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sábado, setembro 23, 2023

Cuidado com o karma...

Já por várias vezes escrevi aqui no blogue sobre o perigo que vejo na aposta da redução das importações. Recordo: Acerca de custos de oportunidade.

Já agora, também recordo o perigo do karma, quando esquecemos de calçar os sapatos dos outros: Karma is a bitch!!! Ou os jogadores de bilhar amador no poder!

Ontem encontrei "Portugal Sou Eu assume “forcing especial” para substituir importações na indústria" e sublinhei:

"Além dos consumidores, que foram o foco nos primeiros anos, também quer sensibilizar as empresas para a escolha de produtos e serviços portugueses no seu consumo de bens intermédios, pois “o que tem acontecido é que aumentam as exportações, mas aumentam proporcionalmente as importações de matérias-primas e bens intermédios”. “Neste momento, o programa está a fazer um forcing especial junto das empresas, associando-se ao grande desafio ambiental de dissociar o crescimento económico do maior consumo de recursos”, adianta o presidente da AEP.

E sendo a indústria transformadora, que é precisamente a que tem maior representatividade no Portugal Sou Eu, um dos setores com elevada incorporação de consumo de bens intermédios, acrescenta Luís Miguel Ribeiro, eleito em junho para um novo mandato à frente da associação patronal nortenha, “existe aqui um elevado potencial para a promoção da economia circular, a redução das importações e, por consequência, uma melhoria do saldo externo do país e o aumento do PIB” nacional."

Queremos aumentar as exportações e reduzir as importações... por que é que os outros países não hão-de querer fazer o mesmo? Cuidado com o karma... 

quinta-feira, maio 19, 2022

Live and let live (parte II)

""O artigo manual não tinha concorrência, quando começou a vir do oriente não houve hipótese. Eles ganhavam menos e tinham menos condições do que nós, era impossível competir. Chegámos a exportar, para a Venezuela, Moçambique, Malaui têm as nossas tapeçarias", diz Urbano Pereira.
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Continuam a usar a lã e misturas de lã, além de algodão e acrílicos. Trabalham em dois turnos, muitas vezes 24 horas por dia, fabricam 2400 peças por dia. Não têm stock, tudo o que produzem é por encomenda e só para exportação. "O nosso grande forte sempre foi a exportação. Todas as empresa da região estavam dependentes do mercado nacional e, com a crise, acabaram por encerrar. Com a exportação, focámo-nos na qualidade", justifica Telmo Chareca.

Trabalham para grandes cadeias internacionais, nomeadamente dos EUA, Canadá, Europa, Japão. Os grupos nacionais preferem continuar a abastecer-se na Asia, embora muitas das mantas que a Newplaids fabrica cheguem a Portugal através das cadeias de lojas espanholas e americanas.
'O nosso produto diferencia-se por uma qualidade média-alta. As empresas nacionais preferem comprar na Asia, que tem produtos com uma qualidade baixa. Mas as coisas estão a mudar com a pandemia, devido ao custo do transporte. O preço de contentor vindo da China, que custava quatro mil euros, triplicou", argumenta Miguel Chareca. A covid 19 teve efeitos na produção, mas já alcançaram níveis superiores ao da pré-pandemia. Faturaram 4,4 milhões de euros em 2021, mais 400 mil que em 2019."

Produtos com "qualidade média-alta" e produtos com uma "qualidade baixa". Cuidado com esta linguagem, ambos são produtos com qualidade no sentido de ausência de defeitos. A palavra qualidade aqui é usada no sentido de mais ou menos atributos. Um Mercedes tem mais qualidade que um Fiat, mas um Fiat pode ter menos defeitos que um Mercedes.

Mais atributos são mais caros e destinam-se a diferentes segmentos de clientes-alvo. Normalmente, as empresas portuguesas que exportam poduzem artigos mais caros, e as empresas portuguesas que vendem para o mercado nacional, mercado com baixo poder de compra, importam artigos mais baratos. Recordar as conservas, o calçado e o mobiliário - Live and let live

Trechos retirados de "Mira de Aire da indústria têxtil dá lugar a museu e fábricas familiares

segunda-feira, fevereiro 28, 2022

Live and let live

No sector de bens transaccionáveis as PMEs portuguesas exportadoras praticam preços mais elevados para o mercado interno ou para o mercado externo?

