terça-feira, março 17, 2009

Acordar as moscas que estão a dormir (parte XI)

That feeling again:
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"We should thank our lucky stars we escaped the budding euro-zone disaster"
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"Overall German exports have already dropped by nearly 10pc year-on-year, while the output of the export-dependent German industrial sector is down by almost 20pc. The moral is that it isn't good enough for a country to be prudent itself. To be really safe, the countries with which it trades heavily have to be prudent as well." (Vamos concluir que temos de apostar em comércio equilibrado, entre países saudáveis. Nem só importadores, nem só exportadores)
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"poor productivity and strong wage growth has led the Club Med economies' competitive positions to deteriorate dramatically. As a result, current account deficits have ballooned - to 10pc of GDP for Spain, 12pc for Portugal and 14pc for Greece."
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" Italian and Greek public debt is close to 100pc of GDP. The markets fear that these governments, along with those of Ireland and Austria, could be forced to default."
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"Spanish doldrums": "How does Spain get out of this? No devaluation is possible — and no, I don’t think exiting the euro is feasible. So it has to do it with relative deflation, hard enough in normal times, when at least costs and prices elsewhere are rising a few percent a year. In the face of a depressed and possibly deflationary European economy … this is going to be ugly."
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"Estudo afirma que Portugal ameaça união monetária"

Mais do que nunca concentrar, focar.

Ram Charan esteve ontem em Lisboa.
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Segundo o Público de hoje:
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"as empresas precisam agora, mais do que nunca, de fortalecer o foco do seu negócio. "É isso que vai tornar a empresa mais forte quando a tempestade passar", diz o guru. Depois, é preciso cortar custos, de modo a gerar recursos suficientes para inovar. "Se só se cortarem custos e não se fizer esforço de inovação, condena-se a empresa", ".
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Não mudou nada de fundamental, ficou foi mais difícil, muito mais, vender.
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Perante o reforço da polarização do mercado e da migração do valor há que fortalecer o foco do negócio.
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Quem é o cliente-alvo?
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Onde está?
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Qual a proposta de valor?
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O que devemos abandonar?
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Charan chama a atenção para "liderar numa era em que a questão já não é fazer a empresa crescer mas sim garantir que tem dinheiro para continuar viva"

segunda-feira, março 16, 2009

Imagens na mente

A invasão da costa francesa no Dia D.
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A pressão para instalar a todo o custo uma testa de ponte: É a imagem que me vem à cabeça ao ler este trecho de Geoffrey Moore no seu livro "Crossing the Chasm", voltei a ela ao equacionar o desafio que muitas empresas enfrentam actualmente para conseguir, face à migração de valor em curso, re-orientar a sua produção para novos clientes-alvo, para novos produtos ou serviços.
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"... target a specific niche market as your point of attack and focus all your resources on achieving the dominant leadership position in that segment."
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Só que isto de segmentação de mercados tem um problema, é como falar de miudagem.
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"The problem is, they are too abstract. They need to become more concrete, more target-market specific. That is the function of target-customer caracterization." (Notar, target-customer e não target-market).
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"First, please note that we are not focusing on target-market characterization. The place most crossing-the-chasm marketing segmentation efforts get into trouble is at the beginning, when they focus on a target market or target segment instead of on a target customer.
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Markets are impersonal, abstract things: the personal computer market, the one-megabit RAM market, the office automation market, and so on. Neither the names nor the descriptions of markets evoke any memorable images - they do not elicit the cooperation of one's intuitive faculties. We need to work with someting that gives more clues about how to proceed. We need som that feels a lot more like real people. However, since we do not have real live customers as yet, we are just going to have to make them up. Then, once we have their images in mind, we can let them guide us to developing a truly responsive approach to their needs."



Nós não prevemos até ao fim as consequências das nossas decisões (parte III)

No Público de hoje a propósito das reformas da Segurança Social pode ler-se:
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"Vieira da Silva destacou, em 2006, o facto da reforma dar a cada cidadão "uma maior margem de opção" a Portugal apresentará em 2046 o maior corte médio de pensões de reforma da União Europeia, segundo um relatório da Comissão Europeia sobre a inclusão social. Já a previsão do Governo é menos pessimista. De qualquer forma, trata-se de estimativas para quem entre agora no mercado de trabalho. E o que acontece aos que já trabalham?
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Os números parecem assustadores. Na realidade, nenhuma instituição nem o Governo têm números para o que vai acontecer às pensões dos trabalhadores actuais, porque apurá-los nunca foi preocupação. Uma coisa é certa: as pensões desses portugueses vão diminuir em cada ano face à lei vigente até 2006, fruto da reforma da Segurança Social desse ano. E os relatórios internacionais vão já dando conta dessas alterações."
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O que é assustador é pensar que este modo de actuação é generalizado.
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Quando um governo (seja este seja outro da oposição actual) legisla sobre o tema A ou o tema B não se equacionam as consequências, não se simulam os resultados ...
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"Na realidade, nenhuma instituição nem o Governo têm números para o que vai acontecer às AA dos portugueses, porque apurá-los nunca foi preocupação"
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"Na realidade, nenhuma instituição nem o Governo têm números para o que vai acontecer às BB dos portugueses, porque apurá-los nunca foi preocupação"
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After all nós não prevemos até ao fim as consequências das nossas decisões...

Sugestão de leitura

"Implementação do Balanced Scorecard no Estado" de Jorge Caldeira.
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Um livro que se lê rapidamente, com as definições "todas" e com uma estrutura muito arrumada.
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Fico à espera que o autor um dia destes traduza para o papel a sua experiência e reflexão sobre a construção de mapas da estratégia, o livro está profusamente ilustrado com exemplos de mapas da estratégia de organizações estatais.

domingo, março 15, 2009

Piadas de mau gosto (parte II)

Na sequência de Piadas de mau gosto talvez seja útil visitar esta infografia Les suppressions d'emplois en France

As alternativas

Realmente a recessão não toca a todos os sectores de igual modo. O imobiliário e os bens de equipamento podem estar de rastos, mas há sectores a crescer.
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Parte do dinheiro que não se gasta com as grandes compras pode ser aplicado nos pequenos prazeres do dia-a-dia, por exemplo "Americans reach for small luxuries amid sour economy":
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"The ailing economy is threatening to permanently kill the national buzz. The hundreds of thousands who have been laid off of late certainly have no intention of living the high life, and neither do those clinging to employment with shredded fingernails. Second homes, exotic getaways and French Champagne seem at best imprudent, at worst vulgar. What to do?
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Think small, like Casey Elliott.
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She's here picking up a tin of gourmet hot chocolate mix for her kids, a small but welcome treat at a time when her husband is out of work. "We're trying to do simple things, like going for family walks and playing games," she says.
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From food to fashion, potions to pets, entertainment to e-commerce, Americans are finding modest ways to both buoy their spirits and maintain, even in cut-rate form, a version of those old free-spending days."

Há qualquer coisa que não me cheira bem ...

... nesta generalizada fuga para a frente das fusões e aquisições.
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É como adiar a resolução de um problema, ele vai crescer e da próxima vez a alternativa vai ter de ser ainda maior. De certa forma é como os estímulos à economia tão em voga.
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Adia-se a resolução do problema de fundo, mas ele não vai desaparecer... e muito provavelmente vai avolumar-se, não passa de um breve momento de pausa para recuperar o fôlego.
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No Le Monde de hoje: "Grandes manoeuvres dans la pharmacie américaine".
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BTW, qual a direcção do futuro: medicamentos iguais para todos (produção em massa) ou medicamentos específicos em função do perfil genético? (produção em pequenas quantidades, muitas variedades, elevada flexibilidade)
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Qual o tipo de empresa mais habilitado a servir a direcção do futuro?

sábado, março 14, 2009

A maré

Assim como quando a maré sobre não é para todos (A retoma da economia), também, quando a maré desce, não desce de forma igual para todos: The uneven recession

Piadas de mau gosto

No Diário Económico de hoje "Achar que a crise veio para ficar é contraproducente"
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Pelo título cheira logo a mambo-jambo...
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"Na questão da crise económica, a maior preocupação tem a ver sobretudo com o estado de espírito da classe empresarial. O que se verifica é um profundo pessimismo, uma descrença de que esta crise seja um mal passageiro e essa é a parte mais preocupante que retiro deste resultado, porque acredito que esta crise é de natureza comportamental."
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Como é que Maria Antonieta dizia quando lhe falavam dos protestos do povo por causa do pão? Por que é que não comem brioches?
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Como não tenho acesso ao jornal não sei quem proferiu a afirmação, nem sei qual o resto da conversa.
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No entanto, esta amostra, e sobretudo o trecho sublinhado, fazem-me accionar várias sinapses:
Em suma, piadas de mau gosto num jornal dito económico.

