sábado, setembro 16, 2017

Curiosidade do dia

Quem lê este blogue sabe o quanto há muito contesto as teorias do FMI sobre a relação entre custos unitários do trabalho e a competitividade. O FMI partilha a sua visão da competitividade com o bicicletas Pais Mamede.

Basta pesquisar nos marcadores deste postal.

No entanto, ao ler "Governo contesta teorias de competitividade do FMI" ocorre-me um reparo, o mesmo que aqui escrevi em Junho de 2011:
  • "Se me vendem a redução da TSU para tornar as empresas que exportam mais competitivas não engulo. Tirando o caso das commodities, associadas a grandes empresas, o preço não é o order-winner das nossas exportadoras. [Moi ici: Recordo o injustamente esquecido relatório que provava que quanto mais um sector era aberto ao exterior menos desemprego tinha]
...
  • Se me venderem a redução da TSU para facilitar a vida às empresas que vivem do mercado interno concordo, o grosso do emprego está aqui e estas empresas vão viver tempos terríveis, o aumento futuro do desemprego virá sobretudo daqui, e tudo o que for feito para lhes aliviar o nó na corda que vai asfixiando o pescoço das empresas será bem vindo.
  • Se me venderem a redução da TSU para capitalizar as empresas concordo."
O problema não é a competitividade, o problema é a sustentabilidade das empresas que vivem do mercado interno. Recordar o caso da Starbucks. Recordar a inconsistência estratégica.

Sorrio com ironia - go ahed morons

Há dias numa empresa, a propósito da cláusula da comunicação da ISO 9001, conversava sobre o que é uma boa comunicação interna.

Por vezes encontro empresas que tratam os seus trabalhadores humanos como seres racionais e ponto.  Ou seja, não basta enviar um e-mail a avisar que foi aprovada uma metodologia de tratamento de reclamações e que os envolvidos devem revê-la para estarem preparados para o seu uso.

Os humanos não são como a personagem Spock que tem a lógica como critério único de actuação. Os humanos são muito mais complexos. Por isso, também, não há dois humanos iguais.

Recordo a cena de dois adultos, de boa-fé, perante os mesmos factos poderem agir de forma distinta.

Os humanos valorizam, dão crédito a quem os compreende naquilo que é irracional, ou meta-lógico.

A maioria dos humanos são satisficers, como os nabateus, e não maximizadores. Os maximizadores tramam-se quando os sistemas não são lineares e têm uma zona côncava, os maximizadores são fragilistas por excelência.

Quando era miúdo pedi aos meus pais que comprassem um livro gigante e colorido chamado "A História do Homem nos Últimos 2 Milhões de Anos". O género Homo pode andar por cá há cerca de 2 milhões de anos, mas trazemos connosco material genético que evolui há vários milhares de milhões de anos.  Ao longo desses milhares de milhões de anos a evolução dotou-nos de uma série de  enviesamentos com o fito não de conhecermos a realidade como ela é mas o de sobrevivermos para deixar descendência.

Por tudo isto, ao ler "AI May Soon Replace Even the Most Elite Consultants" fico com um sorriso de ironia. É certo que há muitos campos em que a Inteligência Artificial vai ajudar a tomar decisões, a perceber o que se encontra por trás de paletas e resmas de dados. No entanto, julgo que é algo simplista acreditar que uma boa decisão só se baseia em análise quantitativa. A minha velha recordação da luta entre MacGiver e Sandy e esta outra mais recente:
"Há meses CEO disse a propósito de um procedimento para validação de investimentos na sua empresa:
- Se perguntar ao meu pai porque optou há 8 anos por investir uma pipa de massa numa máquina fora da caixa, quando o mercado estava em crise, e que agora dá-nos o pão nosso de cada dia, ele diria que  "teve um feeling"."
Ainda ontem li em "Strategy for a Networked World":
"Qualitative analysis is at least as important as quantitative analysis in understanding a value creating system design and/or how its design emerged" 
Como se tudo se resumisse à incapacidade do processador da informação, como se não houvesse genuína incerteza na realidade:
‘invites us to abandon the utopia of a single-natured universe . . . and to be clairvoyant about the structural difficulties we encounter when we critically open the possibility of a game entailing different natures’ 
Trecho encontrado em "Value Co-production: Intelectual Origins and Implications for Practice and Research" de Rafael Ramirez, publicado por Strategic Management Journal, 20: 49–65 (1999)