Os consumidores do mercado interno são iguais aos do mercado externo? Não! Têm poder de compra diferente.

ME - mercado externo
MI - Mercado interno

Muitas PMEs exportadoras ou não trabalham para o mercado interno, ou produzem produtos diferentes, mais baratos para ele. 
Muitas PMEs exportadoras nunca sobreviveriam a trabalhar só para o mercado interno. O mercado interno é pequeno e não aguenta margens elevadas.
Muitas PMEs exportadoras nem perdem tempo a trabalhar para o mercado interno. 

O que defendo aqui neste espaço desde o início deste blogue em 2004?
  • As empresas devem ter uma estratégia! 
  • Ter uma estratégia passa por escolher os clientes-alvo, os clientes que podem ser servidos com vantagem competitiva.
  • O objectivo das empresas é o lucro, não a quota de mercado.

Alguns exemplos:
Por isto, o que penso sobre a ideia de focar as PMEs exportadoras na redução das importações, em vez de continuarem a fazer o trabalhar de ganhar mercado no exterior, está bem descrito em Produtividade e tretas académicas.

Tudo isto por causa de mais uma exibição de falta de pensamento estratégico em "Madeira e mobiliário com vendas recorde ao exterior de 2587 milhões" no DN de ontem:
"Apesar da pandemia, 2021 foi um bom ano para as exportações da fileira nacional da madeira e mobiliário, que atingiram os 2587 milhões de euros, ultrapassando em 1,6 milhões o máximo histórico que havia sido alcançado em 2019. O presidente da Associação das Indústrias da Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP) mostra-se "muito satisfeito" com esta performance, mas alerta para o crescimento de 21% nas importações, que levaram a uma "queda abrupta" do saldo da balança comercial, para 440 milhões de euros. [Moi ici: O artigo começa com uma descrição positiva]
...
Mas nem tudo são boas notícias, já que as importações da fileira de madeira e mobiliário, que haviam abrandado em 2018 e 2019 e caído em 2020, cresceram 21% em 2021, ou seja, a uma taxa superior à das exportações, arrastando o superávite do setor para 440 milhões de euros, valor que equivale aos níveis de 2011. "Um absoluto desastre", diz o presidente da AIMMP. "O país precisa de aumentar as exportações, sem agravar as importações, caso contrário não teremos crescimento económico, mas apenas um empobrecimento gradual e coletivo", defende, sublinhando que "na situação económica e empresarial em que nos encontramos, os incentivos ao consumo não constituem fonte de crescimento, mas de agravamento do endividamento externo"."

Querem aumentar a produtividade e os salários ao mesmo tempo que se dedicam a produzir baratos, com margens baixas e em pequenas quantidades? 

Live and let live.

domingo, julho 18, 2021

Custo de oportunidade, again!

Há dias, talvez sexta-feira, via Twitter encontrei este texto, "What do economic scholars consider powerful economic knowledge of importance for people in their private and public lives? Implications for teaching and learning economics in social studies" de Niclas Modig.

"Based on Young’s notion of powerful knowledge, acquiring disciplinary knowledge emerging from an economic epistemic community is expected to make an important difference for people when dealing with economic issues in their daily lives. In this regard, this article’s author asked Swedish scholars of economics at higher education institutions what they considered to be the most important economic concepts that people would need to acquire and understand

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People need economic knowledge to make well-informed decisions when facing economic questions in their private and public lives. However, research from different parts of the world has shown that adults, students and youngsters alike often lack economic knowledge 

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According to research, the lack of economic knowledge is even pervasive amongst social studies teachers, who are responsible for providing basic economic education [Moi ici: Eheheheh!]

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The results are drawn from an online questionnaire (see Appendix 1) sent to all identified (419) economists in all 48 higher education institutions in Sweden, except nine economists at the author’s own university. 

