.

Acerca das exportações YTD - mês 6 (2017)


Olhando para os números do acumulado das exportações nos primeiros 6 meses de 2017 e 2016, e usando a minha habitual bitola, é possível perceber que as exportações das PME continuam a crescer a bom ritmo. O parcial I em Abril representava 46% do total, em Maio esse valor subiu para 49%, e em Junho atingiu 51%, apesar da subida pornográfica das exportações de combustíveis (+ 49% de crescimento homólogo). Quem segue este blogue sabe o quanto significa apara mim aqueles 51%.






Para acompanhar a evolução do desemprego

Experimentei 9 sectores de actividade e olhei para a evolução mensal do desemprego ao longo dos últimos 18 meses (desde o início da geringonça em Janeiro de 2016):



A evolução do desemprego nos primeiros meses de 2016 foi negativa.
A evolução do desemprego nos primeiros meses de 2017 foi melhor que a verificada em 2016.
No entanto, quando comparamos o mês 6 de 2016 com o mês 6 de 2017 nos nove sectores a velocidade de decrescimento do desemprego é mais baixa em 2017 em oito deles.



quarta-feira, agosto 09, 2017

"Automation is a game of large numbers"

"Jobs are increasingly viewed as undifferentiated and interchangeable across humans and machines — the very definition of a commodity.
...
Outsourcing — exchanging internal employees for external ones, often offshore — was a big step toward commoditization for many companies.[Moi ici: Mentalidade anglo-saxónica no seu pior, o foco nos custos acima de tudo e, passar ao lado das oportunidades dos nichos e da proximidade]
...
Just as there are low-value and high-value commodities, there are low-value and high-value commoditized jobs.
...
For many jobs, the value is driven less by their intrinsic worth but rather by market demand. A recent Bloomberg Businessweek visual analytic suggests that jobs that disappeared in the first four months of 2017 compared with the same period in 2016 were not lost to automation, but were lost because fewer customers wanted to buy the products and services they produce.
...
For many organizations today, the next big driver of job commoditization is automation driven by smart machines. Simply put, if a job is viewed as a commodity, it won’t be long before it is automated. My research on automation through artificial intelligence (AI) or cognitive technologies suggests that if a job can be outsourced, many of the tasks typically performed by the jobholder can probably be automated — even by relatively “dumb” technologies like robotic process automation. Many global outsourcers are working desperately to create their own automation capabilities that could replace human jobs with machines.
...
The key for financial professionals and other workers whose jobs have traditionally seemed safe is to make themselves less commodity-like. Automation is a game of large numbers, and it’s not economical to automate unique activities. [Moi ici: Mongo é um mundo de "large numbers"?] As long as human workers’ capabilities are differentiated from machines’ capabilities, then machines can’t easily replace them — and few organizations will be tempted to automate that niche."

Trechos retirados de "When Jobs Become Commodities"

"uma tendência a considerar para a cidade do futuro"

Há dias em "One more time, it is not about cost" escrevi:
"Antes de me sentar a citar este texto dei uma caminhada de 5km por ruas secundárias de Mafamude que não visitava desde 1973.  A certa altura olho para uma série de "lojas": uma de imobiliário, uma híbrida entre a mercearia e a chinesa, uma como ginásio de educação, outra de ... e veio-me à mente o pensamento de que reconheceremos Mongo quando começarem a aparecer nos espaços de loja: unidades de fabricação com 2 ou 3 trabalhadores e tecnologia."
Agora encontro:
"The Garment District is no different; it is an industrial zone, with other nonindustrial uses allowed. But since fashion is a lighter industry, like other niche design-driven industries, it is actually clean and quiet and can be easily integrated with office and residential uses in the same buildings. [Moi ici: E o que é Mongo senão um paradigma de empresas dedicadas a servir nichos?] What if the higher-value residential tenants could consciously support the lower-rent garment tenants (or other light manufacturing spaces) through cross-subsidies? The result would be a diverse mix of making, selling, playing, and living; creating a 24/7 work-live community. The ground floor could remain retail space relating to the supplies that comprise the products—buttons, zippers, sequins, fabrics—while the lower and middle floors, where the showrooms are often located, would be required to be maintained as factories. The upper floors could contain the higher-value showrooms, and commercial and residential units.
...
Another approach is to make the garment workers visible, injecting energy into the area with new physical transparency, exposing the industrial mysteries of workers making patterns, cutting, sewing, and pleating fabrics, in what I call the “consumption of production.” The emergence of industry-as-spectacle combines retail with making, so that the consumer also can see into the process from beginning to end, in our experience economy. This would be part of a longtime tradition of urban merchants and their workshops, or even the phenomenon of open kitchens in restaurants, and follows new interests in authenticity. In this new context, it combines another hybrid of retail-factory spaces for urban chocolatiers, coffee roasters, and bakers bringing street life to cities. In doing so, we can redefine and bolster the dynamism and diversity of our innovative and productive city." 
Afinal não é uma loucura de anónimo da província, se calhar é uma tendência a considerar para a cidade do futuro.