sexta-feira, março 13, 2009

Quebrar as regras do jogo

Um pouco de filosofia com estratégia em "Understanding and breaking the rules of business: Toward a systematic four-step process" de Dodo zu Knyphausen-Aufsess, Nils Bickhoff e Thomas Bieger publicado em Business Horizons (2006) 49, 369-377.
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Se queremos dar saltos, autênticos deltas de Dirac, na produtividade, temos de apostar na diferenciação, no posicionamento competitivo, na renovação estratégica. Ou seja, há que quebrar as regras do jogo existente e forjar novas regras antes dos outros.
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"Breaking rules creates opportunities, but also increases the risks."
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"Rules and laws are, in other words, only of a temporary nature. It follows, then, that we should see it almost as a sporting challenge to consider whether supposed rules and laws might not, in fact, be broken. The obvious consequence would be the creation of a new scientific status quo, against which still others would, in turn, test their mental agility."
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"Management activity, too, always derives from certain attitudes and mindsets that we often hold in common with the people with whom we work. To borrow a term from the realms of psychology, these attitudes are bcognitive mapsQ that give us direction, that we depend on to find our way in a complex world of infinitely varied information."
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"We live within paradigms, and it takes tremendous energy to break out of those paradigms and
redraw cognitive maps."
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""Rules" also have much in common with the economic doctrine of equilibrium, which teaches us to always bear in mind the possibility that competitive advantages can be eroded. Competitive advantages are nothing other than deviations from a state of perfect competition, and are the cause of dominant market positions that are associated with higher profits.
These higher profits, however, attract fresh competition such that initial advantages are quickly evened out."
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"The trouble with strategies and business models is that, in fast-moving markets, they have to be changed very frequently"
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"From the strategic process perspective, the crucial factor is to select and bundle the strategic
initiatives that emerge throughout the enterprise.
It is important to know the rules of the business; however, it is equally important to try out departures from these rules in order to set oneself apart from rivals and secure competitive advantages. As mentioned previously, such advantages can often only be exploited for a short period of time, as competitors inevitably catch up."
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"Rules are not normally broken "out of the blue." Indeed, finding the right rule-breaking strategy is a complex activity that will always be fraught with a measure of uncertainty. Precisely because the success (or failure) of a strategy may only become apparent in the long run, most risk-averse decision-makers try to avoid breaking the ground rules that prevail in their industry, preferring instead to toe the line."

quinta-feira, março 12, 2009

Pós-Graduação Gestão das Organizações e Desenvolvimento Sustentável

PGGODS.

Gestão Ambiental e Ecoeficiência.
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Não esquecer a palavra-chave.

Acetatos: parte V e parte VI.
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Trabalho final.

A agricultura com futuro

Há anos li um livro intitulado 'The Design of the Factory With a Future', sempre me ficou na memória esta particularidade 'a fábrica com futuro' não 'a fábrica do futuro'.
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Quando penso na agricultura competitiva com futuro em Portugal, penso na agricultura que não aposta nas grandes extensões e que não aposta em emular as produções cerealíferas da Europa Central, por agricultura com futuro entendo uma actividade económica rentável que não precisa de subsídios.
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Nessa agricultura com futuro, organizada como uma empresa, os comerciais venderão medicamentos naturais, venderão saúde e não comida. Argumentarão com o colesterol e com os antioxidantes "SPOONFULS OF STRAWBERRIES HELP THE CHOLESTEROL GO DOWN".
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Nessa agricultura com futuro, a produção não dependerá exclusivamente de São Pedro e de fazer figas com os dedos. A produção continuará a depender em parte de São Pedro, e essa é uma vantagem do nosso país, mas dependerá também de técnicos que em vez de apostarem nos instrumentos financeiros ou na imobiliária, escreverão e estudarão artigos deste calibre "Infuence of harvest date and light integral on the development of strawberry flavour compounds".
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Claro, quanto mais apoiada for a agricultura tradicional subsidiodependente, menos espaço haverá para que a agricultura com futuro floresça.

Retrato de um modelo económico que nos trouxe até aqui.

"Pela primeira vez, os bancos e as imobiliárias têm mais peso no PIB do que a indústria. Os economistas estão preocupados." (no Diário Económico de hoje)
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Quando nas acções de formação e aulas que animo apresento uma imagem de um mega-meteorito a atingir a Terra, no âmbito do tema 'Não há acasos', para ilustrar as pessoas que olham com estupor para os resultados do desempenho de uma organização como algo de perfeitamente inesperado ... estavam à espera de quê?
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Estava escrito nas estrelas, basta estar atento aos factores, perceber como se relacionam entre si e que estruturas sistémicas, que arquétipos, estão em jogo, para identificar meia-dúzia de resultados, de consequências prováveis.
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No entanto, não nos cansamos de encontrar nos media, vestais horrorizadas que não sabiam, que não conheciam, que não faziam ideia, que ...

Um bom tema para alimentar um grupo de reflexão sobre o futuro para a indústria

Este ensaio "The New Normal" de Ian Davis da McKinsey é uma boa base para iniciar uma reflexão sobre o que será a nova normalidade que vamos encontrar e descobrir quando a poeira desta turbulência finalmente assentar.
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"We are experiencing not merely another turn of the business cycle, but a restructuring of the economic order." (Assim, não faz sentido ficar à espera que tudo passe para receber de volta um mundo que acabou kaput ponto. Não adianta ficar debaixo de água com os dedos a apertar as narinas à espera que o pesadelo passe.)
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"The question is, “What will normal look like?” While no one can say how long the crisis will last, what we find on the other side will not look like the normal of recent years." (Assim, faz todo o sentido procurar antecipar cenários prováveis, para aproveitar a migração de valor que está a acontecer.)
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"there will be significantly less financial leverage in the system"
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"it is clear that the future will reveal significantly lower levels of leverage (and higher prices for risk) than we had come to expect." (Higher prices for risk vai implicar higher returns, higher returns vai implicar o recurso a mais estratégias puras e menos a estratégias híbridas. Um tema já avançado neste blogue.)
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"Companies that boost returns to equity the old fashioned way—through real productivity gains—will be rewarded." (Investir na indústria vai voltar a ser respeitável!!! Outro tema já avançado neste blogue.)
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"protectionist policies that make it harder for companies to move capital to the most productive places and that dampen economic growth"
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"less leverage and more government"
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"the world’s economic center of gravity will continue to shift eastward."
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"technological innovation will continue, and the value of increasing human knowledge will remain undiminished. For talented contrarians and technologists, the next few years may prove especially fruitful as investors looking for high-risk, high-reward opportunities shift their attention from financial engineering to genetic engineering, software, and clean energy"

Cá estão os 2 milhões de euros por hora

No Jornal de Negócios lê-se "Défice externo português salta para 10,6% do PIB":
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"No ano passado Portugal teve de obter cerca de 17,6 mil milhões de euros de financiamento externo, fundamentalmente via endividamento e investimento directo estrangeiro, um valor que representa 10,6% da riqueza total gerada na economia."
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1,76 x 10 elevado a 10 euros por ano a dividir por 365 dias por ano, e a dividir por 24 horas por dia é igual aos famosos 2 milhões de euros por hora que o país tem de pedir emprestado ao estrangeiro. Hum!!! Até quando é que vão emprestar?
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"O elevado défice externo é dos sinais mais preocupantes da fragilidade estrutural e competitiva da economia portuguesa, o qual é agudizado pela actual crise que está ditar custos crescentes de financiamento e de acesso ao mercados internacionais. "

quarta-feira, março 11, 2009

Gestão do Ambiente - aula 1

Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica.
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Acetatos (10,5 MB) (atenção à password)
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Texto do EMAS

Acordar as moscas que estão a dormir (parte X)

Quando escrevo sobre o acordar as moscas que estão a dormir, escrevo sobre a necessidade de um novo discurso chegar ao mainstream, o discurso de um estado sem dinheiro e sem grandes possibilidades de se endividar, por falta de crédito, ou de não mais ser possível sobrecarregar o jugo sobre os desgraçados dos saxões impostados, embora os normandos do costume consigam sempre surpreender neste campo.
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Como terá de mudar o discurso político para se ajustar a esse novo paradigma?
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Como é que políticos habituados a gastar dinheiro reagirão? Será o fim das rotundas autárquicas e das 'rotundas' governamentais?
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Este artigo na imprensa inglesa começa a abrir o panorama "Welcome to the inescapable era of no money":
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"For the next ten years British politics is going to be about living with the consequences of the State being flat broke
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We are insolvent. Out of money. Financially embarrassed. Strapped. Cleaned out. We are skint, borassic lint, Larry Flynt, lamb and mint. We are lamentably low on loot. We are maxed out. We are indebted, encumbered, in hock, in the hole. We are broke, hearts of oak, coals and coke. It doesn't matter whether money can buy us love, because we haven't got any.
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Welcome to the era of no money. The central fact of British politics in the next ten years, and perhaps longer, is not hard to spot. British politics isn't going to be dominated by interesting debates on the future of capitalism. It isn't going to be the stage for a revival of interest in democratic socialism. It isn't going to play host to the interplay of competing ambitious projects. No. We're in for a hard slog. Because what British politics is going to be about in the next ten years is living with the consequences of the State being broke, of the Government running out of money"

É muito mais do que a escolaridade básica.

