quinta-feira, março 12, 2009

Um bom tema para alimentar um grupo de reflexão sobre o futuro para a indústria

Este ensaio "The New Normal" de Ian Davis da McKinsey é uma boa base para iniciar uma reflexão sobre o que será a nova normalidade que vamos encontrar e descobrir quando a poeira desta turbulência finalmente assentar.
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"We are experiencing not merely another turn of the business cycle, but a restructuring of the economic order." (Assim, não faz sentido ficar à espera que tudo passe para receber de volta um mundo que acabou kaput ponto. Não adianta ficar debaixo de água com os dedos a apertar as narinas à espera que o pesadelo passe.)
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"The question is, “What will normal look like?” While no one can say how long the crisis will last, what we find on the other side will not look like the normal of recent years." (Assim, faz todo o sentido procurar antecipar cenários prováveis, para aproveitar a migração de valor que está a acontecer.)
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"there will be significantly less financial leverage in the system"
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"it is clear that the future will reveal significantly lower levels of leverage (and higher prices for risk) than we had come to expect." (Higher prices for risk vai implicar higher returns, higher returns vai implicar o recurso a mais estratégias puras e menos a estratégias híbridas. Um tema já avançado neste blogue.)
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"Companies that boost returns to equity the old fashioned way—through real productivity gains—will be rewarded." (Investir na indústria vai voltar a ser respeitável!!! Outro tema já avançado neste blogue.)
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"protectionist policies that make it harder for companies to move capital to the most productive places and that dampen economic growth"
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"less leverage and more government"
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"the world’s economic center of gravity will continue to shift eastward."
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"technological innovation will continue, and the value of increasing human knowledge will remain undiminished. For talented contrarians and technologists, the next few years may prove especially fruitful as investors looking for high-risk, high-reward opportunities shift their attention from financial engineering to genetic engineering, software, and clean energy"

Cá estão os 2 milhões de euros por hora

No Jornal de Negócios lê-se "Défice externo português salta para 10,6% do PIB":
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"No ano passado Portugal teve de obter cerca de 17,6 mil milhões de euros de financiamento externo, fundamentalmente via endividamento e investimento directo estrangeiro, um valor que representa 10,6% da riqueza total gerada na economia."
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1,76 x 10 elevado a 10 euros por ano a dividir por 365 dias por ano, e a dividir por 24 horas por dia é igual aos famosos 2 milhões de euros por hora que o país tem de pedir emprestado ao estrangeiro. Hum!!! Até quando é que vão emprestar?
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"O elevado défice externo é dos sinais mais preocupantes da fragilidade estrutural e competitiva da economia portuguesa, o qual é agudizado pela actual crise que está ditar custos crescentes de financiamento e de acesso ao mercados internacionais. "

quarta-feira, março 11, 2009

Gestão do Ambiente - aula 1

Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica.
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Acetatos (10,5 MB) (atenção à password)
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Texto do EMAS

Acordar as moscas que estão a dormir (parte X)

Quando escrevo sobre o acordar as moscas que estão a dormir, escrevo sobre a necessidade de um novo discurso chegar ao mainstream, o discurso de um estado sem dinheiro e sem grandes possibilidades de se endividar, por falta de crédito, ou de não mais ser possível sobrecarregar o jugo sobre os desgraçados dos saxões impostados, embora os normandos do costume consigam sempre surpreender neste campo.
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Como terá de mudar o discurso político para se ajustar a esse novo paradigma?
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Como é que políticos habituados a gastar dinheiro reagirão? Será o fim das rotundas autárquicas e das 'rotundas' governamentais?
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Este artigo na imprensa inglesa começa a abrir o panorama "Welcome to the inescapable era of no money":
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"For the next ten years British politics is going to be about living with the consequences of the State being flat broke
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We are insolvent. Out of money. Financially embarrassed. Strapped. Cleaned out. We are skint, borassic lint, Larry Flynt, lamb and mint. We are lamentably low on loot. We are maxed out. We are indebted, encumbered, in hock, in the hole. We are broke, hearts of oak, coals and coke. It doesn't matter whether money can buy us love, because we haven't got any.
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Welcome to the era of no money. The central fact of British politics in the next ten years, and perhaps longer, is not hard to spot. British politics isn't going to be dominated by interesting debates on the future of capitalism. It isn't going to be the stage for a revival of interest in democratic socialism. It isn't going to play host to the interplay of competing ambitious projects. No. We're in for a hard slog. Because what British politics is going to be about in the next ten years is living with the consequences of the State being broke, of the Government running out of money"

É muito mais do que a escolaridade básica.

