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terça-feira, março 19, 2024

Cuidado como cresce

 Li no ECO "Parar de crescer é começar a morrer":

"Se uma empresa não cresce, definha e morre.

...

crescer é mais do que um objetivo, é um desígnio essencial. 

...

A internacionalização só contribui a sério para o fortalecimento, a valorização e a preservação a longo prazo do capital acionista se as empresas tiverem escala. Dos que não se lancem a sério, com coragem, em processos de crescimento ambiciosos não vai rezar a História, nem sequer no mercado doméstico."

Sabem qual o meu problema com este artigo? Crescer à custa da escala (volume).

As empresas podem crescer à custa da escala (volume), à custa do denominador da equação da produtividade a produzir mais do mesmo, ou podem crescer à custa da subida na escala de valor, à custa do numerador da equação da produtividade a produzir coisas diferentes, coisas com maior valor acrescentado.

O racional é o mesmo do agricultor que só consegue aumentar a produção trabalhando mais e mais terra, é a via cancerosa

Entretanto, já depois de escrever o que está para trás. Deparo com este tweet:


E termino com o bacalhau islandês e a cerveja Kirin.



 

quarta-feira, dezembro 20, 2023

Imigração, zona de conforto e subida na escala de valor

A propósito da capa do jornal Público de Segunda-feira passada:

Camilo Lourenço no seu podcast diário de Segunda-feira louvou os imigrantes por fazerem o que os portugueses já não querem fazer. Sublinhou mesmo a sua importância para o turismo nacional.

O mesmo Camilo Lourenço no seu podcast de Terça-feira apresentou uns números sobre o turismo e o seu impacte na economia nacional. Elogiou esses números, mas chamou a atenção para a necessidade do turismo subir na escala de valor.

Recordo de Julho passado:

""Salários baixos, horas de trabalho sem fim"

Imigrantes no turismo triturados pelo motor que alimentam

Uns trabalham pelos salários mais baixos da economia nacional, outros passeiam e contribuem para que o turismo continue a ser o motor da economia. Os primeiros são imigrantes, partilham casa com dezenas de pessoas e tentam sobreviver com pouco. Os segundos são turistas, ficam alguns dias e gabam o sol, a comida e os preços baixos. Dos 300 mil trabalhadores do turismo não se sabe quantos são estrangeiros. Mas é certo que o número está a aumentar. À Renascença, Nuno Fazenda, secretário de Estado do Turismo, defende que é necessário aumentar salários no setor. Já em 2023, tivemos o melhor quadrimestre de sempre na área do turismo", conta. Mas a que custo?"

Por que é que um empresário sairá da sua zona de conforto para avançar numa aposta arriscada de subida na escala de valor? Tenho de mandar o vídeo deste postal, Again, por que se pedem paletes de mão de obra estrangeira barata?, a Camilo Lourenço. A garantia da disponibilidade de mão de obra barata diminui a necessidade de subir na escala de valor. Os empresários são humanos, os humanos são satisficers, não maximizers. Recordar Estranho, não? e as raposas levadas para a Austrália É assim tão difícil perceber este fenómeno? (parte II).


sexta-feira, dezembro 08, 2023

Acerca da evolução de Portugal e da Roménia (parte II)

Ontem publiquei Acerca da evolução de Portugal e da Roménia. Também ontem li no JdN, "Peso dos bens transacionáveis na riqueza produzida quase estagnado".

Reparem no texto inicial do artigo:

"Valor acrescentado gerado pela produção de setores de bens transacionáveis atingiu mínimos em 2010 e desde então está quase estagnado. Perda de competitividade da indústria explica panorama. Valor acrescentado das exportações no PIB abranda."

Agora vamos à minha matriz produtividade versus competitividade:

Não devemos confundir produtividade com competitividade.

Não devemos cair no erro de ignorar a lição japonesa. 

Falta a parte dolorosa da transição. O aumento do valor acrescentado que é preciso tem de ser obtido à custa da evolução na horizontal para actividades com mais valor acrescentado. Não podemos esperar que a evolução desejada seja consequência de continuar a exportar o que já exportamos. O peso dos bens transaccionáveis não cresce por causa do mastim dos Baskerville, por causa do que falta. Já me repito: Depois do hype: O mastim dos Baskerville! 

No artigo pode ler-se:

"A diminuição do peso do VAB gerado pelos setores produtores de bens transacionáveis é explicada pela alteração do modelo de especialização produtiva da economia portuguesa, com os serviços a ganharem destaque nos últimos anos, a que se junta "a perda de competitividade de alguns dos principais setores de bens transacionáveis" em Portugal, com destaque para a indústria."

Na Parte I pode ver-se a evolução dos serviços em Portugal e Roménia, agora acrescento a Dinamarca:

É claro que a exportação de serviços tem muito mais potencial de valor acrescentado que as exportações da indústria. Não percebo esta argumentação.

Agora segue-se um momento de catequese. Uso esta palavra como um substantivo para nomear afirmações que ninguém contesta, mas que não são suportadas num plano verosímil:

"Carlos Tavares defende, por isso, que o objetivo central de Portugal "deve ser produzir mais e mais valiosos bens transacionáveis internacionalmente do que simplesmente aumentar o volume das exportações."