Ontem, a propósito do postal Está difícil fazer passar para o mainstream português esta visão da produtividade centrada na eficácia e não só na eficiência , o José Silva do Norteamos comentou:
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"O problema é que não é só o MSM . O grave é que «blogues contemporaneos» encontram explicações esotéricas para o sub-desenvolvimento relativo nacional. A minha explicação é muito simples: Ignorância generalizada.No tempo de Napoleão quase toda a Europa tinha escolaridade básica. Os ibéricos não."
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O problema, caro José Silva, é que não é só um problema de escolaridade, vou abdicar de nomear os normandos do costume, vou apenas nomear pessoas que na última semana se manifestaram nos media a favor da redução de salários para aumentar a produtividade:
  • Ferraz da Costa (presidente do forum para a competitividade ... está tudo dito sobre a eficácia do dito forum);
  • Medina Carreira na entrevista a Mário Crespo;
  • Silva Lopes;
E, num dos primeitos postais deste blogue comentei o famoso artigo de Olivier Blanchard Adjustment within the euro. The difficult case of Portugal

O potencial da agricultura

No Público de hoje no artigo "Riqueza gerada pela agricultura caiu 23 por cento desde 1992" pode ler-se:
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"enquanto os agricultores em 1992 obtinham 76,3 por cento do seu rendimento pela venda de bens e serviços e o restante vinha dos apoios, actualmente a situação inverteu-se: 63,1 por cento tem origem nos subsídios e 36,9 por cento resulta da venda de produtos.Para esta situação contribui muito o aumento dos factores de produção (salários, rendas e juros), que subiram 22,3 por cento. E tem o efeito pernicioso "de fazer com que os produtores estejam cada vez mais dependentes das políticas públicas","
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Num outro artigo na mesma página "Sector agrícola pode responder melhor à crise que obras públicas, diz João Salgueiro" pode ler-se:
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"A agricultura tem mais potencial para criar emprego do que as obras públicas, além de ter capacidade exportadora. Quem o diz é o João Salgueiro, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, que ontem, num seminário na CAP, considerou arriscado que os planos contra a crise assentem numa política de betão, que não resolve os dois grandes problemas que agora se enfrentam: o desemprego e o desequilíbrio da balança comercial.
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"Deveria haver uma campanha nacional para explicar o potencial da agricultura", defendeu este responsável, que lamenta que o sector continue a ser tão desprezado. "Quando vemos o que os países mediterrânicos exportam para o resto da Europa vemos o que não fizemos em Portugal", acrescentou, considerando que seria possível desenvolver algumas fileiras, como as horto-frutícolas, algumas menos tradicionais, que podem oferecer importantes soluções para gerar mais emprego e garantir o equilíbrio do território."
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O primeiro artigo descreve o que decorre da aposta nas culturas tradicionais que competem com outros países para vender commodities.
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O segundo artigo refere-se ao potencial de um mundo novo, o mundo da nova agricultura como referido aqui Estratégia a sério na agricultura, ou make my day!
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Estou de acordo com João Salgueiro, mas uma campanha que abordasse não a agricultura tradicional condenada à subsidiação, mas a agricultura tipo 'boutique', a agricultura 'gourmet', a agricultura que aproveita aquilo em que podemos ser diferentes, em que podemos ter vantagens competitivas, a agricultura polvilhada com pensamento estratégico.

O choro dos normandos

Acabo de ouvir na TSF o choro de duas normandas por causa da Qimonda.
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De acordo com as homilias de Edite Estrela e Ilda Figueiredo, deputadas no parlamento europeu e profundas conhecedoras do sector (!), os contribuintes europeus (os saxões do costume) devem despejar mais uns milhões de euros para afagar o ego dos políticos e alimentar o monstro Qimonda.
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Ao ouvi-las lembrei-me do termo 'sunk costs'... segundo as deputadas uma das razões para apoiar a Qimonda é ... o dinheiro que já se gastou no passado.
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No Jornal de Negócios encontro uma afirmação de Belmiro de Azevedo que se ajusta perfeitamente a esta situação:
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"Belmiro de Azevedo, que evitou os jornalistas, disse ainda que se tem que “entrar em projectos que tenham sentido económico”. E “mais importante do que criar projectos é abortar um projecto em tempo útil”, para evitar maiores perdas de recursos."
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terça-feira, março 10, 2009

Paving the way?

Preparing the mind?
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No site do Fed: "Currency Crashes in Industrial Countries: Much Ado About Nothing?"
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"Many economic commentators appear to believe that currency crashes invariably have harmful effects. This paper shows that, for industrial countries, the evidence does not support this commonly held view."

Não me sai do ouvido

Está difícil fazer passar para o mainstream português esta visão da produtividade centrada na eficácia e não só na eficiência

Ontem descobri este interessante artigo sobre a produtividade "New Concepts of Productivity and its Improvement" de Arturo L. Tolentino.
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Ao longo dos anos tenho protestado aqui contra o discurso do mainstream sobre a produtividade. Um discurso concentrado na eficiência, na redução dos custos, no controlo dos salários, nos inputs, aquilo a que eu chamo a concentração no denominador da equação da produtividade.
Para mim é muito claro que a concentração tem de ser no numerador da equação:
Aprendi, fui despertado pelo artigo “Managing Price, Gaining Profit” de Michael V. Marn & Robert L. Rosiello, em Setembro-Outubro de 1992 para o efeito alavancador da criação de valor no numerador da equação da produtividade:
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Alguns trechos do artigo de Tolentino nesta onda:
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"Whereas traditionally, productivity is viewed mainly as an efficiency concept (amount of outputs in relation to efforts or resources used), productivity is now viewed increasingly as an efficiency and effectiveness concept, effectiveness being how the enterprise meets the dynamic needs and expectations of customers (buyers/users of products and services) i.e. how the enterprise creates and offers customer value. Productivity is now seen to depend on the value of the products and services (utility, uniqueness, quality, convenience, availability, etc) and the efficiency with which they are produced and delivered to the customers."
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"Productivity improvement must now focus on value creation rather than on minimization of inputs. Higher customer value is created when the products and services meet customer needs for utility, timeliness, esteem, service, etc. This is what customers buy and pay for. With the rapid advance of technology and greater access to information, customer expectations are constantly changing and becoming more demanding. For long term productivity and competitiveness therefore, enterprises must constantly innovate (come-up with new and better products and develop better ways of doing things), be flexible and agile, respond rapidly to the increasingly sophisticated customer needs which are constantly changing, and be able to anticipate and adjust to the very dynamic market conditions."
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Será que as empresas portuguesas de calçado e do têxtil podem competir no negócio do preço, no negócio do denominador com a China et al? Claro que não.
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Será que as empresas portuguesas de calçado e do têxtil podem competir no negócio do valor, no negócio do numerador? Claro que sim!
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Para isso, tal como refere o último trecho de Tolentino, há que apostar na flexibilidade, na inovação, no super-serviço, nas pequenas séries:
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"Desde 1990, as industrias de calçado e têxtil, viram desaparecer mais de uma centena de empresas de grande dimensão que operavam em Portugal. Segundo dados do Ministério do Trabalho, em 2006, existiam nestas industrias apenas 19 empresas com capacidade para empregar mais de 500 trabalhadores, enquanto as pequenas e micro ultrapassavam as nove mil.
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As microempresas cresceram 66% em quantidade até 2006, existindo quase 6000 que asseguram 11% do emprego nas industrias do calçado, têxtil e vestuário, percentagem que em 1990 era de 4%. Por outro lado, as empresas com mais de 500 trabalhadores passaram de uma percentagem de 22% para 6% em postos de trabalho. É o grupo de empresas com mais de 50 trabalhadores que tem a maior percentagem de empregos, 37%."
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"temos um crescente número de pequenas empresas a desenvolverem projectos inovadores centrados na diferenciação" (aqui)
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Está difícil fazer passar para o mainstream português esta visão da produtividade centrada na eficácia e não só na eficiência.




