terça-feira, dezembro 09, 2008

Scorecard Capital Humano (parte I)

Pós-Graduação em Gestão Estratégica de Recursos Humanos da APG-GRN.
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Acetatos podem ser obtidos digitando os números que se seguem (sem esquecer a palavra-passe):
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1 Arranque - Capital Humano - Viajar para o futuro.
2 Não há acasos.
3 Por que é preciso uma estratégia para o negócio
4 A evolução do BSC
5 Quem são os clientes-alvo?
6 Desenhar um mapa da estratégia
7 Definir indicadores
8 Determinar as iniciativas estratégicas

Continua

SPC (parte V) - As quatro possibilidades de um processo

Continuação de: parte zero; parte I; parte II ; parte III e parte IV.
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Para acabar de vez com a colagem das especificações aos limites de controlo de uma carta de Shewhart esta reflexão de Donald Wheeler e David Chambers retirada do livro "Understanding Statistical Process Control).
Um processo no estado ideal é um processo sob controlo estatístico e que só produz produto conforme.
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Um processo no estado limiar é um processo sob controlo estatístico mas que, apesar disso, produz algum produto não-conforme. Confiar no controlo "fronteiriço" feito por guardas da qualidade é muito caro, pois o defeito já ocorreu. Há que procurar melhorar o processo, reduzindo a dispersão, ou mexendo na média, ou... mudando as especificações.
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No estado à beira do caos, apesar do sistema não estar sob controlo estatístico só produz produto conforme. Muito provavelmente vivemos tempo emprestado e dominado por circunstâncias que fogem do nosso domínio. A qualquer altura (and Murphy rules) e no momento menos esperado e menos próprio a deriva entrópica pode levar o processo para o estado caótico.
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No estado caótico nem se tem o processo sob controlo estatístico, nem se deixa de produzir produto não-conforme. As caprichosas causas assinaláveis dominam estes dois últimos estados.
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Para vencer a entropia, temos de melhorar os processos.

Deflação

"The further fall in UK producer prices in November provides more evidence that deflation is now becoming the greatest policy concern,"
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Retirado de "Producer prices tumble in November as inflation falls sharply"
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"Debt deflation is tightening its grip over the entire global system. Interest rates are creeping towards zero in Japan, America, and now across most of Europe"
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Retirado de "Deflation virus is moving the policy test beyond the 1930s extremes"

Sinais dos tempos

No JN de hoje "EUA: Norte-americanos utilizam transportes públicos como nunca"
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segunda-feira, dezembro 08, 2008

O que chega aos jornais

Juntem-se estas reflexões sobre o poder e o jornalismo:
E analisem-se alguns exemplos do que chega aos jornais: O meu baú de tesourinhos deprimentes (parte II) de onde retiro este pormenor (o artigo do jornal é de ir às lágrimas num primeiro momento e de preocupação num segundo... pois começamos lgo a imaginar quem terá dado a ordem de pagamento e quem terá encomendado tais pérolas de ignorância).
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"A acumulação de capital por parte dos sectores produtores de bens ou serviços não transaccionáveis, como a construção, as telecomunicações ou a energia, criou as condições que podem permitir a alavancagem de um novo modelo de desenvolvimento económico"
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"É também nestes sectores que existe maior acumulação de capital em termos absolutos. Destacam-se, em particular, cinco áreas - construção e imobiliário, banca e seguros, comércio, telecomunicações e ainda electricidade e gás - que representaram mais de 50 por cento dos lucros de toda a economia no período em análise e que se caracterizam pelo facto de as grandes empresas ocuparem lugares de destaque ou de crescente preponderância."
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Para rematar, o artigo de António Barreto no Público de ontem que roubei ao autor aqui e do qual saliento este pormaior:
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"Banca, energia, obras públicas e telecomunicações: parecem ser estes os territórios preferidos dos grandes partidos do regime. É possível que a maior parte dos homens de que se fala hoje não tenha cometido um só crime. É possível que não tenham tido, jamais, um comportamento ilícito. Mas tal se deve ao facto de as leis permitirem que se faça o que se faz. Até porque foram eles que as fizeram."
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Não há acasos... todas as coincidências são significativas.

Divagações religiosas

Associo estas notícias "Words associated with Christianity and British history taken out of children's dictionary" e "Traditional subjects go in schools shake-up" e esta opinião "Cardinal Cormac Murphy O'Connor: Britain is 'unfriendly' for religious people" à seguinte teoria da conspiração:
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Nos tempos de vacas não tão magras (por cá) e gordas (noutras paragens) o que querem os governos? Mais consumo, mais crescimento, mesmo que não haja poupança précia. Mais consumo significa mais impostos, mais empregos, mais crescimento, mais votos (saber se isso é sustentável não conta).
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Quando se dá o estouro da bolha consumista e chega o tempo das vacas anoréxicas o que querem os governos?
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Que o deboche de endividamento pessoal continue para reanimar a economia a todo o custo.
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O que é que todas as religiões propõem?
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Gn 41, 1-36. A interpretação do sonho do Faraó pelo hebreu José. Depois de anos de abundância sempre virão anos de escassez, convém poupar nos anos bons para precaver e suavizar os anos maus. Esta mensagem é subversiva para os governos actuais sejam eles de Brown, Sarkozy ou Sócrates.
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Mc 1, 3. Associo sempre a imagem do actor Charlton Heston com uma pele de camelo e uma vara na mão a gritar no deserto "Repent!" ("Esta é a voz daquele que grita no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas!" - chega-se ao deserto porque se agiu por caminhos tortos, se se quer sair do deserto... há que mudar de vida)
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Se eu tivesse 7 vidas e algum dinheiro, talvez dedicasse algum tempo a realizar um filme estilo "A Vida de Brian" em que num plano colocaria uma espécie de leilão de pregadores, de um lado um sósia de Charlton Heston, João Baptista, gritando "Repent!!!", do outro Brown/Sarkozy/Zapatero/Sócrates/... gritando "Spend!!!"
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Daí que seja sempre um bom investimento para os governos eliminar ou reduzir o poder do megafone destes emissores de ruído que turvam a cristalinidade da mensagem que interessa.

Nicolas G. Hayek

Slywotzky (é obra! num nome conseguir colocar um y, um w, um z, k e outro y e manter o nome pronunciável ) no seu "The Profit Zone" (este livro é um must, pode ter 11/12 anos mas continua actual... se quem enterrou literalmente milhões aqui tivesse lido o capítulo 5 e tivesse percebido a mensagem, veria como uma congénere americana deixou de ser product-centric para passar a ser customer-centric e deixou de ter concorrência) dedica o capítulo 6 a Nicolas G. Hayek, o nome por detrás do renascimento da indústria de relógios suiça nos anos 90 do século passado, apesar das marcas japonesas (Seiko, Timex, Casio, Citizen, ...). Este capítulo é um "case-study" que deveria ser obrigatório estudar nas universidades e sobretudo nas associações empresariais.
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"In a business where the brand is the basis for strategic control, protecting the brand can be the difference between success and failure. The brand impacts both the differentiation and value capture (through price premium) dimensions of a business design. Brand can be an extremely powerful way to make a product stand out against its competitors, but a powerful brand must be carefully cultivated and maintained."

Macro-economia versus micro-economia: once again

O que dizem os macro-economistas?
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"Krugman: US Auto Industry Will Probably Disappear"
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Aqui Krugman tem um poderoso aliado... o mercado bolsista. O mercado bolsista quer resultados e resultados rápidos, é impaciente quanto ao crescimento das vendas e da quota de mercado.
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Por cá, quando outros vaticinaram o mesmo para o calçado, por exemplo, os micro-economistas porque não estavam sujeitos à pressão dos accionistas para resultados rápidos, tiveram tempo para fazer das tripas coração, para queimar as pestanas e, como a filha da história, desenhar uma janela, construir uma alternativa.
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domingo, dezembro 07, 2008

Não podemos ser pessimistas (parte II)