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Two items (questions 10 and 11) in the questionnaire are of particular importance, focussing on what the economists consider to be the most important concepts in economics for people to acquire and understand. Both questions were open ended, making it possible to list an unlimited number of concepts for each question. The concepts were summarised based on frequency and then sorted into broader categories;

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As shown in Figure 3, opportunity cost is the largest category when the individual (74) and the citizen perspectives (60) are merged, with a total of 134 occurrences, followed by interest, with 51 occurrences (33 from the individual perspective and 18 from the citizen perspective), and marginal concepts, with 49 occurrences (33 from the individual perspective and 16 from the citizen perspective)."

Posto isto, como não recordar João Duque em "Produtividade e tretas académicas" (Junho de 2020):

“Para começar, acho que podemos ir à lista de importações e começar a fazer o que importamos. Se conseguimos passar a fazer ventiladores, porque não outras coisas?”[Moi ici: Até sinto vergonha alheia ao reler isto!]

Ou a estória de reduzir a importação das conservas, "Como se pode ser tão burro e cometer sempre os mesmos erros???"

Recordo a frase de Napoleão:

E recuo a 1986/87 quando tinha cerca de 22 anos, um mundo pré-China, um mundo em que nós eramos uma china, ""um atestado de desconhecimento da realidade" (parte IV)"[Fevereiro de 2016).

Por fim, recordo Abril de 2014 com "Acerca do custo de oportunidade".

"Martha Stewart, let us agree, can iron shirts better and in less time than anyone else in the world. So, does it make sense for Martha Stewart to iron her own shirts? No!" 

domingo, fevereiro 25, 2018

Acerca das importações

Se as exportações em 2017 cresceram 10%, com uma grande contribuição das commodities, ao contrário dos últimos anos, as importações cresceram mais de 12,5% em 2017. Qual a evolução do perfil das importações segundo os dados do INE?
As importações cresceram 7670 milhões de euros em 2017. Dois terços desse crescimento, 5124 milhões de euros, foram devidos a apenas 6 itens. E já agora, mais de 35,5% desse crescimento foi devido a apenas dois itens (Combustíveis ... e Automóveis ...)

Interessante comparar importações e exportações lado a lado em termos de crescimento:

Por exemplo, a nível de "Móveis, mobiliário médico-cirúrgico, ..." importaram-se mais 138 milhões de euros (total em 2017 foi de 1128 milhões de euros) e exportaram-se 107 milhões de euros (total em 2017 foi de 1932 milhões de euros). Como não recuar a 2010 e 2015 e relacionar com "Um programa 100% reles" e os custos de oportunidade (BTW, custos de oportunidade é algo de muito difícil de fazer perceber, há demasiados trumpistas, à direita e à esquerda, adeptos da versão portuguesa do MAGA (Make America Great Again) comparar esta postura com esta outra).

Outro exemplo deve ser o do "Peixes, crustáceos, ..." importamos peixe barato e exportamos o peixe mais caro.

quinta-feira, agosto 17, 2017

Um outro olhar para as importações YTD (06/17)

05/17

Nos primeiros 6 meses de 2017 Portugal importou mais 4330 milhões de euros do que em 2016. De onde veio esse crescimento? Cerca de 62% do aumento das importações é motivado por 6 itens:
Importações ligadas a produção e investimento. Nada de alarmar!

Já depois de escrever isto pensei noutra perspectiva: quantidade total de cada item e evolução ao longo de mais anos:
O perfil das importações, mais ligado a investimento, este ano está melhor que em 2016 e pior que nos outros anos. No entanto, tenho de concluir que os meus cálculos são muito simplistas. No grupo de itens escolhido, apesar do impacte de 60% no crescimento das importações, um único item, Combustíveis, tem um impacte muito grande. E se o retirarmos?
Um panorama completamente diferente.

BTW, 2016 a nível de importação de "veículos automóveis, tratores e outros veículos terrestres e suas partes e acessórios" representou um recorde. Para trás ficaram os anos da troika e não só:
Isto não é tudo consumo. Gostava de saber qual a fatia adquirida por companhias de aluguer de automóveis, muito influenciadas pelo turismo. Li algures que em 2015 as empresas de rent-a-car representavam cerca de 30% da compra de automóveis ligeiros em Portugal.