Parece que voltamos a Einstein, Schrödinger e Heisenberg e à discussão sobre a natureza determinista ou não do universo.

Se acredito no que citei aqui sobre a natureza do valor só posso acreditar na importância crescente da arte, da interacção, da humanidade à medida que Mongo se impõe. Por isso, sorrio com ironia pelos que confiam demasiado em algo analítico ... recomendo a leitura do Livro do Eclesiastes.
Apetece dizer:
Go ahead punk moron fragilistas make my day!

"make systems Tsunami proof"

Recordar ""-THERE WILL BE TURBULENCE!" por isso, safe-fail"

"Fragile systems collapse under stress. The opposite of fragile is robust – a system unaffected by stress. Robust systems do not improve. Antifragile systems gain from stress. Antifragile is a neologism coined by Taleb. Nature is antifragile. Hormesis, the long terms gains of the body from small stressors, is a recognized biological phenomenon which illustrates antifragility. The stresses in antifragile systems are like a live attenuated vaccine which protects the body from its more virulent counterpart.
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Black swan events can’t be predicted. But systems can be made less prone to outliers. According to Taleb, we should focus on pay-offs, not probabilities; exposure, not risk; mitigation, not prediction. Antifragile is Taleb’s peace offering – an epistemological middle ground where the unknowable compromises with our need to act. The fault lies not in our failure to predict Tsunamis, but in failing to make systems Tsunami proof."
Trechos retirados de "Why Doctors should read books by Nassim Taleb"

Acerca do valor

"consider value creation as synchronic and interactive, not linear and transitive. Customers in this alternative view create value, they do not destroy it. Value is not simply ‘added,’ but is mutually ‘created’ and ‘re-created’ among actors with different values. These multiple values are ‘reconciled’ or ‘combined’ in co-producing value and, as we shall see below, cannot be reduced to a single metric.
...
Empirical research shows that how an elicitor poses the problem affects the values which judgements appear to express. Values are thus contingent, more than subjective. They do not reside ‘in’ an individual, independent of his actual actions, nor ‘in’ a good, independent of the interactions to which it is subjected."
E pensar nos que querem automatizar contactos, que querem bots, que querem relações eficientes...

Trechos retirados de "Value Co-production: Intelectual Origins and Implications for Practice and Research" de Rafael Ramirez, publicado por Strategic Management Journal, 20: 49–65 (1999)

sexta-feira, setembro 15, 2017

Curiosidade do dia


Pormenores aqui.

Desenhar mercados, deliberadamente

"The new major aims to prepare students to think at the nexus of economics and computer science, so they can understand and design the kinds of systems that are coming to define modern life."
Pode ter uma variante interessante, muito para lá da tecnologia e das startups. Os promotores da concorrência imperfeita não descuram o estudo e teste de modelos de configuração dos mercados/ecossistemas porque acreditam que os mercados/ecossistemas não só podem surgir, sem design deliberado, como podem ser desenhados por actores com o poder de agirem como pivôs.

Trecho retirado de "Two sciences tie the knot"

Só as crises ...