You naugthy girl!!!
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Continuado daqui.
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A rapariga esticou-se, colocou a mão na bolsa e retirou um seixo. No entanto, antes de olhá-lo deixou-o cair no chão, onde logo se misturou no meio dos outros seixos da estrada.
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- Oh que desastrada que eu sou! Bom, mas não há problema, se espreitarmos para dentro da bolsa poderemos saber que cor tirei por exclusão de partes.
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Claro que o seixo que se encontrava dentro da bolsa era de cor preta. Assim, facilmente se concluía que ela tinha retirado e deixado cair “sem querer” o seixo de cor branca.
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O velho agiota para não revelar a sua falta de honestidade, aceitou. Assim, pai comerciante e filha livraram-se do agiota.
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Teresa veja o segundo comentário do aranha: "Migração de valor = uma face do espelho;
Novas necessidades e benefícios, logo novas oportunidades, logo novas estratégias = a outra face."
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Conhece esta frase atribuída a Friedrich von Hayek?
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" Never will a man penetrate deeper into error than when he is continuing on a road that has led him to great success."
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Quando o mundo muda é preciso perceber que ele mudou, porque aquilo que resultava no mundo anterior deixa de resultar no mundo novo, e quem não percebe isso, quem não sabe que a mudança aconteceu, quem tenta esconder que a mudança aconteceu, ou quais são as consequências da mudança, vai gerar sarilhos, vai fazer grades estragos.
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“Despite increasingly fierce landscapes, most managers assume that cost-cutting and other forms of improving efficiency will help them to counter direct competitiveness challenges. Thus, their first reaction to discontinuous competition is to “work harder”, when what they need to do is “work differently”.
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Work harder e efficiency pressupõem que o que resultava no passado vai continuar a resultar no futuro. (esta citação foi retirada de “Escaping the Red Queen Effect in Competitive Strategy – How managers Can Change Industry Rules by Sense-Testing their Business Models”, da autoria de Sven Voelpel, Marius Leibold, Eden Tekie e George von Krogh. Neste postal pode ver-se um pequeno filme japonês que retrata o Red Queen Effect).
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Voltemos então ao princípio:
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"Penso, no entanto, que nao podemos ser péssimistas e temos de encarar estes factos, mas olhando sempre para a frente."
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200% de acordo. Não podemos ser pessimistas. Não podemos desistir, não podemos voltar a viver em cavernas e segundo a lei do mais forte (poder podemos, como nos lembrava Popper: Hoje vivemos melhor que há 100 anos, mas não há nenhuma lei inexorável que assegure que os humanos daqui a 100 anos viverão melhor que os de hoje. Já agora, os netos da geração mimada do pós-guerra que fez o Maio de 68 vivem e vão viver muito pior porque têm de suportar as benesses dos avós, benesses que eles nunca terão).
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Não ser pessimista é uma questão de postura mental!
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"temos de encarar estes factos". Esta é a chave da questão, não sermos enganados nem nos enganar-mos a nós próprios. Há que recolher e analisar os factos, ainda que eles nos doam, ainda que eles sejam feios (daí estas notas que arquivei nestes comentários, por exemplo).
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Não podemos é esconder os factos ou pintá-los com tons cor-de-rosa como fez este senhor (atenção o senhor Roubini não é nenhum ignorante, só o escrevi para reforçar a ironia sobre as palavras do ex-futuro chanceler, já que não o quis para aí).
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"temos de encarar estes factos, mas olhando sempre para a frente."
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Objectivamente de pouco serve saber e encarar os factos se for para aguardarmos passivamente o que se vai tornar inevitável.
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Não, queremos saber a verdade (ai Popper, Popper... saber a verdade), queremos conhecer os factos para agir, para actuar. Não para fazer mais do mesmo, não para repetir o que resultou no passado.
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Mas para, como fez a filha da estória, queimarmos as pestanas a pensar em alternativas. Sempre que se fecha uma porta, algures há a possibilidade de se abrir uma janela. Só que essa janela está dissimulada, ou está em fase de projecto, ou está esquecida... há que a procurar, há que a desenhar, há que a construir. Isso só se faz estando ciente dos factos.
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Quando se escondem os factos, quando se iludem os factos, quando se torcem os factos argumentam que é para não gerar o pânico, que é para dar esperança às pessoas, que é para ...
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TRETA!!!
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Prefiro encarar o touro bem de frente, olhos nos olhos, custe o que custar, com as minhas ilusões deliberadamente criadas por mim e com o meu conhecimento - a esperança que resulta de conhecer a realidade e de ter desenhado um plano para fazer coisas diferentes.
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Ando a ler um livro que já aqui mencionei várias vezes. No último capítulo que li o autor conta a história do aparecimento da Swatch e do ressurgimento da indústria de relógios suiços. Não foi a continuar a fazer o que faziam no passado pois a Timex (lembra-se? O meu primeiro relógio aos 10 anos era desta marca), a Casio, a Citizen e a Seiko não deixavam... a Omega esteve para ser vendida aos japoneses por 400 milhões de francos suiços.
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Os relógios suiços acabaram? As marcas caras de relógios suiços acabaram? Não há relógios suiços baratos à venda no mercado?
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Não podemos ser pessimistas, nem podemos ser quadrados que esperam que aquilo que resultou no passado continue a resultar no futuro... para isso precisamos de ser honestos. Com os outros e sobretudo connosco próprios.

sábado, dezembro 06, 2008

Não podemos ser pessimistas (parte I)

A minha amiga Teresa, em comentário a este postal escreveu:
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"Penso, no entanto, que nao podemos ser péssimistas e temos de encarar estes factos, mas olhando sempre para a frente."
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Este trecho fez-me recordar uma estória que ainda ontem (ou hoje?) usei durante uma acção de formação.
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Quando eu frequentava o 10º ano de escolaridade (no tempo em que ainda havia dinossauros na Terra), apesar de ser um aluno dedicado e mergulhado na área científica, escolhi a disciplina de Psicologia, em detrimento de Zoologia e Geologia, como disciplina opcional.
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E foi no livro de Psicologia dessa disciplina que encontrei esta fabulosa estória sobre o pessimismo e sobre as opções fechadas, sobre a ausência de saídas, sobre o bloqueio, sobre a capitulação e a desistência.
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Era uma vez um comerciante que viu o seu negócio passar por graves problemas pelo que ficou a dever uma enorme soma de dinheiro a um velho mesquinho e desprezível agiota. O agiota ao ver o tempo passar e os juros a crescerem sem que o comerciante tivesse a possibilidade de lhe pagar a dívida propôs, com indisfarçável água na boca, o seguinte acordo:
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A dívida fica saldada se me deres a tua jovem e bela filha em casamento.
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Tanto o comerciante quanto sua filha ficaram horrorizados.
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Então o agiota, para amenizar a situação e vencer a resistência de pai e filha, propôs que a sorte resolvesse o problema.
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Assim, o agiota propôs que se colocassem dentro de uma bolsa vazia dois seixos da estrada, um branco e um preto. Se a filha retirasse o seixo branco a dívida seria saldada e continuaria a viver com o pai. No entanto, se retirasse o seixo preto… a dívida seria cancelada e a moça teria de casar com o agiota.
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Se a filha se recusasse a retirar um dos seixos do saco o agiota chamaria a polícia e o pai iria para a cadeia.
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O pai e a filha tiveram de concordar com a proposta do agiota.
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Então, o agiota inclinou-se para a estrada cheia de seixos, e sorrateiramente apanhou do chão dois seixos pretos e meteu-os no saco.

Isto foi casualmente observado pela filha do comerciante.
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O agiota, então, pediu à moça que retirasse um seixo do saco. Um seixo que ditaria não só sua sorte como a do seu pai.

A mente da moça era um turbilhão de ideias… o que fazer? O que fazer? O que fazer?
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Recusar-se a retirar um seixo e ver o seu querido pai ser preso?
Expor o agiota como um impostor, um intrujão sem escrúpulos? E ver o pai ser preso…
Sacrificar-se para salvar o pai da cadeia.
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O que fazer? O que fazer? Qual a saída? Não há saída!!!!

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Continua.

O nosso Momento Zen

Esta fim-de-semana ainda não tive oportunidade de comprar o semanário Expresso e por isso não sei como será esta semana.
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Pero todavia, na revista Única, que acompanha o jornal, do passado dia 29 de Novembro de 2008, nas páginas 4 e 5 encontramos um anúncio do...








Banco Privado Português!!!!!!!!!!!!!!!!
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Na coluna da esquerda podemos encontrar umas interessantes notas, por exemplo:
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Nota 3: "O Banco Privado Português não recebeu nenhuma herança mas mesmo assim é um dos Bancos mais capitalizados do mundo no seu segmento, com capitais próprios de cerca de 200 milhões de euros."
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Nota 4: "Já o Banco Privado Português não é dado a fantasias. Prova disso é a Estratégia de Retorno Absoluto que garante aos seus clientes não só valorizações reais e potenciais competitivas, como a conservação do capital investido."
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Comentários para quê?!?!

Cuidado com a segunda rodada...