Ontem, a propósito do postal Está difícil fazer passar para o mainstream português esta visão da produtividade centrada na eficácia e não só na eficiência , o José Silva do Norteamos comentou:
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"O problema é que não é só o MSM . O grave é que «blogues contemporaneos» encontram explicações esotéricas para o sub-desenvolvimento relativo nacional. A minha explicação é muito simples: Ignorância generalizada.No tempo de Napoleão quase toda a Europa tinha escolaridade básica. Os ibéricos não."
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O problema, caro José Silva, é que não é só um problema de escolaridade, vou abdicar de nomear os normandos do costume, vou apenas nomear pessoas que na última semana se manifestaram nos media a favor da redução de salários para aumentar a produtividade:
  • Ferraz da Costa (presidente do forum para a competitividade ... está tudo dito sobre a eficácia do dito forum);
  • Medina Carreira na entrevista a Mário Crespo;
  • Silva Lopes;
E, num dos primeitos postais deste blogue comentei o famoso artigo de Olivier Blanchard Adjustment within the euro. The difficult case of Portugal

O potencial da agricultura

No Público de hoje no artigo "Riqueza gerada pela agricultura caiu 23 por cento desde 1992" pode ler-se:
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"enquanto os agricultores em 1992 obtinham 76,3 por cento do seu rendimento pela venda de bens e serviços e o restante vinha dos apoios, actualmente a situação inverteu-se: 63,1 por cento tem origem nos subsídios e 36,9 por cento resulta da venda de produtos.Para esta situação contribui muito o aumento dos factores de produção (salários, rendas e juros), que subiram 22,3 por cento. E tem o efeito pernicioso "de fazer com que os produtores estejam cada vez mais dependentes das políticas públicas","
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Num outro artigo na mesma página "Sector agrícola pode responder melhor à crise que obras públicas, diz João Salgueiro" pode ler-se:
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"A agricultura tem mais potencial para criar emprego do que as obras públicas, além de ter capacidade exportadora. Quem o diz é o João Salgueiro, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, que ontem, num seminário na CAP, considerou arriscado que os planos contra a crise assentem numa política de betão, que não resolve os dois grandes problemas que agora se enfrentam: o desemprego e o desequilíbrio da balança comercial.
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"Deveria haver uma campanha nacional para explicar o potencial da agricultura", defendeu este responsável, que lamenta que o sector continue a ser tão desprezado. "Quando vemos o que os países mediterrânicos exportam para o resto da Europa vemos o que não fizemos em Portugal", acrescentou, considerando que seria possível desenvolver algumas fileiras, como as horto-frutícolas, algumas menos tradicionais, que podem oferecer importantes soluções para gerar mais emprego e garantir o equilíbrio do território."
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O primeiro artigo descreve o que decorre da aposta nas culturas tradicionais que competem com outros países para vender commodities.
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O segundo artigo refere-se ao potencial de um mundo novo, o mundo da nova agricultura como referido aqui Estratégia a sério na agricultura, ou make my day!
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Estou de acordo com João Salgueiro, mas uma campanha que abordasse não a agricultura tradicional condenada à subsidiação, mas a agricultura tipo 'boutique', a agricultura 'gourmet', a agricultura que aproveita aquilo em que podemos ser diferentes, em que podemos ter vantagens competitivas, a agricultura polvilhada com pensamento estratégico.