terça-feira, agosto 08, 2017

Acerca do reshoring

"One is the notion of reshoring: some Western manufacturers are “bringing manufacturing back home,” but our understanding of why exactly this occurs is limited.
...
Location decisions must be understood not just through the lens of economic attractiveness of one region or country over another, but also as a decision where many organizational and technological interdependencies become relevant: decisions about where to locate manufacturing link to other decisions, such as location of research and development activities with other value chain activities and actors, such as product development, suppliers, and markets.
...
When and why should policy makers be interested in production location decisions? Understanding value creation is central to understanding the role of production both within a firm and within a national economy.
...
Our results suggest that contemporary location decisions link intimately to three dimensions of interdependence with suppliers, market, and development activities: formalization, coupling, and specificity.
...
 ...
we find the proposition that coupling is the most important source of interdependence in location decisions plausible. Specifically, if production is tightly coupled with development, relocating one implies relocating the other. In contrast, low formalization of the Production- Development Dyad may make it easier to manage the relationship if the two activities are geographically collocated, but coordination can succeed even without collocation as well.
We also observe that the common denominator in the cases where production takes place only in the low-cost country is high formalization combined with low specificity. This is not surprising: It is specifically the routinized, generic forms of production that become candidates for both outsourcing and offshoring.
...
In our analysis of the 35 location decisions, the key theme that repeated itself throughout the cases was the notion of interdependence of activities. As a general finding, this is hardly surprising, but the detailed understanding of how formalization, specificity, and coupling link to location decisions has the potential to both inform firm-level strategies and to at least introduce new vocabulary into discussions of economic policy."
Mongo implica mais proximidade e interacção com clientes e fornecedores, e maior rapidez na evolução da produção e do desenvolvimento.

Trechos e imagem retirada de "Why locate manufacturing in a high-cost country? A case study of 35 production location decisions" publicado por Journal of Operations Management 49-51 (2017) 20-30