Segredou-me a minha amiga Teresa lá da longínqua e gélida Dusseldorfia:
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“Vou ser sincera, meu caro ccz., ainda nao notei nada desta crise de que tanto se fala, nos jornais, na TV etc...”
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Olhemos então para a figura que se segue: Teresa vá, por favor, para o ponto 1.
Trabalha para o Estado alemão? Sim ou não.
Se sim, pergunte: "De onde vem o dinheiro com que o Estado alemão paga os salários dos funcionários públicos e as pensões e subsídios?"
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Mesmo que trabalhe para o Estado, peça a conhecidos ou familiares que trabalham na economia privada que lhe contem o que se está a passar em todo o mundo.
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Perante a incerteza quanto ao futuro, as pessoas, que têm receio de perder o seu emprego, reduzem o seu consumo familiar, a começar pela compra de bens duradouros (carros, casas,...). Esse receio não é infundado, basta pensar nisto:
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"No mês de Novembro, registou-se a maior destruição de emprego desde 1974. A maior economia do mundo perdeu 533.000 postos de trabalho no sector secundário e terciário."
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"Key Plastics Portugal despede 220 trabalhadores"
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"Têxtil fecha e deixa 44 no desemprego"
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"Fábrica da PSA Citroën em Mangualde suspende produção em Dezembro "
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Só coloquei notícias de ontem, só de ontem.
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Se não há consumo, as empresas perdem facturação e podem fechar ou ter de despedir pessoal.
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Se fecham ou despedem pessoal, aumentam os desempregados e os gastos sociais.
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Se fecham ou baixam a facturação, baixa a cobrança de impostos.
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Com as receitas a diminuir e as despesas a aumentar... lá se vai o orçamento do Estado alemão.
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Quem é pago directamente pelo Estado alemão numa primeira fase não nota nada, e se não houver uma catástrofe talvez não chegue a sentir nada.
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Mas imagine se isto se prolonga:
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"Em Novembro, a Ford vendeu 123.222 veículos, o que representa menos 30,6% do que em igual período do ano passado. A GM, a maior fabricante do país, perdeu 41% em vendas. A Chrysler foi a mais penalizada das três marcas com uma redução de 47% no mesmo período em análise. As gigantes asiáticas Toyota e Honda também venderam menos 34 e 32%, respectivamente."
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Agora imagine que há um colapso da economia, que as pessoas deixam de comprar com medo e com falta de dinheiro, porque enquanto falamos milhares de pessoas em todo o mundo estão a ficar desempregadas...
Nesse cenário... de onde virá o dinheiro para manter operacional o Estado alemão?
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OK, o Estado alemão pode pedir dinheiro emprestado!
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Até quanto, a quem?

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Estratégia

Já aqui escrevemos sobre o que é estratégia e o que é ser coerente estrategicamente, por isso é que se fala em alinhamento, em sintonia estratégica e em cinismo organizacional quando tal não se verifica.
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Apoios às empresas? Salvar o emprego?
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Talk, just talk ... where is your agenda, what is really important?
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"Governo antecipa 3º pagamento por conta de IRC de 2008
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As empresas vão ter que efectuar até ao próximo dia 15 de Dezembro o 3º pagamento por conta de IRC. Tal resulta da alteração que foi hoje introduzida pela Lei nº 64/2008 (Medidas fiscais anticíclicas) ao artigo 96º do Código do IRC, sendo que, de acordo com o artigo 5º desta lei, esta alteração retroage os seus efeitos a 1 de Janeiro de 2008.
Esta alteração é uma má notícia para as empresas, porquanto vai fazer coincidir a realização deste 3º pagamento por conta com o pagamento do subsídio de Natal, sendo que esta antecipação não estava prevista na proposta de lei que o Governo havia apresentado à Assembleia da República."
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No Boletim do (saxão impostado) Contribuinte.

Teresa, não precisam aí de um novo chanceler?

No Público de hoje "O Produto Interno Bruto (PIB) alemão poderá contrair-se quatro por cento no próximo ano, alerta Norbert Walter, economista-chefe do maior banco do país, o Deutsche Bank, numa entrevista hoje ao jornal "Bild", citada pela agência France Presse."
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Previsão da evolução do PIB português, feita pelo governo de Portugal, na proposta de orçamento para 2009: + 0.6%
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Assim, cara Teresa tenha inveja, roa-se de inveja.
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Ou pensando melhor, não precisam aí de um novo chanceler?
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Para o Reino Unido circulam estes números "we currently forecast UK GDP to contract by 1.6% in 2009".
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"O principal objectivo em 2009 vai ser salvar empregos"

O título deste postal ouvi-o da boca do primeiro-ministro no noticiário radiofónico da TSF às 7h30.
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Porque se desencadeou uma crise como a que vivemos?
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Acredito que em grande parte por causa de ausência de poupança, algo que gerou um excesso de consumo suportado em crédito.
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Agora, e se as pessoas finalmente derem ouvidos ás proclamações dos ecologistas? E reduzirem o seu nível de consumo no futuro?
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E se as pessoas finalmente derem ouvidos a quem defendia que estávamos todos sobre-endividados? E reduzirem o seu nível de consumo no futuro?
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E se as pessoas e os governos após tratamento psiquiátrico aderirem aos grupos de Sobre-endividados Anónimos e optarem pela via da frugalidade, a via espartana?
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Assistiremos a uma redução drástica do consumo.
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Assim, quem nos garante que quando a economia começar a recuperar não se descobre que muitas empresas estão sobredimensionadas? Que têm excesso de capacidade instalada?
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Se assim for, há que adequar a capacidade ao mercado ou procurar novos clientes, talvez em sectores distintos, para ocupar a capacidade em excesso.
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Se as empresas estiverem ligadas a uma máquina de soro, se tiverem a mão-do-governo por baixo, o que é que as acicatará a procurarem e a lutarem pela sua re-estruturação?
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Se as empresas não tiverem a mão-do-governo por baixo o que é que lhes acontece?
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Ou se re-estruturam ou... fecham
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Com a economia mundial em recuperação, deixa-se de dar o soro... como as empresas estão sobredimensionadas, têm de despedir... lá se vai outra vez a confiança e o resto...
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No artigo do DN ""Vamos lutar para manter postos de trabalho"", assinado por Leonor Matias e Tiago Melo pode ler-se:
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"Em sua opinião, como pode resolver-se o problema?
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Só existe uma forma: olharmos para a estrutura que temos, reduzir o seu impacto, compactá-las, tirar todas as gorduras que houver e criar valor naquilo que estamos a fazer.
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O Grupo Luís Simões tem gorduras para tirar?
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Todas as organizações têm.
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Onde podem tirar-se essas gorduras de que falou?
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Em tudo o que estivermos a contratar. Temos contratado muitos camiões na Península Ibérica, podemos contratar ainda menos. Depois há que optimizar todos os processos, um por um. Nós somos gestores, estamos aqui para gerir uma empresa que tem responsabilidade social, temos mais de 1600 pessoas a trabalhar connosco, cumpre-nos encontrar soluções. Uma coisa é a redução da actividade, outra é reduzirmos a actividade. Podemos procurar novos clientes, novos mercados e estamos a trabalhar nesse sentido. O novo centro logístico, inaugurado há semanas, é a prova disso. É nossa obrigação fazer com que não tenhamos de reduzir. Vamos tentar não regredir e lutar para ter margens positivas, nem que sejam imateriais. Vamos lutar para manter postos de trabalho.
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Está em causa a manutenção de postos de trabalho?
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A única coisa que posso dizer é que existe uma determinação em manter postos de trabalho e, mesmo que em algum segmento possa haver alguma redução, há claramente a intenção de aumentar postos de trabalho, mas também vai haver sítios onde vamos a proceder a ajustamentos. Mas não quer dizer que reduzamos emprego."
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Sem o risco de queda quem é que vai queimar pestanas enquanto a mão do governo estiver por baixo?

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Quem tem a mão por baixo como é que vai ter acicate para procurar e criar o futuro?