O choro dos normandos

Acabo de ouvir na TSF o choro de duas normandas por causa da Qimonda.
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De acordo com as homilias de Edite Estrela e Ilda Figueiredo, deputadas no parlamento europeu e profundas conhecedoras do sector (!), os contribuintes europeus (os saxões do costume) devem despejar mais uns milhões de euros para afagar o ego dos políticos e alimentar o monstro Qimonda.
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Ao ouvi-las lembrei-me do termo 'sunk costs'... segundo as deputadas uma das razões para apoiar a Qimonda é ... o dinheiro que já se gastou no passado.
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No Jornal de Negócios encontro uma afirmação de Belmiro de Azevedo que se ajusta perfeitamente a esta situação:
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"Belmiro de Azevedo, que evitou os jornalistas, disse ainda que se tem que “entrar em projectos que tenham sentido económico”. E “mais importante do que criar projectos é abortar um projecto em tempo útil”, para evitar maiores perdas de recursos."
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terça-feira, março 10, 2009

Paving the way?

Preparing the mind?
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No site do Fed: "Currency Crashes in Industrial Countries: Much Ado About Nothing?"
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"Many economic commentators appear to believe that currency crashes invariably have harmful effects. This paper shows that, for industrial countries, the evidence does not support this commonly held view."

Não me sai do ouvido

Está difícil fazer passar para o mainstream português esta visão da produtividade centrada na eficácia e não só na eficiência

Ontem descobri este interessante artigo sobre a produtividade "New Concepts of Productivity and its Improvement" de Arturo L. Tolentino.
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Ao longo dos anos tenho protestado aqui contra o discurso do mainstream sobre a produtividade. Um discurso concentrado na eficiência, na redução dos custos, no controlo dos salários, nos inputs, aquilo a que eu chamo a concentração no denominador da equação da produtividade.
Para mim é muito claro que a concentração tem de ser no numerador da equação:
Aprendi, fui despertado pelo artigo “Managing Price, Gaining Profit” de Michael V. Marn & Robert L. Rosiello, em Setembro-Outubro de 1992 para o efeito alavancador da criação de valor no numerador da equação da produtividade:
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Alguns trechos do artigo de Tolentino nesta onda:
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"Whereas traditionally, productivity is viewed mainly as an efficiency concept (amount of outputs in relation to efforts or resources used), productivity is now viewed increasingly as an efficiency and effectiveness concept, effectiveness being how the enterprise meets the dynamic needs and expectations of customers (buyers/users of products and services) i.e. how the enterprise creates and offers customer value. Productivity is now seen to depend on the value of the products and services (utility, uniqueness, quality, convenience, availability, etc) and the efficiency with which they are produced and delivered to the customers."
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"Productivity improvement must now focus on value creation rather than on minimization of inputs. Higher customer value is created when the products and services meet customer needs for utility, timeliness, esteem, service, etc. This is what customers buy and pay for. With the rapid advance of technology and greater access to information, customer expectations are constantly changing and becoming more demanding. For long term productivity and competitiveness therefore, enterprises must constantly innovate (come-up with new and better products and develop better ways of doing things), be flexible and agile, respond rapidly to the increasingly sophisticated customer needs which are constantly changing, and be able to anticipate and adjust to the very dynamic market conditions."
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Será que as empresas portuguesas de calçado e do têxtil podem competir no negócio do preço, no negócio do denominador com a China et al? Claro que não.
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Será que as empresas portuguesas de calçado e do têxtil podem competir no negócio do valor, no negócio do numerador? Claro que sim!
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Para isso, tal como refere o último trecho de Tolentino, há que apostar na flexibilidade, na inovação, no super-serviço, nas pequenas séries:
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"Desde 1990, as industrias de calçado e têxtil, viram desaparecer mais de uma centena de empresas de grande dimensão que operavam em Portugal. Segundo dados do Ministério do Trabalho, em 2006, existiam nestas industrias apenas 19 empresas com capacidade para empregar mais de 500 trabalhadores, enquanto as pequenas e micro ultrapassavam as nove mil.
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As microempresas cresceram 66% em quantidade até 2006, existindo quase 6000 que asseguram 11% do emprego nas industrias do calçado, têxtil e vestuário, percentagem que em 1990 era de 4%. Por outro lado, as empresas com mais de 500 trabalhadores passaram de uma percentagem de 22% para 6% em postos de trabalho. É o grupo de empresas com mais de 50 trabalhadores que tem a maior percentagem de empregos, 37%."
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"temos um crescente número de pequenas empresas a desenvolverem projectos inovadores centrados na diferenciação" (aqui)
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Está difícil fazer passar para o mainstream português esta visão da produtividade centrada na eficácia e não só na eficiência.