Quantos mais anos vão laborar no mesmo erro em que eu laborei por tanto tempo? Recordar: A brutal realidade de uma foto. E não, não é criando empresas maiores a produzir o mesmo que já se produz, é arranjar outros protagonistas para produzir coisas diferentes. Não cometam o erro de Relvas - Tamanho, produtividade e a receita irlandesa

quinta-feira, dezembro 07, 2023

Acerca da evolução de Portugal e da Roménia


A evolução da produtividade de Portugal e Roménia (fonte)

Com base nesta ferramenta, "Atlas of Economic Complexity", a evolução do perfil das exportações de Portugal e Roménia entre 1999 e 2021:

Impressionante!


quarta-feira, dezembro 06, 2023

Again, por que se pedem paletes de mão de obra estrangeira barata?

Ao longo dos anos tenho escrito aqui no blogue sobre a relação imigração e salários dos trabalhadores menos escolarizados. Por exemplo:

Ouvir Eric Weinstein a partir do minuto 3.


Por que será que a imigração está descontrolada?

sábado, dezembro 02, 2023

Um paralelismo?

Em Junho passado em Evoluir na paisagem económica escrevi:

"No final desta leitura recordo que procurei mentalmente fazer um paralelismo com a deslocalização do têxtil alemão para Portugal nos anos 60."

Nas últimas semanas mão amiga tem-me enviado alguns "recortes" sobre a economia alemã. O último foi este:

"companies' investment shifts are becoming more established: more than one in three companies (35 percent) are now planning to shift investments abroad (May 2023: 27 percent, February 2023: 27 percent, September 2022: 22 percent). Another 14 percent are planning to cut investments. Only 1 percent of companies stated that they wanted to increase their investments in Germany given the current situation. Relocation destinations are: other EU countries, Asia and North America (in that order)."

Também recebi este:

"Orders received by the German machine tool industry in the third quarter of 2023 were nine percent down in nominal terms on the same period last year. Orders from Germany declined by 8 percent whereas those from abroad fell by nine percent."

Entretanto por cá:

  • Metal perde vendas mas acredita em recorde anual
  • "Nem a metalurgia e metalomecânica, a indústria campeã das exportações, é imune ao arrefecimento das economias europeias, em especial, da alemã. Em setembro, as vendas ao exterior caíram 8,6% para 1859 milhões de euros, menos 175 milhões do que no mesmo mês de 2022. No entanto, no acumulado do ano, as notícias mantêm-se positivas, com as exportações a crescerem 7,1% para 18 173 milhões de euros, fazendo acreditar num novo máximo histórico em 2023." 

     

    sábado, novembro 11, 2023

    Menos dor na transição

    Esta semana apanhei nas notícias:

    • Fábrica que fazia casacos de luxo fecha da noite para o dia (Têxtil de Penafiel despede 120 funcionárias por email na véspera do regresso ao trabalho. Encerramento justificado com falta de serviço) - JN de quinta-feira passada.
    • Sapatos aclamados por Paulo Portas nas mãos da banca - JdN de quinta-feira passada.

    "A Coloplast, cuja atividade inclui cuidados em ostomia, em continência e urologia, vai investir 100 milhões de euros em Portugal naquela que será a sua maior unidade industrial.
    Na nova fábrica, que irá erguer em Felgueiras, conta vir a empregar mais de mil pessoas."

    Já por várias vezes referi a Coloplast aqui no blogue, um praticante de Mongo na indústria farmacêutica. É uma boa notícia e um exemplo concreto da teoria dos Flying Geese. 

    Alguns vão dizer:

    - Não há pessoas para trabalhar, ainda para mais em Felgueiras, um concelho com pleno-emprego. 

    A rentabilidade de uma empresa como a Coloplast permite-lhe pagar salários que os incumbentes em Felgueiras nunca conseguirão. 

    Conseguem imaginar o aumento da produtividade de um trabalhador que sai da costura ou montagem de sapatos, para uma linha de montagem da Coloplast? Sem formação (lerolero ou caridadezinha) que não a dada pela empresa. Recordo daqui

    "Há uma forma rápida de aumentar a produtividade de uma costureira! Basta despedi-la de uma fábrica subcontratada por uma marca para costurar T-shirts e, adimiti-la numa outra fábrica, na mesma rua, que tem marca própria e fabrica T-shirts para vender com essa marca"

    Sabem o que isto faz? Contribui para diminuir a dor na transição referida em Falta a parte dolorosa da transição (Parte VI)

    terça-feira, novembro 07, 2023

    Cuidado com as generalizações

    No JdN de ontem o patrão do jornal, alguém com experiência numa empresa de pasta de papel, uma commodity em que o custo é que manda, disse:

    "Para o presidente da Cofina as empresas portuguesas enfrentam dois desafios. 0 primeiro é o da otimização e eficiência. A escalada de preços tornou os "custos de produção muito mais elevados, alguns deles não voltarão a níveis que tínhamos no passado, obrigando as empresas a otimização dos processos, tornando-se mais eficientes", aponta Paulo Fernandes."

