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sábado, março 09, 2024

Por que se pedem paletes de mão de obra estrangeira barata? (parte III)

Há dias li no WSJ este longo artigo, "Rich Countries Are Becoming Addicted to Cheap Labor".

Entretanto, ontem li "The Cheap Labor Addiction?". Interessante, quer o texto do artigo, quer a troca de comentários. Julgo que se trata do tema que tenho abordado aqui no blogue acerca dos "Flying Geese" e também do tema desta semana sobre o papel dos empresários e da produtividade do país.

Por exemplo, acerca deste trecho no jornal:

"In Canada, economists say the government has cast aside a carefully managed immigration system that gave priority to highly skilled workers, and ramped up significantly the intake of foreign students and other low-skilled temporary workers. By flooding the market with cheap labor, Ottawa may be propping up uncompetitive businesses and ultimately damaging productivity (1), according to a December report co-written by former Canadian central-bank governor David Dodge."

Leio:

"Notice the strange use of the word "uncompetitive." If those businesses are able to do well and maybe even thrive, how are they uncompetitive? (2) In fact, they are quite competitive.

And how would hiring more workers reduce productivity? (3) Are the employers stupid? Do they want to pay people who not only don't produce but also reduce production?

Of course not. It's clear what Dodge means. He means that hiring low-skilled workers could easily reduce average productivity.

Indeed, the very next paragraph of the news story makes my point:

Economic output per capita is lower than it was in 2018 following years of record immigration (4), notes Mikal Skuterud, an economist at Waterloo University in Ontario. Canada has been bringing in so many low-skilled workers that it lowers the country's productivity overall (5), he says.

Skuterud is pointing to average productivity even though he blows it at the end by equating that to the "country's productivity overall.""

 (1) e (2) - Já abordamos este tema aqui, misturar e fundir produtividade e competitividade dá asneira. Daí esta imagem que uso há anos:

É possível ser muito competitivo e empobrecer porque se é pouco produtivo e, por isso, apesar da subida do custo de vida os salários não são capazes de acompanhar porque a organização não liberta margem suficiente. 

Recordo:

(3) - Produtividade de empresas versus produtividade agregada de um país. Recordo Salário mínimo, produtividade, motivação/malandragem e desemprego (parte II)

(4) e (5) - Recordo Falta a parte dolorosa da transição

Podem querer o que quiserem, mas a opção que tomarem tem custos.

domingo, fevereiro 11, 2024

Coisas que me fazem espécie

Encontrei um artigo com este título, "Indústria de madeira e mobiliário tem falta de mão de obra qualificada". Vejamos algumas citações:

"Vida Económica - Qual a atual situação geral do mercado da madeira e do mobiliário?

Vitor Poças - A evolução do mercado da madeira e mobiliário tem sido muito positiva, sobretudo no que diz respeito ao volume de exportações do setor que, nos últimos 12 anos, apresentou um crescimento verdadeiramente notável, passando de 1,5 mil milhões em 2010 para mais de três mil milhões em 2022. Num panorama mais recente, ainda só temos dados oficiais até novembro de 2023, o setor apresenta um crescimento global das suas exportações de 4,6% em comparação com o mesmo período do ano anterior, sendo que esperamos alcançar um record histórico de 3170 milhões de euros no final do ano. ...

VE - Quais os principais problemas que se colocam às empresas do setor?

VP - O setor tem desafios, alguns deles específicos do setor da madeira e mobiliário e/ou dos seus sub-setores, muito concretamente no que diz respeito à escassez de matéria-prima de origem nacional e de mão de obra qualificada, bem como dos custos de contexto para um setor industrial que, do nosso ponto de vista, o país teima em não acarinhar transversalmente, como a carga fiscal desproporcional sobre os rendimentos de quem trabalha, problemas de licenciamento industrial, burocracias, ineficiência de funcionamento do Estado em razão de celeridade de processos, desmotivação das pessoas, escassez de meios e ausência de proximidade para resolução de problemas concretos das pessoas e das empresas que poderiam catapultar o crescimento económico. 

...

VE - As empresas estão a fazer um esforço no sentido da internacionalização?

VP - Sim, sem dúvida. Portugal é um mercado de pequena dimensão pelo que o crescimento das empresas passa pelo aumento das exportações, ... Por outro lado, normalmente a exportação e a internacionalização permitem às empresas uma maior rentabilidade associada a uma maior valorização do produto, pelo que esta estratégia é seguida e constitui uma aposta das empresas nacionais e do setor.

...

VE - Tem havido problemas no fornecimento das matérias-primas?

VP - Sim, a questão da matéria-prima é crítica e penaliza a competitividade das nossas empresas. Portugal teima em não promover a exploração profissional da nossa floresta, fazendo uma gestão quase ruinosa da mesma e isso, obviamente, obriga à importação de enormes quantidades de matérias-primas, com todos os custos de transporte e de logística implícitos, e isso sem dúvida que afeta toda a fileira."

Portanto, primeiro:

  • crescimento significativo das exportações
  • a internacionalização é vista como uma forma de aumentar a rentabilidade e a valorização dos produtos
Seria interessante saber qual o aumento médio do preço de venda, e qual o aumento da rentabilidade média.

Segundo:
  • há uma crítica à gestão da floresta em Portugal, que é considerada quase ruinosa, levando à necessidade de importar grandes quantidades de matérias-primas. Isso implica custos adicionais de transporte e logística, afectando a competitividade das empresas portuguesas no setor.
Este trecho faz-me espécie, "Portugal teima em não promover a exploração profissional da nossa floresta,".