"Your identity is very closely related to your dominant business model your company runs. The difficult part is to question yourself who you are and who do you want to be in the future due to the new technology. Your identity is very closely related to your current success as a dominant incumbent based on a dominant business model.
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If you are a successful bank, you will digitalize a bank and not think about how sexy payment services are and how you can create payment services where you do not need a bank anymore like Paypal, Apple Pay or Google Wallet do. Actually, it is pretty much the end of your career when you work in payment operation center of a traditional bank, even that payment is the service that keeps customers today with their banks.
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If you are a successful luxury car brand, you digitalize the current business model (eg. offering even more hardware options to individualize the cars as Daimler is doing it with its Smart Factory initiative) and not rethink really who you are, how technology will change the way what a car is and what will be a software function or what will be hardware and why customers really buy your cars and how this can change.
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It is not the technology that matters, but what you with technology to serve your customers better."
Quando as pessoas se questionam porque é que é difícil os insiders darem o salto para a subida na escala de valor, quando me perguntam porque é que escrevo que "curiosos nacionais entrassem", ou seja, outsiders, talvez os trechos acima ajudem a explicar. Só as crises empurram os insiders para este tipo de mudança.

Trechos retirados de "It’s the business model, stupid! A wake-up call for incumbents like Daimler"

Temos ainda muito trabalho por fazer

"As exportações de moldes ascenderam, em 2016, a 626 milhões de euros e foi a quinta vez consecutiva que bateu recorde, ultrapassando pela primeira vez na sua história a barreira dos 600 milhões. Face a 2010, o resultado representa um crescimento de 92%. Atualmente, Portugal é o terceiro maior produtor europeu e oitavo a nível mundial."

Há tempos, ao auditar um fabricante de moldes, tive um choque. Percebi algo que até então me passava ao lado. Para mim um molde era, basicamente, um bloco composto por peças metálicas. Agora, vejo um molde como algo bem diferente, uma espécie de relojoaria mecânica e digital ou mesmo de computador. A parte metálica está lá mas tem pouca margem e é feita cá em Portugal. A parte do fillet mignon, a parte com as margens generosas, é feita na Suíça e Alemanha. E os clientes, alemães e franceses, especificam que querem os sistemas de injecção do fornecedor A ou os componentes do fornecedor B.

Ou seja, temos ainda muito trabalho por fazer. Seria interessante que curiosos nacionais entrassem neste campeonato do valor acrescentado (sistemas de injecção e acessórios) para complementar o trabalhar do metal.

Trecho retirado de "A resistência da cerâmica à China e a globalização dos moldes"

quinta-feira, setembro 14, 2017

O que é um concorrente em Mongo?

Ainda em "Value Co-production: Intelectual Origins and Implications for Practice and Research" de Rafael Ramirez, publicado por Strategic Management Journal, 20: 49–65 (1999) sublinho:
"A value co-production view emphasizes that economic actors hold different roles in relation not only to different counterparts (one is one’s suppliers’ customer; one’s customers’ supplier), but also in relation to a single counterpart. For example, one economic actor ‘A’ may simultaneously be ( i ) a supplier to another economic actor ‘B’, (ii) as well as a customer of economic actor ‘B’, (iii) as well as a competitor of ‘B’, (iv) as well as a partner with ‘B’ to co- produce value with and for a third economic actor ‘C’, and (v) possibly a competitor with ‘B’s partners, if ‘A’s own alliance with others competes with ‘B’s."
Que relaciono com:
"Aunque las cervecerías artesanales sí compiten una contra la otra en estos distritos cerveceros, sus productos tienden a ser mucho más diferenciados de los de las cervecerías grandes, por lo que la competencia es menos directa.
...
Aproximadamente un 90% de los cerveceros artesanales profesionales empezaron como cerveceros caseros.
.
Según el estudio, el espíritu colaborativo y experimental de estos clubs de cerveceros caseros persisten en los distritos de cervecerías artesanales de hoy día."
Trechos retirados de Las cervecerías artesanales están transformando los vecindarios industriales de EEUU.

Como não recordar os temas:

Uma guerra tão antiga quanto a minha vida de consultor, tentar convencer os empresários a fugir desta paranóia que só leva a erosão do preço. Pensar mais na concorrência, esses malvados inimigos, do que nos clientes.