    Para as empresas que competem no quadrante do empobrecimento:

    Esse é o desafio de sempre, não por causa da escalada de preços, mas por causa da redução de preços praticados por concorrentes em países ainda mais baratos que Portugal.


     

    segunda-feira, novembro 06, 2023

    Pequenos produtores e a importância de uma estratégia que foge da competição pelo custo

    Lembram-se da Raporal? Eu ajudo:

    Já agora, recordo a mensagem deste postal de 2021: Que mais exemplos são precisos? 

    Recordo também "Fazer o by-pass à distribuição" de 2013.


    "This small meat-processing facility, which a group of ranchers started under the name Old Salt Co-op, is one of many that have appeared across the country recently. "Small" is an understatement: Old Salt can process the equivalent of 20 cattle per week, while major meatpackers butcher thousands per day.

    Just four companies process 85% of American beef, according to the U.S. Department of Agriculture.
    ...
    Since most independent ranchers and processors lack the volume to supply major grocery chains, their survival rides not only on how much brisket they produce, but on how many people buy it.
    Without a strong customer base, Rebecca Thistlethwaite, director of the Niche Meat Processor Assistance Network at Oregon State University, fears that many small processors will fail. She cited a University of Illinois study. that suggested success is contingent upon local demand. "It's not a field of dreams situation; it's not an 'If you build it, they will come," Thistlethwaite said. "You can't build supply chains without having that end consumer."
    ...
    Data on net profits is difficult to find, but gross profits are certainly down. Fifty years ago, ranchers got 60 cents of every dollar that consumers spent on beef; today, it's 39 cents, according to the White House,
    ...
    For independent ranchers, major chains - like Walmart, where 26% of America's food dollars go are basically out of the question. "To get into a chain grocery store, you have to have volume," explained Bill Jones, general manager of the Montana Premium Processing Cooperative, which opened in January. And since it takes two years and roughly $2,500 to raise a single head of cattle, Jones said it's "a heck of a challenge" for ranchers to establish enough volume to interest a grocery chain.
    Jones said the ranchers in his cooperative sell their meat online, at farmers markets or to local grocers and restaurants. "And then some are doing all three," he added.
    ...
    "So we decided to try to consolidate that into one kind of regional effort." Old Salt has also gone beyond selling meat online: opening a buzzy burger stand in the heart of Helena, organizing a festival and cookouts and ranch tours, and launching a butcher-shop-slash-grill that will showcase its products and host community events.
    ...
    Whether Old Salt can find more people like Barnard is an open question - and a critical one. As Mannix put it: "If customers don't change their buying habits, local meat really doesn't have a chance."
    Thistlethwaite, of Oregon State University, agrees. "I don't think (local meat processors) are going to survive unless we see consumers step up more seriously," she said."

    Produtores pequenos têm de:

    • focar-se em nichos e canais de venda direta ao consumidor (online, feiras, restaurantes locais), pois a distribuição tradicional exige volumes muito altos,
    • investir em marketing e branding para criar uma identidade local e um ligação emocional com os consumidores. Eventos e tours ajudam a fugir ao Red Queen effect. Desenvolver uma storytelling sobre a origem do produto.
    • cooperar com outros produtores/processadores pequenos para ganhar escala e eficiência em áreas como a logística e as compras,
    • diversificar os canais de venda para minorar riscos e não depender só de um nicho de consumidores,
    • apostar na qualidade e sustentabilidade para se diferenciar dos grandes players,

    BTW, recordar a lição da Purdue em Se há coisa que não suporto é misturar catequese com negócios (2010)

    domingo, outubro 29, 2023

    Falta a parte dolorosa da transição (Parte VI)

    Como já escrevi aqui muitas vezes a Economia não é como a Física Newtoniana ou de Galileu. O que é verdade hoje amanhã é mentira, e vice versa (aqui por verdade entenda-se o que resulta, não esquecer os modelos de Lindgren). 

    Oiço e leio muita gente com ideias e explicações sobre a baixa produtividade de Portugal face à média europeia. No entanto, julgo não andar longe da verdade ao dizer que este anónimo engenheiro da província tem uma explicação que foge do mainstream.

    Em séries como "Falta a parte dolorosa da transição" (Parte I, Parte II, Parte III, Parte IV e Parte V) explano as minhas ideias ( a parte I faz ligação a postais mais antigos, por exemplo, uma outra série "Deixem as empresas morrer") que começaram quando descobri Maliranta e a experiência finlandesa.

    A produtividade de um país sobe marginalmente quando o somatório das empresas existentes aumentam a sua produtividade, mas para dar saltos de produtividade, o perfil das empresas existentes numa economia no momento t tem de dar lugar a outro perfil no momento t+1 (por perfil entenda-se distribuição de empresas pelos vários sectores económicos). Esta percepção é terrível porque os políticos têm medo dela, porque pressupõe entender o "modelo flying geese" e o problema da competitividade no Uganda (ambos apresentados na referida Parte I acima). Como mete medo, os políticos correm a despejar dinheiro nas empresas existentes para que mudem e aumentem a produtividade, mas o dinheiro é quase sempre usado para defender o passado, em vez de construir o futuro, como Spender ilustrou de forma magistral.