Medina Carreira na SIC

segunda-feira, março 09, 2009

An L of a recession – reform is the way out

By Wolfgang Münchau

"So it looks like it is going to be an L – not a V or a U. I mean an L-shaped recession, one that starts with a steep decline, followed by very low growth for many years.
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In a V-type recession, the recovery is instant. In a U-type, it comes eventually. My guess is that we are currently somewhere in the middle of the vertical bit of the L, but it is the horizontal bit that is the scariest. History never repeats itself exactly, but we know from economic history that financial crises are surprisingly similar.
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This looks like Japan all over. Without financial restructuring, the economy is not going to recover. And Japan was lucky. It was surrounded by a booming global economy."
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"An L-shaped recession will make the adjustment of balance sheets even more painful. Unemployment will continue to rise. House prices will keep on falling. US consumers and banks will spend the next five or more years deleveraging, getting their respective balance sheets back in order. In that period, the US current-account deficit will fall sharply, as will that of the UK, Spain and several central and eastern European countries. This process can take a long time, and in an L-shaped recession it takes longer.
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But the effect is also brutal on the rest of the world. The fall in current-account deficits will be partially compensated for by lower surpluses from oil and gas exporters, such as Middle Eastern countries and Russia. But the bulk of the adjustment would be borne by the world’s largest exporters: Germany, China and Japan. Globally, current-account deficits and surpluses add up to zero – minus some statistical reporting errors. You can do the maths. If the US stops buying German cars, Germany will eventually stop making them."
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"We are nowhere near a solution to the crisis. After committing errors of omission, global leaders are now producing errors of commission. The Americans dream about a return to a world of credit finance consumption while the Germans dream about assembly lines. In an L-shaped world, these are nightmares."

The Great American Ponzi

Just American?
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"Guest Post: More Debt Won't Rescue the Great American Ponzi"
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"At the end of the day, flushing more debt through the system is the only lever policy-makers know how to pull. Lower interest rates, quantitative easing, deficit spending, it's all the same. It's all borrowing against future income. Each time we bump up against recession, we borrow a bit more to keep the economy going. With garden variety recessions, this can work. Everyone wants the good times to continue, so no one demands debts be paid back. Creditors accept more IOUs and economic "growth" continues apace. If it sounds like Bernie Madoff's Ponzi scheme, that's because it is."
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"European economies face even more oppressive debt loads.
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The great Ponzi scheme that is the Western World's economy has grown so big there's simply no "fixing" it. Flushing more debt through the system would be like giving Madoff a few billion to tide him over. Or like adding another floor to the Tower of Babel. To what end?
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The collapse is already here. The question is: How much do we want it to hurt?
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Using the public's purse to finance "confidence" in a system that is already kaput may delay the Day of Reckoning, sure, but at the cost of multiplying our losses. Perhaps fantastically.Bottom line....We can bankrupt ourselves propping up a system that is collapsing anyway, or we can dig ourselves out of debt, if not with higher interest rates then certainly with fiscal austerity. That would be a hard sell to the American people, I know. But deep down, Summers and Geithner know it is the right thing to do. It is, after all, the prescription they wrote for emerging markets facing financial crises."

Algumas notas sobre o uso do BSC (parte I)