Após pesquisa breve:
"(o turismo já representa cerca de 70% da atividade das empresas de rent-a-car em Portugal)" (fonte)
"As compras do rent-a-car em julho de 2017 valeram 37% das vendas totais de ligeiros de passageiros, num total de 6.488 unidades, revela a ARAC.
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Recorde-se que o mercado português de veículos ligeiros de passageiros encerrou o mês de julho com um volume de vendas de 17.544 unidades, mais 12,2% do que no mesmo mês do ano anterior."(fonte)


sexta-feira, julho 14, 2017

Um outro olhar para as importações YTD

Normalmente costumo escrever aqui sobre as exportações. Espero este fim de semana ter tempo para estudar os números que o INE publicou esta semana.

Hoje vou escrever sobre um tema que não costumo abordar: as importações.
"Nos primeiros cinco meses de 2017, as exportações e as importações de bens cresceram, em termos nominais, 13,1% e 16,3%"
A primeira reacção, ao olhar para estes números, é de receio de aumento do consumismo que se traduz em importações:
"se a retoma económica continuar em 2018 – e tudo aponta para isso – é provável que o país regresse, nesse ano, aos défices da balança de bens e serviços.
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Com efeito, estando ainda muito do rendimento dos portugueses “congelado” ou a aumentar a taxas nominais muito baixas, basta uma pequena aceleração da economia portuguesa para fazer disparar o défice da balança de bens."
Isto era o que eu pensava intuitivamente antes de olhar para os números. E o que é que eu aprendi quando olhei para os números?

Nos primeiros 5 meses de 2017 Portugal importou mais 3975 milhões de euros do que em 2016. De onde veio esse crescimento? Cerca de 70% do aumento das importações é motivado por 7 itens:
Depois de olhar para estes números fico muito mais optimista. O crescimento das importações decorre sobretudo de importações para produzir e de importações no âmbito de investimento produtivo.

Trechos retirados de "O crescimento das exportações e das importações é uma excelente notícia"

sábado, junho 03, 2017

Acerca da evolução das importações

"O ‘think tank’ Bruegel analisa a evolução do saldo comercial das economias da periferia da Europa e conclui que, tirando a Grécia, o ajustamento veio do aumento das vendas ao exterior e não da quebra das importações.
...
Quase uma década mais tarde, os autores propõe-se desconstruir esse mito, concluindo que na maioria dos países as importações aumentaram pouco e foram as exportações que ajudaram a equilibrar a frente externa. Em Portugal, entre 2008 e 2016, o saldo da balança corrente melhorou cerca de 8,5 pontos percentuais do PIB, que resultam de mais 11 pontos das exportações, sendo penalizado por 2,5 pontos nas importações (que aumentaram). Desde 2013 que o país tem um excedente."
De um lado temos os sofistas sempre dispostos a argumentar qualquer coisa em prol do seu clube:


Do outro, anónimos como eu que fazem contas e procuram ancorar o pensamento em factos:
"Os resultados são interessantes e fogem do que estava à espera.
...
Primeira surpresa: as importações de bens em 2012 superaram as de 2010 (no referido período)"
Trechos iniciais retirados de "Bruegel: o mérito do ajustamento externo é das exportações

quarta-feira, maio 24, 2017

Será que o problema é meu?

De acordo com os dados do INE as importações de "Papel e Cartão, e suas Obras; Obras de Pasta Celulose" no 1º trimestre de 2017 cresceram 10 milhões de euros (4%).