    Há semanas que ando a namorar a ideia de comparar a evolução do perfil económico de países ao longo do tempo. Gostava de começar nos anos 60 e perceber a evolução até ao final da primeira década do século XXI. Ainda não o consegui, nem com a IA (falha minha). No entanto, ontem fiz uma pesquisa que me levou a este site da entidade estatística dinamarquesa. A partir daí criei esta tabela com a evolução do número de empresas e da facturação global por sector económico ligado à manufactura.


    Sublinhei os sectores que cresceram acima ou abaixo de 20%. E ainda aqueles que cresceram a facturação em mais de 200%.

    Interessante o crescimento do número de empresas a par da redução da facturação. Presumo que seja o crescimento da produção artesanal e a alteração de comportamentos de consumidores.

    Interessante a redução daquilo a que chamamos "sectores tradicionais"... aprendi tanto com Eric Reinert: "a nation - just as a person - still cannot break such vicious circles without changing professions."

    Agora isto fica ainda mais interessante quanto acrescentamos a evolução do número de trabalhadores a tempo inteiro:

    Só há 3 sectores a crescerem em número de trabalhadores: o farmacêutico, o fabrico de motores eléctricos e o fabrico de produtos electrónicos. Uma ilustração dos flying geese:

    Para onde vão os trabalhadores? Para os serviços! Onde a produtividade é maior.

    domingo, outubro 01, 2023

    A receita irlandesa na Grécia

    O New York Times de ontem trazia na capa da secção "Business" o título de um artigo com várias páginas "A New Era of Prosperity for Greece - The local economy is booming, but memories of crises and austerity measures have not faded."

    Eu há anos que suspeito que a Grécia é o país do Sul da Europa menos mal governado. No entanto, ao olhar para este título não pude deixar de sentir uns sinais de cinismo. Aposto que outros olham para os números da macroeconomia portuguesa e acham que o país está muito bem, mas depois os que por cá vivem e não podem fazer by-pass ao estado, apanham com o deslaçamento desse mesmo estado com um SNS, uma educação, uma justiça, ... que não funcionam.

    Depois da leitura do artigo fiquei um pouco mais optimista acerca do futuro da Grécia. Porquê? Por causa da receita irlandesa. Recordar Números preocupantes.

    "The economy is growing at twice the eurozone average, and unemployment, while still high at 11 percent, is the lowest in over a decade. Tourists have returned in droves, fueling a construction frenzy and new jobs. Multinational companies, like Microsoft and Pfizer, are investing.

    ...

    Investors are jumping in. Microsoft is building a €1 billion data center east of Athens. Farther north, Pfizer is anchoring a €650 million research hub. American, Chinese and European companies are pitching renewable-energy deals. And investments by Cisco, JPMorgan, Meta and other multinationals are projected to have an impact worth billions of euros over the next few years."

    BTW, os salários dos funcionários públicos vão subir pela primeira vez desde o corte de 20% aquando do "PEC IV".


    quinta-feira, setembro 28, 2023

    A dolorosa transição ao vivo e a cores

    O FT de ontem trazia um delicioso artigo sobre a mudança no Japão, e a falta dela no nosso país, "Japan chip plant sends 'shock' through economy".

    O artigo refere o impacte da instalação de uma fábrica de chips da Taiwan Semiconductor Manufacturing Company numa região longe das grandes metrópoles, na ilha de Kikuyo nos arrabaldes da prefeitura de Kumamoto.

    E a pensar no que aqui costumo escrever sobre a necessidade de investimento directo estrangeiro para nos ajudar a dar saltos de produtividade e romper com redes de compadrio:

    "The changes in Kumamoto also offer a microcosm of the broader challenges for Asia's most advanced economy after a long period of stagnant growth and employee wages. From a severe labour shortage to infrastructure constraints, TSMC's arrival is forcing Japan to confront problems that have been simmering for years.

    "We call it the TSMC shock, but I think this is a huge opportunity to change the structure of Japanese society and economy," said Kazufumi Onishi, mayor of the city of Kumamoto. "To put it another way, we need this kind of shock to change.""

    Agora o impacte nos salários, no emprego (o efeito Flying Geese):

    "TSMC posted job adverts in the spring for engineers, offering monthly wages roughly a third higher than the average for college graduates at local manufacturing companies. Its plant in Kumamoto is expected to create 1,700 high-tech professional jobs.

    TSMC said salaries were benchmarked against those at similar technology companies to be competitive, adding that it was confident Japan would provide "outstanding recruits". 

    ...

    But for local businesses, the sudden boost in wages sparked by TSMC has accelerated a trend for younger employees to switch jobs more frequently to seek higher pay and better working conditions amid a shortage of workers. [Moi ici: Quem diria... *alerta de ironia]

    Minimum wages in Kumamoto are among the lowest in Japan, and about 40 per cent of its high school graduates seek jobs elsewhere.[Moi ici: Onde é que nós estamos habituados a ver isto na Europa?]