Portugal? Quem é Portugal? Típico de quem tem o locus de controlo no exterior. Quem tem mais a lucrar com uma boa gestão da floresta portuguesa? As empresas que fazem parte da Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP). Assim, a AIMMP é que devia tudo fazer para que os proprietários vissem como uma boa opção evoluir para uma exploração profissional das suas propriedades florestais.

Terceiro:
  • escassez de mão-de-obra qualificada
Então, tanto sucesso a exportar e a aumentar a rentabilidade e os preços e não se consegue seduzir mão-de-obra qualificada, por que será?

A minha resposta é; não há falta de mão-de-obra qualificada, há sim incapacidade de pagar salários suficientemente atractivos. Por causa da carga fiscal e por causa do valor acrescentado que o sector consegue gerar. Não digo que seja o caso aqui, mas recordo que é possível ser competitivo, aumentar as exportações e ir empobrecendo. Recordar também Explicar o mais importante.


sexta-feira, dezembro 08, 2023

Acerca da evolução de Portugal e da Roménia (parte II)

Ontem publiquei Acerca da evolução de Portugal e da Roménia. Também ontem li no JdN, "Peso dos bens transacionáveis na riqueza produzida quase estagnado".

Reparem no texto inicial do artigo:

"Valor acrescentado gerado pela produção de setores de bens transacionáveis atingiu mínimos em 2010 e desde então está quase estagnado. Perda de competitividade da indústria explica panorama. Valor acrescentado das exportações no PIB abranda."

Agora vamos à minha matriz produtividade versus competitividade:

Não devemos confundir produtividade com competitividade.

Não devemos cair no erro de ignorar a lição japonesa. 

Falta a parte dolorosa da transição. O aumento do valor acrescentado que é preciso tem de ser obtido à custa da evolução na horizontal para actividades com mais valor acrescentado. Não podemos esperar que a evolução desejada seja consequência de continuar a exportar o que já exportamos. O peso dos bens transaccionáveis não cresce por causa do mastim dos Baskerville, por causa do que falta. Já me repito: Depois do hype: O mastim dos Baskerville! 

No artigo pode ler-se:

"A diminuição do peso do VAB gerado pelos setores produtores de bens transacionáveis é explicada pela alteração do modelo de especialização produtiva da economia portuguesa, com os serviços a ganharem destaque nos últimos anos, a que se junta "a perda de competitividade de alguns dos principais setores de bens transacionáveis" em Portugal, com destaque para a indústria."

Na Parte I pode ver-se a evolução dos serviços em Portugal e Roménia, agora acrescento a Dinamarca:

É claro que a exportação de serviços tem muito mais potencial de valor acrescentado que as exportações da indústria. Não percebo esta argumentação.

Agora segue-se um momento de catequese. Uso esta palavra como um substantivo para nomear afirmações que ninguém contesta, mas que não são suportadas num plano verosímil:

"Carlos Tavares defende, por isso, que o objetivo central de Portugal "deve ser produzir mais e mais valiosos bens transacionáveis internacionalmente do que simplesmente aumentar o volume das exportações."

Quantos mais anos vão laborar no mesmo erro em que eu laborei por tanto tempo? Recordar: A brutal realidade de uma foto. E não, não é criando empresas maiores a produzir o mesmo que já se produz, é arranjar outros protagonistas para produzir coisas diferentes. Não cometam o erro de Relvas - Tamanho, produtividade e a receita irlandesa

terça-feira, novembro 07, 2023

Cuidado com as generalizações

No JdN de ontem o patrão do jornal, alguém com experiência numa empresa de pasta de papel, uma commodity em que o custo é que manda, disse:

"Para o presidente da Cofina as empresas portuguesas enfrentam dois desafios. 0 primeiro é o da otimização e eficiência. A escalada de preços tornou os "custos de produção muito mais elevados, alguns deles não voltarão a níveis que tínhamos no passado, obrigando as empresas a otimização dos processos, tornando-se mais eficientes", aponta Paulo Fernandes."

Para as empresas que competem no quadrante do empobrecimento:

Esse é o desafio de sempre, não por causa da escalada de preços, mas por causa da redução de preços praticados por concorrentes em países ainda mais baratos que Portugal.


 

quarta-feira, outubro 04, 2023

"Os Anos do Absurdo" (parte II)

 Há dias escrevi sobre o tempo que vivemos e como pode ser apelidado de “Os anos do absurdo”.

Por exemplo, conciliar o querer um novo aeroporto em Lisboa, quando ao mesmo tempo se está contra o consumo de combustíveis fósseis, quando ao mesmo tempo se está contra o excesso de turismo, quando ao mesmo tempo se está contra a gentrificação.

Hoje o JdN traz um conjunto de entrevistas com responsáveis de associações empresariais. Um tema recorrente entre os vários entrevistados, e que é sintoma de mais um absurdo que os jornalistas são incapazes de questionarem, é o tema do sector que “bomba”, do sector que tem falta de trabalhadores, mas ao mesmo tempo não consegue acumular capital.

Não há ninguém que se questione como é que a maioria das empresas num sector económico estão cheias de trabalho e, no entanto, não ganham dinheiro?

Como é que se consegue ser competitivo

Pelo preço ou pelo valor. Quando só se consegue ser competitivo pelo preço e não se ganha escala, porque não faz sentido, porque não é possível, o resultado garantido é o empobrecimento. O sucesso comercial não se traduz em sucesso financeiro. Assim, até se podem pagar os custos do passado, mas não se conseguem pagar os custos do futuro. 

Costa disse que a realidade anda mais depressa que a capacidade do governo legislar. Isso fez-me lembrar os ciclos viciosos que se autocatalizam. Já aqui relacionei esta situação com o esquema Ponzi invertido, os clientes actuais são servidos à custa dos clientes futuros, até que deixa de ser possível manter o esquema.

quinta-feira, julho 20, 2023

"Como aumentamos os salários?"