Marcas: Hara-Kiri

"Overproduction is a huge problem that the industry tries to hide as it chases after fake numbers and reports of constant growth.
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The industry talks about conspicuous consumption — buying for the sake of buying — as the reason behind the growth in the luxury segment. But brands are producing more product than there is demand for. I call it conspicuous production, producing for the sake of producing and artificially inflating the numbers.
...
Supply meets demand is the basic rule of business and one the whole industry seems to ignore. Sales are the first indicators of overproduction. The goal should be to reach 100 per cent sell-through before discounts, though figures over 90 per cent are acceptable, as no one can predict the exact demand down to each SKU [stock-keeping unit]. What’s shocking is that most brands in big stores don’t even sell 20 per cent of their merchandise before discount, yet continue to report wholesale growth.
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Stores and brands are trying to hide the truth by opening outlet stores, which sell unsold merchandise and sometimes even similar collections that never went to the full-price retailers. Outlet stores then have the same problem: they end up with deadstock that they resell to other countries and the same scenario repeats itself. If nobody wanted something full-price, it doesn’t necessarily mean that anyone will want it half-price. Recent reports show that more than 30 per cent of merchandise produced by fashion brands will never be sold. The clothes end up in landfill. It affects consumer buying behaviour as well. Pieces bought on discount appear to be less valuable psychologically to the consumer, which makes it easier to throw them out.
...
Luxury is like dating. If something is available and in front of you, it’s less desirable. Scarcity is what defines it. One of the ways to create scarcity is to reduce the supply curve. The more demand there is, the more desire it creates. Desire is the key value in luxury business.
...
The parallel market is one of the dirtiest secrets of the fashion industry. [Moi ici: Outro tema de que me falaram na conversa na origem de "Em busca de um novo oásis"] More and more luxury stores have become a beautiful façade to cover the real business going on behind the scenes. In addition to selling a small part of the merchandise directly to the final consumer, they also play an intermediary role in reselling the biggest part of their order to horrible stores, often in remote locations all around the world, which cannot get brands through the official channels.
...
Brands are perfectly aware of the parallel market, and the stores involved in it, but are closing their eyes in order to further report growing sales numbers. Officially those brands are sold only in the best stores in the world, and claim a limited and exclusive distribution, but in reality their merchandise ends up in horrible places. There is a certain obsession with reporting the growth for fashion brands no matter what the true cost.
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The values and goals have mutated so much that things that simply make sense start to look abnormal or disruptive. Historically, brands produced clothes to sell to a final consumer. Today brands produce runway collections to sell a perfume or a wallet in a duty-free store. They stuff stores with unwanted merchandise to report artificial growth. They keep overproducing while talking about sustainability. They claim exclusive distribution while paralleling their own merchandise. They are slowly killing their brands in the long term to have a quick profit today."
Interessante, relacionar a legenda das figuras do artigo de donde retirei estes trechos "Vetements: the gospel of Guram Gvasalia":
"they chose to shoot their designs on local people and families living in the area"
Com este outro artigo "QUORA: IS VICTORIA'S SECRET FAILING? IT'S NOT LOOKING GOOD":
"The first clear indication that it’s the perfection in Victoria’s Secret images that is proving to be a turnoff was the emergence of competitor Aerie, whose marketing plays up its “unretouched, real women” angle. Ever since it launched its no-airbrushing policy in 2014, Aerie’s sales have taken off.
...
As a policy, Curvy Kate does not use any professional models, sourcing the eclectic mix of women it features from social media.
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Also going the real-women, no-Photoshopping route and winning reams of positive reviews is LONELY LINGERIE, which a few months ago placed a 56-year-old woman at the centre of their campaign."
Autenticidade versus "fake"

segunda-feira, agosto 07, 2017

Deixam-me a pensar

Um anónimo da província entretem-se a diletar:
"O conhecimento técnico, a aposta, constante, na qualidade, nos detalhes e no estabelecimento de “relações de confiança e de transparência” têm sido os grandes pilares de desenvolvimento da Impetus no mundo. A par da inovação. O grupo conta já com vários produtos patenteados e linhas específicas para desporto, com tecnologia que regula a humidade e transpiração, além das gamas Innovation (linha que armazena o calor corporal excessivo e volta a distribuí-lo em caso de necessidade, uma tecnologia desenvolvida pela NASA para os astronautas), Thermo (para proteger do frio, no inverno) e ProtectDry (roupa interior para incontinentes, lavável e reutilizável, e com tecnologia que elimina odores). Este último é um produto que está a ser vendido, em força, na grande distribuição, com destaque para Portugal, Espanha, Suíça, Alemanha, EUA e Suécia e com entrada, em breve, na Rússia e na África do Sul.
...
O Citeve e a Universidade do Minho são parceiros de excelência em I&D. Recentemente, chegou ao mercado a linha de roupa interior com certificado orgânico, que garante um fabrico socialmente sustentável e sem uso de químicos.
...
O objetivo é o aumento da capacidade produtiva por via da aquisição de novos equipamentos, alguns dos quais completamente inovadores no país
...
A consolidação de mercados é a grande prioridade da Impetus, que exporta 98% do que produz, com especial destaque para mercados como Espanha, França, México, Japão, Estados Unidos, Alemanha, Suíça e Noruega, estes últimos em regime de subcontratação para outras marcas, o chamado private label, caso da Calvin Klein ou da Tommy Hilfiger, entre muitos outros. A marca própria vale 25%.
...
Mas o private label, mesmo incerto, é o que nos tem mantido até aos dias de hoje."
Recordar:

No que fico a pensar?