Medina Carreira na SIC

segunda-feira, março 09, 2009

An L of a recession – reform is the way out

By Wolfgang Münchau

"So it looks like it is going to be an L – not a V or a U. I mean an L-shaped recession, one that starts with a steep decline, followed by very low growth for many years.
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In a V-type recession, the recovery is instant. In a U-type, it comes eventually. My guess is that we are currently somewhere in the middle of the vertical bit of the L, but it is the horizontal bit that is the scariest. History never repeats itself exactly, but we know from economic history that financial crises are surprisingly similar.
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This looks like Japan all over. Without financial restructuring, the economy is not going to recover. And Japan was lucky. It was surrounded by a booming global economy."
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"An L-shaped recession will make the adjustment of balance sheets even more painful. Unemployment will continue to rise. House prices will keep on falling. US consumers and banks will spend the next five or more years deleveraging, getting their respective balance sheets back in order. In that period, the US current-account deficit will fall sharply, as will that of the UK, Spain and several central and eastern European countries. This process can take a long time, and in an L-shaped recession it takes longer.
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But the effect is also brutal on the rest of the world. The fall in current-account deficits will be partially compensated for by lower surpluses from oil and gas exporters, such as Middle Eastern countries and Russia. But the bulk of the adjustment would be borne by the world’s largest exporters: Germany, China and Japan. Globally, current-account deficits and surpluses add up to zero – minus some statistical reporting errors. You can do the maths. If the US stops buying German cars, Germany will eventually stop making them."
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"We are nowhere near a solution to the crisis. After committing errors of omission, global leaders are now producing errors of commission. The Americans dream about a return to a world of credit finance consumption while the Germans dream about assembly lines. In an L-shaped world, these are nightmares."

The Great American Ponzi

Just American?
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"Guest Post: More Debt Won't Rescue the Great American Ponzi"
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"At the end of the day, flushing more debt through the system is the only lever policy-makers know how to pull. Lower interest rates, quantitative easing, deficit spending, it's all the same. It's all borrowing against future income. Each time we bump up against recession, we borrow a bit more to keep the economy going. With garden variety recessions, this can work. Everyone wants the good times to continue, so no one demands debts be paid back. Creditors accept more IOUs and economic "growth" continues apace. If it sounds like Bernie Madoff's Ponzi scheme, that's because it is."
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"European economies face even more oppressive debt loads.
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The great Ponzi scheme that is the Western World's economy has grown so big there's simply no "fixing" it. Flushing more debt through the system would be like giving Madoff a few billion to tide him over. Or like adding another floor to the Tower of Babel. To what end?
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The collapse is already here. The question is: How much do we want it to hurt?
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Using the public's purse to finance "confidence" in a system that is already kaput may delay the Day of Reckoning, sure, but at the cost of multiplying our losses. Perhaps fantastically.Bottom line....We can bankrupt ourselves propping up a system that is collapsing anyway, or we can dig ourselves out of debt, if not with higher interest rates then certainly with fiscal austerity. That would be a hard sell to the American people, I know. But deep down, Summers and Geithner know it is the right thing to do. It is, after all, the prescription they wrote for emerging markets facing financial crises."

Algumas notas sobre o uso do BSC (parte I)

Neste endereço encontra-se o texto "MÓDULO V – EXEMPLO DA ADOPÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO ESTRATÉGICA (BSC) POR UMA ORGANIZAÇÃO DO SECTOR PÚBLICO"
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A análise do texto permitiu-me tomar várias notas:
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A figura 5.7 "iniciativas para cada perspectiva relativas ao BSC para 2006" lista uma série de iniciativas para cada perspectiva do BSC.
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Quero fazer dois reparos:
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Não recomendo que existam iniciativas associadas directamente às perspectivas financeira e de clientes:
  • Na base de um mapa da estratégia, na perspectiva de Recursos e Infraestruturas sistematizamos objectivos sobre os investimentos que temos de fazer. Depois, na perspectiva Interna listamos os objectivos que queremos atingir com o nosso trabalho, com o desempenho dos processos críticos da organização. A partir daí, proponho que nas perspectivas de Clientes e Financeira se utilizem apenas objectivos que meçam resultados, que avaliem as consequências do que fizemos nas duas perspectivas anteriores. Assim, as iniciativas actuam sobre os processos e infraestruturas para produzir os resultados desejados nos clientes e por tabela nos resultados financeiros.
O que é uma iniciativa? Para que serve uma iniciativa?
  • Interpreto as iniciativas estratégicas como projectos de transformação da realidade da organização (dos seus processos e infraestruturas) para poder gerar resultados futuros desejados diferentes de forma sustentada (na perspectiva Clientes primeira e, depois, por consequência directa resultados na perspectiva Financeira. Assim, pergunto, voltando à figura 5.7: Por que é que uma "Auditoria à Direcção da Regularização Extraordinária da Dívida" é uma iniciativa? O que é que a auditoria muda na realidade? Em que é que uma auditoria transforma a realidade? Uma auditoria não muda nada. Os resultados de uma auditoria podem servir para tomar decisões, logo, os resultados de uma auditoria podem ser incluídos como um indicador de desempenho ou controlo, não como um motor de transformação da realidade. Quando muito uma auditoria pode ser uma actividade intermédia de uma iniciativa mais vasta, em que a auditoria detecta pontos a precisar de melhoria. No entanto, para melhorar há que actuar sobre as rotinas, sobre os processos da organização, fazer as coisas de forma diferente.
No segunda parte espero abordar a temática do abuso dos indicadores de acção face aos indicadores de resultados na administração pública.
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domingo, março 08, 2009

Exemplo da polarização dos mercados

Ontem escrevi:
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De certeza que a esta migração de valor em curso vai, está a criar, está a destruir, está a reconfigurar os diferentes grupos de clientes-alvo... que novas oportunidades estarão à espera de ser descobertas?
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Depois, durante o meu jogging, dei comigo a fazer a analogia entre o fim dos dinossauros e a crise actual.
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Foi o fim dos dinossauros... mas o novo ambiente libertou espaço para que novas espécies, novas hipóteses experimentassem o palco que ficou livre.
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Escrevo tudo isto a propósito das prateleiras da distribuição; o que se passa nas prateleiras de um hipermercado a uma alta velocidade é um indicador avançado do que se vai passar mais tarde no resto da economia. Assim, podemos olhar para os hipermercados como cobaias de laboratório.
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Encontrei no Telegraph e no Guardian uns exemplos actuais da migração de valor em curso e sobretudo da polarização do mercado:
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"Waitrose brings out budget range for recession-hit middle classes": "However, next week it will launch its 'essential Waitrose' range in an attempt to win over customers that have abandoned the chain in favour of cheaper outlets such as Asda or even Lidl and Aldi."
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"Asda wins out as shoppers go in search of bargains": "The grocers viewed as the best for bargains are continuing to soar ahead of their rivals as shoppers search for ways to cut their weekly food bills."
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Em simultâneo temos "Net-a-Porter wears its success well": "Insiders said that sales at the upmarket fashion business in the year ending January 2009 rose by more than 50pc to around £85m. Margins also improved with a pre-tax profit rise in the region of 300pc to more than £9m. "

O erro humano não existe!

No sítio do Público pode ler-se o artigo "Empresa responsável por software com erros instalado no Magalhães reconhece "falha humana"":
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"A empresa responsável pelo software associado à aplicação de um jogo instalada nos computadores Magalhães atribuiu hoje "a falha humana" os erros de português detectados, adiantando que as correcções já estão disponíveis na Internet."
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O processo de tradução/localização de software envolve um passo de tradução automática, sendo esse passo seguido de verificação manual. No caso do software Gcompis, por falha humana, parte da tradução desta aplicação não foi validada", esclareceu hoje a empresa Caixa Mágica em comunicado enviado à agência Lusa."
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Muito haveria a escrever sobre esta cultura de justificar as falhas com o erro humano.
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O erro humano não existe!!!
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A prpósito do erro humano recomendo vivamente a leitura deste livro “O erro em medicina – perspectivas do indivíduo, da organização e da sociedade” de José Fragata e Luís Martins.
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“A cultura de culpabilização individual assenta no facto de se tornar o “erro humano” mais como um explicação de per si, do que algo que precisa de ser explicado e compreendido nas suas profundas motivações. Como decorre, a culpa é de quem errou, ocultando-se o facto fundamental de que “as melhores pessoas podem cometer os piores erros”. Este ciclo de culpa inicia-se com a noção de que, sendo senhores da escolha do nosso destino poderemos sempre escolher entre as boas e as más acções, por outro lado e optando pela teoria do menor esforço, é mais fácil a quem analisa parar nas causas de erro que se encontram associadas a quem actua no extremo das acções, o actuante ou interventor directo, a pessoa. Encontrada essa “culpa” é cómodo que a acção de procura cesse a esse nível base, por outro lado, essa é ainda a conveniência administrativa e institucional, que assim vê minimizadas as suas próprias responsabilidades. As instituições que, analisando um qualquer acidente, se ficam pelo modelo de “culpa individual” perdem a possibilidade de alterar o “sistema” e melhorar a segurança pela introdução de novas políticas que tornem novos erros menos prováveis. Ao punir, simplesmente, um indivíduo a organização nega de forma subliminar a sua responsabilidade no evento negativo, mas não o corrige verdadeiramente. É o princípio da negação dos acidentes, que caracteriza as organizações demasiado burocratizadas e sem abertura a qualquer processo de inovação regenerativa. Face a um acidente que ocorre, a tendência é isolá-lo, punir o responsável mais directo, impedir a divulgação do facto e, seguir em frente, após ter tomado medidas limitadas a nível local. Uma atitude diferente desta atitude de negação de acidentes, é a atitude que divulga o evento negativo, encarando-o como algo que merece ser analisado a todos os níveis, começando pelo da organização, e aceita abertamente as novas ideias de mudança, traduzindo assim flexibilidade.”
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Esta cultura de que fala o texto, permeia toda a nossa sociedade, organizações incluídas.
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Quem me conhece sabe que um dos temas que desenvolvo nas organizações é a ideia de que:
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Não há acasos!
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Se a falha ocorreu ela nunca é obra do acaso, nunca é culpa de um humano. A responsabilidade é sempre do sistema!
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A culpa é sempre do sistema!
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sábado, março 07, 2009