Neste endereço encontra-se o texto "MÓDULO V – EXEMPLO DA ADOPÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO ESTRATÉGICA (BSC) POR UMA ORGANIZAÇÃO DO SECTOR PÚBLICO"
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A análise do texto permitiu-me tomar várias notas:
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A figura 5.7 "iniciativas para cada perspectiva relativas ao BSC para 2006" lista uma série de iniciativas para cada perspectiva do BSC.
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Quero fazer dois reparos:
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Não recomendo que existam iniciativas associadas directamente às perspectivas financeira e de clientes:
  • Na base de um mapa da estratégia, na perspectiva de Recursos e Infraestruturas sistematizamos objectivos sobre os investimentos que temos de fazer. Depois, na perspectiva Interna listamos os objectivos que queremos atingir com o nosso trabalho, com o desempenho dos processos críticos da organização. A partir daí, proponho que nas perspectivas de Clientes e Financeira se utilizem apenas objectivos que meçam resultados, que avaliem as consequências do que fizemos nas duas perspectivas anteriores. Assim, as iniciativas actuam sobre os processos e infraestruturas para produzir os resultados desejados nos clientes e por tabela nos resultados financeiros.
O que é uma iniciativa? Para que serve uma iniciativa?
  • Interpreto as iniciativas estratégicas como projectos de transformação da realidade da organização (dos seus processos e infraestruturas) para poder gerar resultados futuros desejados diferentes de forma sustentada (na perspectiva Clientes primeira e, depois, por consequência directa resultados na perspectiva Financeira. Assim, pergunto, voltando à figura 5.7: Por que é que uma "Auditoria à Direcção da Regularização Extraordinária da Dívida" é uma iniciativa? O que é que a auditoria muda na realidade? Em que é que uma auditoria transforma a realidade? Uma auditoria não muda nada. Os resultados de uma auditoria podem servir para tomar decisões, logo, os resultados de uma auditoria podem ser incluídos como um indicador de desempenho ou controlo, não como um motor de transformação da realidade. Quando muito uma auditoria pode ser uma actividade intermédia de uma iniciativa mais vasta, em que a auditoria detecta pontos a precisar de melhoria. No entanto, para melhorar há que actuar sobre as rotinas, sobre os processos da organização, fazer as coisas de forma diferente.
No segunda parte espero abordar a temática do abuso dos indicadores de acção face aos indicadores de resultados na administração pública.
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domingo, março 08, 2009

Exemplo da polarização dos mercados

Ontem escrevi:
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De certeza que a esta migração de valor em curso vai, está a criar, está a destruir, está a reconfigurar os diferentes grupos de clientes-alvo... que novas oportunidades estarão à espera de ser descobertas?
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Depois, durante o meu jogging, dei comigo a fazer a analogia entre o fim dos dinossauros e a crise actual.
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Foi o fim dos dinossauros... mas o novo ambiente libertou espaço para que novas espécies, novas hipóteses experimentassem o palco que ficou livre.
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Escrevo tudo isto a propósito das prateleiras da distribuição; o que se passa nas prateleiras de um hipermercado a uma alta velocidade é um indicador avançado do que se vai passar mais tarde no resto da economia. Assim, podemos olhar para os hipermercados como cobaias de laboratório.
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Encontrei no Telegraph e no Guardian uns exemplos actuais da migração de valor em curso e sobretudo da polarização do mercado:
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"Waitrose brings out budget range for recession-hit middle classes": "However, next week it will launch its 'essential Waitrose' range in an attempt to win over customers that have abandoned the chain in favour of cheaper outlets such as Asda or even Lidl and Aldi."
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"Asda wins out as shoppers go in search of bargains": "The grocers viewed as the best for bargains are continuing to soar ahead of their rivals as shoppers search for ways to cut their weekly food bills."
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Em simultâneo temos "Net-a-Porter wears its success well": "Insiders said that sales at the upmarket fashion business in the year ending January 2009 rose by more than 50pc to around £85m. Margins also improved with a pre-tax profit rise in the region of 300pc to more than £9m. "

O erro humano não existe!