Algo que passou na conversa que deu origem a este postal da semana passada "Em busca de um novo oásis": a fraqueza relativa das marcas próprias (comparar com a opinião de 2011) e o crescente encanto com o private label, talvez por causa do ruir do retalho tradicional.

E volto aquela preocupação de Dezembro de 2011. Assim como na série "Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa" abordo a relação entre estratégia e estrutura produtiva, este artigo onde se fala de investigação e de "grande distribuição" e o de Dezembro de 2011, deixam-me a pensar se não há algo a melhorar a nível de relação entre estratégia, propostas de valor e estrutura de vendas.



Trechos retirados de "Impetus. O ‘underwear’ de Casillas está a investir 3 milhões"

Beyond Lean (parte II)


Na parte I procurámos demonstrar que o futuro será muito mais do que a automatização. A explosão de tribos de Mongo requer estruturas produtivas com um ADN diferente do que aquele que o século XX nos legou.

A evolução tecnológica vai trazer, também, a democratização da produção, a redução de barreiras à entrada e, por isso, a explosão no número de pequenas empresas life-style business.

Em paralelo a esta evolução, que vai sugar os mais apaixonados para uma nova Idade de Ouro de artesãos do século XXI, teremos a reacção das empresas grandes no seu combate final pelo domínio da decrescente fatia de mercado que representa os que continuam dentro da caixa e optam pelo preço como o critério prioritário de compra. Essas continuarão a optar pela automatização como forma de reduzir custos.

E em paralelo com as duas correntes anteriores teremos uma terceira impulsionada pela demografia e tão bem ilustrada em "Rise of the machines".

Até que ponto Portugal vai ter de ser pioneiro nesta terceira via?

Demografia, marxismo social e a atracção pela emigração, são uma combinação tremenda que só agora começa a ter o seu impacte. Recordar:

domingo, agosto 06, 2017

Pedir uma explicação para esta "blasfémia"

Numa introdução mais humorada posso dizer que descobri a identidade secreta do @nticomuna. Só duas pessoas poderiam escrever algo que se escreve neste artigo do Financial Times, "Sterling’s Brexit slide has yet to deliver trade’s sunlit uplands", ou o @nticomuna ou eu. Como não fui eu, ergo ...
"Brexit, we were told, will improve Britain’s trade performance through the depreciation of sterling.
...
The big difference is currency movements. Sterling has fallen 17 per cent since late 2015 against Britain’s trading partners, a period in which the equivalent measure for Portugal rose 2 per cent. With such stark exchange rate differences, it would be natural to see net trade — exports minus imports — contributing more to Britain’s growth rate than that in Portugal over the past year. UK imports have become pricier and exports more competitive.
.
But in most recent data comprising the year to the first quarter of 2017, net trade subtracted 0.2 percentage points from the UK’s growth rate while adding 0.5 percentage points to Portugal’s rate. Sterling’s slide has not helped Britain.
.
Between January and March this year UK output in production industries expanded 2.3 per cent compared with a year earlier, the same rate as the growth in services and less than in construction. British rebalancing towards production is notable for its absence. In Portugal, industrial output grew 4.8 per cent over the same period, considerably faster than the 2.8 per cent overall growth rate. Brexit has not given the UK a more balanced economy.
.
Surely, at least, the Leave vote has spurred UK companies to broaden their horizons and focus exports outside the EU? Again, no. With the depreciation allowing exporters to raise prices, British export values to the EU27 were 15.5 per cent higher in the year to the first quarter, a more rapid improvement than the 13.8 per cent growth rate to non-EU countries. But compared with Portugal, these figures look disappointing; over the same period its exports to outside the EU grew 33.2 per cent with a 51.6 per cent rise in US exports.
.
These are the sort of numbers that would have Brexiters salivating, if they related to Britain rather than Portugal."
Interessante mesmo era alguém pegar neste artigo do FT e com ar de ingénuo chegar junto do bicicletas, ou de Ferreira do Amaral, ou de Vítor Bento, e pedir uma explicação para esta "blasfémia" de exportações que crescem com moeda a fortalecer.