Por isso, a promoção da concorrência imperfeita e dos monopólios informais. Por isso, a crença de que a mentalidade de empresas como Uber, Facebook, Google e Amazon algures vai falhar. Esta mentalidade quer o monopólio da carteira, da atenção do cliente, o promotor da concorrência imperfeita e dos monopólios informais não acredita que faz tudo sozinho, sabe que há coisas em que decidiu não ser bom e, por isso, em certos contextos, em certos ambientes, em certos momentos da vida de um potencial cliente a sua oferta será adequada, noutros não. 

A explosão de diversidade em curso

Um dia e a quantidade de artigos que se encontram e que têm tudo a ver com a tendência para Mongo, para o Estranhistão, para a explosão de diversidade de tribos, para o triunfo das pequenas séries e da autenticidade sobre a eficiência.

Via "Strategy for a Networked World" de Ramirez & Mannervik cheguei a "Value Co-production: Intelectual Origins and Implications for Practice and Research" de Rafael Ramirez, publicado por Strategic Management Journal, 20: 49–65 (1999) de onde sublinho:
"A value co-production framework does not consider this outline to be entirely inapplicable, but it takes it to be applicable only in specific value creating conditions, inscribed in a wider topology of possible forms of value creation. A co-produced value creation framework is thus of a ‘higher logical type’ than the industrial one, and entails at least the following organizing characteristics:
  1. Scope economics are as important as scale economics, allowing smaller units to compete against big ones — e.g., in steel making.
  1. Short product life cycles and production runs becoming economically viable, enabling ‘micro-marketing’ and ‘tailor-made mass co- production’ to emerge.
  1. Enhanced asset liquidity and reconfigurability are making fixed or sunk costs increasingly risky: activity-based costing, customer- centered analytic accounting, and other battles to eliminate ‘average’ and ‘fixed’ costing per- spectives are signs of this.
  1. Co-production is inviting ‘hollow,’ holo- graphic, ‘virtual,’ ‘keiretsu’-like organizing. In many industries, these designs compete well with integrated industrial firms."

quarta-feira, setembro 13, 2017

Curiosidade do dia


Hoje vi este tweet e respondi que não foi travado, foi simplesmente atrasado até 2050.

Agora que cheguei a casa fui pesquisar a informação e confirma-se. De acordo com o Vienna Institute of Demography, que publicou em 2006 este estudo "New Times, Old Beliefs: Projecting
the Future Size of Religions in Austria" encontrei:
"If current fertility trends remain constant, Islam could represent the majority religion for those below 15 years of age in 2051."




Ainda acerca da produtividade

Ontem em "Será que...?" comentei um artigo de opinião sobre a produtividade e o facto de ela ter sido mais baixa em 2015 do que em 2008.

Outra linha de abordagem ao tema pode passar pelo que procuro formalizar neste postal.

O mundo industrial, o mundo em que os indicadores económicos que usamos actualmente foram forjados, era um mundo muito linear:
Ainda hoje temos um imposto com um nome que cristaliza o pensamento dessa época. IVA = imposto sobre o valor acrescentado. Naquela cadeia acima, cada interveniente acrescentava valor até que ao chegar ao cliente final ele era destruído por consumo.

Acontece que nos dias de hoje, cada vez mais e mais intensamente o valor é co-construído, é contextual, é subjectivo. E as interacções entre os actores deixaram de ser lineares. Por exemplo, quando o antigo "cliente final" vai à internet e avalia o hotel onde esteve ... como é que pode ser visto como o último elo de uma cadeia? Pode ser o influenciador que convence um outro potencial cliente a optar por esse mesmo hotel.

Num mundo em que vez de transacções as interacções são cada vez mais importantes, e interacções cada vez mais variadas e densas:
Talvez os indicadores desenhados para o mundo industrial não sejam capazes de medir a crescente parte de valor gerado nestas interacções que não apareciam no radar industrial.