SPC (parte IV) - Tamanho das amostras e erro tipo I e tipo II

Continuação de: parte zero; parte I; parte II e parte III
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Consideremos uma amostra de tamanho 5 retirada de um processo produtivo.
A partir dessa amostra calcula-se a média e o desvio padrão.Se recolhermos amostras de tamanho 5 ao longo do tempo como é que se vai comportar a média e o desvio padrão?
Será que se mantêm constantes? Ou será que vão andar à deriva?Ao usarmos uma carta de controlo estamos na realidade a aplicar constantemente um teste de hipóteses:
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H0: O processo está a operar num estado de controlo estatístico (manutenção da média e do desvio padrão)
H1: O processo não está a operar num estado de controlo estatístico
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Se um ponto registado na carta de controlo não denotar nenhuma das situações que indicam a presença de causas especiais ou assinaláveis no processo, então, poderemos dizer que o processo está a operar num estado de controlo estatístico.
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No mundo real o estado do processo é desconhecido, não se sabe se H0 é verdadeira ou falsa. Se se tiver de tomar a decisão de aceitar ou não H0, na presença de incerteza, temos de aceitar correr riscos, tanto maior quanto maior a largura entre os limites de controlo.
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Consideremos um processo de produção que produz vários milhões de peças, com um tempo de vida médio miú= 1200 h e um desvio padrão sigma = 300 h.
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Para aplicar o teste de hipóteses na avaliação de um novo processo, para saber se é melhor ou pior que o existente, actuaremos da seguinte forma:
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1. A hipótese nula é formalizada (H0: miú= 1200). Ao mesmo tempo, indicamos o tamanho da amostra (por exemplo n=100), e o erro alfa admitido (5%, ou seja em cada 100 vezes que o teste seja efectuado aceitamos correr o risco de em 5 vezes rejeitar a hipótese nula quando na realidade ela é verdadeira).
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2. Assumimos, temporariamente, que a hipótese nula é verdadeira. E colocamos a questão: o que poderemos esperar de uma média amostral retirada deste universo?A área sombreada da curva normal representa a gama de valores para a média em que a hipótese nula é rejeitada.
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3. Recolhendo a amostra, calcula-se a média. Se a média observada Xmed cai dentro da área de rejeição, considera-se que existe um conflito suficientemente grande entre a realidade e a hipótese nula, de forma que se rejeita a hipótese nula. Caso a média não caia dentro da área de rejeição a hipótese nula não pode ser rejeitada.
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O valor crítico Xmed crítico = 1249 para este teste foi calculado a partir da área alfa sombreado de uma curva normal para o valor a=5%
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Uma outra forma de “ajuizar” a ocorrência de uma média superior a 1249 é:
H0 é verdadeira, mas tivemos um tal azar que recolhemos uma amostra muito pouco provável. Ou:
H0 não é verdadeira, daí não ser surpresa o valor alto obtido para a média.
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No processo de decisão, perante as duas opções (aceitar ou não H0) corremos o risco de cometer dois tipos diferentes de erros.
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O primeiro apresenta-se na figura:Esta figura mostra-nos o mundo na condição de H0 ser verdadeira. Nesta hipótese, existe um risco de 5% de observarmos Xmed na região sombreada, nesse caso erradamente rejeitaremos a hipótese verdadeira H0. Rejeitar H0 quando é verdadeira corresponde ao chamado erro tipo I, com a sua probabilidade de ocorrência igual a alfa.
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Mas suponhamos que a hipótese nula H0 é falsa – isto é, que a hipótese alternativa H1 é verdadeira – e, para concretizar, suponhamos que miú= 1240. Nesse caso estaremos a viver num mundo diferente. Agora Xmed distribui-se em torno de miú= 1240 como se mostra na figura:A decisão correcta, neste caso, seria rejeitar a falsa hipótese nula H0.
Cometeríamos um erro se Xmed caísse na zona de aceitação da hipótese nula H0. A aceitação de H0 quando na realidade H0 é falsa é chamada de erro tipo II. A sua probabilidade de ocorrência é beta e corresponde À área a sombreado da figura anterior.
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No mundo real o estado do mundo é desconhecido, não se sabe se H0 é verdadeira ou falsa. Se se tiver de tomar a decisão de aceitar ou não H0, na presença da incerteza, temos de aceitar correr riscos de um tipo ou de outro.
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Na figura:Ilustra-se mais uma vez as probabilidades de cada um dos tipos de erro, alfa se H0 é verdadeira, e beta se H0 é falsa.
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Na figura: Ilustra-se como a redução de alfa (movendo o ponto crítico para a direita, por exemplo para 1270) aumentará ao mesmo tempo beta. Ou seja, a mexida em alfa afectará beta automaticamente em sentido contrário.Teremos sempre de optar por um compromisso entre alfa e beta.
A única forma de reduzir um erro sem aumentar o outro passa por aumentar o tamanho da amostra.
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Por exemplo:A figura mostra como, aumentando o tamanho da amostra, a diminuição do desvio padrão (dividido por raiz de n), torna a distribuição mais precisa, possibilitando que beta se reduza sem aumentar alfa.
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Por isso, devemos procurar trabalhar sempre com tamanhos de amostra superiores.

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Quem com ferros ferros, com ferros ferros!

"Associação do Têxtil e Vestuário pede medidas semelhantes às do sector automóvel"
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É a caixa de Pandora que se abre...
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Portugal pode vir a tornar-se um paraíso na Terra, à semelhança da União Soviética, toda a estrutura produtiva suportada pelo estado. Todo o empresário, todo o trabalhador com uma remuneração garantida pelo orçamento de estado.
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Convém é lembrar que depois da queda do futuro novo paraíso na Terra, não teremos nem petróleo nem gás natural para nos ajudar a pagar as dívidas.

Exemplo de balanced scorecard (parte X)

Continuado daqui: parte zero; parte I; parte II; parte III; parte IV; parte V; parte VI; parte VII; parte VIII e parte IX.
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Escrevemos até agora uma série de postais sobre o uso do balanced scorecard (BSC) em empresas que coincidem com uma unidade de negócio.
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E que tal usar o BSC para apoiar a gestão de um departamento? Por exemplo, a gestão de pessoas, a gestão dos aprovisionamentos ou a gestão financeira.
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Consideremos o caso de um BSC aplicado à gestão dos aprovisionamentos de uma empresa.
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Os gestores de aprovisionamentos têm de perceber a estratégia da organização; ou seja, o seu plano para desenvolver e manter uma vantagem competitiva no mercado. Depois, têm de descobrir as implicações dessa estratégia para os aprovisionamentos.
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Se o foco da estratégia da organização é o de criar uma vantagem competitiva sustentável, o foco da estratégia da Gestão dos Aprovisionamentos é igualmente claro e directo. Maximizar a contribuição dos Aprovisionamentos para esse mesmo propósito, criando assim valor para os accionistas.
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Da estratégia da organização retira-se a proposta de valor.
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À luz da proposta de valor qual é a missão dos Aprovisionamentos?
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Os Aprovisionamentos não vendem, não facturam, não existem para ganhar dinheiro. Os Aprovisionamentos existem para servir, para suportar, para apoiar, para contribuir para a execução estratégica, para a disciplina interna que produz a proposta de valor.
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Assim, no topo de um BSC do Departamento de Aprovisionamentos devemos colocar a missão do departamento.
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Se a missão for cumprida, quais são as principais partes interessadas?
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Se a missão for cumprida, essas partes interessadas hão-de ficar satisfeitas. Porquê?
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As partes interessadas não ficam satisfeitas por acaso, hão-de ficar satisfeitas porque verão cumpridos uma série de atributos. Quais?
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Que desafios, que objectivos, devem ser perseguidos pelo departamento de Aprovisionamentos, para que sejam produzidos de forma natural os atributos que fazem com que as partes interessadas fiquem satisfeitas?
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Que investimentos em competências, equipamentos e/ou sistemas de informação devem ser feitos para que os objectivos estratégicos internos do departamento sejam atingidos?
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Que cultura desenvolver no departamento para que as pessoas estejam alinhadas e sintonizadas com a produção da proposta de valor?
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Que orçamento tem o departamento de Aprovisionamentos à sua disposição? Como avaliar a boa gestão desse dinheiro na criação, desenvolvimento e manutenção de um departamento capaz de cumprir a sua missão.
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Falta agora colocar estes objectivos ao longo de uma relação de causa-efeito que ligue desempenho financeiro, investimentos em recursos e infra-estruturas, objectivos internos, partes interessdas e missão.
Consideremos um exemplo simplificado para um Departamento de Manutenção de uma empresa industrial que tem uma proposta de valor assente no preço.
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Primeiro a missão e as partes interessadas (clientes internos e accionistas) e o que querem acima de tudo:
A satisfação das partes interessadas, tradução de um desempenho claro face a metas claras (é muito mais linear do que trabalhar para o mercado) é conseguida à custa de objectivos internos perseguidos pelo departamento.
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Estes objectivos não são actividades, são resultados concretos, são mesmo desafios.
Onde é que o departamento vai investir para poder 'sonhar' com os níveis de desempenho futuro desejados?
A partir dos níveis de desempenho futuro desejados e a partir dos investimentos estratégicos que se pretendem fazer chega-se ao orçamento. Aqui o objectivo é ser eficiente, cumprir o orçamento sem derrapagens. O orçamento não é o ponto de partida, é o ponto de chegada coerente com o desempenho anterior e com as alterações e tácticas que nos propomos desenvolver para chegar ao desempenho futuro desejado.Daqui saem os indicadores e daqui saem as iniciativas estratégicas, não adianta fechar os olhos, fazer figas e esperar que a energia positiva resolva tudo.
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Só pelos investimentos, dá para perceber que o departamento quer melhorar a manutenção preventiva, quer agilizar a manutenção curativa, quer melhorar o planeamento e a gestão das paragens programadas, quer introduzir a manutenção condicionada e aumentar as competências dos colaboradores. Só conversa... para que não seja treta: planos de acção. Quem faz o quê e até quando com acompanhamento periódico