Num texto tipicamente encomendado pelos eucaliptófilos, "Importações de papel disparam em 2017" [Moi ici: um crescimento de 4% catalogado como "disparam"... enfim] temos:
"Em 2013 Portugal importava de todo o mundo mais de 945 milhões de euros em papel e pasta, [Moi ici: Primeiro, esta mistura de papel e pasta é de desconfiar. Nesta fonte, pode comparar-se o valor de cada uma. Entre Janeiro e Junho de 2015 importaram-se 31 milhões de euros de pasta de papel e 578 milhões de euros em "Papel, cartão e publicações"] mas o valor tem vindo a aumentar de ano para ano. Em 2016, as importações neste setor chegaram mesmo a mais de 990 milhões de euros e muitos admitem que a tendência seja continuar a importar cada vez mais matéria-prima.[Moi ici: O que é isto de matéria-prima? Matéria-prima para as papeleiras ou para a indústria que usa o papel?]
...
Uma fonte ligada ao setor explica que «os preços do papel em Portugal começaram a aumentar e houve extinção de alguns tipos de papel que eram fabricados em Portugal. A solução foi procurar em outros países como a China. Mesmo com as deslocações, acaba por sair mais barato comprar lá».[Moi ici: Dois vectores. preços a aumentar e extinção de alguns tipos de papel que se fabricavam em Portugal. Ao mesmo tempo, aumento de barreiras alfandegárias nos Estados Unidos obrigaram os produtores asiáticos a procurar mercados alternativos. Recordar que empresa papeleira portuguesa levou multa dos EUA por acusação de dumping]
...
Os papéis  revestidos (também designados coated papers ou papel couché) não são produzidos em Portugal e são naturalmente importados. Alguma importação extracomunitária, de papéis do tipo dos produzidos no país é feita com produtos de gamas de qualidade inferior e a preços consequentemente mais reduzidos».[Moi ici: Nos papéis mais caros não têm produção. Nos papéis mais baratos não conseguem competir com a Ásia]
...
[Moi ici: Notável esta afirmação que se segue. Parece que é pecado um empresário pensar por si próprio e procurar o melhor para a sua empresa] Ainda assim, há empresários que apostam cada vez mais em comprar papel a outros países, a preços que consideram mais acessíveis."
Estranho!!!

O sector tem problemas de escoamento da sua produção e continua no seu modo canceroso concentrado na expansão da capacidade de produção a todo o custo... gente que ainda não descobriu Marn e Rosiello?

quarta-feira, julho 13, 2016

Acerca das importações

Ontem à tarde, um amigo escreveu no Twitter:
"Em Maio as importações caíram 3,6%. Estamos a espetar-nos ao comprido"
Aqueles 3,6% dizem respeito à variação homóloga em Maio.
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Vamos lá olhar para os números do acumulado do ano até Maio:
Ou seja, no acumulado do ano as exportações caíram 1,6%, cerca de 394 milhões de euros.
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Agora vamos fazer um pequeno exercício. Por um lado, Portugal importa muito petróleo para processamento e posterior consumo e exportação. Por outro lado, os chineses estão a inundar o mercado com aço muito barato. Qual a evolução das importações sem estes dois componentes:
Sem contar com o petróleo e o aço as importações acumuladas nos primeiros 5 meses de 2016 cresceram 1133 milhões de euros. Ou seja, um crescimento de 5,5%.

É preciso ter cuidado com os números quando existe um banhista gordo na banheira.

segunda-feira, abril 11, 2016

Acerca das importações de 2016

A propósito dos números do INE sobre o comércio internacional que saíram na última sexta-feira.
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Escrevo com base na comparação do acumulado do ano de 2016 com o de 2015:
  • Importamos mais cerca de 173 milhões de euros;
  • Importamos mais cerca de 1,9%:
  • Importamos menos 335 milhões de euros em combustíveis (e, mesmo assim, importamos mais 173 milhões de euros);
  • Importamos menos 41 milhões de euros em ferro fundido, ferro e aço;
  • Importamos mais 152 milhões de euros em viaturas;
  • Importamos mais 83 milhões de euros em máquinas e aparelhos eléctricos;
  • Importamos mais 41 milhões de euros em aeronaves e outros aparelhos;
  • Importamos mais 55 milhões de euros em plásticos e suas obras;
  • Importamos mais 34 milhões de euros em produtos farmacêuticos;
Bom, talvez que dos 173 milhões de euros, 124 (83 + 41) correspondam a investimento directamente produtivo. 
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BTW, para quem tem um Skoda com 20 anos, o namoro que os portugueses devotam aos automóveis é ... estranho.