Go figure

Na entrevista de João Salgueiro ao Público de hoje pode ler-se:
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"Os governos, e este não é excepção, dizem que vão introduzir reformas, para aumentar a competitividade. Mas sem resultado."
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Se hoje visitarem uma loja Lidl, e se tiverem as mesmas promoções que vi esta semana em Estarreja, verão à venda por 9,99€ uns capacetes para ciclistas.
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9,99€!
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Qual era a marca? Não sei, não fixei, não consigo recordar-me.
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E se eu quiser comprar um capacete da marca Kaos, quanto me custará?
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67,31€
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E se eu quiser comprar um capacete da marca Predatore, quanto me custará?
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Cerca de 70€
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E um Bell Sweep R Racing Bike Helmet por 140 dólares?
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Os políticos e demagogos acham que se dermos formação profissional aos trabalhadores, essa formação permitirá que a empresa que produz capacetes que são vendidos numa loja Lidl a 9,99€ tenha uma produtividade superior à da empresa que fabrica capacetes que são vendidos a 140 dólares!!!
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E se os trabalhadores que fabricam capacetes vendidos a 9,99€ fossem transferidos para a fábrica que os vende a 140 dólares? Será que eram capazes de os produzir?
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Claro que sim!
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Agora arrebanhem um monte de universitários licenciados, mestrados e doutorados e coloquem-nos a produzir capacetes de 9,99€ serão mais produtivos que os iletrados que fabricam os de 140 dólares?
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Claro que não!
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Os políticos, os demagogos e os empresários ultrapassados acreditam que se os trabalhadores da fábrica de capacetes a 9,99€ correrem mais depressa, produzirem menos defeitos, e ganharem menos serão mais competitivos e terão produtividades superiores aos da fábrica de capacetes a 140 dolares.
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Go figure!
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Estas ideias de políticos e demagogos sobre a formação profissional e leis do trabalho para aumentar a produtividade e a competitividade são como aqueles post-its dos senadores , boas para ocupar tempo de antena, boas para entreter jornalistas que não fazem contas, boas para pessoas que aceitam novelos de mitos e não pedem um simples desenho que ilustre como é que A vai gerar B.
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ADENDA para quem ainda não percebeu o filme: Mitos, mitos e frases feitas. Alguém já fez um roteiro para uma empresa em particular?

No meio não está a virtude, ou seja, não vale guterrear

Há dias escrevi neste espaço:
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A crise em curso, em boa verdade, não veio trazer novos factores ao cenário.
A crise em curso apenas veio exacerbar as forças, as correntes que já estavam em curso e alterar as fronteiras do meio-termo.
A crise em curso veio alargar as fronteiras do que é o meio-termo pantanoso e traiçoeiro.
A crise em curso veio reforçar a polarização do mercado que já estava em curso, basta recordar The vanishing middle-market.
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Tendo em conta o que se passa para os consumidores na óptica de Silverstein:
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"Ao mesmo tempo que essa classe média (fatia mais importante para a maioria das empresas) aspira ao "trading up", cria estratégias de "trading down". Isto é, esses consumidores já não querem o produto de qualidade média, a preço razoável. Preferem comprar um relógio de luxo e equilibrar o orçamento abastecendo a despensa de marcas brancas. É esta a "caça ao tesouro" a que se dedicam e fica o aviso às empresas: já não é no meio que está a virtude, pelo que as que aí estão posicionadas têm de "subir" ou "descer" para não morrerem. "O que fica no segmento intermédio está a ficar sem interesse", sentencia."
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Não será de esperar o mesmo no B2B? Olhando para as correntes em jogo...
... e reflectindo sobre afirmações deste tipo:
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"Acha que os problemas de liquidez se vão manter por muito mais tempo?
Acho que sim. Porque, como disse, num plano temos a crise financeira, e logo por baixo dessa temos uma crise ainda mais importante, que é a alavancagem em que o sistema mundial funcionou. O que é que quero dizer? Temos vivido a crédito nos últimos anos, nos EUA, na Europa. Na China e no Japão, a poupança é enorme. Na China, a poupança é de quase 40 por cento, na Europa é de menos de 10 por cento, nos EUA chegou a dois por cento e estava em risco de se tornar negativa. As pessoas estão a viver a crédito nos últimos dez anos. Não é só um problema de confiança, mas de ajustar os níveis de despesa aos níveis de produção."
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Se o crédito acaba, se o day of reckoning chega para que sejam pagas as dívidas. Terá de haver menos consumo, então, a sobre-capacidade que já existia vai tornar-se em sobre-sobre-capacidade.
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Como ultrapassar a situação?
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Muitas empresas não o vão conseguir ponto!
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As eleitas serão aquelas que vão olhar para o mercado, e isolar grupos específicos, os clientes-alvo, e vão transformar-se para ir ao seu encontro. Não no meio termo, mas fazendo opções: ou preço, ou diferenciação.
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Cada vez mais ressoam na minha cabeça as quatro questões que Mauborgne e Chan Kim colocam no livro ""Blue Ocean Strategy":
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"Which of the factors that the industry takes for granted should be eliminated?
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Which factores should be reduced well bellow the industry's standard?
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Which factores should be raised well above the industry's standard?
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Which factores should be created that the industry has never offered?
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De certeza que a esta migração de valor em curso vai, está a criar, está a destruir, está a reconfigurar os diferentes grupos de clientes-alvo... que novas oportunidades estarão à espera de ser descobertas?
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Trecho retirado da entrevista de João Salgueiro ao Público de hoje.

Para rir ou para chorar?

"PSP ficou sem impressos para cobrar multas na hora" no DN de hoje.
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Este é um sintoma, este é um efeito.
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Quais as causas que estarão na base desta emanação?

sexta-feira, março 06, 2009

Pós-Graduação Gestão das Organizações e Desenvolvimento Sustentável

PGGODS
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Gestão Ambiental e Ecoeficiência.
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Não esquecer a palavra-chave.
Acetatos: parte IV;

Só o tempo pode curar

"Só tempo pode curar" é o título de uma crónica de Pedro Arroja na Vida Económica de hoje:
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"Em primeiro lugar, um crash dos preços, isto é, uma deflação generalizada.. Este crash já se produziu de forma mais visível nos preços dos activos cotados em bolsa e no imobiliário, mas está agora a atingir os preços de todos os outros bens e serviços, incluindo os salários.
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Em segundo lugar - e este é o aspecto mais dramático da crise - a crise vai provocar falências e desemprego em massa.
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Em terceiro lugar, as políticas económicas convencionais - como as políticas monetária, fiscal e cambial - não são eficazes para lidar com esta crise, que é uma crise da verdade. Tome-se o caso da política monetária, a qual visa encorajar as pessoas a comprar, tornando o preço do dinheiro mais barato. Mas quem, no seu perfeito juizo, vai comprar túlipas, mesmo se o seu preço já desceu para 250 euros a peça? Esta é uma crise que só o tempo pode curar."
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Ontem, ás 21h41 na SIC-N Ferraz da Costa (cujas ideias sobre produtividade estão a milhas do que defendemos aqui) veio acrescentar-se ao crescente grupo de pessoas que concordam com a minha proposta inicial para esta crise (Como eu olho para a crise de 15 de Dezembro de 2008) ("Since this is going to get ugly, perhaps the government shouldn’t be wasting so many billions on stimulus. Maybe they should save those money for mass social welfare instead.")
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Por que só há duas formas de resolver este problema:

  • o tempo (como explica Pedro Arroja); ou
  • o proteccionismo (aqui e aqui)
O que falta, é quem peça, a quem faz afirmações deste tipo "«É preciso acelerar o investimento público na construção»", que faça um desenho muito simples sobre como é que esse so-called investimento será reprodutivo? Por que é que temos de continuar a sustentar empresas sobre-dimensionadas?