O jornal Público de ontem trazia um interessante artigo com o título "A pergunta é: como aumentamos os salários?"".

Claro que uma tentativa de resposta há anos que é esboçada neste blogue. Mergulhemos primeiro no artigo:

"A região norte é a mais exportadora do país. Mas medir o pulso ao estado da nação a partir desse retrato é esquecer que o Norte também é a região mais pobre do pais. O que está a falhar? [Moi ici: Já abordei o tema em Por que é então uma das [regiões] mais pobres de toda a UE?]

Paula, 47 anos, gaspeadeira, Santa Maria da Feira. Trabalha há 32 anos na indústria do calçado, mas há um mês ficou no desemprego, "A meu ver, o que falha é que as empresas tiram o lucro todo para elas. Estávamos a fazer sapatos que chegam a ser vendidos por 800 euros. Isso é o que cada um de nós ganhava de salário num mês." [Moi ici: Recordo as contas deste postal Quantas empresas? (parte III) ]

O preço do sapato na loja não reflecte necessariamente a receita da empresa que o produz, contrapomos. "Mas a empresa ganha mais do que aquilo que nos paga", responde Paula, certa de que a riqueza gerada pelos trabalhadores "é mal distribuída". [Moi ici: A distribuição é a possível, o problema é o que o valor criado é muito limitado. A situação só melhorará quando as empresas existentes forem substituídas por empresas com outros modelos de negócio] Paula ganhava 914 euros iliquidos. Feitos os descontos, levava para casa "800 e pouco". 

...

O que dirão os empresários perante a mesma questão. Por que razão a região mais exportadora e industrializada é também a mais pobre, senhor Albano Miguel Fernandes, da AMF Shoes, em

Guimarães?

"Está a faltar valor acrescentado às exportações. A maioria das empresas de calcado) trabalha em regime de private label, 'vendendo' minutos do seu tempo ou das suas máquinas", responde. [Moi ici: O que o engº Albano está a falar é ... do modelo de negócio. Só que no mesmo sector de actividade, nem todas as empresas conseguem dar esse salto, nem existe mercado para todas elas se derem esse salto]

...

"Vender minutos também é o modelo de muitas empresas noutras indústrias, como no téxtil. "A competição é feroz e por isso dá origem a uma baixa remuneração para as empresas, o que tem por consequência um poder muito limitado para remunerar os seus colaboradores. Estamos também dependentes de grandes multinacionais, que direccionam os seus centro de custos [para] países com sistemas mais competitivos do que o português", [Moi ici: Aqui há que ter cuidado com o uso da palavra competitividade, recordar o Uganda e os quadrantes do primeiro artigo citado lá em cima


...

"A pergunta é: como aumentamos os salários dos portugueses?" José Teixeira, presidente do grupo DST, de Braga, está a falar há cerca três minutos. Até chegar à questão que elegeu como crucial, o gestor invocou "o novo iluminismo de que a Europa precisa" e que "tem de ser agarrado", porque pressupõe "outro modo industrial, social, de relações dos trabalhadores com os accionistas, de usar recursos".[Moi ici: O que ele não diz é que são precisas outras empresas... percebem a enormidade disto? As empresas podem ser mais eficientes, podem ser melhor comercialmente e extrair mais valor, mas originar mais valor... isso só a produzir outras coisas com outro modelo de negócio. Volto a Larreché e aos Flying Geese e o exemplo do calçado em St. Louis, tão rico que pagou uns Jogos Olímpicos de Verão em ... 1904]

...

A empresa [Moi ici: Riopele] continua relevante, apesar de mais pequena. Exporta directamente 98% da sua produção, emprega 1102 pessoas e em 2022 fixou o salário de entrada em 780 euros, 20 euros acima do salário mínimo que, entrou em vigor no inicio de 2023. As despesas de inovação e desenvolvimento equivalem a 20% da receita anual, afiança. Quem conheça a indústria sabe que é uma percentagem que mete respeito. [Moi ici; Eu se dirigisse a empresa até teria vergonha de divulgar estes números. Torrar 20% da receita anual e não conseguir gerar valor acrescentado é um sinal claro de falhanço. O que interessa são os resultados, não o que se gasta. Fizeram-me lembrar a Raporal] Se tivesse voz no debate do estado da nação, a sua mensagem seria: aliviem o IRS dos trabalhadores, isentando os salários até 1200/1300 euros."

Agora voltando atrás no artigo sublinho:

"Quando me chamarem, vão-me propor o salário mínimo. Para quem ganhava 914 euros, não é nada motivador. Vão querer pagar-me o que se paga a um aprendiz. Não é este o futuro que eu desejo para as minhas filhas."

Recordo que em Maio passado escrevi aqui:

"No ECO o meu lado cínico foi despertado em "Calçado entra em 86 escolas para atrair jovens para as fábricas". Como é que o marketing abalroará a experiência que os jovens têm com os familiares que trabalham ou trabalharam no sector do calçado?" 

Sublinho: Como é que o marketing abalroará a experiência que os jovens têm com os familiares que trabalham ou trabalharam no sector do calçado? 

Como se aumentam os salários? A minha resposta amedronta os incumbentes, sobretudo as associações patronais:


Eu sei que as pessoas têm compromissos, têm amigos, têm custos afundados…
Eu sei que promover a mudança a sério tem um custo social no curto prazo que os políticos não estão dispostos a assumir.

Por isso, não vão encontrar respostas mais directas noutro lugar. Por isso, vão encontrar muita conversa da treta.

segunda-feira, janeiro 23, 2023

A referência do jornalismo português...