Talvez a produtividade medida seja mais baixa não porque é mais baixa mas porque os algoritmos de cálculo estão obsoletos.

Ainda ontem, no âmbito de uma auditoria interna ao sistema da qualidade de uma empresa, dizia a um aditado para não se preocupar com os valores crescentes dos custos da não-qualidade que implementaram este ano. Recordei o velho livro de Campanella e da lição que aprendi e que confirmo uma e outra vez: nos primeiros anos de cálculo dos custos da qualidade eles aumentam sempre. Porquê? Por que o desempenho está pior? Não! Porque estamos a aperfeiçoar o algoritmo de cálculo e vão aparecendo item importantes que nos tinham escapado na iteração anterior.


Começar pelo fim, um grande truque

Para um adepto do "começar pelo fim":
"Motivation research has found that we tend to be the most driven and enthusiastic about a project when we begin it and when we’re about to complete it.
...
For relatively simple goals, there was no difference between forward planning and backward planning. If a goal is short-term or requires only a couple of steps, the two are likely no different. But for complex tasks (like planning out how to study for a comprehensive exam), students preparing backward anticipated the necessary steps more clearly and followed the original plan to reach the set goal. They had higher expectations for reaching their goals and felt less pressed for time during progress toward them.
...
Backwards planning may have helped the students forecast success rather than failure. If one starts at the end goal, the assumption is that efforts were successful to get there, while moving from the present to the future doesn’t necessarily assume success, and forces the goal setter to think through obstacles that might prevent it from happening. Research has shown that envisioning the steps necessary to complete a goal reduces anxiety, increases confidence, and lead to more effortful actions. Further, goal setters feel closer to the end goal in terms of time when they envision success rather than failure."
Trechos retirados de "Trying to Get Ahead? Plan in Reverse, Study Suggests"

A essência da estratégia

Estratégia é ter coragem de assumir que há coisas em que se será mau deliberadamente, e que há coisas em que se procurará ser muito bom.

Num mundo que requer cada vez mais concentração e foco, há cada vez menos espaço para bruce jenners medianos.

Quantas empresas são capazes de assumir este risco de se focarem em algo à custa de menosprezarem outras opções?
"“Ikea is so good at so many things. Why is it so bad at delivery?”
...
ultimately, it comes down to focus:
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Ikea refuses to expose itself to the idiosyncracies of its customers,” [Frances] Frei says. “There is no way they could do their own delivery with that signature Ikea crisp efficiency—there are too many variables. So they make you conform to them.” Ikea makes great stuff cheap—and that is the draw.
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As the authors put it, this is a case study in how a large retailer can succeed by failing. This is the essence of focus. Ikea focuses on cost and the a big part of it is also educating your customers that delivery is not the preferred option to purchase its products and that customer service is not something you should expect. Since this allows the firm to reduce its cost even further (potentially), it is the “definition” of focus: doing something poorly and using it to do something even better."
Como não recordar o clássico "What is strategy?" de Porter:
“The essence of strategy is choosing what not to do,” 

Trechos retirados de "Ikea: Why is it so bad at delivery?"


terça-feira, setembro 12, 2017

Curiosidade do dia

"Porém, se não vos receberem, sacudi o pó das vossas sandálias assim que sairdes daquela cidade, como testemunho contra aquela gente."
Lucas 9, 5

Será que...?

Quando comento o pensamento da tríade, daqueles que continuam encalhados no século XX, normalmente adopto um registo irónico. Por isso, por exemplo, costumo compará-los a uma espécie de Saruman no alto da sua torre isolado do resto do mundo.

