Mostrar mensagens com a etiqueta eurozona. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta eurozona. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, janeiro 02, 2012

It's not the euro, stupid! (parte V)

Parte I, parte II, parte III e parte IV.
.
Escrevemos, no primeiro postal de 2012:
.
"As dificuldades criam, geram, proporcionam, escondem oportunidades.
.
"In the middle of difficulty lies opportunity" (Einstein).
.
As dificuldades podem ser a chispa que desencadeia a revolução que estava por detrás da rolha, o tsunami preso pelas comportas.
.
As crises podem ter o condão de criar a oportunidade de libertar os factores aprisionados a velhas fórmulas, a velhos modelos.
.
Claro, os incumbentes de espírito tentarão até à última defender o status-quo... os que não têm nada a perder arriscam e constroem o futuro."
.
Bem na linha de "A Trapped Factors Model of Innovation" de Nicholas Bloom, Paul Romer e John Van Reenen, publicado em Outubro de 2010.
.
"When will reducing trade barriers against low wage country cause innovation to increase in high wage regions like the US or EU?
.
We develop a model where factors of production (such as skilled labor) are used to either produce or innovate. (Moi ici: Exploitation versus exploration) Because of sunk investments (like learning bydoing) they become “trapped” in producing old goods. In this model, trade liberalization with a low wage country reduces the profitability of the old good and so the opportunity cost of innovating falls. (Moi ici: Talvez a escassez de capital que vivemos, a par do colapso na procura interna, reduzam os custos da inovação, reduzam os custos de retirar recursos escassos (capital, gente talentosa, tempo, ...) de apostas que passaram o seu prazo de validade, para novas apostas) Interestingly, the “China shock” is more likely to induce innovation than liberalization with high wage countries, as richer countries will compete in both old and new goods."  (Moi ici: Gente perigosa... De acordo com o que sucedeu a Portugal com a entrada na CEE. Os produtos alemães não vinham competir com os produtos portugueses, os produtos portugueses é que foram competir pelo preço com os produtos alemães naquela questão 
"Para um dado nível de desempenho, quão barato o podem oferecer?")
.
"we show, paradoxically, that increased trade with a low-wage trading partner, which drives down prices and forces firms to shut down some lines of production, can also increase the rate of innovation. Instead of increasing the return to innovation, this kind of trade effect reduces the opportunity cost of the resources used to innovate." (Moi ici: evolução dos euros produzidos por trabalhador na indústria do calçado e na do têxtil e vestuário)