Uma das primeiras lições que aprendi no mundo empresarial foi: cuidado com a média.

Olhamos para uma empresa, calculamos o valor médio de uma factura, de uma transacção, e depois ao olhar para a distribuição do valor das transacções individuais percebemos que a média pode ser, quase sempre é, muito enganadora.

O caderno de Economia do semanário Expresso do passado Sábado traz um exemplo claro do que é um erro ao trabalhar com médias. O erro é tão grosseiro que até parece um serviço feito por encomenda. O título do artigo é "Impostos - Portugal está no fim da tabela da competitividade fiscal". O artigo começa com:

"França e Itália são os únicos abaixo de Portugal em ranking de instituto espanhol. Impostos altos e dificuldade em atrair IDE são problemas apontados"

Depois, ao longo do texto ainda podemos ler, por exemplo:

"Portugal pontua mal no 'jogo' da competitividade fiscal.

...

Para Luís Belo, líder do departamento de consultoria fiscal da Deloitte, o desempenho de Portugal não surpreende, porque, no que toca às empresas, "continuamos a ter a segunda taxa nominal de impostos sobre os lucros (IRC e derramas) 31,5% mais elevada da UE e da OCDE". Uma desvantagem "quando precisamos de atrair investimento" ... 

Também Rosa Areias, sócia da PwC responsável pela área de consultoria fiscal, sinaliza que "a carga fiscal sobre as empresas é enorme"."

Agora reparem na imagem usada para ilustrar o artigo:

Qual é o país que está imediatamente acima de Portugal no Índice? A Irlanda!
Como é que a Irlanda é conhecida relativamente à atracção de investimento directo estrangeiro?

Vamos ver um outro índice:

Julgo que não foram os entrevistados a falharem, mas quem escolheu apenas uma escala. Nesta último índice podemos ver o "Corporate Tax Rate". A posição portuguesa consegue ser ainda pior que a francesa e a italiana. E qual é a posição da Irlanda?

BTW...

BTW II ...

Quando lerem ou ouvirem sobre a economia portuguesa nos próximos tempos, regressem mentalmente ao tempo da troika e pensem na distinção: transaccionável ou não-transaccionável

E acrescentem o factor endividamento vs taxas de juro. 

sábado, outubro 29, 2022

Até que ponto?

"Key to understanding how a commercial operation functions is to understand the drivers of value, and the drivers of cost, in some depth and to understand them together. Being lean and curbing costs is often described as essential in supply chains, but this is too narrow a focus. Yes, cost reduction and improvements to efficiency and productivity are important and necessary, but only when conducted as part of understanding of the impact on the full value chain, otherwise they can be counter-productive. In extreme cases, they can even become a self-defeating compulsion, especially where incentives are not aligned with what the company needs to do to meet consumers' and retailers' needs."

Isto foi crítico para o sucesso da maioria da economia exportadora portuguesa nos últimos 15 anos. O preço mais baixo não é tudo, não é o único critério. Num mundo com cada vez mais incerteza, resultante do contexto externo (política, tecnologia, economia, social), mas também do contexto interno (mais variedade, mais feedback, mais customização) a logística da resposta, da reposição, da criação tem um valor que o cálculo de custos não incorpora pelo lado positivo. 

Foi isto que nos permitiu ser competitivos sem ser produtivos, foi isto que me embalou e enganou nestes anos todos. 

Agora que o modelo estava a dar sinais de exaustão, desde 2018 mais ou menos, não pelo fim da importância da logística da resposta porque a incerteza continua a crescer, mas pelo alargamento da produção de proximidade noutras paragens mais próximas dos centros de consumo, veio o Covid primeiro, Taiwan como espelho da Ucrânia depois, e agora o império a revelar-se numa série de cenários potenciais perigosos, dar uma nova vida ao modelo da competitividade sem produtividade.

Até que ponto esse modelo se compadece com taxas de inflação elevadas?

Até que ponto esse modelo se conjuga com uma demografia envelhecida e uma emigração em crescendo? 

Trecho inicial retirado de "Deliver What You Promise" de Bali Padda.

 

segunda-feira, outubro 03, 2022

A brutal realidade de uma foto

Imaginem uma empresa sujeita ao aumento dos custos. Os aumentos podem ser mais rápidos do que a capacidade de criar valor para os suportar. Por exemplo, no caderno de Economia do semanário Expresso da passada semana, no artigo, "Gerir quando quase tudo É "volátil" e "imprevisível"", encontramos este trecho:

"Já em 2022, quando o custo do aço inoxidável aumentou 300%, voltaram a pensar na Herdmar o mesmo mas, mais uma vez, "felizmente, não se verificou". Mas, desde junho, quando terminou o contrato de preço fixo de eletricidade que tinham, a fatura aumentou 500% face ao que pagavam no início do ano, mesmo com os sistemas de produção em autoconsumo que instalaram em 2021."

Agora olhem para a foto que ilustra o artigo, uma foto da Herdmar:


Espero que a foto seja uma montagem artística e não um apanhado do quotidiano da Herdmar. Imaginem os minutos humanos incorporados na manufactura daquela colher, segundo a foto. Quantas colheres são produzidas por aquele humano por mês? Quanto valor é gerado por essa quantidade mensal de colheres?  Quanto desse valor sobra, depois de pagar matérias primas e consumíveis, para pagar salários e o custo do futuro?

Agora reparem como é o pensamento do mainstream em Portugal (no mesmo artigo):
"Por isso é que o economista Leonardo Costa diz que a prioridade do Governo devia ser o aumento da produtividade, a retenção da mão de obra qualificada no país e a melhoria da gestão nas PME, onde "há chefias que têm menos qualificações que os seus trabalhadores", comenta."