Prefere gasolina no Intermarché ou na BP?

Prefere gasolina no Intermarché ou na BP?

A pergunta faz tanto sentido como a pergunta "Prefere um voo barato ou… um voo pontual?"

A resposta é: depende?

Tudo depende do contexto, tudo depende do objectivo que se pretende atingir.

Costumo ir a Guimarães uma vez por semana, trabalhar numa empresa. Prefiro ir de comboio ou de carro?

Pela poupança, pela comodidade, pelos minutos "com mãos" ganhos vou quase sempre de comboio. Também vou de carro quando tenho um horário apertado e conciliar uma ida a Guimarães com uma ida a Felgueiras.

Por isto é que a caracterização dos clientes com base na idade e noutros atributos independentes do contexto não são muito úteis para prever comportamentos.

sábado, agosto 05, 2017

Beyond Lean

Há anos que escrevo aqui sobre o advento de Mongo e o consequente impacte na dança entre produção e consumo:

  • mais tribos;
  • mais nichos;
  • séries mais pequenas;
  • mais flexibilidade;
  • mais rapidez; 
  • mais variedade;
  • mais diferenciação;
Em paralelo há anos que se lê com cada vez mais frequência sobre a automatização da produção.

Em Mongo, a produção é muito diferente da do paradigma do século XX com séries longas e planeamento da produção feito com muita antecedência. Em Mongo o planeamento da produção é feito cada vez mais em cima e é mais volátil. Como é que a automatização e as organizações-cidade lidam com Mongo?
"With improvements in living standards and a transformation in people’s ideas of consumption, much of the current electronics manufacturing industry is confronted with market demands characterized by variety and volume fluctuation. Manufacturing system flexibility is useful to address such fluctuated market demands.
...
Seru production has been called beyond lean in Japan and can be considered to be an ideal manufacturing mode to realize mass customization
...
seru production relies on low-cost automation and has little automation. When reconfiguring a conveyor assembly line into serus, expensive large automated equipment is substituted with simple-structure equipment with similar functions. The reconstructed equipment can be easily duplicated and modified at a low cost, so as to avoid equipment-sharing conflicts among multiple serus and reduce investment in equipment.
...
Factories that produce multiple electronics product types in small-lot batches tend to adopt seru production. Compared to mass production, which displays its superiority in the case of a narrow range of product types with high product volumes, seru production would be affected by low efficiency and high cost in such an environment.
...
Using highly automated production systems, mass production factories can attain high production efficiency. However, they usually achieve low production flexibility. As both the variety and volume fluctuations of market demands increase, mass production factories may need to reconfigure their traditional conveyor assembly lines for their survival and development.
...
Seru production is human-centered manufacturing. Multiskilled operators are important resources to implement seru production, more important than in mass production. The equipment used in seru production is simple and not automated. The effect and influence of equipment on the performance of seru production systems is less than that on mass production systems. Accordingly, a practical production planning system for seru production should consider multiskilled operators more than equipment. In a dynamically changing manufacturing environment, a dynamic production planning system is needed"
Anónimo da província mas muito à frente:

Cuidado com os media, desconfie sempre!


Trechos retirados de "An implementation framework for seru production" publicado por Intl. Trans. in Op. Res. 00 (2013) 1–19

Tribos por todo o lado

Tribos por todo lado, nichos por todo o lado. Mongo é isto:
"all of them into this niche product that acts as a social identifier. For them, standing in line for a T-shirt or baseball cap is a way of telling the world that you know about something that not everyone is hip to.
...
“We become a little band of survivors, with a grim gallows humor to match,” Mr. Andrews wrote. “We’re all in this together.”"

Trechos retirados de "The Cult of the Line: It’s Not About the Merch"

sexta-feira, agosto 04, 2017

Outro festival de blasfémias

Continuado daqui.