ADENDA
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Ver também:

Só boas notícias... ou o reino da ironia

No seguimento das palavras de ontem mais uma onda de boas notícias, segundo a perspectiva do primeiro-ministro, para as famílias portuguesas.
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A China resolveu artificialmente baixar o valor da sua moeda e:
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"Hans Redeker, currency head at BNP Paribas, said China's policy switch could set off a dangerous chain of events. "If they play this beggar-thy-neighbour game, it will cause a deflationary shock for the whole world," he said. "
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(Perigosa cadeia de eventos? O primeiro-ministro deve saber algo que este senhor Redeker desconhece. Então um choque deflacionário não é bom para as famílias portuguesas? Deflação é o contrário de inflação não é? Se a inflação come poder de compra... deflação significa aumento do poder de compra, logo deflação é bom. Não tentem negar à partida uma ciência que desconhecem... já o dizia Alcina Ramelas)
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"It makes sense for countries with current account deficits such as the UK, US or Turkey to let their currencies fall, but China has the world's biggest trade surplus. "
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A propósito, conjugar a leitura deste artigo de Evans Pritchard "1930s beggar-thy-neighbour fears as China devalues" com o artigo de Martin Wolf "Global imbalances threaten the survival of liberal trade".
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Nouriel Roubini, esse ignorante, no Financial Times no artigo "How to avoid the horrors of ‘stag-deflation’" escreve:
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"A severe global recession will lead to deflationary pressures. Falling demand will lead to lower inflation as companies cut prices to reduce excess inventory. Slack in labour markets from rising unemployment will control labour costs and wage growth. Further slack in commodity markets as prices fall will lead to sharply lower inflation. Thus inflation in advanced economies will fall towards the 1 per cent level that leads to concerns about deflation."
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"Deflation is dangerous as it leads to a liquidity trap, a deflation trap and a debt deflation trap: nominal policy rates cannot fall below zero and thus monetary policy becomes ineffective."
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"Also, in deflation the fall in prices means the real cost of capital is high – despite policy rates close to zero – leading to further falls in consumption and investment. This fall in demand and prices leads to a vicious circle: incomes and jobs are cut, leading to further falls in demand and prices (a deflation trap); and the real value of nominal debts rises (a debt deflation trap) making debtors’ problems more severe and leading to a rising risk of corporate and household defaults that will exacerbate credit losses of financial institutions."
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"The worst is not behind us: 2009 will be a painful year of a global recession, deflation and bankruptcies."
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Este último parágrafo é perigoso e devia ter sido censurado... assim os consumidores ficam com receio e retraem-se... há que saber gerir as expectativas... tstststs
Não se deixem levar por tarólogas e quiromantes, basta consultar o marcador deflação abaixo.

Algumas contas

Podemos pensar no efeito conjuntural: "Portugueses vão comprar menos 8 mil carros este ano"
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E que efeitos estruturais podemos identificar?
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Se pensarmos num português-tipo (e num europeu-tipo): quantos carros compra um português (europeu) até aos 50 anos?
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E quantos carros compra um português-tipo (europeu-tipo) após os 50 anos?
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Qual tem sido a evolução média da idade do português-tipo (europeu-tipo)?

Portugal tem de aumentar as suas exportações

O gráfico da direita (roubado ao Financial Times) ilustra bem a dimensão da nossa situação na sequência das palavras de Daniel Bessa "Portugal tem de aumentar as suas exportações" num artigo de João Fonseca e Carlos Jorge Monteiro no DN de hoje.
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O único reparo que faço é nesta afirmação:
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"Portugal precisa de investir mas é "em coisas que façam aumentar as exportações" e que, portanto, reduzam o défice da balança de transacções correntes, que atinge qualquer coisa como dois milhões de euros por hora, equivalentes a cerca de 17 mil milhões/ano. E sem isso, o nosso país não resolverá "o ponto mais crítico" da sua economia, adverte Daniel Bessa."
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Portugal não investe, os países não exportam. São as empresas isoladas, grandes e sobretudo as pequenas (à atenção do ministro Pinho) que decidem e actuam.
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Já agora... o betão e as auto-estradas também não se exportam.

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Para grandes males... grandes remédios

É sempre uma possibilidade... talvez para casos extremos.

Outra vez a gestão das expectativas

Se uma tempestade estivesse a aproximar-se de uma comunidade, será que aprovaríamos a actuação de uma Protecção Civil que decidisse assobiar para o lado e não informasse os cidadãos sobre o fenómeno about to happen e sobre como se deveriam preparar e como poderiam minimizar os danos e perdas de bens?
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"O primeiro-ministro, José Sócrates, considerou hoje que as famílias portuguesas vão ter melhor rendimento disponível em 2009, devido às baixas conjugadas da taxa de juro, do preço dos combustíveis e da inflação."
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Para quem é este discurso? Para as famílias portuguesas que vivem de salários ou pensões pagas pelo estado?
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Será que faz sentido este discurso para as outras famílias?
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Por que é que as taxas de juro estão a baixar?
Por que é que o preço dos combustíveis está a baixar?
Por que é que a inflação está a baixar?
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E de onde vem o dinheiro que o estado usa para pagar os salários e pensões? Será que faz sentido este discurso para todas as famílias?
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Este é o tempo em que os governos rezam para que a inflação suba.
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Trecho retirado do artigo ""Famílias portuguesas podem esperar ter melhor rendimento disponível em 2009"" publicado o sítio do Jornal de Negócios.
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Este discurso na TSF não devia ser mais comedido? Menos triunfal? Isto vai acontecer pelas piores razões, e enquanto não se der a inversão não há recuperação económica.
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Por que não usar um discurso formativo e explicativo?
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Isto que Sócrates disse vai acontecer, mas vai estar associado a mais desemprego, a mais dificuldades, a mais recessão, e poucos se vão alegrar... de que vale a descida da taxa de juro se se perde o emprego?
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Será que é assim que se gera confiança?

is is not a durable solution to the challenge of sustaining global demand

Primeiro a curiosidade, neste artigo de Martin Wolf no Financial Times "Global imbalances threaten the survival of liberal trade"
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Olhando para o gráfico de barras da direita e perceber o peso percentual, em função do PIB, do nosso défice de transacções com o exterior.
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Depois o essencial do artigo:
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"So where are we now? With businesses uninterested in spending more on investment than their retained earnings, and households cutting back, despite easy monetary policy, fiscal deficits are exploding. Even so, deficits have not been large enough to sustain growth in line with potential. So deliberate fiscal boosts are also being undertaken: a small one has just been announced in the UK; a huge one is coming from the incoming Obama administration.
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This then is the endgame for the global imbalances. On the one hand are the surplus countries. On the other are these huge fiscal deficits. So deficits aimed at sustaining demand will be piled on top of the fiscal costs of rescuing banking systems bankrupted in the rush to finance excess spending by uncreditworthy households via securitised lending against overpriced houses.
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This is not a durable solution to the challenge of sustaining global demand. Sooner or later – sooner in the case of the UK, later in the case of the US – willingness to absorb government paper and the liabilities of central banks will reach a limit. At that point crisis will come. To avoid that dire outcome the private sector of these economies must be able and willing to borrow; or the economy must be rebalanced, with stronger external balances as the counterpart of smaller domestic deficits. Given the overhang of private debt, the first outcome looks not so much unlikely as lethal. So it must be the latter."

Deflação e migração de valor

Eis um bom exemplo do que se está a passar: deflação e migração de valor.
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"Tesco has suffered its weakest sales growth since the mid-1990s after targeting cash-stretched customers with cheaper brands.
Britain's biggest supermarket chain reported this morning that like-for-like sales, excluding petrol, rose by 2% in the last three months – just half the growth achieved in the previous quarter."
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"The discount supermarket sector has profited from the economic turmoil this year as rising inflation, especially for food, has prompted many shoppers to trade down and choose cheaper stores and brands."
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Aqui: Discount drive hits Tesco sales.