    Kongo, a Kumamoto-based manufacturer of storage systems, has lost about 5 per cent of its 300 workers over the past year, some to TSMC and other semiconductor-related companies.

    "It's easy to blame TSMC when our employees change jobs," said Toshihiko Tanaka, chief executive of Kongo, who is also chair of the Kumamoto Industrial Federation. "But the movement of employees is an inevitable trend and we need to change our mindset to focus on how we can raise the performance of each individual as our workforce shrinks.""[Moi ici: Se fosse por cá estaria a ouvir um pedido de apoio qualquer, afinal estamos no país do Chapeleiro Louco. Este choque para as empresas incumbentes é a tal dolorosa transição que tem de ocorrer para se passar ao nível seguinte da produtividade]

    sexta-feira, setembro 22, 2023

    Falta a parte dolorosa da transição (Parte V)

    Li no JN há dias "Indústrias estratégicas com 90 milhões para formação" e revirei os olhos com a classificação "indústrias estratégicas".

    O que são indústrias estratégicas? Estratégicas para quem e estratégicas porquê?

    Olho para o esquema clássico dos Flying Geese:
    E penso no Japão dos anos 50 a olhar para o sector têxtil como estratégico, ou dos anos 60 a olhar para a metalurgia de base como estratégico e assim por diante.

    O WSJ há dias trazia este gráfico:

    Como é que Taiwan conseguiu este desempenho? A proteger os incumbentes? Nope!
    "According to Taiwan’s Economic Development Performance issued by the National Development Council (NDC) in 2016, the country’s economic development stage is from agriculture to light industry and then heavy industry to high-tech industry. Similarly, factor input also goes from labor to capital, and through knowledge inputs and technology innovation, Taiwan has gradually become a developed country." (Fonte)
    Eu sei que este tipo de conversa é tabu em Portugal, e não só. Eu sei que quando escrevo sobre estes temas perco potenciais clientes nestes sectores "estratégicos". Não percebem a diferença entre o Carlos consultor e o Carlos cidadão.


    Por um lado, no JN lê-se:
    "Pedro Cilínio falava aos jornalistas à margem da visita aos 36 expositores de calçado presentes na Micam, em Milão, assegurando que a medida pretende evitar despedimentos, mas também ajudar as empresas a preservarem a sua competitividade e capacidade produtiva."

    Por outro lado, falamos em falta de mão de obra para empresas em sectores mais produtivos. Recordo de há dias no FT  "Why don't they just leave then?".

    Hoje no JdN, Cristina Casalinho escreve:

    "Na sua analise recente da economia portuguesa, a OCDE voltou a referir a evolução da produtividade do trabalho como uma debilidade e obstáculo a crescimentos mais pujantes. A melhoria da qualificação da força de trabalho operada nas últimas décadas deverá promover progressos nesta vertente. [Moi ici: A sério?! Licenciados a produzir melhores ou mais enxadas vão promover o progresso da produtividade do trabalho? Come one. Já leram algum colunista, ou algum comentador nos media tradicionais com coragem para dizer que sem morte das empresas actuais não chegamos lá?] Porém, o efeito do legado ainda é relevante. Remetendo novamente para o relatório da OCDE de junho passado, relevam as baixas qualificações das equipas de gestão nacionais, sendo que 25% das pessoas com responsabilidades de gestão não possuem educação secundária concluída. [Moi ici: E qual a implicação disto? Vão para a universidade? E a universidade tem formadores e cursos preparados para este nível de executivos? Haverá sempre, certamente, um ou outro com vontade de crescer pessoalmente nesta vertente, mas a maioria não quer, nem tem tempo. E são eles que trabalham o numerador da equação da produtividade. Melhor deixar Darwin trabalhar] Certamente que esta realidade reflete o domínio das pequenas e micro empresas no tecido empresarial. Baixas qualificações, acesso a capital limitado e reduzida dimensão [Moi ici: Acham que a fusão de 3 têxteis gera uma empresa mais produtiva mesmo? Perguntem aos japoneses dos anos 50] integram um círculo vicioso que importa quebrar para se almejar maior produtividade, investimento e crescimento."

     

    quinta-feira, agosto 31, 2023

    Números preocupantes

    Ontem o Camilo Lourenço chamou-me a atenção para os números do investimento directo estrangeiro (IDE) publicados recentemente pelo Banco de Portugal. Quem segue este blogue sabe a importância que eu dou ao IDE, uma boleia para aproveitar o know-how e subir na escala de valor (a receita irlandesa).

    Camilo citou dois números, qual deles o mais preocupante:
    • no primeiro semestre deste ano o IDE caiu mais de 57% face ao período homólogo;
    • no primeiro semestre deste ano quase 94% do IDE foi canalizado para o imobiliário.

    quarta-feira, agosto 30, 2023

    Falta a parte dolorosa da transição (Parte IV)

    Ontem, durante a minha caminhada matinal, voltei a "Flawless consulting" e senti-me assim:

    Já publiquei três reflexões sobre: Falta a parte dolorosa da transição (Parte I, parte II e parte III). Sobre a importância de deixar as empresas morrerem.