Só a micro-economia é que nos vai dando boas notícias

Enquanto uns massajam o ego e circulam entre alcatifas e biombos com linguagem pomposa e chavões do tipo "Queremos ir cada vez mais perdendo os centros de decisão nacional?" (aqui), outros, os anónimos saxões da micro economia, fazem a diferença (e paradoxalmente sustentam os primeiros, os normandos do costume):
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"Jóia Calçado apresenta marca própria na feira de Milão" onde se pode ler:
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"Já fechámos contratos com França, Bélgica e Portugal e estamos a negociar com o Reino Unido (cuidado com a libra), Alemanha e Catalunha".
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"Os primeiros meses deste ano estão também a correr bem para a pequena e média empresa de Felgueiras: "Está a haver uma fuga dos mercados asiáticos para Portugal, os franceses e os belgas estão a voltar","
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"Indústria do calçado foge à crise com aposta forte na qualidade" onde se pode ler:
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"Aquelas que as conseguem ultrapassar fazem-no não por "proteccionismo mas por capacidade reactiva e de desempenho"."
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É que há formas mais inteligentes de actuar que limitam a concorrência a quem tem unhas e que em somultâneo protegem os consumidores "Calçado de Segurança importado do Extremo Oriente apresenta riscos para utilizadores"
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Em linha com o que Michael Porter escreveu no seu livro "Competição":
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"A regulamentação, conduzida de forma adequada, não precisa aumentar os custos. Os seguintes princípios da elaboração regulamentária promovem a inovação, a produtividade dos recursos e a competitividade:
Focalizar os resultados, e não a tecnologia. ..."
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Estabelecer uma regulamentação severa, em vez de leniente. ...
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"Desenvolver fortes capacidades técnicas entre os reguladores. Os reguladores devem entender a economia do sector e o que impulsiona a sua competitividade."

quinta-feira, março 05, 2009

Mais um senador mais um post-it

Depois deste Os senadores e os post-its, hoje por volta das 18h no mesmo RCP outro senador, Azevedo Soares, lança mais um post-it: sacar mais 10€ por cada 1000€ para mais um imposto.
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Só normandos...

Medo!!!!!!!!!!!!!!!!!!

É de ficar com medo ao ler estas afirmações deste personagem: "Portugal está disponível "para entrar com o que for necessário" na Qimonda" (aqui).
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Massaja o ego dos políticos e os saxões é que pagam!
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ADENDA (22h48): "Remember in Top Gun, when the bald carrier Captain is grilling Maverick and Goose? He says, "Son, your ego is writing checks your body can't cash." That about sums up my sense of a talk I'd like to have with Uncle Sam right about now." (aqui)

A Guerra da Prateleira (II Acto)

Em tempos escrevi este postal Como é que uma empresa sincera pode usar estes fora? sobre a minha perplexidade com o potencial da internet para obter informação dos consumidores individuais sobre as suas percepções.
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O sentimento voltou a percorrer-me quando ontem, durante uma viagem de comboio, tive a oportunidade de ler os comentários ao artigo do El Pais referido no postal A Guerra da Prateleira (I Acto) .
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Alguém que trabalhe para uma marca de fabricante ou para uma marca branca tem ali material interessante para trabalhar as percepções. Da leitura dos comentários identificam-se três assuntos prioritários para os consumidores:
  • qualidade - a discussão sobre a qualidade dos produtos das marcas brancas. Atenção, aqui qualidade não é ausência de defeitos é sim ter mais ou menos atributos;
  • liberdade de escolha - o consumidor quer ter a liberdade de ser ele a escolher;
  • nacionalismo económico e o emprego.

Sugestão de leitura

Já há mais de 10 anos que uso e abuso do conceito de processo na minha vida profissional. Já li muita coisa sobre o assunto, já me debati sobre a melhor resposta, a melhor abordagem a pequenas grandes coisas.
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Com os anos fui assentando num conjunto de respostas e linhas de orientação, várias delas longe do mainstream, simplesmente por que o mainstream não discute esses temas.
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Assim, foi com surpresa e, tenho de confessar, algum entusiasmo que li o livro "Workflow Modeling - Tools for Process Improvement and Application Development" de Alec Sharp e Patrick McDermott (segunda edição).
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É, na minha opinião, o melhor livro que li, a melhor fonte sobre os desafios e as soluções para cartografar e descrever processos.
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Por exemplo, sempre defendi que os limites de um processo são uma escolha humana. Pois bem, os autores apresentam uma sugestão de análise, que faz todo o sentido, para determinar onde estabelecer uma fronteira entre diferentes processos ao longo dum continuum de actividades.
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E, como sempre defendi, os autores convidam a não gastar um segundo a cartografar um processo sem primeiro identificar a resposta à pergunta "Qual a finalidade, qual o propósito, qual a razão de ser do processo?"

É assim que começa o fim da globalização?

Em Janeiro passado referi-me a este problema em Proximidade + Flexibilidade = Oportunidades, em Outubro descobri o fenómeno em Matéria para reflexão.
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Hoje no Público o fenómeno por cá:
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"Os empresários do sector do calçado estão desesperados. Não é o abrandamento do consumo que os está a preocupar, até porque há um número considerável de empresas a registar crescimento de vendas. É sim a dificuldade em obter seguros de crédito que cubram pelo menos parte do risco nas vendas ao estrangeiro."
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"Questionados pelos jornalistas sobre se estava a sentir a crise, respondeu prontamente que os problema não são as vendas, mas sim assegurar os pagamentos.Há empresas que estão a assumir riscos de cobrança em relação aos clientes que conhecem melhor; aos restantes pedem pagamentos parciais antecipados e pagamento total no momento da entrega, mas a situação é insustentável, porque muitos clientes não têm liquidez de tesouraria, e a consequência é perder negócios."
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No DN de hoje o mesmo tema em "Exportadores perdem clientes devido aos seguros de crédito"

quarta-feira, março 04, 2009

As moscas começam a acordar...

Depois de mais de nove postais intitulados "Acordar as moscas que estão a dormir" parece que as moscas começam a acordar:
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"Silva Lopes defende o congelamento dos salários “normais” e a redução dos mais elevados"
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Os senadores e os post-its

Os senadores, da oposição e da situação, vivem tão distantes da realidade quotidiana do português médio que quando têm de mostrar serviço, ou seja, quando têm de apresentar propostas, vão ao baú de tesourinhos deprimentes para sacarem umas ideias e ocuparem o espaço mediático.
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Muitas dessas ideias saem fora do meu âmbito de actuação e por isso não tenho capacidade de análise crítica racional. Porém, algumas dessas ideias chocam com a minha realidade quotidiana e são-me, por isso, servidas numa bandeja para análise.
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Qause sempre concluo que essas ideias não passam de post-its sem grande base que as suporte, assentam em 'non-permanent glue'. Assim, com a mesma rapidez com que apareceram acabam por desaparecer sem que ninguém as chore.
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Há pouco, durante o meu jogging matinal, ouvi no Rádio Clube Português (RCP) extractos de uma entrevista a um desses senadores, Miguel Veiga fundador do PPD. O post-it que o RCP vai repetir até à exaustão durante o dia de hoje até que como espuuma se esfume no ar reza mais ou menos assim:
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"Deve ser criada uma disciplina obrigatória de Formação Cívica desde o Básico à Universidade!"
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O que este senhor não sabe é que infelizmente essa farsa de disciplina já existe. Pelo menos do 5º ao 9º ano de escolaridade os alunos são obrigatoriamente sujeitos a algumas disciplinas da treta:
  • Formação (ou Educação) Cívica;
  • Estudo acompanhado;
  • Área Projecto;
  • e mais uma ou duas que não recordo agora.
E por que é que lhes chamo disciplinas da treta?
Porque não existem. Só servem para dar mais horas a professores.
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A minha filha mais velha anda no 9º de escolaridade e diz-me que em Formação Cívica tem aulas de inglês, porque a professora é a mesma e aproveita a disciplina para dar a matéria.
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Estudo Acompanhado? O que é isso? Segundo a mesma minha filha o horário é aproveitado para dar aulas de Português ou de Matemática, em função da professora em causa.
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Desde o 1º ao 6º ano de escolaridade que a disciplina de Área Projecto, que podia ser uma disciplina fundamental para preparar os alunos para o mundo do futuro, é uma treta. Quais são os professores que estão preparados para ministrar o tema projecto e gestão de projectos?
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Assim, facilmente se desmonta mais um post-it.
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A dura realidade vs a ilusão