Por exemplo, e peço desculpa por voltar a usar estes exemplos, quando Sérgio Figueiredo em 2005 decretava a morte do calçado português, ou quando André Macedo em 2008 fazia a missa do sétimo dia do têxtil português, ou quando Vítor Bento em 2013 tecia loas às vantagens competitivas do século XX, ou quando Pais Mamede em 2015 explicava o sucesso das exportações portuguesas, eu não podia deixar de ficar incrédulo, eu não podia deixar de me rir porque todos os dias via exemplos reais, exemplos anónimos, de quem estava a dar a volta por cima, com vantagens competitivas completamente ao arrepio do enquadramento do século XX.

Neste texto, "Os trabalhadores sabem mais mas a produtividade baixou. Porquê?", sinto que o autor, que julgo que continua encalhado no século XIX, e isso é oura estória, adopta um registo esquisito...

Acreditar que a produtividade cresce automaticamente só porque os trabalhadores têm mais escolaridade é tão básico... tão errado.

Falar da produtividade e do emprego em 2008 sem falar da insustentabilidade dessa mesma economia, sem referir o BES, sem referir as obras públicas, sem referir as limitações dos algoritmos de cálculo da produtividade, parece-me pouco.

Falar da produtividade acreditando em modelos lineares, sem admitir informação incompleta e sem admitir erros de percepção e decisão dos agentes económicos, parece-e pouco.

O autor termina sugerindo algo que é corriqueiro neste blogue:
"Para encontrar respostas para diagnosticar o que parece ser uma doença estrutural, a primeira coisa que devíamos estudar é tão óbvia que parece mentira ninguém o fazer: temos um problema de produtividade ou temos um problema de produção? Aquilo que cada empresa faz, aquilo em que cada trabalhador labora, as grandes apostas da economia real do país têm condições para gerar, realmente, a riqueza que precisamos de criar? Estou a achar que não..."
Há milhares de anos que neste blogue defendemos que há muito maior potencial de aumentar a produtividade actuando sobre o valor co-criado, sobre o que permite aumentar o preço unitário num mercado competitivo, do que actuando sobre o que permite reduzir os custos unitários.

Fico com a ideia de que o autor acredita que devia haver um Cybersyn que estipulasse o que cada empresa devia produzir, e até que as empresas menos produtivas deveriam ser expropriadas para serem geridas por iluminados cheiros de escolaridade académica.

Gostava que fosse possível criar uma Matrix que simulasse estes mundos socialistas crentes num Grande Geometria, num Grande Planeador, numa economia planificada.

Acredito que o aumento da produtividade é em primeira medida da responsabilidade de quem decide o que produzir para que mercados e a que preços. No entanto, também acredito que é um trabalho a fazer empresa a empresa, e creio que nenhuma empresa deve ser "obrigada" a seguir caminhos que os seus proprietários legítimos não querem seguir ou têm medo de seguir. Qual a alternativa?

Algo que o autor do texto considera blasfémia!

Deixar o mercado funcionar, deixar de proteger as empresas com regras e leis feitas à medida. Quem tiver unhas e for capaz de encontrar um nicho que o sustente tem direito à vida, os outros adeus.

BTW, será que o autor estaria de acordo com o encerramento do jornal onde escreve, um jornal que manifestamente não cria a riqueza capaz de o sustentar? Será que o autor estaria de acordo com eliminar os apoios à produção de leite que protegem os produtores com menor produtividade?



Prisioneiros da era industrial

Aqui uso as metáforas de Magnitogrado ou Metrópolis para ilustrar o paradigma de produção no século XX.

Já aqui escrevi que o século XX começou em Outubro de 1913, quando arrancou a linha de montagem da Ford. Foi com um sorriso irónico, a pensar nos encalhados da tríade que continuam prisioneiros do modelo mental do século XX, que li em "Strategy for a Networked World" de Ramirez & Mannervik:
"The so-called "end user" in this industrial era representation of how value is created and destroyed thus equalled that which in value chain terms was called the "final" customer. For producers, value was "realised" in the transaction, which simultaneously joined and separated them from customers. In this context, value was equated to the price that the customer paid
...
Consistent with this understanding of value, Hirschhorn (1984) specified that in industrial manufacturing, value creation was characterised by:
  1. economics of scale;
  2. large, physically and temporally concentrated production facilities;
  3. long production runs;
  4. mass markets;
  5. task specialisation; and
  6. standardisation."
Mete impressão como tanta gente na academia continua prisioneira deste modelo.
"Although much of manufacturing is still of this pattern, large parts of the economy and even important parts of industry have been increasingly moving away from it." 
Recordar os exemplos do calçado, do têxtil e do mobiliário portugueses, que ilustram como à revelia dos seis pontos acima as empresas deram a volta ao rolo compressor chinês.