    Entretanto no livro encontro:

    "THE QUESTION IS MORE IMPORTANT THAN THE ANSWER

    What this means is that we have to learn to trust the questions and recognize that the way we ask the question drives the kind of answer we develop.

    We get stuck by asking the wrong question. The most common wrong question is that of the engineer in each of us who wants to know how we get something done. This question quickly takes us down the path of methodology and technique. It assumes the problem is one of what to do rather than why to do it or even whether it is worth doing. [Moi ici: Relaciono isto com o pensamento de que se tivermos melhores gestores, faremos melhor as coisas e, por isso, ficaremos bem. Parte II]

    ...

    BEYOND HOW

    "How" questions will take us no further than our starting place. They result in trying harder at what we were already doing. The questions that heal us and offer hope for authentic change are the ones we cannot easily answer. Living systems are not controllable, despite the fact that they evolve toward order and some cohesion. To move a living system, we need to question what we are doing and why. We need to choose depth over speed, consciousness over action-at least for a little while.

    The questions that lead to a change in thinking are more about why and where than about how. Some examples:

    • What is the point of what we are doing? ...
    • What has to die before we can move to something new? We want change but do not want to pay for it. We are always required to put aside what got us here to move on. Where do we find the courage to do this?" [Moi ici: Todas estas quatro frases são preciosas! O que precisa de morrer para dar lugar ao novo? Qual o preço da mudança que queremos ver? O que nos trouxe até aqui não nos conseguirá levar até acolá. Onde se arranja a coragem política para deixar a mudança acontecer?]

    Há uma frase que diz que quando descobrimos que estamos num poço, num buraco, a primeira coisa que devemos fazer é deixar de cavar. Há coisa de um mês o jornal ECO lembrava-nos que o país cai há seis anos consecutivos no ranking da produtividade. Em vez de deixarmos de cavar, redobramos os esforços, aumentamos os investimentos no passado. Em vez de deixarmos de cavar, cavamos com mais intensidade. Se cavarmos melhor …

    segunda-feira, agosto 28, 2023

    Falta a parte dolorosa da transição (parte II)

    Na sequência do postal Falta a parte dolorosa da transição o João Ricardo no Twitter comentou:
    "Acho que eu e tu continuamos com a mesma diferença de opinião sobre a qualidade dos empresários portugueses e da gestão em Portugal como causa para a falta de produtividade.

    Nota que no excerto do Cavaco que citas ele está a pôr o dedo nessa mesma ferida."

    Ainda no Twitter respondi:

    "Penso que posso dizer que não divergimos quanto à avaliação da qualidade média da gestão. Não posso negar a 2ª figura deste postal Mas claro, eu só sou um anónimo engenheiro da província. Amanhã respondo com um postal para ilustrar que isso é irrelevante para o salto de produtividade que o país precisa."

    Por que é que a maior ou menor qualidade da gestão é irrelevante para o salto de produtividade que o país precisa? 

    Primeiro, olhar para o exemplo da cidade de St. Louis no Missouri, retirado de "How Rich Countries Got Rich and Why Poor Countries Stay Poor" de Erik S. Reinert. A produtividade nos sectores tradicionais pode aumentar mas atinge sempre um patamar de onde é difícil sair. Na figura que se segue:

    Ilustra-se que por mais bem gerida que seja uma empresa no sector da aviação, ou da comunicação, por exemplo, não consegue ter uma rentabilidade melhor do que a média de outros sectores. Se olharmos para o perfil de sectores económicos de Portugal veremos que as melhores empresas têm rentabilidades inferiores a empresas médias de outros sectores económicos. Basta recordar o postal recente sobre o desempenho do sector farmacêutico em Espanha. 

    Em França, por exemplo, temos:
    • Food / Hospitality / Tourism / Catering Average Salaries in France 2023 - 2840 €/mês
    • Pharmaceutical and Biotechnology Average Salaries in France 2023 - 5530 €/mês
    • Automotive Average Salaries in France 2023 - 3090 €/mês
    O salto de produtividade que o país precisa passa por alterar o perfil das empresas e não por melhorar o desempenho das empresas existentes. A melhoria do desempenho das empresas existentes é bem vinda mas é muito limitada nas suas consequências.

    BTW, uma nota final:
    • O Carlos consultor, trabalha com empresas concretas e, no seu trabalho, esforça-se para as ajudar a melhor a produtividade, independentemente do ponto de partida
    • O Carlos cidadão, preocupa-se com o empobrecimento generalizado da sociedade por causa da aposta na competitividade pelos custos, por causa do apoio a empresas que deviam morrer naturalmente e não serem mantidas ligadas à máquina com apoios e subsídios vários como os do Chapeleiro Louco

    domingo, agosto 27, 2023

    Falta a parte dolorosa da transição

     Um artigo interessante na revista The Economist, "Britain | The low-wage economy - Britain's failed experiment in boosting low-wage sectors":

    "Choking off immigration to make low-wage sectors more productive was never going to work

    The BREXITEER plan to end free movement from the European Union was not only about satisfying popular hostility to immigration. Leavers also talked of fixing Britain's perennial productivity problems. Boris Johnson, as prime minister in 2021, described a future that was "high wage, high skill, high productivity", and would be realised only if Britain kicked its addiction to cheap foreign labour.