Os governos e muitos empresários ainda acreditam que a retoma virá no segundo semestre de 2009 ...
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Qual o racional que suporta tal crença?
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Onde é que as pessoas têm os pés assentes?
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Ontem no sítio do Público foi possível ler este artigo "Cada vez mais portugueses com água e electricidade cortadas por falta de pagamento"
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"Segundo a EPAL, que abastece a água à população do concelho de Lisboa, os avisos de corte emitidos em 2008 representaram quatro por cento do número das facturas, embora só tenham sido executados 0,3 por cento.
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A empresa revelou à Agência Lusa que, em 2008, emitiu 3.504.469 facturas, 140 mil cartas de aviso (a dar mais um prazo para ser efectuado o pagamento, antes do corte) e efectuou 10.660 cortes de abastecimento. Nos anos anteriores, foram realizados 9.174 (2007) e 8.069 (2006) cortes. Em Setúbal, são aos milhares os cortes de abastecimento de água por falta de pagamento. .
No ano passado, deram-se 6.100 interrupções devido a atrasos nas liquidações, segundo revelou à Lusa a empresa Águas do Sado, concessionária dos Sistemas de Abastecimento de Água e Saneamento deste concelho."
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No DN de hoje uma serie de artigos que ilustram os anos de chumbo reforçado em que estamos cada vez mais enterrados.
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"Mais de 200 mil penhoras por dívidas a privados"
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"Bolsa de Lisboa voltou a cair mais de 2%"
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"Citroën de Mangualde está entre 16 fábricas em risco de encerrar"
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"Pedidos de 'lay-off' são já dobro de todo o ano 2008"
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"Fisco ameaça processar 60 mil contribuintes"
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Retoma assente em quê? Retoma assente em quem?
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Vamos exportar para quem?
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"The countries that didn’t have credit-fueled housing booms are suffering along side the countries that did, in no small part because the world’s surplus countries relied on the world’s deficit countries for demand."
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Impressionantes os gráficos que Brad Setser apresenta "A grim Q4 in the G-7"
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Preparar o day-after ... se calhar noutro universo competitivo.

Mais uma achega em defesa da minha ideia de que esta crise não veio alterar o tipo de forças em jogo, veio sim exacerbar as correntes e forças que já estavam em curso.
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O artigo na revista Business Week "Three Steps to a Sound Business Model" é eloquente:
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"All successful ventures need a clear business model, and any qualified investor will want to see it before making an investment. The poor economic environment means even more emphasis will be placed on your business model."
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"On a basic level, a business model tells us how a business makes money. However, to get a deeper understanding—and to get investors excited—it's important to break up this concept into some key elements:
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Customer Value Proposition: A strong customer value proposition means your product or service helps to solve a problem or provide a benefit."
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"A foothold: Your customer value proposition, no matter how powerful, is worthless unless you get customer adoption. But it's often expensive to win customers, especially mainstream ones. One approach is to identify a niche customer segment of early adopters. These folks like experimenting with new things and can provide valuable feedback that improves your offering."
...
"Differentiation: In the 1990s, hundreds of companies entered the e-commerce space. But while many provided convenience and cost-effectiveness to customers, there was little differentiation."
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"Pricing: Pricing can be another key way to build your customer value proposition."
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Em boa verdade, sou tentado a escrever que, com a grande recalibração em curso, com a derrocada e colapso da procura, cada empresa deveria encarar o futuro como uma start-up. Não há recursos para mais nada, há que tactear o terreno e ver para onde se pode ou deve evoluir em função da capacidade de cativar clientes.
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Ainda ontem li no Telegraph que um fabricante de pianos de luxo na Républica Checa vai começar a fabricar mobiliário lacado para cozinhas: "Luxury piano maker Petrof turns to furniture in global economic crisis"
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Entretanto, nos telejornais da noite a par da notícia de que a venda de automóveis em Portugal, Espanha, e Estados Unidos tinha caído entre 40 a 50% durante o mês de Fevereiro, lá ouvi um representante qualquer do sector a pedir os habituais apoios. Até quando? Quando é que vão encarar a realidade de frente? Quando é que vão deixar de suster a respiração debaixo de água e começar a preparar o day-after?

terça-feira, março 03, 2009

As capacidades premonitórias

Acabo de ler num rodapé na SIC-N:
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Economia: Ministro Pinho afirma que Portugal não precisa de ajuda da UE.
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Cuidado. Basta verificar a data do primeiro postal a que apliquei o marcador deste mesmo postal.
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Ou seja, as capacidade premonitórias do ministro não são o seu forte, decididamente.

E os bébés vêm de Paris

Qual a melhor política de comunicação:
  • avançar com previsões realistas descrevendo o pior que pode acontecer?; ou
  • avançar com cenários cor de rosa cheios de optimismo?
Não esquecer o texto de João Duque no semanário Expresso de 25 de Fevereiro "E os bébés vêm de Paris"

Será isto original?

Já uso a metodologia que vou expor neste postal, para identificar os objectivos estratégicos (e o seu conteúdo) de um mapa da estratégia na perspectiva de Recursos e Infraestruturas há algum tempo.
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Ontem, ao ler um capítulo do último livro de Paul Niven "Balanced Scorecard Diagnostics - Maintaining Maximum Performance" dei comigo a pensar - será que a metodologia que sigo é original? Sinceramente, nunca a vi descrita nos vários livros que tenho lido ao longo dos anos.
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Assim, peço a ajuda de quem passar por este postal, se conhecer algum autor que apresente uma abordagem parecida com esta, para a determinação dos objectivos na perspectiva de Recursos e Infraestruturas de um mapa da estratégia que me dê uma ajuda e me envie a referência para ccruz@redsigma.pt.
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A perspectiva Recursos e Infraestruturas corresponde à base de um mapa da estratégia.
Como já referi várias vezes neste blogue, proponho que se comece pela identificação dos clientes-alvo e de eventuais distribuidores para incluir na perspectiva Clientes. Uma vez identificados esses alvos podemos definir a proposta de valor que vamos oferecer a cada um deles.
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A partir dos atributos que estão na base da satisfação dos clientes e distribuidores chegamos aos objectivos estratégicos a atingir na perspectiva Interna/Processos.
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Os objectivos estratégicos incluídos num mapa da estratégia serão atingidos através da execução de um conjunto de iniciativas estratégicas. Até aqui nada de novo.
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Os objectivos estratégicos na perspectiva Interna/Processos serão atingidos porque as iniciativas estratégicas vão actuar, modificar, melhorar a forma como a organização trabalha em alguns dos seus processos, os processos críticos para a estratégia.
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Até aqui nada de novo.
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Recorrendo à abordagem por processos que nos permite modelar o funcionamento de uma organização:
Podemos identificar os processos críticos, aqueles onde as modificações introduzidas pelas iniciativas estratégicas vão ficar ancoradas.

A partir do momento em que conseguimos associar iniciativas estratégicas a processos concretos começa o meu ponto.
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Na perspectiva de Recursos e Infraestruturas colocamos objectivos estratégicos que se relacionam com:
  • Melhoria das competências dos colaboradores;
  • Melhoria dos equipamentos;
  • Melhoria dos sistemas de informação;
  • Alinhamento numa cultura assente na estratégia.
Melhorar que competências de que colaboradores? Todos?
Melhorar que equipamentos? Todos?
Melhorar que sistemas de informação? Todos?
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Voltemos aos processos críticos (aqueles que vão ser modificados pelas iniciativas estratégicas). Cada processo pode ser visto como um empreendimento que reune o seguinte conjunto de factores:
Assim, podemos identificar as pessoas cujas competências e funções devem ser melhoradas através da análise das fichas de processos dos processos críticos. Fichas que listam para cada processo, que funções entram no processo e a realizar que tarefas.
Voltando aos processos críticos, podemos identificar os equipamentos e sistemas de informação críticos para a execução da estratégia.
Será que isto é original?







segunda-feira, março 02, 2009

Se formos obrigados a sair do euro...

... nas costas dos outros vêmos o que nos pode acontecer:
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"Price of meat rises by more than 30% in a year due to falling pound"

Finalmente!!!

Depois de ter entregue as alterações em Outubro de 2007 ... finalmente.
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A 3ª edição de "Balanced Scorecard - Concentrar uma organização no que é essencial" seguiu para a gráfica.
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Aleluia!!!

This was maddness!!!