Portanto, o aumento da produtividade que o país precisa será obtido à custa da melhoria da gestão nas PMEs existentes, e para isso será fundamental a actuação do governo... 

Pois, em A amostra errada mostro como essa ideia está errada. A única actuação que vejo para o governo é a de criar condições para que empresas de outro campeonato encontrem interesse em vir instalar-se na Sildávia do Ocidente. Não cabe aos governos guiar as empresas no aumento da produtividade, ou na melhoria da gestão, não cabe aos governos escolher vencedores. Deixem as empresas morrer!!! 

Tanta gente precisava de ter esta citação afixada no local de trabalho:

BTW, olhem para os governos que temos tido... acham mesmo que são um exemplo de gestão? TAP, EFACEC, BES, ...

domingo, outubro 02, 2022

A amostra errada

Em Janeiro passado escrevi, Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas. Empresas com elevados níveis de produtividade, empresas com margens que permitem pagar muito melhores salários, têm o mundo para escolher onde se devem localizar.

Em Julho passado escrevi, Depois do hype: O mastim dos Baskerville! onde escrevi:

"Deixem os empresários que estão a trabalhar em paz. Saúdem o seu esforço. Concentrem-se no que chamo o mastim dos Baskerville. Concentrem-se nas empresas e nos empresários que não existem. As melhorias de produtividade que o país precisa dependem das empresas e dos empresários que não existem."

Recordo isto por causa de um texto no último caderno de Economia do Expresso, "Confiança na política fiscal desce para mínimos", onde encontro esta figura:

Pensem na diferença abismal entre os níveis médios de produtividade de Portugal e da União Europeia ... pensam que vai ser colmatada pelas empresas existentes? Pensam que são os incumbentes, craques na obtenção de subsídios e apoios do governo de turno, que vão fazer essa viagem? Não é que eles não queiram, não sabem. Recordar, os macacos não voam.

Portanto, podem fazer todos os inquéritos que quiserem, mas esquecem-se de uma coisa, estão a inquirir a amostra errada.




 

sábado, agosto 20, 2022

O presente envenenado (parte II)

Recordo, de Dezembro passado, O presente envenenado.

Agora, tendo em conta esta notícia, "Sedes propõe conjunto de reformas "com sacrifícios" para fazer economia crescer em média 3,5%":

"O caminho da Sedes, liderada por Álvaro Beleza (que integra a comissão política do PS), faz-se com “choque fiscal”, reduzindo a pressão fiscal sobre as empresas e as famílias, mas também com “uma redução do peso das despesas públicas correntes não primárias sobre o PIB”. Tem, para isso, de se concretizar a reforma do Estado e tem de se reduzir os “custos dos inputs cruciais e generalizados para as empresas”, nomeadamente os da energia, dos transportes e da logística. Reforma regulatória e redução da burocracia são outras medidas recomendadas, tal como a melhor seleção dos projetos a serem apoiados pelo setor bancário."

Altero um dos esquemas do postal de Dezembro:

Acrescento uma legenda:
Como é que as empresas vão aumentar a sua competitividade?
  1. Empresas não conseguem subir na escala de valor. Sem a entrada massiva de mão de obra migrante barata acabam por morrer. Os recursos são libertados para outras empresas. Como não nascem empresas suficientes o país definha
  2.  Empresas não conseguem subir na escala de valor. Com a entrada massiva de mão de obra migrante barata mantém-se a estagnação do costume. Outra alternativa para o cenário passa pela redução dos impostos para aumento da competitividade. Outra forma de manter a estagnação do costume. 
  3. Empresas não conseguem subir na escala de valor e morrem libertando recursos para as empresas que conseguem subir na escala de valor. O mais provável é que com o capital nacional pouco se consiga porque o país está falido e porque não há know-how em quantidade suficiente para substituir o emprego que vai desaparecer.
  4. Há que criar condições para que capital e know-how estrangeiro entre no país para usar os recursos disponíveis e fazer o país como um todo subir na escala de valor, "roubando" recursos às empresas existentes que não conseguirem acompanhar a parada.

sábado, agosto 06, 2022

Hoje é dia de flagelar o país, amanhã será dia de pedir as condições para gerar o que leva à flagelação

 

"Mas, afinal, o que explica níveis de produtividade tão baixos? Em primeiro lugar, diria que o inadequado investimento nos recursos humanos para os tornar capazes de pensarem permanentemente na melhoria contínua dos processos de trabalho, tema absolutamente fundamental para aumentar a eficiência e produtividade das nossas pessoas e organizações. Não só é insuficiente a aposta na formação, através de técnicas de upskilling e reskilling, mas também a falta de estratégias de benefícios indexados à produtividade (colaboradores felizes estão tendencialmente mais alinhados com os objetivos gerais da empresa). 
...
Por outro lado, a produtividade pode ser melhorada, em boa parte, pela capacidade de atrair novas gerações com novas qualificações e competências, e nesse aspeto temos ainda um longo caminho a percorrer, já que o crescente número de jovens qualificados não se reflete em absorção por parte das empresas e, não com pouca frequência, assistimos à alocação destes ativos a sectores onde são menos necessários ou, ainda mais preocupante, em funções que ficam aquém das suas qualificações.
Não restam dúvidas de que a produtividade é sinónimo de empresas mais saudáveis e mais competitivas, mas também é certo que este é um problema estrutural: compete a cada empresa, individualmente, desenvolver estratégias para o alterar. mas são também necessárias políticas comuns que nos permitam, enquanto país, acelerar a nossa competitividade internacional. Afinal, temos as ferramentas necessárias, falta-nos apenas colocar mãos à obra."