SPC (parte III) - Cartas de controlo e especificações a combinação contra-natura (a explicação)

Parte I; Parte II
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Um processo que tenha somente causas aleatórias a afectar as suas saídas diz-se estável e sob controlo estatístico. Num processo estável, o sistema, o emaranhado de causas na base da variabilidade mantém-se mais ou menos constante ao longo do tempo. Isto não quer dizer que não exista variabilidade nas saídas do processo, ou que a variação seja pequena, ou mesmo que as saídas obedeçam às especificações ou requisitos impostos pelo cliente. Um processo estável é um processo onde a variação nas saídas é previsível, dentro de limites estabelecidos estatisticamente.
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Um processo com as suas saídas afectadas quer por causas comuns (estão sempre presentes), quer por causas assinaláveis é considerado um processo instável. Um processo instável não apresenta necessariamente uma grande variação. É considerado instável porque a grandeza da variação não pode ser prevista de um período para outro.
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Uma visão da variação baseada em causas comuns e causas assinaláveis contrasta com a visão da variação baseada na classificação do desempenho em bom e mau. Esta última visão é a mais comum e tradicional.
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A visão da variação baseada na classificação do desempenho do processo em bom e mau constitui a base para a inspecção de produtos e serviços. Uma grande falha desta visão é de que não fornece qualquer informação sobre as causas, sobre as raízes da variação. E sem essa informação faltam pistas importantes para conseguir melhorar o desempenho. Estas duas visões contrastam fortemente.
À medida que as causas especiais são identificadas e removidas o processo vai-se tornando cada vez mais estável e um processo estável é um processo:
  • Com uma identidade própria; o seu desempenho é previsível. É pois possível planear racionalmente;
  • Os custos e a conformidade são previsíveis;
  • Onde os efeitos das mudanças podem ser medidos com maior rapidez e fiabilidade. Num processo instável é muito difícil segregar as mudanças no processo induzidas pelas alterações impostas, das mudanças devidas às causas assinaláveis.

A carta de controlo é a ferramenta que nos permite classificar um processo como estável ou instável.
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A carta de controlo é constituída por três linhas e por pontos marcados num gráfico:

Uma carta de controlo é construída a partir de medições de uma dada característica da qualidade de um processo, como por exemplo: o prazo de entrega, a viscosidade, a temperatura, o custo, o número de erros, o volume de vendas ou de enchimento. Essas medições são depois agrupadas com base no tempo.
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A estes conjuntos de dados dá-se o nome de subgrupos. Para construir uma carta de controlo são precisos vários subgrupos. Os dados individuais ou a sua média, são marcados no gráfico. O eixo horizontal identifica o subgrupo, o eixo vertical é a escala da característica da qualidade sob medição.
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A linha central representa a média dos dados. Os limites de controlo representam a fronteira da variabilidade devida a causas aleatórias. Os pontos marcados fora dos limites de controlo são indicações da existência de causas assinaláveis a operar no sistema. Não há qualquer relação entre os limites de controlo e especificações.
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É extremamente importante não confundir os limites de controlo com as especificações ou com as metas para o processo. As especificações são a voz do cliente ou do mercado, as metas são a voz ou o desejo da gestão, os limites de controlo são a voz do processo, aquilo que o processo é capaz de fornecer. Os limites de controlo são uma previsão da variação que ocorrerá devida ao sistema, ou seja devida a causas aleatórias. Um processo pode ser estável e, no entanto, os produtos saídos do seu seio não cumprirem a especificação.
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Quando trabalho com o balanced scorecard (BSC) procuro aconselhar os gestores a usarem as cartas de controlo para analisarem a evolução dos resultados periódicos dos indicadores de desempenho e evitarem comportamentos esquizofrénicos. Nesses casos, a carta de controlo que aconselho é a carta de valores individuais e amplitude móvel pois só há um valor possível em cada mês, no caso da frequência mensal (por exemplo).
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No entanto, noutras aplicações, sempre que é possível, aconselho o uso de subgrupos com tamanho superior a 1, pois tal reduz a frequência de erros tipo II sem penalizar demasiado os erros do tipo I, permitindo detectar mais facilmente eventuais mudanças na média.
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Consideremos uma carta de controlo com subgrupos de tamanho 5. Assim, quando colocamos pontos na carta da média, esses pontos resultam da média de 5 valores individuais. Se agora se desenharem sobre a carta de controlo linhas que representam as especificações, podemos dizer que alguém está a fazer batota… pois está a comparar um resultado que não existe na vida real, a média de 5 valores individuais, com as especificações que se aplicam apenas a valores individuais.
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Consideremos uma linha de engarrafamento.
Se estivermos a medir o volume das garrafas uma a uma, é natural que uma vez por outra apareça uma garrafa com um volume de enchimento muito próximo de uma das extremidades, de uma das caudas da distribuição normal do processo. Esta ocorrência, se analisada isoladamente poderá levar à conclusão errada de que o processo de enchimento precisa de ajuste. Se por outro lado recolhermos uma amostra de 5 garrafas será extremamente improvável que todas as 5 caiam junto a um dos extremos da distribuição. Se, por isso, tomarmos em conta a média dos 5 volumes teremos um indicador do estado do processo muito mais fiável. É claro que a média de cada amostra irá variar mas a dispersão, a variabilidade, não será tão grande como a que se verifica quando tomamos em conta as amostras individuais.
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Comparando as duas curvas de frequência verificamos que a dispersão das médias amostrais é muito inferior à dispersão verificada com as garrafas individuais. No caso de amostras de dimensão 4, por exemplo, o desvio padrão das médias é metade do desvio padrão do mesmo universo de garrafas quando consideradas uma a uma e não em grupos de 4.
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Em termos gerais o desvio padrão das médias:Porquê usar médias amostrais? Porque facilita a detecção das alterações nos processos.
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Vamos interromper o nosso plano inicial para a apresentação de temas relacionados com o SPC, para introduzir no próximo episódio o tema do Erro tipo I e Erro tipo II e a sua relação com o tamanho das amostras de cada subgrupo.

Receitas extraordinárias

A propósito do artigo de Camilo Lourenço no Jornal de Negócios "Chamem o dr. Constâncio", onde se pode ler:
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"Todo este cenário ficou mais complicado quando Luís Campos e Cunha (ex-ministro das Finanças) disse, no "Público", que não fora as receitas extraordinárias e o défice de 2009 seria de... 4%! "
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Recomenda-se a consulta e reflexão do documento Boletim Informativo com a Síntese da Execução Orçamental de Outubro de 2008 no sítio da Direcção Geral do Orçamento. Uma vez no pdf, aconselha-se a leitura da última linha da tabela das Receitas na página 6 do pdf (página 5 do boletim).
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Não é preciso pensar em hipóteses para 2009, 2008 já está aí a demonstrá-lo.

Estratégia em tempos de ruptura

"The wrong way forward in a structural break during hard times is to try more of the same. The break and the hard times are sure indications that an old pattern has already been pushed to its limits and is destroying value." (Voltar atrás e reler por favor, depois, pensar em indústria automóvel americana e auto-estradas portuguesas)
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"There is nothing like a crisis to clarify the mind. In suddenly volatile and different times, you must have a strategy. I don’t mean most of the things people call strategy—mission statements, audacious goals, three- to five-year budget plans. I mean a real strategy." (Aqui: O que é 'estratégia' ? refere-se estratégia como perspectiva e como padrão de comportamentos)
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"By strategy, I mean a cohesive response to a challenge. A real strategy is neither a document nor a forecast but rather an overall approach based on a diagnosis of a challenge. The most important element of a strategy is a coherent viewpoint about the forces at work, not a plan."
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Trechos retirados do artigo "Strategy in a 'structural break' " assinado por Richard Rumelt no The McKinsey Quarterly.

terça-feira, dezembro 02, 2008

Cenários e desalavancagem: quando é que o governo vai dar o braço a torcer?

Interessante ler este artigo do The McKinsey Quarterly "Leading through uncertainty" assinado por Lowell Bryan e Diana Farrell, onde na página 6 se encontram 4 interessantes cenários que resultam das combinações entre:
  • recessão global severa e recessão global moderada; e
  • crédito global e mercado de capitais reabrem e recuperam e crédito global e mercado de capitais fecham e mantêm-se voláteis.
É interessante conjugar estes cenários com as palavras sobre a estratégia futura da GE:
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"G.E. Capital executives explained that they will not only cut business lines and merge units to reduce costs, but they were fundamentally changing how they measured the unit’s profitability.
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Speaking on the conference call, Michael Neal, chief executive of GE Capital, said they have shifted the business toward a focus on return on assets, or R.O.A., from return on equity, or R.O.E. “The businesses that tend to attract more debt for the amount of net income they produce, more bank-like, if you will, are less attractive in our model going forward.”
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At the heart of the strategy is a plan to deleverage the unit’s enormous balance sheet, so that it can turn a profit without taking on so much debt. GE Capital expects to lower its leverage ratio from a current eight to one to a more conservative six to one in the coming year.
This shift will be costly to carry out and will force G.E. to jettison many business lines that have served it well in the past. "

Sinal dos tempos

Tomarmos consciência de que estamos de acordo com o essencial das palavras de Louçã na SIC-N sobre o BPP.