"workers acquire human capital that is specific to a firm and the goods that it produces. This makes the human capital used by each firm a “trapped factor”. If a factor of production is trapped in a firm, a trade shock that reduces the value of this factor in specific lines of production can encourage the firm to reallocate this factor to other activities including innovation. Because the human capital is firm-specific, the shock reduces the opportunity cost of the human capital that it uses without having any effect on the cost of human capital to other firms.
...
The nature of the market failure is that skilled workers should specialize in innovation but they do not because the private incentive to innovate is below the social incentive. Their product specific skills cause them to be “trapped factors” from planner’s point of view.
...
we describe the predictions of this theory for innovation in a high wage country under two types of trade shock: a “China shock” (liberalization of goods with a low wage country) and an “OECD shock” (liberalization of trade with a high wage country). We show that the positive effect of liberalization holds only for the China shock."
.
E das Conclusões:
.
"In this paper we have considered a “trapped factor” model where some factors of production due to sunk costs are partially irrerversible and are therefore “trapped” in a firm (e.g. when there is firm-specific human capital from learning by doing). We show that in such a model that when a rich OECD country reduces trade barriers with a low wage country like China this can act to speed up the rate of innovation and therefore economic growth in the OECD country. This is because the trapped factor will be used (in part) to produce old goods and this sets the opportunity cost of innovation. A China shock reduces the profitability of producing these old low tech goods and therefore reduces the opportunity cost of innovation. Abstracting from market size effects, integration with a high wage OECD country does not have these pro-innovation effects.
...
First, opening up to trade with China appears to have generated faster technical change in firms in richer countries (like Europe and the US) not simply from reallocation but also through within firm innovation. Secondly, the effects of opening up to trade with countries like China appears to have stronger effects on innovation than trade integration with other rich countries."
.
Por que é que esse choque em Portugal foi tão violento, levando à morte de tantas empresas?
.
Porque a maioria das empresas portuguesas competia no mesmo campeonato da China, usando como vantagem competitiva os preços baixos, ou seja, muitas empresas estavam longe da fronteira do seu sector:
.
"It is important to understand the factors that infl‡uence a country’s transition from the production of low-quality to high-quality products since the production of high-quality goods is often viewed as a pre-condition for export success and, ultimately, for economic development. In this paper, we provide the fi…rst evidence that countries ’import tariffs affect the rate at which they upgrade the quality of their products. We analyze the effect of import competition on quality upgrading using highly disaggregated export data to the U.S. from fi…fty-six countries in 10,000 products using a novel approach to measure quality. As predicted by recent distance to the frontier models, we fi…nd that lower tariffs are associated with quality upgrading for products close to the world quality frontier, whereas lower tariffs discourage quality upgrading for products distant from the frontier."
...
"we show that there is a signi…cant relationship between import tariffs and quality upgrading. The direction of the effect depends importantly on how far the product is from the world quality frontier. For products close to the frontier, low tariffs encourage quality upgrading whereas for products distant from the frontier, low tariffs have the opposite effect, discouraging quality upgrading. (Moi ici: O exemplo que nos vem do Brasil!)
...
Our findings support the theories by Aghion and Howitt (2005) and ABGHP (2009) that highlight two forces: one, the “escape-competition ”effect that induces a fi…rm close to the frontier to invest in quality upgrading in order to survive competition from potential new entrants; and two, the “appropriability” effect that discourages …firms distant from the frontier from investing in quality upgrading because they are too far away from the frontier to be able to compete with potential new entrants. Our results show that support for these theories is strongest in countries with good business climates, a fi…nding that is perhaps not surprising given that lower tariffs are unlikely to alter signi…cantly the competitive environments in countries that face many other restrictions on competition."
.
Trechos retirados de "Import Competition and Quality Upgrading" de Mary Amitiy e Amit K. Khandelwalz, publicado na versão final em Novembro de 2011.
.
Ah! E para os que acham que o problema é do euro... recomendo a figura 2 na página 24.

sexta-feira, dezembro 30, 2011

It's not the euro, stupid! (parte IV)

Parte I, parte II e parte III.
.
Comecemos tendo em conta as imagens e a mensagem deste postal "As mudanças em curso na China - parte II" e esta imagem
retirada deste postal "O choque chinês num país de moeda forte (parte II)". Hoje, corrigiria o título para "O choque chinês num país com salários mais elevados". Os norte-americanos não têm uma moeda forte e, mesmo assim sofreram o mesmo impacte chinês como nós em Portugal.
.
A figura é elucidativa do que acontece com o choque chinês:

  • muitas empresas desaparecem;
  • as empresas maiores desaparecem mais do que as mais pequenas, o nº de trabalhadores por empresa diminui;
  • a quantidade total produzida diminui.
BTW, não percam os outros gráficos que se seguem nesse mesmo postal.
.
Ontem, este "amigo" apresentou-me este outro "amigo": "An Alternative Theory of the Plant Size Distribution with an Application to Trade" de Thomas J. Holmes e John J. Stevens" publicado em Abril de 2010.
.
Por um lado pensei "Duh! É o que andamos a dizer há anos neste blogue", por outro lado também pensei, "Meu Deus, se isto é assunto para artigo publicado é porque é novidade, logo... ainda vai durar a entrar na mente dos encalhados... bem dizia Max Planck:
.
"Uma nova verdade científica não triunfa convencendo seus oponentes e fazendo-os ver a luz, mas porque seus oponentes finalmente morrem e uma nova geração  que está familiarizada com ela cresce" (Moi ici: Mas Max Planck esqueceu-se da linha de montagem que os oponentes comandam nas escolas).
.
Vamos lá ao que escrevem Holmes e Stevens no artigo, começamos pelo fim, pelas conclusões:
.
"This paper develops a model in which industries are made up of mass-production factories making standardized goods and specialty plants making custom or niche goods. (Moi ici: Os governos e encalhados acham que uma unidade de produção pequena pode ou deve fazer o mesmo que uma grande) The paper uses a combination of confidential and public Census data to estimate parameters of the model and, in particular, produces estimates of plant counts in the specialty and standardized segments by industry. The estimated model fits the observed plant size/geographic concentration relationship relatively well. The estimates reveal that, for those industries that have been heavily affected by a surge of imports from China, there has been a dramatic decline in plant counts for the standardized segment, while the specialty segments have been relatively stable. (Moi ici: Em sintonia completa com a nossa recomendação de anos: fujam do campeonato de preço mais baixo. Esse campeonato joga-se com produtos maduros, grandes quantidades e é para quem pode e não para quem quer)
.
The paper also shows that for the China surge industries, locations with large concentrations of the industry and large plants, like High Point, North Carolina, have declined relative to the rest of the country. (Moi ici: Recorrendo mais uma vez ao exemplo do calçado, recordar estes postais sobre o declínio das multinacionais do calçado em Portugal- aqui, aqui e aqui. Recorrendo ao exemplo do têxtil estes postais sobre a TMG e o renascer do sector - aqui e aqui) These results are consistent with the hypothesis that products made in China are close substitutes to the products of big plants (like those in High Point), and not so close substitutes to the products of the small plants that are diffuse throughout the country. The results are inconsistent with standard theories that assert that small plants are just like large plants, except for having a low productivity draw. (Moi ici: DUH!!!!! Que teoria tão tola e afastada da realidade... peca por desprezar o valor potencial do que se produz... É claro que se medirmos a produtividade em quantidade de coisas produzidas por unidade de tempo as fábricas maiores são mais produtivas. No entanto, se medirmos a produtividade num rácio entre o que se ganha a vender e o que se precisa de gastar para produzir o que se vende, a história é bem diferente como demonstram os outros gráficos do postal acima referido)

In our theory, if a plant in the United States is huge, it is a signal that the plant is potentially vulnerable to competition from China. A huge plant is likely making something that can be traded across space–something that can be put in a container and shipped–as a local market would not likely be able to absorb all the output of a given huge plant."
.
O que é estranho é que estas conclusões, para a comunidade científica são ... novidade!!!
.
Do abstract retiro:
.