Estes trechos foram retirados de "Produtividade procura-se" publicado no caderno de Economia do semanário Expresso do passado dia 5 de Agosto. Num trecho que não citei acima, o autor recorda o estudo da Fundação José Neves onde se conclui que a produtividade portuguesa é apenas 66% da produtividade média da União Europeia. Pensem nisto, imaginem este desafio: o que se precisa é de um salto para passar de 66 para 100%. Como o fazer? 

Os meus dois primeiros sublinhados ilustram o que está na cabeça da maioria das pessoas, mais formação, mais qualificação "et voilá". Nope, mais formação e mais qualificação podem-nos ajudar a passar de 66 para 68 ou 69, não mais do que isso. Melhorar a produtividade à custa da eficiência tem um limite muito concreto, o limite da margem que se consegue extrair de um produto ou serviço, e esse limite é ditado pelo preço. Se um par de sapatos se vende, à saída da fábrica, por 38€ há um limite ao valor gerado pela quantidade e esse preço (BTW, se a quantidade aumentar muito, das duas uma, o preço baixa por pressão dos clientes, ou a produção é deslocalizada para outras paragens).

O terceiro sublinhado é importante. Importante, porque raras vezes o vejo escrito e proclamado "compete a cada empresa, individualmente, desenvolver estratégias para o alterar". Nesta cultura socialista em que nos movemos as empresas pertencem ao povo e ao seu braço armado, o poder político que já nos faliu 3,5 vezes e nem gerir hospitais sabe. É uma grande verdade, mas é mesmo! Por isso, o meu grito permanente: DEIXEM AS EMPRESAS MORRER!!!

Há muitos anos, talvez Agosto de 2007 ou 2008, podia procurar aqui no blogue, mas não o vou fazer, li um livro que me transmitiu uma ideia: A economia é a continuação da biologia por outros meios. Se não deixamos as empresas morrerem. Empresas lideradas por humanos, entidades que não buscam a maximização, mas que são "satisficers" a produtividade vai-se manter mais ou menos a este nível ou baixar em relação a outros se os outros correrem mais depressa. Se as empresas não morrem, não há selecção natural a funcionar ...

O quarto sublinhado é tinto de alguma ironia, há uma política comum, enquanto país, capaz de acelerar a nossa produtividade (BTW, reparem como o autor usa indistintamente as palavras produtividade e competitividade. Quem segue este blogue sabe que podem ser duas coisas comuns, mas que são quase sempre duas coisas distintas). Essa política comum é: DEIXEM AS EMPRESAS MORRER!!!

Quando às segundas, quartas e sextas, lemos nos jornais e vemos nas televisões pedidos para importação de mão-de-obra barata do Bangladesh ou de Cabo Verde, estamos ver pedido de políticas comuns capazes de manterem as empresas sem a necessidade de aumentarem a sua produtividade. Depois, não se admirem se hás terças, quintas e sábados, aparecem os artigos como o aqui citado a flagelar o país por falta de produtividade.

Pela milésima vez vou citar Maliranta e a experiência finlandesa:

""It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled."Mas, e como isto é profundo:"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants." Por favor voltar a trás e reler esta última afirmação."


terça-feira, julho 19, 2022

Tudo errado ...



A propósito de "Governo vai “libertar as empresas de alguns constrangimentos fiscais”"...

Sublinho esta frase:
"Não se pode pedir este aumento do salário médio sem dar nada em troca às empresas, que lhes permita ganhar competitividade?"

Tudo errado ...

  • Cabe ao governo aumentar a competitividade das empresas? Voltamos ao CEO da Galp ou ao outro da Sumol.
  • Misturar salários e competitividade? Voltamos ao Uganda.
E é, nem mais nem menos, que o ministro da Economia de Portugal...

  

sexta-feira, junho 24, 2022

Depois do hype: O mastim dos Baskerville!

Agora que passou o hype e que as carpideiras já se recolheram, acrescento o meu comentário sobre o relatório do estado da nação publicado pela Fundação José Neves.


 Começo por este trecho que encontrei em “Carlos Oliveira. "Temos empresas demasiado preocupadas com o Estado, com os apoios, com os incentivos"” (BTW, este título remete-me para uma série de postais publicados aqui no blog ao longo dos anos, como este: “O by-pass” ao estado e ao país):

O que faz o governo de turno quando as empresas (como a Sonae, ou a Aquinos) não podem suportar os salários mínimos? Lança um apoio. Recordar “No país do Chapeleiro Louco (parte II)” em 2022, ou “Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador!” em 2009. Recordo “Aspirar por objectivos sem ter coragem para a disciplina que requerem”.


O trecho acima faz-me voltar ao postal da semana passada “Competitividade sem competitividade? Mas o que é ser competitivo?” e à figura:

Enquanto escrevo estas linhas, mão amiga envia-me pelo Twitter este artigo “Grandes marcas de calçado desportivo desviam encomendas da Ásia para Portugal”. Isto é mau? Claro que não, claro que é bom ponto.


No entanto, volto ao tema dos “flying geese”:

Em “The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!” é possível ver o exemplo da história do sector do calçado na cidade de St. Louis nos Estados Unidos. 


Um país com níveis de produtividade superior não pode ser construído com base em sectores competitivos, mas com baixa produtividade.


Estão a ver a consequência imediata desta conclusão? Mata o que se segue:


Este tweet é representativo de parte das conclusões do referido relatório. Se os empresários e os trabalhadores tiverem mais qualificações as empresas alcançarão níveis de produtividade superior. Mais qualificações não permitem mais produtividade? Claro que sim, mas são aquilo a que chamo as melhorias de engenheiro. Recordo de 2009 “Actualizem o documento por favor”. 