segunda-feira, agosto 10, 2015

Pergunta do dia

Quando os comentadores passam a correr sobre os números das exportações, que menorizam, e se concentram nos números das importações, o que é que têm em mente?
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Não são esses mesmos comentadores que advogam o aumento do consumo interno para dopar a economia? De onde vem o aumento das importações?
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De muito longe, o maior contributo é da responsabilidade de "automóveis, tractores e outros veículos terrestres". Acaso pensam esses comentadores que se deve impedir as pessoas de decidirem o que bem ou mal fazerem com o seu dinheiro.
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Com o meu Skoda com 19 anos e 485 mil km, posso achar que o português-tipo tem uma relação esquisita com os pópós. No entanto, longe de mim querer impor modelos de comportamento ou de consumo.
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O que é que estes comentadores realmente têm em mente?

quarta-feira, março 25, 2015

"Acerca do custo de oportunidade" (parte II)

Na passada segunda-feira, o Jornal de Negócios trouxe um artigo intitulado "Metal tem plano para substituir 500 milhões de importações":
"Os industriais da metalurgia e metalomecânica abriram uma nova frente de batalha. Com as exportações completarem em Janeiro um ano seguido a crescer, a associação do sector (AIMMAP) tem em marcha um plano de "criação de massa crítica e de aumento da oferta" na produção de máquinas e equipamentos  industriais para substituir importações.
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É que se a indústria de metal consegue dar resposta a clientes nacionais da área do calçado ou da pedra ornamental, por exemplo, só há uma empresa nacional "com significado" que produz máquinas para a indústria têxtil, que nos últimos anos tem recuperado nas exportações e investido nas suas fábricas."
Ao ler o artigo lembrei-me logo de David Ricardo, dos custos de oportunidade, de "Acerca do custo de oportunidade" e de Martha Stewart a passar roupa a ferro.
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As empresas que conseguem dar resposta a clientes nacionais do sector do calçado e da pedra, começaram como um projecto top-down ou um projecto bottom-up?
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Uma dessas empresas, por exemplo, tem muitas solicitações para trabalhar para o sector automóvel mas não está interessada em "passar camisas a ferro".
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Não é só uma questão de custos...

quinta-feira, abril 10, 2014

Acerca do custo de oportunidade

"A vida vai correr-nos bem, portanto, em 2014. Tudo junto, a economia portuguesa vai beneficiar de compras que excedem em 5530 milhões de euros, as realizadas em 2013 — 3565 milhões de euros vindos do estrangeiro e 1965 milhões de euros vindos das famílias, das empresas e do Estado residentes. Para quem teve, em 2013, um PIB de 165.666 milhões de euros, este acréscimo de procura determinaria uma taxa de crescimento de 3,3%, acima dos míticos 3% de que tanto falamos. 0 ânimo esmorece-nos quando damos conta de que, nestes novos 5530 milhões de euros de compras, as empresas residentes não se mostram capazes de satisfazer mais do que 1996 milhões de euros. Na falta de oferta interna, o resto, leia-se 3534 milhões de euros vai ter de ser satisfeito por importações. E, com isto, os belos 3,3% transformam-se nuns modestos 1,2% de taxa de crescimento. 'Não nos faltará procura; falta-nos oferta, com o que desperdiçaremos 64% do potencial de crescimento prometido pelo aumento da procura interna e externa, em 2014. Sucederá o mesmo em 2015 e em 2016.
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Esta é a minha história. Espero que gostem. Diz muito, ou pelo menos alguma coisa, sobre aqueles que passam o tempo e ganham a vida a dizerem que nos falta procura — por causa da troika, do Governo, da austeridade. Penso, pelo contrário, que nos falta oferta, e que é nisso que deveríamos concentrar-nos."
Compreendo esta reflexão de Daniel Bessa no Caderno de Economia do semanário Expresso do passado Sábado, na coluna intitulada "O regresso das importações".
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Contudo, vem-me logo à mente uma expressão "Custo de oportunidade" e pensei logo no exemplo da Autoeuropa e a Associação Portuguesa de Fundição, recordar "Mais um exemplo da subida na escala do preço".
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Recordar também, que exportamos cada vez mais calçado e mais caro e, no entanto, continuamos a importar calçado.
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Recordar também, que exportamos cada vez mais mobiliário e mais caro e, no entanto, continuamos a importar mobiliário.
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O calçado, o mobiliário, e muitos outros materiais que importamos, ao serem importados são uma boa escolha económica.
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O calçado que importamos é muito barato e é para consumidores que não valorizam o calçado o suficiente.
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O mobiliário que importamos é muito barato e é para consumidores que não valorizam o mobiliário o suficiente.
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Pôr empresas portuguesas a produzir em Portugal para esses segmentos muito económicos é cada vez mais impraticável, não têm custo laboral, custo energético e escala para estarem nesse campeonato. É mais adequado que o escasso capital português seja aplicado em actividades económicas com retorno mais interessante.