"There is wide variation in the sizes of manufacturing plants, even within the most narrowly defined industry classifications used by statistical agencies. Standard theories attribute all such size differences to productivity differences. This paper develops an alternative theory in which industries are made up of large plants producing standardized goods and small plants making custom or specialty goods. ... the predictions of the model for the impacts of a surge in imports from China are consistent with what happened to U.S. manufacturing industries that experienced such a surge over the period 1997—2007. Large-scale standardized plants were decimated, while small-scale specialty plants were relatively less impacted." (Moi ici: Os encalhados da tríade não fazem ideia disto... )
...
Isto vai ficar comprido mas vale a pena:
.
"Take wood furniture as an example. The large plants in this industry with more than a thousand employees are concentrated in North Carolina, particularly in a place called High Point. These plants make the stock bedroom and dining room furniture pieces found at traditional furniture stores. Also included in the Census classification are small facilities making custom pieces to order, such as small shops employing skilled Amish craftsmen. Let us apply the standard theory of the size distribution to this industry.
.
Entrepreneurs that enter and draw high productivity parameters would likely open up megaplants in High Point, North Carolina; those that get low draws might open Amish shops in other locations. The Melitz model and the BEJK model both predict that the large North Carolina plants will have large market areas, while the small plants will tend to ship locally. So far so good, because this result is consistent with the data, as we will show. But what happens when China enters the wood furniture market in a dramatic fashion, as has occurred over the past 10 years? While all of the U.S. industry will be hurt, the Melitz and BEJK theories predict that the North Carolina industry will be relatively less affected because it is home to the large, productive plants. In fact, the opposite turns out to be true in the data.
.
To address this shortcoming, our theory takes into account that most industries have some segment that provides specialty goods, often custom-made goods, the provision of which is facilitated by face-to-face contact between buyers and sellers. (Moi ici: Há anos que chamamos a atenção para a importância da proximidade, do desenvolvimento de relações amorosas, da flexibilidade, da rapidez, da relação) This specialty segment is the province of small plants. Large plants tend to make standardized products. ... When China enters the wood furniture market, naturally it follows its comparative advantage and enters the standardized segment of the market, making products similar to the stock furniture pieces produced in North Carolina. Thus, in our theory, the North Carolina industry is hurt the most by China’s entry into the industry, as actually happened.
...
We show that over the period 1997 to 2007, in industries where exports from China have surged, the domestic industry has shifted toward large metropolitan areas, places where average plant size has typically been small. 
.
These are places where we expect to see a large demand for specialty and custom goods.
.
And we also expect to find there a large supply of inputs suited for specialty and niche products. These are different from the low-skill inputs used in mass production of standardized products in large plants–inputs readily available in China and places like High Point.
.
(Moi ici: O mesmo no sector têxtil) That study explained how large plants in places like North Carolina tended to mass-produce standardized garments like nurses’ uniforms, while the small plants in New York City tended to produce fashion items. The new development is that China has entered to play the role of North Carolina, while New York still plays New York (Moi ici: É assim tão difícil perceber o que aconteceu por cá também?) (albeit in a relative sense, given the overall decline of manufacturing as a share of the domestic economy).
...
When we take into account that plants vary in productivity as well as in function (with small plants specializing in specialty goods), we cannot tell a priori whether a given large plant will be more likely to survive a trade onslaught than a small plant."