A produtividade é um rácio entre entradas e saídas, ou um rácio entre os recursos utilizados e o valor gerado, como ilustro em “Acerca do Evangelho do Valor”:

 

Quando o relatório refere:


“e não há produtividade sem qualificações, pelo que é essencial apostar na formação ao longo da vida, na reconversão e aquisição de competências.

...

Há ainda o problema das qualificações dos gestores, em que quase não se tem visto investimento, com o país a apresentar a maior percentagem de empregadores que não terminou O ensino secundário. "Em 2021, era o caso para 47,5% dos empregadores, praticamente o triplo da média europeia (16,4%).”


Podemos acreditar que a produtividade cresce com mais qualificações, mas esse crescimento é pouco para o que o país precisa, esse crescimento é baseado sobretudo na melhoria da eficiência, na redução das entradas. As melhorias de produtividade que o país precisa são aquelas que são baseadas em brutais aumentos do valor criado. Mais valor criado traduz-se em preços mais elevados. As melhorias de produtividade que o país precisa são baseadas no gráfico de Marn e Rosiello como explico em “Para aumentar salários ... (parte IV)”:

 

E isto leva-nos à lição dos finlandeses que aprendi em 2007:


"It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled."
Mas, e como isto é profundo:
"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."


E isto leva-nos a um pedido que faço aqui no blogue há muitos anos: DEIXEM AS EMPRESAS MORRER!!!


Mais formação para os trabalhadores actuais ou futuros não resolve o problema porque o problema não está na oferta do mercado de trabalho, o problema está na falta de procura para trabalhadores mais qualificados. Mais formação dos trabalhadores num país sem procura por ela promove a emigração. Recordar o postal “Lerolero”: 


“In my experience, well-educated Haitians are very easy to find as taxi drivers in the French-speaking part of Canada. An estimated 82 per cent of Jamaican medical doctors practise abroad. Seventy per cent of all inhabitants of Guyana with a university education work outside the country. North American hospitals vacuum up poor English-speaking countries like Trinidad for nurses, while in many places in the Caribbean Cuban nurses are the ones that keep the health sector functioning.”


Mais formação para os trabalhadores actuais é um tema que sigo no blogue desde a primeira década deste século com as promessas de amor de Sócrates. Recordar o tema da caridadezinha em “Caridadezinha strikes again”:


"The problem is that poverty and unemployment are not much influenced by the qualities and qualifications of the workforce. They depend, rather, on the state of demand for labor. They depend on whether firms want to hire all the workers who may be available and at the pay rates that firms are willing, or required, to offer, especially to the lowest paid."

Neste podcast, “Formação e salários: não podemos nivelar por baixo”, João Ferreira do Amaral pede estudos, sector a sector, para comparar as empresas mais produtivas de outros países com as empresas portuguesas, para retirar ensinamentos. E regresso a 2011 e a uma tarde de Verão em Guimarães a fazer horas para entrar numa empresa, e ao que aprendi com mais uns nórdicos em “Acerca da produtividade, mais uma vez (parte I)”. Comparar sector a sector é, inconscientemente, assumir que as saídas de cada empresa são semelhantes e que as diferenças estão na forma de gerir as entradas para produzir as saídas. O que os nórdicos me chamaram a atenção é que não faz sentido comparar a produtividade de quem faz sapatos que saem de uma mini-fábrica-ateliê a 600 euros o par com quem faz 2000 pares de sapatos por dia a 25 euros o par. Recordo de 2010, “As anedotas”. 


Percebo que a Fundação José Neves e outras entidades se foquem na formação porque é algo que se pode planear e porque é algo que agrada a uma vasta fauna de partes interessadas instaladas no terreno e habituadas a viver da formação.


Então quem vai dar formação aos empresários? Daniel Bessa? Alguém de entre estes outros 24 cromos?


Deixem os empresários que estão a trabalhar em paz. Saúdem o seu esforço. Concentrem-se no que chamo o mastim dos Baskerville. Concentrem-se nas empresas e nos empresários que não existem. As melhorias de produtividade que o país precisa dependem das empresas e dos empresários que não existem. Recordo “Empresários e escolaridade ou signaling”. 


Por fim, volto ao exemplo irlandês. Acredita que o brutal salto de produtividade na Irlanda foi conseguido à custa dos empresários irlandeses? Se acredita que sim, pense outra vez. Recordo, “Tamanho, produtividade e a receita irlandesa”. 


Lembre-se do mastim dos Baskerville.

 

sexta-feira, junho 17, 2022

Competitividade sem competitividade? Mas o que é ser competitivo?

Procurem uma explicação simples para relacionar estes temas:

  • Sucesso das exportações portuguesas em curso (ver em Quem é este morcão? (parte II) - Dos 15 sectores relacionados com PMEs que sigo mensalmente, quando comparo as exportações dos quatro primeiros meses de 2022 com os de 2019 vejo: 1 sector a crescer mais de 60%, vejo 4 sectores (como a cerâmica e os plásticos) a crescer mais de 30%; e vejo 7 sectores (como os têxteis, calçado, máquinas e óptica) a crescer entre 10 e 30%)
  • Economia portuguesa menos competitiva desde saída da troika 
Então, somos competitivos ou não somos? Recordo a lição que aprendi e registei em Mea culpa e Mea culpa (III). Ou então, vejam o exemplo do Uganda, Competitividade, absurdo, lerolero e contranatura.

Competitividade sem competitividade? Mas o que é ser competitivo?
A explicação está nesta matriz do Mea Culpa (parte II):
Querem mais um tema para relacionar com os anteriores:

É assim, ou se sobe na escala de valor, ou tem de se importar trabalhadores para manter os salários baixos necessários para manter competitividade sem produtividade.