    ...

    Businesses show little sign of investing more or raising wages to attract more domestic workers, says Jonathan Portes, a professor of economics at King's College London.

    ...

    A lack of commitment was not the only reason the Brexiteers' experiment failed. The thinking behind it was also faulty. The real productivity problem starts at home. A significant factor is the poor quality of British managers, according to John Van Reenen and Nick Bloom, two economists who have conducted international surveys. Other research suggests that this is especially true in low-wage sectors."

    Portanto a ideia de Boris Johnson era:
    • 1.A produtividade é baixa porque o acesso a mão de obra barata não impele as empresas a aumentarem a sua produtividade. 2.Então, se cortarmos o acesso a mão de obra barata as empresas vão ter de aumentar a sua produtividade para poderem pagar salários mais altos. 3.Assim, os britânicos poderiam aspirar a "high wage, high skill, high productivity".
    De acordo com a minha experiência, na frase acima:
    • O período 2 é verdadeiro. Mas é insuficiente. Pagar melhores salários implica cobrar preços mais elevados aos clientes e os clientes não estão para aí virados se não houver uma vantagem competitiva por parte das empresas. É o quadrante da baixa produtividade e baixa competitividade. O aumento do preço é feito sem contrapartidas para os clientes, e esse aumento não é desviado para melhorar a competitividade da empresa via produtividade, mas para pagar os custos mais altos. Nunca esquecer o caso do Uganda. É tão fácil e comum os políticos (e não só) confundirem mais competitividade com mais produtividade. O problema é o quadrante do empobrecimento.
    • O período 3 é falso, é rotundamente falso porque falta a parte dolorosa da transição. Falta criar as condições para os flying geese (A mudança bottom-up!The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!). É preciso deixar as empresas morrer (e como isto é dificil politicamente, os desempregados são eleitores). No entanto, o que se faz é apoiar essas empresas para que dêem o salto de produtividade ... a sério?! Quantas usam o apoio, (sem maldade, simplesmente porque é a única coisa que sabem fazer), para manter os preços baixos e aguentar mais um ano, como Spender ilustrou com as fundições inglesas.
            O Japão não ficou rico a produzir vestuário de forma muito, 
            muito eficiente. Taiwan não ficou rica a produzir rádios 
            de bolso de forma muito, muito eficiente.

    O tema dos flying geese ilustra bem a quase irrelevância desta frase tão comum em Inglaterra e em Portugal: "The real productivity problem starts at home. A significant factor is the poor quality of British managers". Acham que os melhores gestores do mundo iriam conseguir pôr o sector do vestuário com um nível produtividade capaz de ombrear com a média europeia? Só no Batalha e no Largo do Rato (e na sede nacional do PSD, et al também).

    "high wage, high skill, high productivity" tem de ser resultado de outro perfil de economia... olhar outra vez para o esquema dos flying geese. BTW, nem pensem que conseguem aumentar a produtividade para o nível médio europeu com o mesmo perfil de sectores económicos mas em grande.

    Recomendo recordar a noite em que, na minha leitura, morreu a chama de primeiro-ministro de Cavaco Silva em Também estava escrito nas estrelas.

    sábado, agosto 12, 2023

    O destino do turismo

    Assisti ontem à noite na CNN Portugal a uma parte da conversa com profissionais do turismo algarvio. Na parte da conversa que ouvi este tema surgiu "Algarve "descola da imagem de destino barato". Subida dos preços compensa menos dormidas":

    "Decréscimo no número de dormidas no Algarve está a ser compensado pelo aumento dos preços. Redução foi registada essencialmente por parte dos portugueses, pressionados pela inflação e taxas de juros."

    Não é impunemente que se sobem salários acima da produtividade, a consequência natural é aumentar os preços e/ou cortar as margens. É o destino!

    É o mesmo destino das PMEs exportadoras nos sectores tradicionais. Produzem para fora porque os portugueses não têm poder de compra para as suportar.

    Já ontem tinha apanhado este artigo "Açores: Falta de mão-de-obra deixa restaurantes a «meio-gás". Sinal gritante de que a procura (turistas) é superior à oferta. Se os açorianos querem restaurantes com qualidade de serviço têm de ter empregados qualificados, se não os há têm de aumentar os salários e para isso têm de aumentar os preços. Se as pessoas percebessem a assimetria do impacte da subidas de preços, optariam por ele mais vezes. Recordo o Evangelho do Valor, os clientes que se perdem com a subida de preços são mais do que compensados pelo que se ganha a mais com os que se mantêm.

    Turistas mais satisfeitos, empregados mais satisfeitos, patrões mais satisfeitos e ambiente menos ameaçado.