"In 2006, Ireland (population 4.2 million) built 88,000 houses, compared with 150,000 in the UK (population 60 million). At one point, a fifth of the workforce, swelled by tens of thousands of immigrants, worked in construction.
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Irish families on middle and even low incomes cashed in their pensions or borrowed heavily to buy second, third or even fourth properties, believing they could rent them out to the migrant workers who had caused net immigration for the first time in Ireland's history. They could borrow from banks that enjoyed one of the loosest regulatory regimes in Europe, and which shipped in money from abroad to further stoke up the boom.
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Ireland now has up to 350,000 empty homes – more than its entire private rental market – many of them simply abandoned as builders went bust. House prices are expected to fall by 80 per cent."
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Isto passou-se na Irlanda, o mesmo se passou em Espanha, por exemplo. É possível e sensato voltar a esta exuberância construtiva?
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Claro que não!
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Então, faz sentido pensar que vai ser possível recuperar o nível de procura que existia enquanto decorria este deboche de despesismo não suportado em poupança mas assente em dívida?
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Se não faz sentido... quais as consequências?
Trecho retirado de "Breaking point for the eurozone?" no Telegraph.

The “plant within a plant” (PWP)

Nestes tempos de incerteza em que o middle-market traiçoeiro está a aumentar as suas fronteiras, as fronteiras de retornos financeiros medíocres, julgo que faz todo o sentido regressar aos clássicos e procurar paralelismos entre o que se vive hoje e o que se viveu no passado.
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Assim, recomendo vivamente a leitura do artigo de Wickham Skinner "The Focused Factory" publicado originalmente na revista Harvard Business Review em Maio de 1974.
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O artigo pode ser acedido aqui.
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Um trecho sobre como caminhar para a fábrica focada e dedicada:
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“In my experience, manufacturing managers are generally astounded at the internal inconsistencies and compromises they discover once they put the concept of focused manufacturing to work in analyzing their own plants.
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Then, when they begin to discern what the company strategy and market situation are implicitly demanding and to compare these implicit demands with what they have been trying to achieve, many submerged conflicts surface.
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Finally, when they ask themselves what a certain element of the structure or of the manufacturing policy was designed to maximize, the built-in cross-purposes become apparent.
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At the risk of seeming to take a cookbook approach to an inevitably complex set of issues, let me offer a recipe for the focused factory based on an actual but disguised example of an industrial manufacturing company which attempted to adapt its operations to this concept.
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Consider this four-step approach of, say, the WXY Company, a producer of mechanical equipment:
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1. Develop an explicit, brief statement of corporate objectives and strategy. The statement should cover the next three to five years, and it should have the substantial involvement of top management, including marketing, finance, and control executives.
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In its statement, the top management of the WXY Company agreed to the following:
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“Our corporate objective is directed toward increasing market share during the next five years via a strategy of (1) tailoring our product to individual customer needs, (2) offering advanced and special product features at a modest price increment, and (3) gaining competitive advantage via rapid product development and service orientation to customers of all sizes.” (esta abordagem de certa forma faz a empres voltar aos seus tempos de arranque em que tinha poucos clientes e poucos produtos e, por isso, era extremamente enfocada no essencial, a empresa não tinha recursos para desperdiçar em floreados)
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2. Translate the objectives-and-strategy statement into “what this means to manufacturing.” What must the factory do especially well in order to carry out and support this corporate strategy? What is going to be the most difficult task it will face? If the manufacturing function is not sharp and capable, where is the company most likely to fail? It may fail in any one of the elements of the production structure, but it will probably do so in a combination of some of them.

3. Make a careful examination of each element of the production system. How is it now set up, organized, focused, and manned? What is it now especially good at? How must it be changed to implement the key manufacturing task?
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4. Reorganize the elements of structure to produce a congruent focus. This reorganization focuses on the ability to do those limited things well which are of utmost importance to the accomplishment of the manufacturing task.

The reader may perceive a disturbing implication of the focused plant concept—namely, that it seems to call for major investments in new plants, new equipment, and new tooling, in order to break down the present complexity.
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For example, if the company is currently involved in five different products, technologies, markets, or volumes, does it need five plants, five sets of equipment, five processes, five technologies, and five organizational structures? The answer is probably yes. But the practical solution need not involve selling the big multipurpose facility and decentralizing into five small facilities.
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In fact, the few companies that have adopted the focused plant concept have approached the solution quite differently. There is no need to build five plants, which would involve unnecessary investment and overhead expenses.
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The more practical approach is the “plant within a plant” (PWP) notion in which the existing facility is divided both organizationally and physically into, in this case, five PWPs. Each PWP has its own facilities in which it can concentrate on its particular manufacturing task, using its own work-force management approaches, production control, organization structure, and so forth. Quality and volume levels are not mixed; worker training and incentives have a clear focus; and engineering of processes, equipment, and materials handling are specialized as needed.
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Each PWP gains experience readily by focusing and concentrating every element of its work on those limited essential objectives which constitute its manufacturing task. Since a manufacturing task is an offspring of a corporate strategy and marketing program, it is susceptible to either gradual or sweeping change. The PWP approach makes it easier to perform realignment of essential operations and system elements over time as the task changes.”

domingo, março 01, 2009

Estratégia a sério na agricultura, ou make my day!

O mainstream, o lobby agricola que vive à custa de subsídios de Bruxelas navega num mar onde nunca terá hipótese de ser competitivo.
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Seja nos cereais, seja no leite (aqui basta acabar a protecção das quotas leiteiras para se gerar o fim do status-quo no sector e surgir o descalabro), estamos a falar de commodities em que o negócio é preço, em que as grandes unidades produtivas têm vantagens inegáveis (basta só imaginar o efeito que terá um dia a explosão da produção russa: Estratégia na agricultura).
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Embora não trabalhe na agricultura, ao longo dos anos tenho aqui coleccionado recortes sobre a agricultura em Portugal. Recordo um postal de Maio de 2008 Pensamento estratégico onde a CAP protestava contra a definição de produtos estratégicos para o mistério da agricultura.
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Retiro do texto do Expresso de então: "Questionado pelo Expresso, o Ministério da Agricultura explicou, por escrito, que "as fileiras estratégicas são aquelas que, tendo elevado potencial de desenvolvimento sustentado, associado a factores de mercados (competitividade), climáticos, ambientais e naturais, se encontram num nível de aproveitamento insuficiente face às suas potencialidades."
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Ainda do texto do Expresso de então as palavras do presidente da CAP: "não deve de maneira nenhuma descurar qualquer área da agricultura. Portugal deve produzir de tudo, pois faz sentido ter reservas estratégicas de alimentos e, para os termos, eles têm de ser produzidos."
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O Expresso de ontem, no seu Caderno de Economia, traz um extenso artigo intitulado "Uma rica terra alentejana" onde a política do ministério da agricultura para as fileiras estratégicas é ilustrada de forma particularmente positiva (não estou a dizer que o ministério seja responsável pelos sucessos do artigo, não tenho informação para tal, estou a afirmar que as ideias da política do ministério estão mais próximas do ecossistema económico, do tipo de modelo de negócio apresentado no artigo).
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Quando não se pode competir no negócio do preço-baixo, quando não se pode competir num negócio de margens apertadas em que o ganho resulta da venda de grandes quantidades, quando se tem um clima adequado, água e pouca terra, pode-se procurar competir na diversidade não na mono-cultura, pode-se procurar competir nos produtos de alto-valor acrescentado não nas commodities.
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Produzem:
  • relva para estádios ("O clima que permite produzir durante todo o ano, é outro trunfo. Este Inverno, em que a Europa foi assolada por uma vaga de frio que congelou as produções agrícolas, a relva alentejana foi a única a manter-se em produção e acabou por conquistar novos mercados");
  • pimentos (""aqui o clima permite produzir todo o ano, o que era uma exigência dos clientes dos supermercados de Inglaterra e Alemanha". Com produtividades quatro vezes superiores ao normal...");
  • morangos e framboesas ("É o único local da Europa onde se conseguem produzir morangos e framboesas todo o ano. ... A empresa produz em seis países da Europa, e em Odemira consegue "a única geografia de produção de morangos durante o ano tdo, ganhando três semanas ao morango de Espanha. ... "Conseguimos aqui produtividades muito elevadas e há uma população de abelhas muito interessante para a polinização dos campos"";
  • saladas ("Aqui, conseguimos produzir todos os dias...")
"Produzimos culturas-nicho, não as commodities", têm a vantagem da produtividade da terra e do clima, agora estão a pensar em criar uma marca para comunicar ao mercado que os produtos desta terra resultam de boas práticas ambientais.
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Claro que este sucesso implica cortar com a tradição e abandonar culturas que hoje não são competitivas, apenas sobrevivem à custa de torrar dinheiro dos contribuintes europeus.

Os presságios... outra vez

"Uma avaria no abastecimento de energia eléctrica deixou ontem perto das 23h00 a Nave Polivalente de Espinho às escuras, levando o presidente do PS, Almeida Santos, a dar por encerrados os trabalhos do XVI Congresso, quando havia ainda dezenas de delegados inscritos para intervirem sobre as moções globais." (aqui)
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Fez-me recordar Estas águas são um presságio!