quinta-feira, dezembro 05, 2013

Curiosidade do dia

Daqui, retirei:
"O volume de vendas de automóveis ligeiros de passageiros aumentou 17,7% em termos homólogos no trimestre terminado em outubro, o que compara com 15,7% do 3.º trimestre."
 Tendo em conta as interpretações que por aí andam sobre a diminuição do desemprego, apetece perguntar:
- Será que os portugueses que emigraram vêm a Portugal comprar carro? Será que a fiscalidade portuguesa beneficia a compra em Portugal? Então, se não foram eles, quem foi?

sábado, outubro 26, 2013

Acerca da substituição das importações

"Empresas importadoras devem privilegiar fornecimentos internos, diz António Saraiva"
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Por que é que uma empresa resolve importar em vez de comprar no mercado nacional?
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Por desporto?
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Por birra?
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Por que não quer ganhar dinheiro?
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Por que não gosta do país?
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Esta semana, em reunião com um empresário, ele disse várias vezes:
"Não tenho nenhum gosto em importar a matéria-prima de Itália, preferia comprar no mercado nacional. Contudo..."
E o contudo é que estraga tudo...
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Empresas portuguesas que sobem na escala de valor, que estão a ter sucesso exportando cada vez mais, apostam na flexibilidade, na rapidez, na inovação, nas novidades...
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Muitas empresas portuguesas que podiam estar a fornecer a essa gente, continuam no modelo tradicional:
"Não apresentam produtos novos.
Não actualizam catálogos.
Não têm cores novas.
Querem quantidades grandes.
Querem prazos de entrega impensáveis.
Não conseguem rigor nas cores de um lote para o outro"
Recordar "A minha interpretação"
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António Saraiva dá o exemplo da Copam com a Portucel... IMHO é um exemplo pouco replicável e, se calhar pouco saudável para uma PME.
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A Portucel é uma empresa que produz quantidades brutais de pasta de papel... uma produção de grandes quantidades, previsível, sem grandes oscilações. O negócio é preço, logo, vão querer trabalhar com fornecedores que possam ter preços muito baixos e com capacidade de produção adequada.
A Copam começa a fornecer à Portucel... e como vai pagar o investimento para aumentar a sua capacidade produtiva? Com que margem vai trabalhar com a Portucel? E a Copam está preparada, tem estrutura comercial para exportar e ainda conseguir reduzir mais os custos? Se não o fizer, competirá sempre com quem tem escala superior e pode praticar preços mais competitivos.
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E a Portucel está disposta a abdicar de reduções nos custos para promover um fornecedor português?
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Pergunto, e a Copam não tem outras alternativas? Como pode subir na escala de valor?

sexta-feira, março 15, 2013

A subida das importações

A propósito da dúvida de ontem em "Consumo interno, importações e dúvida - ajudem-me por favor!" decidi investigar em pormenor o que tem acontecido às importações em Portugal.
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Os resultados são interessantes e fogem do que estava à espera.
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Resolvi comparar o conteúdo das importações entre 2010, o último ano pré-troika, e 2012, usando os números dos boletins mensais de economia (2010 e 2012). Como ainda não foram publicados os dados completos relativos a 2012, comparei os períodos de Janeiro-a-Novembro de 2010 com Janeiro-a-Novembro de 2012.
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Primeira surpresa: as importações de bens em 2012 superaram as de 2010 (no referido período):

  • 51 937 milhões de euros em Janeiro-Novembro de 2012;
  • 51 613 milhões de euros em Janeiro-Novembro de 2010.
E importamos as mesmas coisas? Não

Onde estão as diferenças positivas e negativas?