    Claro, o Evangelho do Valor só funciona se os Açores se focarem nas suas vantagens competitivas como destino turístico: baleias, líquenes (acho que ninguém liga a este potencial) e Atlântida.

    sexta-feira, agosto 11, 2023

    Empobrecimento garantido

    Primeiro estes números:

    Desde Q4 2019 até Q1 2023 os custos do trabalho cresceram 19%. Como refere Nogueira Leite no Twitter:
    "Aliás é aquele em q os ganhos relativos dos salários foram mais expressivos"

    Recordo do ECO, "Portugal é o país da OCDE com o maior aumento real dos custos laborais

    Entretanto, no Expresso encontro:
    "O aumento do emprego, como aconteceu em Portugal no segundo trimestre deste ano, é sempre positivo. Mas nem tudo foram boas notícias nos números divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). É que o emprego mais qualificado caiu. E caiu muito.
    Entre o segundo trimestre de 2022 e o segundo trimestre deste ano, contam-se no país menos 128 mil pessoas empregadas com ensino superior. Um recuo de 7,3%. E "a comparação homóloga regista uma queda pelo quarto trimestre consecutivo" salienta uma nota de análise do BPI."

    No Público li, "Ao fim de nove meses, número de trabalhadores licenciados voltou a subir":

    "Num mercado de trabalho em que o emprego continuou a crescer (mais 54,7 mil empregos face ao trimestre imediatamente anterior e mais 77,6 mil empregos face ao período homólogo do ano anterior), esta quebra em termos homólogos no número de trabalhadores licenciados tem como contraponto um aumento do número de trabalhadores com niveis de ensino mais baixos. Passou a haver, DOS últimos 12 meses, mais 171,3 mil trabalhadores que não foram além do terceiro ciclo do ensino básico.

    ...

    O que é que terá acontecido nos três trimestres anteriores para se assistir a um retrocesso? A explicação poderá estar na forma como a economia portuguesa tem crescido mais recentemente. De facto, a maior parte dos empregos criados em Portugal nos últimos 12 meses veio, mostram 

    ...

    a maior parte dos empregos criados em Portugal nos últimos 12 meses veio, mostram os dados publicados ontem pelo INE, do sector do alojamento e restauração (mais 74,3 mil empregos) e do sector da construção (mais 40,7 mil empregos). Estes são sectores que, em média, tem trabalhadores com níveis de ensino mais baixos"


    Ainda no Expresso encontro "Turismo e construção puxam emprego em Portugal para novo máximo"

    Salários a aumentar e produtividade relativa a cair ano após ano ...

    Ou eu me engano muito, ou o caldinho que se está a preparar não é o melhor:

    • salários a crescer mais do que a produtividade - em vez de gerar morte das empresas com menos valor acrescentado, mata emprego qualificado… isto é tão weird. Especulo que só acontece por causa da facilidade em importar mão de obra barata.
    • salários a crescer mais do que a produtividade - em vez de gerar o flying geese que mata as empresas com menos valor acrescentado, gera uma abordagem que alimenta os sectores não transaccionáveis (competitivos pelos custos).
    • Sucesso das empresas competitivas pelos custos gera empobrecimento garantido.

    Agora vou repousar uns dias para carregar pilhas.

    quarta-feira, julho 26, 2023

    Luxo, ambiente, massas, caça, salários e calçado

    (X) Por que é que os portugueses, genericamente falando, não compram sapatos Made in Portugal?

    (Je) - Por que são demasiado caros para a bolsa-tipo portuguesa.

    (X) Por que é que as fábricas portuguesas não produzem calçado mais barato que possa ser comprado por portugueses?

    (Je) - E depois, como se pagavam os salários e as matérias-primas?

    Para que os salários possam subir há que aumentar o valor acrescentado. Para aumentar o valor acrescentado  há que aumentar o preço médio de cada par de sapatos. Para aumentar o preço médio de cada par de sapatos há que procurar clientes que os possam pagar.

    Claro que há outra forma de aumentar o valor acrescentado: reduzir o custo unitário, praticar preços mais baixos e aumentar a quantidade produzida e vendida. Só que isso implica ter vantagem competitiva no custo e isso é incompatível num produto com muita mão de obra incorporada e situado na Europa Ocidental.

    Escrevo isto a propósito de um texto publicado no semanário Expresso no Sábado passado: "Especulação Já não há hotéis na terra da fraternidade e uma noite num dos empreendimentos de luxo pode chegar a €1650 - Zeca Afonso teria de "montar uma tenda para dormir" " em Grândola""

    Estou a lembrar-me dos anos a seguir à revolução de 74 e dos milhares de caçadores anónimos que íam caçar para o Alentejo em regime de caça livre (não havia outro e era um direito de Abril).

    Eu nunca ocuparei esses empreendimentos turísticos em Grândola, porque não tenho dinheiro para isso e porque não fui educado nesse estilo de gasto e de vida, mas não consigo deixar de pensar que talvez esse nível de preços proteja a região do turismo de massas e permita pagar melhores salários.