quinta-feira, dezembro 29, 2011

It's not the euro, stupid! (parte II)

Parte I.
.
A partir deste "amigo" cheguei a este "amigo" que me levou a este "amigo" (abençoada Internet).
.
Em "Trade Induced Technical Change? The Impact of Chinese Imports on Innovation, IT and Productivity" de Nicholas Bloom, Mirko Draca e John Van Reenen, publicado em Janeiro de 2011 descubro uma alma gémea. Já li o corpo do artigo duas vezes e ainda não encontrei nada com o qual não concordasse... tudo o que é apresentado vem suportar as teses que defendo há anos aqui no blogue.
.
Convém recuar ao Portugal de 1996... salários baixos, dentro da fortaleza Europa...
.
"A vigorous political debate is in progress over the impact of globalization on the economies of the developed world.
...
One major benefit of Chinese trade had been lower prices for manufactured goods in the developed world. We argue in this paper that increased Chinese trade has also induced faster technical change from both innovation and the adoption of new technologies, contributing to productivity growth. (Moi ici: O mesmo efeito que a ausência de patentes impõe no mundo da moda) In particular we find that the absolute volume of innovation (not just patents per worker or productivity) increases within the firms and industries more affected by exogenous reductions in barriers to Chinese imports. (Moi ici: Uma outra forma de dizer: subir na escala de valor, fugir do campeonato do preço e entrar no do valor)
...
A contribution of our paper is to confirm the importance of low wage country trade for technical change using a large sample of over half a million firms and exploiting China’s entry into the World Trade Organization (WTO) to identify the causal effect of trade.
...
The rise of China and other emerging economies such as India, Mexico and Brazil has also coincided with an increase in wage inequality and basic trade theory predicts such South-North integration could cause this. ... What may be happening is that trade is stimulating technical progress, which in turn is increasing the demand for skilled labor.
...
First, on the intensive margin, Chinese import competition increases innovation, TFP and management quality within surviving firms. Firms facing higher levels of Chinese import competition create more patents, spend more on R&D, raise their IT intensity, adopt more modern management practices, and increase their overall level of TFP. Second, Chinese import competition reduces employment and survival probabilities in low-tech firms - e.g. firms with lower levels of patents or TFP shrink and exit much more rapidly than high-tech firms in response to Chinese competition. Thus, our paper jointly examines the effects of trade on survival/selection and innovation. The combined impact of these within firm and between effects is to cause technological upgrading in those industries most affected by Chinese imports. An additional set of results shows that Chinese imports significantly reduce prices, profitability and the demand for unskilled workers as basic theory would suggest. (Moi ici: Tudo, tudo a suportar o que defendemos neste blogue há anos!!! Baixar salários? Aumentar o tempo de trabalho para fazer face aos chineses? Get a life!!! Quem o defendo só ilustra assim a sua ignorância dos números e não percebe o que se passa/passou)
...
Chinese imports reduce the relative profitability of making low-tech products but since firms cannot easily dispose of their “trapped” labor and capital, the shadow cost of innovating has fallen. Hence, by reducing the profitability of current low-tech products and freeing up inputs to innovate, Chinese trade reduces the opportunity cost of innovation. (Moi ici: É o salto para a frente, há empresas que são inovadoras por causa do seu ADN, está-lhes na massa do sangue. Há muitas mais que só inovam quando a necessidade aperta!!!)
...
First, import competition from low wage countries like China has a greater effect on innovation than imports from high wage countries. This occurs because Chinese imports have a disproportionate effect on the profitability of low-tech products, providing greater incentives to innovate new goods. Second, firms with more trapped factors (as measured by industry-specific human capital, for example) will respond more strongly to import threats.
...
for labour economics we find a role for trade with low wage countries in increasing skill demand (at least since the mid-1990s) through inducing technical change.
...
Our paper uses new patenting, IT, R&D, management and productivity data to establish that trade drives out low-tech firms (reallocation) and increases the incentives of incumbents to speed up technical change.
...
important role of trade on technical change. In particular, our finding that (i) the positive trade effect is on innovation (rather than just compositional effects on productivity via offshoring or product switching)
...
we find that about half of the increase in innovation following the fall in trade barriers against China comes from within firms (they expand the number of patented innovations, spend absolutely more on R&D and modernize their management practices) implies that changing composition is not the whole story.
...
size is not an adequate proxy for productivity, finding that small plants actually do relatively better than larger plants following an increase in Chinese import.  (Moi ici: Em toda a linha!!! Até este tópico da dimensão das empresas e a vantagem das PMEs vem suportar as teses deste blogue!!!)
...
In their model, small firms survive by operating in product niches rather than the standardized products competing with China.  (Moi ici: Nichos, outro conselho recorrente deste blogue!!!)
.
Chinese imports are associated with an increase in the wage-bill share of college educated workers, suggesting Chinese trade raises the demand for skills. ... This is consistent with the model that Chinese trade leads firms to switch from producing older low-tech goods to the design and manufacture of new goods, which is likely to increase the demand for skilled workers.
...
in the face of Chinese import competition European firms change their product mix."
.
Só gostava de conhecer um estudo com números, com suporte em amostra estatisticamente significativa que comprove que o problema da nossa economia é a falta de competitividade do sector de bens transaccionáveis... ao menos um.

It's not the euro, stupid! (parte I)