A Via Espartana

José Silva no Norteamos aponta o caminho que faz mais sentido, IMHO, a via espartana, a via da frugalidade, a via da cura da ressaca.
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Era bom ouvir alguém habituado a lidar com alcoólicos, antes destes se assumirem como tal, e perceber como é que fazem a transição pessoal e interior que os leva a aderirem aos alcoólicos anónimos. De certeza que haveria muitas lições a transpor para a nossa realidade económica-financeira.

Tapar o sol com uma peneira

Camilo Lourenço (jornalista que muito aprecio e que aprendi a ouvir há cerca de 10 anos num programa diário na Rádio Comercial, e que depois passei a apoiar com a compra da revista "Mais Valia" do qual era director - ainda hoje guardo meia-dúzia de números com artigos cheios de informação em primeira-mão - e que actualmente sigo diariamente nas manhãs do Rádio Clube Português) tem um programa na RTP-N às segundas-feiras pelas 23h. Ontem, Camilo Lourenço convidou dois vendedores de casas para falar do mercado imobiliário.
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Não creio que Camilo Loureço tenha feito uma boa escolha... os homens à viva força queriam negar a realidade. Ao visitar o sítio do recém-Nobel Krugman encontrei a justificação para a actuação dos vendedores:
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"It is difficult to get a man to understand something, when his salary depends upon his not understanding it" (frase atribuída a Upton Sinclair).
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SPC (parte II) - Cartas de controlo e especificações a combinação contra-natura (a ilustração)

Continuação da Parte I.
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Consideremos uma linha de engarrafamento que tem como objectivo encher embalagens com 350 ml de um xarope.
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Como não é possível iludir a existência de variação a empresa que gere a linha de engarrafamento compromete-se a só colocar no mercado embalagens com um volume entre 348,0 e 352,0 ml. Enquanto o limite inferior da especificação (348,0 ml) protege os clientes, já o limite superior da especificação (352,0 ml) evita que a empresa desperdice xarope, uma vez que os clientes só pagam 350,0 ml.
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Um cliente muito importante, dono de uma cadeia de hipermercados que escoa grande parte da produção do xarope, impôs recentemente à empresa o uso do controlo estatístico do processo (SPC). Um estagiário está neste momento a implementar o SPC na linha de engarrafamento.
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O estagiário começou por recolher e medir o volume de xarope de uma embalagem a cada 30 minutos:
Tendo obtido o seguinte conjunto de valores ao fim das primeiras 30 horas:Como cada valor individual representa a produção no instante da recolha da amostra o tamanho de cada subgrupo usado é 1, pelo que o estagiário usou uma carta de controlo para valores individuais e amplitudes móveis para começar a controlar o processo:Ao olhar para as cartas de controlo o estagiário ficou todo contente:
- Temos o processo sob controlo estatístico! Não há causas assinaláveis no processo!
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Contudo, quando foi apresentar os dados ao director do engarrafamento este não percebeu nada do que o estagiário lhe estava a dizer:
-Oh meu amigo, eu olho para isso e não sei se estamos a cumprir as especificações.
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O estagiário como só tinha aprendido as fórmulas sobre o SPC e as regras de detecção, logo acrescentou que podia sobrepor os limites das especificações sobre a carta de controlo de valores individuais. E assim fez:- Agora sim, agora está melhor. Agora consigo ver as especificações. Afirmou o director do engarrafamento.
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Para uma carta de controlo de valores individuais até que não há um erro muito grande ao aplicar os limites das especificações, porque estamos a comparar valores individuais com especificações. O erro está em confundir e misturar o papel de uma carta de controlo e a tarefa de verificar o cumprimento das especificações. Uma carta de controlo serve para tomar decisões sobre um processo, não para dizer se se cumprem as especificações ou não. Uma carta de controlo põe o processo a falar, as especificações não têm nada a ver com o desempenho de um processo, as especificações podem ser delírios de um director, ou de um comercial, ou de um cliente.
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Ao olhar melhor para a carta de controlo o director de engarrafamento pensou:
- Hum… aqueles pontos fora das especificações podem trazer-me aborrecimentos. Assim, tão às claras, o director geral pode começar a fazer perguntas e a bisbilhotar …
- Oh amigo estagiário, e se em vez de valores individuais você colocasse na carta de controlo médias de amostras? – perguntou o director do engarrafamento, que nada sabia sobre cartas de controlo mas que sabia que a média é uma ferramenta ‘porreira’ para esconder e amortecer flutuações na variação.
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- OK! Vou aplicar umas fórmulas e refazer as carta de controlo – respondeu o estagiário anjinho.
- E não se esqueça das especificações – lembrou o director de engarrafamento.
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O estagiário resolveu agrupar as amostras em subgrupos de 4:
E construir as cartas de controlo usando fórmulas para subgrupos de tamanho 4:Quando este as apresentou ao director de engarrafamento este exclamou deleitado:
- Bravo meu caro estagiário, você vai longe!
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Amanhã procuraremos mostrar como esta abordagem de misturar especificações e cartas de controlo para médias de subgrupos está errada, é batotice da pior espécie. É este tipo de batotice que dá mau nome à estatística. Especificações e cartas de controlo têm propósitos distintos e ponto.
By the way, sempre que possível, e vamos demonstrar isso mais à frente, devemos usar cartas de controlo com o tamanho dos subgrupos superior a 1, a carta de controlo fica mais robusta e detecta melhor os sinais de mudança. Basta olhar para a carta de valores individuais e a carta das médias acima… qual é a que se lê melhor? Mas é mais do que simples leitura, é também um poder estatístico superior.
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Continua.

Financeiramente sou demasiado conservador...

... afinal sou neto de agricultores.
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Teresa, diga lá aos seus amigos que os bancos alemães são mais seguros que os bancos suiços. Pelo menos nestas circunstâncias.
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"Switzerland Feels Iceland's Pain With Banks Teetering"