E coragem para políticos assumirem estas coisas e explicitarem-nas de forma clara e transparente?

sexta-feira, junho 10, 2022

Aspirar por objectivos sem ter coragem para a disciplina que requerem (Parte II)

Parte I.

Há dias foi possível ouvir e ver uma pergunta directa sem paninhos quentes ser feita ao vivo e a cores.

Agora imaginem uma estirpe diferente de jornalismo em Portugal capaz de chegar junto do ministro da Economia, recordar-lhe estas suas palavras:

"António Costa Silva diz que “o primeiro-ministro não dá ponto sem nó”, defende que "é preciso uma rutura" para o país criar riqueza e “deixar de ser um país subsídio-dependente, sempre à espera de fundos europeus". (fonte)

Ou esta outra versão:

 "e sublinhou que os seus pressupostos para subir muito os salários no país passam pela necessidade de “uma rutura”" (fonte)

E perguntar-lhe directamente e sem filtro:

- De que fala quando fala em ruptura? Qual é essa necessidade? Qual é a relação causal que tem em mente? 

Como seria a resposta, directa ou a desviar para canto?

Eu acredito que aquela ruptura de que ele fala é a que associo a deixem as empresas evoluir ou morrer, ponto!!! e que o deixar de ser um país subsídio-dependente resulta da percepção de que a maioria dos subsídios servem para travar essa mudança. Recordar: Apesar das boas intenções.

Por exemplo, acerca do sector têxtil na Alemanha:

"In 1957, about 8.97 percent of all employees in the manufacturing sector of West Germany were employed in the textile and apparel industry. The added value of the textile and apparel industry was 7.32 percent of the manufacturing sector. In 2017, only 0.8 percent of all employees in the manufacturing sector were working in the textile industry, and this branch of industry was generating only 0.38 percent of Germany's GDP."(fonte)

Não há ninguém com acesso ao senhor e coragem para lhe fazer a pergunta?



domingo, junho 05, 2022

Aspirar por objectivos sem ter coragem para a disciplina que requerem

"Primeiro-ministro quer um aumento de “20% no salário médio do nosso país” nos próximos quatro anos. “Nós temos que ter um acordo de médio prazo, no horizonte desta legislatura, sobre a perspectiva da evolução dos rendimentos.”

O primeiro-ministro apelou este sábado às empresas para que contribuam para um esforço colectivo de aumento dos salários dos portugueses, para que haja “maior justiça” e os salários médios em Portugal possam aumentar 20%.

...

“As empresas têm de compreender que se querem ser competitivas a vender, têm de começar a ser competitivas no momento da contratação, se querem, efectivamente, contratar, fixar e atrair o talento que necessitam para poderem ser empresas que produzem, efectivamente, bens e serviços de maior valor acrescentado”, acrescentou." (fonte)

Um texto que desperta várias linhas de reflexão. Uma delas tem a ver com a linha de Avelino de Jesus a emergir contra os "antiquados" como Teixeira dos Santos. Recordar Mea culpa.

Vamos olhar para o desafio através de uma matriz que relaciona a resposta a duas perguntas:

  • as empresas podem pagar um aumento superior a 20% do salário médio?
  • as empresas querem pagar um aumento superior a 20% do salário médio?
Vamos começar por eliminar as opções 2 e 4. Se as empresas podem, queiram ou não serão levadas a fazê-lo, pelo governo de turno ou pelo contexto. Por exemplo, na capa do jornal i de ontem:

Os ignorantes, como o presidente da república, acham que as empresas não aumentam os salários porque não querem. Os ignorantes acham que as empresas nadam em dinheiro e não querem partilhá-lo:

"Marcelo Rebelo de Sousa diz que os salários têm de acompanhar o crescimento da riqueza do país."

O presidente que achava que as 35 horas semanais na função pública não iam aumentar os custos, acha que o país está a enriquecer... Ricardo Reis tem de aprender economia com ele - A caminho da Sildávia ao vivo e a cores, mais um pacotão.

O que é mais interessante, na minha opinião, são as opções 1 e 3. Se as empresas não podem o que têm de fazer?

Recuemos a Abril de 2013, Cargo cult, e às palavras de Avelino de Jesus:

"«Por cada hora de trabalho só produzimos 17 euros»

Professor do ISEG diz que actual crise está na origem da baixa produtividade dos trabalhadores de Portugal."

As empresas não podem porque têm uma baixa produtividade, porque geram pouca riqueza, porque geram pouco valor acrescentado.

Assim, o que António Costa quer tem consequências que ele não está disposto a defender. Se ele quer atingir o objectivo de aumentar o salário médio em 20% em 4 anos, então tem de concluir que tem de promover a morte das empresas que não podem, para desviar recursos para as empresas que terão de surgir e podem. Recordar que vivemos no país do Chapeleiro Louco e da violação do 1º Princípio de Deming. Não escrevi este título em 2019 porque me apeteceu, "Espero que não vos tremam as pernas quando as empresas começarem a cair como tordos". Mesmo que ele tivesse coragem para o fazer, será que é moralmente correcto este tipo de activismo?

Sim, basta voltar a ler Reinert e a Teoria dos Gansos:

Basta recordar Maliranta e a lição finlandesa ou as palavras de Nassim Taleb:
"Systems don’t learn because people learn individually – that’s the myth of modernity. Systems learn at the collective level by the mechanism of selection: by eliminating those elements that reduce the fitness of the whole, provided these have skin in the game"

isto cheira-me que vai acabar em mais apoios às sonaes deste país.