It was China!
.
RESSALVA: Não pretendo insultar ou ser indelicado com ninguém, estou só a manipular uma expressão que ficou conhecida.
.
"A última década foi a pior de que há memória para a economia portuguesa e o mau desempenho deve-se mais às restrições causadas pela união monetária que a erros políticos, diz o economista João Ferreira de Amaral.
...
Acumularam-se desequilíbrios gigantescos nas balanças de pagamentos, nomeadamente em Portugal, na Grécia e também, em parte, em Espanha."
...
Porque não temos condições de crescimento nenhumas, e o nosso aparelho produtivo continuará talvez anda mais ineficiente que agora""
.
.
Por que é que nenhum dos jornalistas, estagiários saídos das escolas da Revolução Industrial, habituados a receber "press releases" e a servir de megafones, nunca confrontam Ferreira do Amaral com os números da economia que compete com o euro como moeda forte?
.
Por que é que aceitam acriticamente tudo o que ele diz? Sim, eu sei, a culpa não é deles, quando estiverem a começar a sair da casca e a querer fazer perguntas e investigar... acaba a comissão de serviço... nada de pessoal, vicissitudes do modelo actual do negócio dos jornais.
.
Os jornais são como Ferreira do Amaral, e muitos outros a quem chamo encalhados ou membros da tríade. Os jornais estão num combate com a Internet, a Internet está para os jornais como a concorrência chinesa está para as empresas que produzem bens transaccionáveis, ou da grande distribuição está para o comércio tradicional.
.
Como é que os jornais combatem a Internet... reduzindo custos, tentando competir no mesmo campo que dá vantagem à Internet. Só que a Internet é imbatível, é gratuita... é como uma escola privada querer competir com uma escola do Estado pelo custo... é uma guerra perdida à partida.
.
Esqueçamos a eurozona e pensemos no caso norte-americano, como é que Ferreira do Amaral explica que as consequências que ele atribui ao euro possam ser visualizadas, até talvez com mais ênfase, na economia norte-americana?
.
O que é que é comum à eurozona e à economia norte-americana?
.
A entrada da China na WTO e o fim de muitas barreiras às importações com origem em países de mão-de-obra barata!!!
.
As empresas que produziam bens transaccionáveis, quase de um momento para o outro, foram sujeitas a um tsunami competitivo assente em custos muito, muito, muito baixos!
Esta tabela, presença habitual neste blogue, ilustra o que se passou... percebem o massacre a que a economia de bens transaccionáveis foi sujeito na última década por todo o mundo?
.
Apreciem este gráfico:
Ferreira do Amaral não conhece este números? 
.
"Para Ferreira do Amaral, a "transferência de recursos de sectores de bens transaccionáveis para bens não transaccionáveis" é resultado de Portugal fazer parte de um espaço com uma "moeda forte".
.
"O aparelho produtivo reorientou-se para sectores protegidos da concorrência externa, porque a moeda é forte e não fazia sentido concorrer com produtos importados", argumenta. "Isso não foi um erro de política económica, o erro foi aderir a essa zona [de moeda forte].""
.
Será que Ferreira do Amaral acha que o nosso sector de bens transaccionáveis resistiria melhor ao impacte chinês se ainda tivéssemos o escudo? Mesmo com aquele diferencial no custo da mão-de-obra? 
.
Quando Ferreira do Amaral diz "e não fazia sentido concorrer com produtos importados"", está a referir-se a produtos importados da China ou da Europa do Norte?
.
Isolemos e excluamos o factor China. Como se comportou a economia de bens transaccionáveis de 1986, ano de entrada na CEE, até 2001 no do começo físico do euro? (O que tolda este exercício é a entrada do ecu em prática)
.
Perdemos gente e capacidade produtiva em sectores arcaicos como a agricultura e as pescas, incapazes de competir com os preços mais baixos do pescado espanhol ou dos cereais franceses. E na indústria como foi? Foram os nossos anos de ouro. 
.
Como começou o fim? Com a saída das multinacionais que compravam minutos de mão-de-obra barata, para os padrões ocidentais, e com a sua deslocalização para a China.
.
Qual é a receita deste blogue?
.
Para competir com a China, para ter sucesso com uma moeda como o marco, para os jornais competirem com a Internet, para o comércio tradicional competir com a grande distribuição e para as escolas privadas competirem com os chineses do Estado, só há um campeonato, o campeonato do valor! Tudo o resto é albanização que nos leva a ser a Sildávia do Ocidente.
.
Ou seja:
Optar por ser uma empresa que trabalha para aumentar preços, não como o Estado o faz com os reféns que são os contribuintes e utentes.
.
Na economia as empresas é que são reféns da vontade dos seus clientes e eles só aceitarão pagar mais se durante o uso do produto/serviço sentirem que emerge mais valor para as suas vidas.
.
Tudo isto é o que tenho aprendido ao longo de quase cerca de 20 anos de trabalho como consultor, depois de quase dez anos a trabalhar na indústria, assenta no que tenho visto resultar e não resultar na vida real conjugado com a reflexão que os livros e a Internet me proporciona.
.
Na parte II que espero escrever ainda hoje vou-me calar e deixar outros falarem por mim.