No sítio do Público pode ler-se o artigo "Empresa responsável por software com erros instalado no Magalhães reconhece "falha humana"":
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"A empresa responsável pelo software associado à aplicação de um jogo instalada nos computadores Magalhães atribuiu hoje "a falha humana" os erros de português detectados, adiantando que as correcções já estão disponíveis na Internet."
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O processo de tradução/localização de software envolve um passo de tradução automática, sendo esse passo seguido de verificação manual. No caso do software Gcompis, por falha humana, parte da tradução desta aplicação não foi validada", esclareceu hoje a empresa Caixa Mágica em comunicado enviado à agência Lusa."
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Muito haveria a escrever sobre esta cultura de justificar as falhas com o erro humano.
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O erro humano não existe!!!
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A prpósito do erro humano recomendo vivamente a leitura deste livro “O erro em medicina – perspectivas do indivíduo, da organização e da sociedade” de José Fragata e Luís Martins.
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“A cultura de culpabilização individual assenta no facto de se tornar o “erro humano” mais como um explicação de per si, do que algo que precisa de ser explicado e compreendido nas suas profundas motivações. Como decorre, a culpa é de quem errou, ocultando-se o facto fundamental de que “as melhores pessoas podem cometer os piores erros”. Este ciclo de culpa inicia-se com a noção de que, sendo senhores da escolha do nosso destino poderemos sempre escolher entre as boas e as más acções, por outro lado e optando pela teoria do menor esforço, é mais fácil a quem analisa parar nas causas de erro que se encontram associadas a quem actua no extremo das acções, o actuante ou interventor directo, a pessoa. Encontrada essa “culpa” é cómodo que a acção de procura cesse a esse nível base, por outro lado, essa é ainda a conveniência administrativa e institucional, que assim vê minimizadas as suas próprias responsabilidades. As instituições que, analisando um qualquer acidente, se ficam pelo modelo de “culpa individual” perdem a possibilidade de alterar o “sistema” e melhorar a segurança pela introdução de novas políticas que tornem novos erros menos prováveis. Ao punir, simplesmente, um indivíduo a organização nega de forma subliminar a sua responsabilidade no evento negativo, mas não o corrige verdadeiramente. É o princípio da negação dos acidentes, que caracteriza as organizações demasiado burocratizadas e sem abertura a qualquer processo de inovação regenerativa. Face a um acidente que ocorre, a tendência é isolá-lo, punir o responsável mais directo, impedir a divulgação do facto e, seguir em frente, após ter tomado medidas limitadas a nível local. Uma atitude diferente desta atitude de negação de acidentes, é a atitude que divulga o evento negativo, encarando-o como algo que merece ser analisado a todos os níveis, começando pelo da organização, e aceita abertamente as novas ideias de mudança, traduzindo assim flexibilidade.”
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Esta cultura de que fala o texto, permeia toda a nossa sociedade, organizações incluídas.
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Quem me conhece sabe que um dos temas que desenvolvo nas organizações é a ideia de que:
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Não há acasos!
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Se a falha ocorreu ela nunca é obra do acaso, nunca é culpa de um humano. A responsabilidade é sempre do sistema!
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A culpa é sempre do sistema!
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sábado, março 07, 2009

Go figure

Na entrevista de João Salgueiro ao Público de hoje pode ler-se:
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"Os governos, e este não é excepção, dizem que vão introduzir reformas, para aumentar a competitividade. Mas sem resultado."
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Se hoje visitarem uma loja Lidl, e se tiverem as mesmas promoções que vi esta semana em Estarreja, verão à venda por 9,99€ uns capacetes para ciclistas.
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9,99€!
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Qual era a marca? Não sei, não fixei, não consigo recordar-me.
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E se eu quiser comprar um capacete da marca Kaos, quanto me custará?
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67,31€
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E se eu quiser comprar um capacete da marca Predatore, quanto me custará?
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Cerca de 70€
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E um Bell Sweep R Racing Bike Helmet por 140 dólares?
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Os políticos e demagogos acham que se dermos formação profissional aos trabalhadores, essa formação permitirá que a empresa que produz capacetes que são vendidos numa loja Lidl a 9,99€ tenha uma produtividade superior à da empresa que fabrica capacetes que são vendidos a 140 dólares!!!
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E se os trabalhadores que fabricam capacetes vendidos a 9,99€ fossem transferidos para a fábrica que os vende a 140 dólares? Será que eram capazes de os produzir?
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Claro que sim!
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Agora arrebanhem um monte de universitários licenciados, mestrados e doutorados e coloquem-nos a produzir capacetes de 9,99€ serão mais produtivos que os iletrados que fabricam os de 140 dólares?
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Claro que não!
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Os políticos, os demagogos e os empresários ultrapassados acreditam que se os trabalhadores da fábrica de capacetes a 9,99€ correrem mais depressa, produzirem menos defeitos, e ganharem menos serão mais competitivos e terão produtividades superiores aos da fábrica de capacetes a 140 dolares.
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Go figure!
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Estas ideias de políticos e demagogos sobre a formação profissional e leis do trabalho para aumentar a produtividade e a competitividade são como aqueles post-its dos senadores , boas para ocupar tempo de antena, boas para entreter jornalistas que não fazem contas, boas para pessoas que aceitam novelos de mitos e não pedem um simples desenho que ilustre como é que A vai gerar B.
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ADENDA para quem ainda não percebeu o filme: Mitos, mitos e frases feitas. Alguém já fez um roteiro para uma empresa em particular?