Agarre-se às cadeiras, segue-se mais um festival de blasfémias:
"The alternate to costly multipurpose or special-order machines is inexpensive, slower, and fewer-purpose machines, but many of them. Every work cell that needs one gets one and can then function autonomously. Although a multipurpose machine offers high flexibility through quick changeover and rapid production rate, all else equal, conventional fewer-purpose machines might provide even greater flexibility when employed in a number of manufacturing cells. Conventional machines are also simpler to operate and less costly to maintain.”[Moi ici: Pode estar aqui uma oportunidade para os fabricantes portugueses de máquinas?]
Constraining that three-pronged potential, however, is the tendency of manufacturers to retain SP practices in spite of their limited responsiveness. Such dysfunctional decision making ... tends to be chosen for local efficiency rather than effectiveness - remains in force today.
Several authors emphasize the importance of avoiding monument equipment consider the potentially negative impact on responsiveness of smoothing the production schedule as commonly
...
concurrent production relies on multiple, relatively slow-paced, simple, small-footprint, low-cost productive units, sometimes referred to as right-sized
...
As the number of production units increases, so does the degree to which production becomes concurrent with demand; and as the degree to which equipment units are dedicated increases, so does concurrency.
...
“Abolish the Setup,” points to the liabilities of “a single, expensive machine that can produce many kinds of parts,” compared with several less-expensive, dedicated machines.
Small, inexpensive units of capacity can be readily reconfigured, which grows in importance as customer preferences proliferate.

...
CP builds factory infrastructures around multiple product-family or customer-family-focused units - cells, machines, production lines, plants-in-a-plant - with simple, compact, low- cost, “right-sized” equipment and avoidance of monument-sized equipment. The primary objectives of CP are to reduce customer lead times and distribution inventories. Longer-range benefits to the organization as a whole include better customer retention, market penetration, and sales growth. In an era when customers increasingly demand higher variety from manufacturers, CP is timely, making it possible to reap the benefits of responsiveness while keeping production costs low enough for competitiveness."
Trechos retirados de "Missing link in competitive manufacturing research and practice: Customer-responsive concurrent production" publicado por Journal of Operations Management 49-51 (2017) 83-87

"associar-se a um propósito"

Ontem, quando li o título "As marcas já não querem só vender produto, querem vender um propósito." lembrei-me logo de dois postais:

E lembrando-me do job to be done e "Your customers care about the progress they will make" escrevi no Twitter:

Em vez de querer vender um propósito, associar-se a um propósito que o cliente já persegue e valoriza



quinta-feira, agosto 03, 2017

Em busca de um novo oásis

"Portugal está a perder terreno face a Itália no que à produção e exportação de calçado diz respeito.
...
é no preço médio que a diferença se acentua: 26,09 dólares por par, pouco mais de metade dos 47,76 euros a que são exportados os sapatos italianos."
Quando li este trecho, meio a correr, pensei logo na evolução do perfil da produção portuguesa como forma de justificar esta evolução. Recordar a série "Comparações enganadoras"

Depois, quando li com atenção o resto artigo encontrei uma comparação mais útil:
"no calçado de couro, o fosso face a Itália agravou-se: os sapatos italianos de couro são exportados, em média, a 63,78 dólares, mais 2,28 dólares do que em 2015, enquanto os portugueses não vão além dos 31,16 dólares, praticamente o mesmo valor do ano anterior."
Como é que o artigo explica esta evolução?
"“uma parte significativa do diferencial de preços” é explicado pelo facto de Itália ter uma posição muito superior à portuguesa nos mercados extracomunitários, que registam, habitualmente, preços médios de exportação superiores aos europeus." 
Esta explicação parece-me tão simplista...

Em interessante conversa com alguém que pensa o sector encontrei explicações muito mais plausíveis, IMHO.

O calçado português com marca própria, embora tenha um peso muito baixo na quantidade produzida, tem um preço à saída da fábrica bem mais alto. Onde se vendem essas marcas? No retalho tradicional. O que é que está a acontecer ao retalho tradicional? Recordo este trecho que escrevi em Abril passado:
"A evolução do retalho é um tema que me interessa porque é super importante para as PME com que trabalho. A maioria das PME portuguesas não tem marca própria relevante. Ou produzem para marcas de outros ou produzem componentes que serão incorporados nas marcas de outros (B2B2C ou B2B2B2C).
.
Assim, o seu futuro depende em larga escala, segundo o modelo de negócio actual, do sucesso da última interacção da cadeia, aquele ...B2C. Se esta última interacção falhar, tal como falharam em massa as sapatarias de rua quando chegaram os centros comerciais, as nossas PME terão um problema em mãos."
 A revolução do retalho tradicional disrupciona as cadeias de fabrico.