"seizing enhanced value creating opportunities" (parte II)

Na Parte I aborda-se um afunilamento mental que prejudica as empresas porque as impede de visualizar oportunidades.
"Every business misses the future and gets disrupted by an outsider. This happens because the incumbents are stuck in their ways, doing the same thing over and over again and never zoom out to take a look at the macro view.
...
“You know who should have invented Airbnb? Marriott Hotels,” says Black, starting a strange metaphor. “But they didn’t, because they’re so far up their own ass in the micro of running hotels that they could never, ever see outside of where they are. So, change instead comes from some eggheads down in Silicon Valley.”
...
“Disruption never comes from within. Every disruption is caused from the outside because everybody on the inside buys into the bullshit.”"



Trechos retirados de "Disruption Never Comes From Within"

segunda-feira, setembro 11, 2017

"seizing enhanced value creating opportunities"

"This increasingly networked ubiquity has given rise to recognition of the apparently inexorable rise of systems, such as so-called "business ecosystems (BE)", in which strategists can design and realize systems of value creation.
...
The notion of industries, just as the notion of value chains, is becoming ever more outdated and hinders strategists from understanding their changing business landscapes and identifying threats and opportunities for realizing value potentials.
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The construct of "industries" does not allow the strategist to consider uncertainties in the broader contexts that can transform existing playing fields, or that give rise to new ones - such as "nutraceuticals". Focusing strategic attention on industrial sectors, ..., prevents considering or seizing enhanced value creating opportunities.
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Our research and experience suggests that redesigns of systems that help value to be created, rather than product - and industry - specific competition strategies (and optimization within existing product and technology categories) is called for if something substantial is to be done about opportunities and threats linked to the inefficiencies that we see in business and societies at large today."
Trechos retirados de "Strategy for a Networked World" de Ramirez & Mannervik.

Relacionar com:
"Making good choices is central to business and personal success. Integrative thinking is important because it provides a way out of our natural inclination to lose sight of the bigger picture by taking entrenched positions or to opt for shoddy compromises. Integrative thinking doesn’t choose one solution making a few trade-offs to placate the opposing view. Rather it looks for altogether new creative approaches."
Trecho retirado de "Integrative Thinking Revisited"

Começar pelos visionários

"There’s a lesson in all of this. When your idea is truly new and different, target the few, not the many.
...
The problem, as Steve Blank explains in The Four Steps to the Epiphany, is that most new products target large addressable markets. That may work with an incremental innovation, but for something truly new, you first need to identify “visionary customers” or people who want or need a product so badly that they don’t care if it’s not quite perfect.
...
While focusing on a just a few, visionary customers is not the ultimate goal, it will get your product into the hands of people who will pay you and help you refine it by exposing flaws that you’re not likely to be aware of at first. They will also be a great source of insight about which features you should develop next.
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That’s exactly what’s happening now with Google Glass. As the technology gets battle tested in real world work environments, the technology itself is being improved. The company is also building out an ecosystem of partners who are designing industry specific applications and building traction in the marketplace."[Moi ici: Interessante este ponto que, li ontem, ajuda a explicar o sucesso do facebook sobre o Myspace]

Recordar Geoffrey Moore

A locomotiva a vapor começou por substituir os animais nas minas, só depois transitou para outros campos.


Trechos retirados de "Build For The Few And Not The Many"