No meio não está a virtude, ou seja, não vale guterrear

Há dias escrevi neste espaço:
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A crise em curso, em boa verdade, não veio trazer novos factores ao cenário.
A crise em curso apenas veio exacerbar as forças, as correntes que já estavam em curso e alterar as fronteiras do meio-termo.
A crise em curso veio alargar as fronteiras do que é o meio-termo pantanoso e traiçoeiro.
A crise em curso veio reforçar a polarização do mercado que já estava em curso, basta recordar The vanishing middle-market.
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Tendo em conta o que se passa para os consumidores na óptica de Silverstein:
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"Ao mesmo tempo que essa classe média (fatia mais importante para a maioria das empresas) aspira ao "trading up", cria estratégias de "trading down". Isto é, esses consumidores já não querem o produto de qualidade média, a preço razoável. Preferem comprar um relógio de luxo e equilibrar o orçamento abastecendo a despensa de marcas brancas. É esta a "caça ao tesouro" a que se dedicam e fica o aviso às empresas: já não é no meio que está a virtude, pelo que as que aí estão posicionadas têm de "subir" ou "descer" para não morrerem. "O que fica no segmento intermédio está a ficar sem interesse", sentencia."
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Não será de esperar o mesmo no B2B? Olhando para as correntes em jogo...
... e reflectindo sobre afirmações deste tipo:
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"Acha que os problemas de liquidez se vão manter por muito mais tempo?
Acho que sim. Porque, como disse, num plano temos a crise financeira, e logo por baixo dessa temos uma crise ainda mais importante, que é a alavancagem em que o sistema mundial funcionou. O que é que quero dizer? Temos vivido a crédito nos últimos anos, nos EUA, na Europa. Na China e no Japão, a poupança é enorme. Na China, a poupança é de quase 40 por cento, na Europa é de menos de 10 por cento, nos EUA chegou a dois por cento e estava em risco de se tornar negativa. As pessoas estão a viver a crédito nos últimos dez anos. Não é só um problema de confiança, mas de ajustar os níveis de despesa aos níveis de produção."
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Se o crédito acaba, se o day of reckoning chega para que sejam pagas as dívidas. Terá de haver menos consumo, então, a sobre-capacidade que já existia vai tornar-se em sobre-sobre-capacidade.
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Como ultrapassar a situação?
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Muitas empresas não o vão conseguir ponto!
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As eleitas serão aquelas que vão olhar para o mercado, e isolar grupos específicos, os clientes-alvo, e vão transformar-se para ir ao seu encontro. Não no meio termo, mas fazendo opções: ou preço, ou diferenciação.
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Cada vez mais ressoam na minha cabeça as quatro questões que Mauborgne e Chan Kim colocam no livro ""Blue Ocean Strategy":
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"Which of the factors that the industry takes for granted should be eliminated?
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Which factores should be reduced well bellow the industry's standard?
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Which factores should be raised well above the industry's standard?
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Which factores should be created that the industry has never offered?
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De certeza que a esta migração de valor em curso vai, está a criar, está a destruir, está a reconfigurar os diferentes grupos de clientes-alvo... que novas oportunidades estarão à espera de ser descobertas?
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Trecho retirado da entrevista de João Salgueiro ao Público de hoje.

Para rir ou para chorar?

"PSP ficou sem impressos para cobrar multas na hora" no DN de hoje.
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Este é um sintoma, este é um efeito.
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Quais as causas que estarão na base desta emanação?