Primeira explicação: a disfunção do retalho tradicional. Se os clientes dos clientes deixam de comprar, os fornecedores ficam sem procuram.

Segunda explicação: o impacte do reshoring e a tentação pelo caminho mais fácil.
"O regresso da produção industrial à Europa vai voltar a colocar em cima da mesa a hipótese de apostar no low-cost. E o low-cost parece tão intuitivo, tão atraente..."
Ainda esta semana um empresário me contava que um seu cliente tinha recebido um encomenda muito grande de meios de produção para o fabrico de calçado. Algo que relacionei com uma visita de há alguns meses de alguém que procurava empregas muito grandes em Portuga para produzir calçado.

Neste momento, a primeira explicação é a que mais me preocupa. Daí a escolha da expressão "placa teutónica" e o recurso à imagem do equilíbrio pontuado. O mundo mudou e agora é preciso correr atrás do prejuízo para voltar a encontrar um novo oásis.

BTW, uma terceira explicação o abandono do couro.


Trechos retirados de "Preço do calçado português é quase metade do italiano"

O anónimo da província estava certo!

Mais um texto em linha com o que aqui defendemos há anos com base na nossa experiência empírica.  Enquanto os membros da tríade (académicos fechados nas suas torres de marfim, comentadores económicos e políticos) continuam a falar de competitividade com base no século XX e, por isso, estão prisioneiros do eficientismo e das manigâncias com a cotação da moeda, há um outro mundo:
"The manufacturing arm of operations management (OM) has limited itself to a narrow vision of what this key organizational function is supposed to be and do. OM scholars have quibbled about efficiency in factory and supply-chain operations, while giving little attention to tying production forward to end customers. Our view is that this single-minded focus on efficiency has effectively knocked OM research, theory, topics, methods, measures, and practitioner guidance off kilter.
On the industry side, a narrow view of OM mirrors the single- minded focus that we observe in academia. Manufacturers proudly display factories that have been cleared of targeted wastes and are marvels of short flow times, low work-in-process in- ventories, and high capacity utilization. They may also point to similar achievements with key suppliers. A closer look, howeveroften reveals a supply chain with extended lead times [Moi ici: Aposto que, como eu, não sabia que o Toyota Production System, essa maravilha de organização e eficiência (sem ironia) congela a previsão de produção com 8 semanas de antecedênciaand swollen finished-goods inventories that dwarf the low in-plant inventories. The overall supply chain often loses the ability to compete on anything except cost. The resulting vulnerability to low-cost competition leads to offshoring.
Inability to synchronize with downstream demand increases production cost through supply-demand mismatches, delays in addressing quality issues - even mass product recalls, and customer defections. These negative outcomes are commonplace even in factories held up as bastions of “best practices”.
...
A major deterrent to CP [Moi ici: Concurrent production] adoption is the tendency both in companies and among the OM academic community to focus on localized efficiency to the neglect of responsiveness in fulfilling customer needs. Manufacturing people have limited interaction with final users, so the cost of valuing efficiency above responsiveness goes unnoticed. In consequence, manufacturing-improvement efforts tend to be limited to pursuit of within-factory efficiencies: short internal flows, smoothed sched- ules, and high capacity utilization.
...
manufacturers in their quest for operational efficiency prefer factory operatives to be always busy making products. CP, on the other hand, welcomes the situation in which both equipment and its operators are idle for lack of current demand.
...
Another managerial mindset that hinders CP implementation is the assumption that it is better to reduce changeover times on a single piece of equipment than to duplicate that equipment. Along similar lines, we have seen manufacturers replacing multiple units with a single large, flexible piece of equipment. ... done for the sake of “... improved efficiency and productivity”. This way of thinking culminates in “monument” machines: high-speed, multi-functional equipment that gives the impression of being extremely efficient. ... that engineers “... typically think at the process level,” seeking efficiencies “... by combining operations with[in] a single piece of equipment.” This “can cause a disconnect with general management who want to increase sales, make gains in market share, or find new sources of revenue by adding product lines.”"
Agora metam neste cenário os fanáticos da automatização que só pensam no eficientismo e se esquecem de Mongo: rapidez, flexibilidade e variedade crescente para servir tribos cada vez mais exigentes.