 Olhando para a frente, o que pode acontecer às importações em 2013?
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Dado que os empréstimos às famílias estão em queda, se calhar, a evolução das compras de "Produtos Acabados Diversos" e de "Material de Transporte" manterá a mesma tendência.
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Dado que os empréstimos às empresas estão a subir, se calhar, a evolução das compras de "Máquinas" deve inverter.
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E as importações de "Agro-alimentares", talvez baixem.
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Vamos ver.

quinta-feira, março 14, 2013

Consumo interno, importações e dúvida - ajudem-me por favor!

O Jornal de Negócios de ontem traz uma coluna intitulada "Melhoria da procura interna ameaça saldo externo" onde se pode ler:
"Os números apontam para um abrandamento da queda das entradas em Portugal e parece estar relacionado com uma melhoria no consumo interno e no investimento, já visível no final de 2012." (Moi ici: BTW, depois falam da espiral recessiva)
Lembrei-me logo do que tinha lido no dia anterior nos comentários à inflação de 0% em Fevereiro passado:
"A recente tendência da inflação constitui mais um sinal da debilidade da procura interna, pois a taxa de inflação subjacente, excluindo os preços mais voláteis dos bens alimentares e energia, está em terreno negativo desde Janeiro (-0.5% em Fevereiro)."
Entretanto, pouco depois de ler isto, lia no Oje o artigo "Crédito às famílias cai 5576 milhões" algo que no dia anterior já tinha sido noticiado com "Crédito às famílias caiu mais de 5,5 mil milhões nos últimos 12 meses"... recordei logo os números que aprendi esta semana com o último livro de João César das Neves e que foram objecto desta "Curiosidade do dia".
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Escrevo tudo isto por causa de uma dúvida, o que é que vai ditar, em primeiro lugar, o recomeço do aumento das importações se Portugal continuar a seguir o modelo que tem seguido com a troika?
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O consumo ou as importações industriais?
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Esta figura, retirada do relatório "Estatísticas do Comércio Internacional Janeiro 2013" do INE, não me sai da cabeça:
Conjugando tudo isto, interrogo-me:
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Não é mais fácil as importações de combustíveis minerais para serem transformados e, de químicos para serem transformados, estarem a dar os sinais que o jornalista do Jornal de Negócios interpreta como sendo um retorno das importações via consumo?
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BTW, longe de mim pertencer ao clube dos que acham que consumir é pecado, pelo menos consumir sem ser base em endividamento.
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BTW2, leio o que se segue e não percebo o que é que o jornalista quer dizer. Reparem, o mesmo jornalista que escreveu que 100 mil empregos perdidos no sector transaccionável são mais do que 230 mil empregos perdidos no sector não-transaccionável (recordar isto) é o mesmo que escreve isto:
"Apesar do optimismo em torno dos resultados das exportações portuguesas, grande parte do ajustamento externo não está a ser feito vendendo mais, mas sim comprando menos."
Resolvi comparar o ano 2012 com o último ano pré-troika:

  • importações de bens em 2010 = 57 053 milhões de euros
  • importações de bens em 2012 = 56 120 milhões de euros
As importações caíram 1,6%, caíram 933 milhões de euros.
  • exportações de bens em 2010 = 36 762 milhões de euros
  • exportações de bens em 2012 = 45 359 milhões de euros
As exportações cresceram 23,4%, cresceram 8 579 milhões de euros.

Qual é a parte do racional do jornalista que eu, anónimo da província, não consigo acompanhar?