segunda-feira, dezembro 01, 2008

SPC (parte I) - Uma outra maneira de ver o mundo

Este é o primeiro e o mais díficil dos postais que me propus escrever sobre o controlo estatístico do processo (SPC), mais díficil porque, para muita gente, se eu conseguisse ter sucesso com este postal tal representaria um momento de epifania sobre o que significa utilizar o SPC, nevertheless let's try it.
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Muitas organizações começam a usar o SPC porque um cliente o exige, ou porque uma qualquer legislação que regula o sector assim o exige.
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Começar a usar o SPC com as fórmulas correctas e com as regras de detecção de causas assinaláveis correctas já não é mau.
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No entanto, normalmente, cumpre-se o requisito e aplicam-se as fórmulas sem mudar a forma de olhar o mundo.
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No final dos anos oitenta do século passado trabalhava na CIRES em Estarreja, uma empresa química que produzia e produz PVC.
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Uma das boas práticas seguida nessa empresa era a assinatura de várias revistas técnicas que depois eram distribuídas por todos segundo um circuito pré-definido. Uma das revistas que comecei a ler nessa altura era a Chemical Engineering Progress e a outra a Hydrocarbon Processing. E foi na Hydrocarbon Processing que encontrei uns artigos que me abriram os olhos para o mundo da qualidade.
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Quando frequentava a universidade o último local onde me via a trabalhar era na área da qualidade, um mundo de burocratas de bata branca que se entretinham a segregar produto conforme de produto defeituoso, essa era a minha visão. A ISO 9001 ainda não existia.
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Os artigos da Hydrocarbon Processing abriram-me os olhos para uma faceta da qualidade que eu nunca tinha conhecido ou ouvido falar. O mundo da melhoria da qualidade e das suas ferramentas, o mundo da investigação sobre os processos, o mundo que relacionava e punha a dialogar a Produção com a Comercial como provedores dos clientes.
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Ainda hoje guardo cópia desses artigos:
  • "Tools for better management (part 1)", assinado por D. M. Woodruff e publicado pela Hydrocarbon Processing em Agosto de 1989 (um artigo que que nos apresentava um conjunto de ferramentas mágicas, porque poderosas, para perceber o que acontecia num processo de fabrico e descobrir a causa dos problemas que atormentavam a organização e os seus clientes: brainstorming, diagrama de pareto, diagrama de causa-efeito ou de espinha de peixe, fluxogramas, histogramas, diagramas de correlação e cartas de controlo);
  • "SPC in the process industries (part 2)", assinado por C. L. Mamzic e T. W. Tucker e publicado pela Hydrocarbon Processing em Dezembro de 1988 (este artigo referia algo de verdadeiramente mágico para a minha jovem mente de recém-licenciado de um curso onde estas matérias nunca foram abordadas, não é uma figura de expressão era mesmo magia, mencionava o desenho de experiências e um tal de método Taguchi. A minha curiosidade não me largou e atormentou enquanto não percebi o que era e como se usava esse método. Taguchi dava uma importância tremenda à questão da variabilidade e o mergulho nessa filosofia ajudou-me mais tarde à minha epifania com o SPC )(Já agora, a curiosidade sobre o SPC levou-me a encomendar um livro a uma editora inglesa, no tempo em que não tinha cartão de crédito e que tinha de pedir uma factura proforma primeiro para que o meu banco de seguida fizesse um cheque para eu poder, finalmente, enviar com a encomenda por carta. Encomendei o livro "Statistical Process Control - A practical guide" da autoria de John S. Oakland e publicado pela editora Heinemann Professional Publishing. Quando essa editora começou, depois, a enviar-me folhetos publicitários sobre as suas publicações descobri a arca de livros de Peter Drucker, o homem que mudou a minha vida)
Usar o SPC não é aplicar fórmulas e colocar pontos num gráfico a que chamamos carta de controlo, essa é uma tosca e muito rudimentar simplificação. Usar o SPC é uma forma diferente de encarar o mundo.
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Sem método para analisar resultados somos prisioneiros dos caprichos, nossos e dos deuses (chamem-se eles administradores, directores gerais ou chefe da secção):
Há uns anos estava a trabalhar no meu estaminé e a ouvir a rádio TSF, a certa altura apresentaram os dados de uma sondagem mensal(?) e depois deram espaço de antena a vários comentadores políticos e professores universitários para explicarem os resultados. O programa demorou cerca de uma hora e no final... de tão surpreendido com a ignorância estatísticaevidenciada, de tão desconfiado das lucubrações explicativas fui ao sítio da TSF e saquei os dados das sondagens anteriores, para concluir que aquela tinha sido uma hora perdida... com explicações da treta porque de um mês para o outro nada tinha mudado estatisticamente.
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Se fôssemos deuses saberíamos exactamente qual a percentagem de apoiantes que cada partido político teria em cada instante. Como apenas somos humanos temos uma aproximação desses números através da realização de sondagens.
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Consideremos que numa dada sondagem o partido político X obtém uma percentagem de apoiantes de 20%. Há uma tendência para tornar abosoluto esse valor, 20% dos inquiridos votariam no partido X. Contudo, tal não é verdade, 20% é o resultado médio obtido da amostra estudada, apesar da amostra ser equilibrada e aleatória, se tivéssemos recorrido a outra amostra aleatória e equilibridada poderíamos vir a obter 19% ou 21%. Assim, 20% é só o valor mais provável a partir de uma distribuição de resultados possíveis.
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Num dado mês teríamos este cenário:
O valor obtido em resultado da sondagem, é exactamente igual ao valor verdadeiro que só os deuses conhecem, 20.0%.
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No mês seguinte, o valor obtido pela sondagem é de 21.5%, nós deuses sabemos que nada mudou, trata-se apenas de mera flutuação aleatória como se pode ver da localização do ponto amostral na distribuição normal.
No entanto, os comentadores, tal como os analistas da bolsa, perante resultados diferentes, porque os tomam por valores absolutamente verdadeiros, querem sempre encontar justificações para as mudanças... mesmo quando essas mudanças não querem dizer nada.
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Este é o grande poder do SPC, relativizar os números... o número obtido é um dos resultados possíveis de entre uma distribuição de valores. O SPC permite-nos descobrir se a distribuição se alterou ou não, permite-nos decidir quando é que vale a pena investir na investigação das diferenças. Quando estas forem estatisticamente significativas e só nessa altura.
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O exemplo do saco que produz e destrói bolas verdes no final deste postal ilustra e caricaturiza a actuação de quem não conhece o significado do SPC.
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A variabilidade existe sempre em qualquer sistema. Uma parte dessa variabilidade é previsível e está sempre presente no sistema, a variabilidade provocada por causas aleatórias. Outra parte da variabilidade pode não estar presente num sistema, o ideal é mesmo que não esteja presente, a variabilidade atribuída a causas especiais ou assinaláveis.
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Um sistema só com causas aleatórias presentes tem a particularidade de ser previsível, os resultados futuros do sistema não serão estatisticamente diferentes dos resultados produzidos pelo sistema no passado.
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Pouco se pode dizer de um sistema com causas especiais presentes além das aleatórias, porque não se podem fazer previsões para o futuro.
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O SPC diz-nos se existem causas especiais a actuar num sistema e dá-nos pistas para as pesquisar.
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O SPC diz-nos que quando temos um sistema só com causas aleatórias a funcionar e não gostamos dos resultados produzidos pelo sistema... não adianta acenar com cenouras ou brandir chicotes pois o sistema e as pessoas que nele operam já estão a dar o melhor... se não gostamos dos resultados produzidos pelo sistema... temos de mudar o sistema.
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O SPC permite-nos, quando temos um sistema só com causas aleatórias a funcionar, conduzir o sistema para a frente, para o futuro, olhando pelo espelho retrovisor.
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Adenda: Esta recordação entretanto encontrada I love this game, parte 2 ou "O rei vai nú"

O ponto de singularidade

Estas reflexões, Baixar impostos e Saque fiscal, partem do princípio que não nos aproximaremos de uma singularidade.
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Em torno de uma singularidade as leis e os padrões que nos regem deixam de existir ou de fazer sentido, quer seja no mundo físico em torno de um buraco negro, quer seja no mundo político em plena revolução.
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Basta aplicar aquilo a que a teoria das restrições chama o desenvolvimento dos ramais negativos de uma Future Reality Tree para desenharmos aquilo que pode aproximar-nos de um ponto de singularidade. É claro que ninguém quer aproximar-se de um ponto desse tipo porque é impossível prever o que vem a seguir... afinal, as leis a aplicar são outras e muita gente poderosa tem a perder com a chegada da singularidade, assim como, muita gente simples.
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Basta o desemprego escalar à espanhola (mais do que duplicar face aos valores "oficiais" actuais), para isso basta lêr o que está a acontecer neste princípio de espiral negativa: Despedimentos colectivos mais do que duplicaram ; A thousand businesses collapse in trading gloom, e imaginar que os ainda empregados, com medo, se retraiam em compras futuras, para uma segunda onda de falências avançar e assim sucessivamente.
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Basta imaginar uma economia tomada pela deflação: em que mesmo que se mantenha a venda do mesmo número de unidades de produto por mês (muito difícil), a facturação baixa e as dívidas contínuam lá, a ter de ser pagas... um pesadelo para as empresas que tenham dívidas. (Abandon all hope once you enter deflation)
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Basta imaginar um orçamento para 2009 fora da realidade, um orçamento que inflaciona as receitas e subestima as despesas (por exemplo as ligadas aos subsídios de desemprego) Um Orçamento com um pé fora da realidade. Basta imaginar um estado sem dinheiro para pagar salários, pensões e aprovisionamentos...
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Basta imaginar algumas consequências militares do descalabro financeiro, mesmo que do outro lado do mundo World stability hangs by a thread as economies continue to unravel :
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"If the atrocity now propels the Hindu nationalist leader Narendra Modi into office at the head of a revived Bharatiya Janata Party (BJP), south Asia will once again face a nuclear showdown between India and Pakistan.
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Events are moving briskly in China too. Wudu was torched by rioters this month in a pitched battle with police. Violence has spread to the export hub of Guangdong as workers protest at the mass closure of toy, textile, and furniture factories. "
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"As for Europe, it is already fragile. Iceland, Hungary, Ukraine, Belarus, Latvia, and Serbia have turned to the IMF. Russia is a hostage to oil prices. If Urals oil stays below $50 a barrel for long, we are going to see an earthquake of one kind or another.
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It is too early in this crisis to conclude whether Europe's monetary union is a source stability, or is itself a doomsday machine. The rift between North and South is growing. The spreads on Greek, Irish, Italian, Austrian, and Belgian debt remain stubbornly high. The lack of a unified EU treasury has become glaringly clear. Germany has refused to underpin the system with a fiscal blitz."
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E se juntarmos a isto o descalabro futuro do dolar... talvez tenhamos reunido as condições para um ponto de singularidade.
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Há uma parabola no novo Testamento que conta a estória de um homem que estava a lavrar um campo que não lhe pertencia e encontrou um tesouro enterrado.
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Voltou a escondê-lo e foi a correr vender tudo o que tinha para comprar esse terreno.
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Se eu tivesse a certeza absoluta da aproximação do ponto de singularidade também eu faria como o homem da parábola e investiria em armas, enlatados, liofilizados, bolachas e massas e água, muita água num bunker. Como não o estou a fazer... ou não acredito que ele venha, ou não tenho a certeza que ele venha, ou sou um suicida.