Continua.

Trechos retirados de "Missing link in competitive manufacturing research and practice: Customer-responsive concurrent production" publicado por Journal of Operations Management 49-51 (2017) 83-87

quarta-feira, agosto 02, 2017

Um preço é um palpite!

O @icyView no Twitter chamou-me a atenção para este texto "Fairness or efficiency?" que mereceu este comentário da minha parte:

Quando é que as pessoas vão aprender que o preço não resulta de uma equação? Quando é que as pessoas vão perceber que o preço não depende do custo? Quando é que as pessoas vão aprender que o preço não é justo nem injusto? Quando é que as pessoas vão aprender que um preço é um palpite?

E os palpites são verdadeiros ou falsos hoje e, depois, falsos ou verdadeiros amanhã. Por isso, gosto da frase: os preços são contextuais. Porque os preços são contextuais, recomendo às empresas que contribuam para  o contexto:

Análise de risco à la FMI

Será que isto pode ser útil para quem quiser investir um pouco mais na abordagem baseada no risco?

Risco - o que a incerteza pode gerar se não mexermos.

Oportunidade - o que podemos ambicionar se mexermos?


Imagem retirada de "Italy : 2017 Article IV Consultation-Press Release; Staff Report; and Statement by the Executive Director for Italy"

terça-feira, agosto 01, 2017

Um festival de blasfémias!!!

Em "Talvez o tema que mais nos separa dos níveis de produtividade do resto da Europa Ocidental" incluí esta figura:

Curioso, fui à procura do último livro do John Mullins referido na entrevista.
Encontrei "The Customer-Funded Business: Start, Finance, or Grow Your Company with Your Customers’ Cash". Um festival de blasfémias, tal o distanciamento face à cultura mainstream acerca das startups e do empreendedorismo, transformada num concurso de beleza para cativar investidores e financiadores em detrimento da cativação de clientes.

Esta manhã, entre as 7h30 e as 8h30 tive a oportunidade de ler o primeiro e o oitavo capítulos:
"I believe raising equity at the outset of a new venture’s journey is, at least most of the time, an exceedingly bad idea—for both entrepreneurs and investors alike.
...
[Moi ici: Segue-se um argumento que há anos uso no Twitter, sobre o tema] waiting to raise capital forces the entrepreneur’s atten- tion toward his or her customers, where it should be in the first place.
...
making do with the probably modest amounts of cash your customers will give you enforces frugality, rather than waste. Having too much money can make you stupid and lets you ignore your customer! Having less money will make you smarter, and will force you to run your business better, too.
...
focusing your efforts to raise cash from customers who are willing and eager to buy from your yet-unproven com- pany is likely to mercifully put to rest a half-baked or not- quite-right idea that requires more development—a pivot, in today’s entrepreneurial lexicon—in order to hit the mark.
...
“We think that you shouldn’t start with the assumption that you need to raise money . . . Huge companies have been created with little or no outside investment.”
...
  • Raising capital demands a lot of time and energy, distracting entrepreneurs from building the actual business.
  • Raising capital too early means pitching the merit of the business idea to potential investors, rather than proving its merit among customers in the marketplace."
Não consigo deixar de pensar que o entrevistado, ao recomendar o livro de Mullins o fez com um sorriso maroto.

Um exemplo muito mais útil para as PME portuguesas

Um exemplo concreto de como uma empresa com um mínimo de recursos conseguiu uma presença na internet, em "Valentina, moda ‘low cost’ y redes sociales para pasar de 200 euros a diez millones en tres años".

Um exemplo muito mais útil para as PME portuguesas que se queiram aventurar na internet do que os casos de multinacionais americanas ou europeias.